quinta-feira, 29 de julho de 2004

SMS 64. Presente envenenado

29 Julho 2004

No momento em que se atira aos quatro ventos que Lisboa suplantou o turismo do Algarve, no momento em que os do Douro, pelas suas contas, prevêem que em 2010 também área suplante o mesmo turismo do Algarve e no momento em que os do Alqueva sonham que a área da barragem igualmente vá suplantar, em algum momento, o mesmo turismo do Algarve que assim é transformado numa desgraçada bitola, pois é neste momento que se decide colocar o gabinete do Secretário de Estado do Turismo em Faro! Para quê? Para gerir as certezas do turismo de Lisboa, os cálculos do Douro e os tão justos quanto espanhóis sonhos do Alqueva, como espanhóis são já os negócios de Vilamoura * ? Esse gabinete, colocado em Faro, vai aumentar artificialmente a conflitualidade inevitável entre as regiões – se alguma medida o secretário de Estado tomar a favor do Algarve, é porque está em Faro e se não decidir nada ou fazer o mesmo que até aqui tem sido feito em Lisboa, o Algarve não pode protestar porque até foi beneficiado com tão ilustre turista governamental. É um presente envenenado e Santana Lopes apenas fará bem se repensar. Está a tempo.

Carlos Albino
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* A autarquia de Loulé decidiria hoje de forma diferente se soubesse o que hoje sabe.

quarta-feira, 21 de julho de 2004

SMS 63. Areia para os olhos

21 Julho 2004
 
O anúncio de que a sede da Secretaria de Estado do Turismo, agora já Ministério do Turismo (em função da pessoa do titular e não da política que se impõe) será eventualmente «deslocada» para Faro não é mais do que atirar areia para os olhos e, nisto, José Apolinário tem razão ao sublinhar que tal medida é uma «forma sem conteúdo».

O que o Algarve precisa – não antes que seja tarde mas sim antes que seja mais tarde – é de uma Região Administrativa que obviamente tenha na sua orgânica uma Secretaria Regional de Turismo. O Governo Central não pode assemelhar-se a um Osíris esquartejado ao longo do Nilo, deixando a Regionalização numa eterna viuvez. Uma Secretaria de Estado do Turismo em Faro não fará mais pelo Algarve do que em Lisboa. Até fará menos, politicamente falando, muito embora se imagine como um tal secretário de Estado ou ministro andará de hotel em hotel, de golfe em golfe, de cocktail em cocktail, de pompa em pompa e como nas horas vagas por entre intensas viagens para o Porto e para Lisboa em nome do interesse nacional, tomará café com José Vitorino à beira da Doca como generosa concessão ao provincianismo. A promoção externa do Turismo Algarvio, em última análise ou no pleno sentido dos interesses do Estado não está nas mãos do ICEP? E onde está o ICEP? A captação do investimento estrangeiro não está nas mãos da Agência Portuguesa para o Investimento, a API? E onde está a API? Por aí fora.

«Deslocar» não é nem de perto nem de longe o mesmo que «desconcentrar» e muito menor «descentralizar» e jamais será «regionalizar». É atirar areia para os olhos. Ora deixem ficar a areia onde está porque a areia faz falta nas praias antes que o mar avance e coma inesperadamente a ganância dos homens.

Carlos Albino

quinta-feira, 15 de julho de 2004

SMS 62. Território ocupado...

15 Julho 2004

E aí esteve reunido o Fórum de Embaixadores da Agência Portuguesa para o Investimento. Em matéria de turismo, a promoção do Vale do Douro e do Alentejo (Sines e Alqueva) dominou as preocupações dos cérebros que estão na primeira linha da frente da diplomacia económica portuguesa. E justifica-se que assim seja: os responsáveis do Douro garantiram em alto e bom som, não há muito tempo, que suplantarão o Algarve e os alentejanos ou alguns por eles sonham com o mesmo objectivo.

Ao mesmo tempo, aqui e ali, começou a entrar na moda altos responsáveis e até m esmo decisores repetirem que «as praias já deram tudo o que tinham a dar», que «o Algarve é o caos», que «não se pode permitir em Portugal a repetição dos erros do Algarve»… por aí fora. E possivelmente isto também se justifica, porquanto alguns ou mesmo dos principais investidores do turismo algarvio comportam-se no Algarve como se estivessem à frente de colonatos na faixa de Gaza – o que lhes interessa é o colonato e mais nada, as ligações e o diálogo com os Municípios visam apenas a ampliação do colonato na mira da próxima transacção financeira e, no que diz respeito às populações, quanto mais longe estas estiverem melhor.

É este um dos preços do Algarve não ser Região Administrativa e não é difícil aceitar que os colonatos a inviabilizaram face à completa insensibilidade do Estado. Porque carga de água o Algarve haveria de ser considerado nos fóruns da diplomacia económica portuguesa?

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de julho de 2004

SMS 61. A promoção externa

8 Julho 2004
 
Albufeira afirma que é responsável por nem quantos por cento mas uma enormidade das camas do Algarve como se isto do turismo fosse apenas camas e só camas. E então sentiu-se na obrigação de se promover a si própria e por si própria no exterior, abrindo caminho a que Loulé faça supostamente o mesmo isoladamente, o mesmo acontecendo com Faro, Silves, Olhão, Tavira e por aí adiante, cada um orgulhosamente só a fazer pela sua vida, com mais ou menos camas… O que Albufeira fez não é apenas a constatação do fracasso da RTA e a desconfiança no ICEP em matéria de promoção externa do turismo algarvio – Albufeira acaba de fazer isto mesmo: fez-lhe a cama. Falaremos daqui a dois anos.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de julho de 2004

SMS 60. Sagres

1 julho 2004

Em três páginas inteiras do Diário de Notícias, vai para uns cinco anos, alertei para a importância da classificação de Sagres como Património da Humanidade e de forma muito particular chamei a atenção para o valor inestimável do Relógio Solar que o astrónomo José António Madeira, na década de 60, estudou até ao mínimo pormenor, no terreno, desfazendo com instrumental e cálculos científicos os equívocos de Gago Coutinho em matéria de rosa dos ventos. Creio que Paulo Neves terá lido aquelas páginas, gerou-se um movimento encabeçado pela RTA, houve comissões, peritos, foi dito que se avançou para o processo da candidatura e volta e meia fala-se no assunto, mas o certo é que parece que se perdeu a dinâmica e se algum entusiasmo existe, esse entusiasmo está enleado nas malhas da habitual burocracia. Creio ter chegado a hora de se pegar no assunto e de vez. O Presidente do Algarve Metropolitano, Macário Correia, tem naturalmente uma palavra a dizer porque Sagres, descontadas todas as lendas, patranhas e invencionices, é o símbolo documentado de permutas intercontinentais milenares, é o símbolo da maior gesta de um Povo e uma das poucas referências verdadeiramente sagradas da Terra. Sagres deveria estar a bater já como um coração no peito do Algarve e não está. O que falta para a UNESCO?

Carlos Albino

quinta-feira, 24 de junho de 2004

SMS 59. Insegurança

24 Junho 2004

Não damos novidade a ninguém: as populações algarvias vivem, no dia a dia, num clima de insegurança generalizada e, de forma muito particular, nas zonas rurais. Multiplicam-se os assaltos a casas isoladas por esses montes, alguns com uma violência extrema; os arrombamentos de estabelecimentos comerciais já nem surpreendem e os roubos são mais que muitos. O criminoso já aprendeu de resto que compensa menos atacar um turista milionário mas incauto do que um casal de velhotes da serra a viver de pensões. Por isso, a esmagadora maioria das vítimas já nem participa às autoridades ou por descrença numa justiça que é lenta e lassa ou, em crescente número de casos, por receio de represálias, ou ainda, pura e simplesmente porque não pode participar… De resto, a presença das forças de segurança, mesmo em cidades e vilas, é escassa senão mesmo nula, nunca se sabendo com exactidão qual a origem dos criminosos e meliantes: se aventureiros vindos do outro lado da fronteira, se gente desesperada, clandestina e desenraizada do lado de cá, ou se é a droga que comanda. Será por certo um pouco de tudo isso à mistura, mas naturalmente que alguma coisa tem que ser feita e com urgência contra este estado de coisas, antes que o desespero das vítimas se organize e acabe por ser tão ou mais violento que o dos criminosos. Tem que haver Polícia em todo o Algarve e a GNR tem que ser GNR.

Carlos Albino

quinta-feira, 17 de junho de 2004

SMS 58. Misturada evitável em Faro: Eleições e Cultura

17 Junho 2004

Em Faro vai haver a mistura que é sempre perigosa entre Política e Cultura. Isso será quase inevitável, por mais que quem lidera o processo da Capital Nacional da Cultura, o Eng. António Lamas, se esforce. E admitimos que queira ou tenha mesmo que esforçar-se muito!

De qualquer forma, a mistura entre calendários da Capital da Cultura e das eleições autárquicas é um risco para todos.

José Vitorino, para já, deveria ter feito tudo para evitar esse risco – só lhe ficaria bem, resguardar-se-ia de suspeitas e até ganharia pontos.

Se tivesse havido a determinação política que não houve, a Capital da Cultura seria neste ano da graça de 2004 tal como foi inicialmente programado, e se, por outro lado, existisse uma genuína vontade de separar o trigo da Cultura do joio da política, o ano de 2006 seria mais aconselhável. Não seria pela espera de mais um ano que os políticos ganhadores ou perdedores das eleições farenses deixariam de ler mais um livro sem saltos de página, assistir a uma peça de teatro sem adormecerem ou ouvir um concerto sem abanarem a cabeça. Mas como o que foi decretado, decretado está, aí teremos Faro em 2005 de bem com a Cultura por amor da Política ou de mal com a Política por amor da Cultura.

Carlos Albino

quinta-feira, 10 de junho de 2004

SMS 57. Mas eleger quem e para quê?

10 Junho 2004

O Parlamento Europeu, mesmo que os seus «poderes» venham a ser reforçados não deixará de ser uma esquisita assembleia parlamentar composta por delegações nacionais supostamente escrutinadas em cada um dos Estados da UE.

E é esquisita porque uma vez que tais «delegações» iniciem o mandato, elas perdem o carácter nacional diluindo-se em famílias ou agrupamentos partidários transnacionais que estão tão próximas do cidadão comum como as nuvens da relva. Portugal integra, e muito bem, e, diversas assembleias parlamentares - como sejam a da NATO, a da OSCE e a do Conselho da Europa – bastando para isso que a Assembleia da República designe a delegação participante segundo um critério proporcional.

Já para essa assembleia parlamentar da UE, é o que se sabe: há um sufrágio específico, como o que nos bate à porta, para determinar os 24 contemplados. Mas eleger quem e para quê? Quem vai ser eleito, já sabe. E cada um dos que já sabe, também está ciente das finalidades: um brutal ordenado, apetitosas mordomias, inevitável proa e pouco trabalho, embora com muita viagem.

O que podem fazer estes 24 portugueses felizes e contentes no meio de uma assembleia parlamentar de 732 elementos? Nada, nada e nada, a não ser fogo de vista que é o que, como «candidatos», todos eles têm feito e, convenhamos, sem elevação. Não me apanham.

Carlos Albino

quinta-feira, 3 de junho de 2004

SMS 56. A «coisa» chegou já aos presidentes de juntas...

3 Junho 2004

E não são apenas quatro mas mais do que sete, os presidentes de juntas que, invocando o montante das taxas e impostos pagos na sua área, reclamam e exigem a satisfação de determinadas reivindicações locais.

Algumas dessas reivindicações são, à evidência, justas em qualquer parte do mundo e até num sítio ermo quanto mais na civilização de uma Junta, mas o problema não está na maior ou menor razão que essas Juntas possam ter – o problema está no critério ou na «arma» usada para reclamar e, em não poucos casos, para fazerem o que tem apenas um nome: chantagem política. Portanto, «a coisa» já chegou aos presidentes de juntas.

E a coisa é mesmo isso - a chantagem – pelo que, segundo até parece, um presidente de junta que não saiba ou não queira fazer chantagem, não presta. E mais grave é quando, quem está na oposição e visa ascender ou reocupar poderes camarários, estimula essa chantagem política como causa própria, na mira de cobrar dividendos nas próximas eleições autárquicas, todavia sabendo que «a coisa» não tem futuro. A Democracia não se aguenta com estes procedimentos feios, porcos e maus. Até para a semana, pois voltaremos ao assunto «da coisa», tenham lá os presidentes de juntas santa paciência.

Carlos Albino

sábado, 29 de maio de 2004

SMS 55. À espera do decreto...

27 Maio 2004

Sem excepção, os partidos têm a mesmíssima pose nessa matéria da Região do Algarve – estão agora à espera do longínquo decreto que vier lá de cima e que, se calhar, apenas virá no Dia de S. Nunca à Tarde.

Na verdade, quer o PS quer o PSD, sempre que estão no poder, prosseguem políticas centralistas, muito embora quando se revezam na oposição façam da regionalização uma bandeira ou um cavalo de batalha que rapidamente esquecem quando chega a hora de repartir o bolo do poder pelas clientelas até à última migalha. Honra seja feita a Macário Correia que ao tomar posse da presidência da Grande Área Metropolitana – que mesmo em matéria de descentralização é uma descentralização em pijama – lá se referiu à tal futura Região ou ao tal futuro decreto a vir lá de cima e nada mais.

Claro que não seria de esperar que os partidos dessem o apoio à criação de um fórum cívico ou de cidadania para, com abrangência e sem jogos de poder, imprimir dinâmica, participação e criatividade à ideia da Região – sim, qualquer coisa como um Fórum para a Região do Algarve, comprometendo escolas superiores, instituições independentes, personalidades... enfim, as forças que o Algarve tem, diz ou pensa ter. Confesso que esperava que o PS de Miguel Freitas desse uma arrancada agora que esse partido está livre de espírito, mas não deu.

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de maio de 2004

SMS 54. Desalento

20 Maio 2004

O discurso político é pobre.

Os líderes partidários ou não dizem coisa com coisa, ou quando dizem é em função de interesses, sobretudo os interesses de carreira política pessoal – tudo calculado numa espécie de jogo.

Quanto aos eleitos, então alguns, seria melhor que não abrissem a boca – há presidentes de juntas que já exibem como luxo uma mentalidade rasteira de mercearia; há presidentes de câmara cujo discurso está ao nível dos dirigentes partidários e por isso elogiam-se uns aos outros; e há deputados cujas manifestações secundárias de adolescência nem aos adolescentes deverá agradar.

Quanto aos técnicos, maior é o desalento – há arquitectos camarários que andam a brincar às palmeiras e repuxos nas cidades, há directores de bibliotecas que só falam de si próprios no que talvez tenham razão porque as câmaras e já agora os jornais, estão cheios de animadores culturais.

Na verdade, começo a não acreditar no Algarve e por um triz esta SMS não seria mesmo a última. E para que não digam que evito as palavras, pois aqui vão as palavras: o PSD tem muita culpa, o PS tem muito mais e no resto há brincalhões, brincalhões.

Carlos Albino

sexta-feira, 14 de maio de 2004

SMS 53. Combustíveis com estranho sotaque

13 Maio 2004

1 – Sim, Gillian Ann Fox, de que nunca ouvi falar, quer instalar uma armazenagem 4480 litros de combustíveis na Foz de Oleleite (Castro Marim).
2 – Também Rainer Offermann quer armazenar 2500 litros de combustíveis numa dita Casa Lontona, no Vale do Milho (Lagoa).
3 – Igualmente Elvira Brunk requereu licença para armazenar 2500 litros de combustíveis no recôndito Sítio do Zambujal (Boliqueime).
4 – Mais, Andrew Ian Hogg almeja armazenar a mesma quantidade de 2500 litros de combustíveis no também recôndito Sítio do Malhão (Paderne).
5 – Finalmente, a firma Pierre Lamar Limited de que também nunca ouvi falar quer armazenar 2500 litros de combustíveis numa dita Vila Palmela, na Estrada do Garrão (Almansil).

Como manda a lei, a Direcção Regional do Algarve do Ministério da Economia fez publicar os editais em 30 de Abril pelo menos num jornal tão recôndito como os lugares dos combustíveis, dando o prazo de 20 dias para as reclamações por escrito, portanto até 20 deste mês. É óbvio que ninguém irá reclamar quase pela certa, até porque no Sítio do Zambujal e no Sítio do Malhão não há vivalma que possa reclamar, ou se há, tanto lhe faz. Mas reclama-se aqui.

Então, por um lado, andam os Municípios tão zelosos em erguer as suas zonas ou áreas industriais e, por outro lado, pinta-se o mapa com milhares de combustíveis aqui e outros milhares ali? Então, por um lado, anda-se a promover e a estimular o turismo rural, e, por outro lado, nas mesmíssimas zonas rurais e pelos respectivos caminhos rurais onde mal cabe um dois cavalos, plantam-se armazéns de combustíveis? O Director Regional do Ministério da Economia não reparou nas coincidências?

Um Algarve assim com tanto combustível armazenado não é um cartaz turístico, é um atentado suicida.

Carlos Albino

quinta-feira, 6 de maio de 2004

SMS 52: José Barão

06 Maio 2004

A 17 de Agosto, é o centenário do nascimento do Jornalista José Barão que fundou o Jornal do Algarve em 1957. Sem mais ou grandes considerandos, sugiro a criação de um Grande Prémio de Imprensa do Algarve, com o seu nome, anual, e que, por dois modos, distinga em acto público, por um lado, a carreira de alguma personalidade algarvia relevante na área da Comunicação Social, e por outro lado, o conjunto dos melhores trabalhos de um Jornalista (algarvio ou não, português ou não) publicados ou difundidos no ano anterior sobre questão ou questões relacionadas com o Algarve. Essas duas distinções, fazem falta no calendário algarvio.

Carlos Albino

quinta-feira, 29 de abril de 2004

SMS 51: A Mãe Soberana fez um milagre em Loulé!

29 Abril 2004

A festa louletana da Mãe Soberana é uma festa mais que milenar e facilmente se identifica como sequência de uma velhíssima tradição anterior – está documentado que Diana era venerada em Loulé nos tempos romanos (as lupercalia…) e os devotos de há dois milénios designavam aquela entidade como a «Sancta» ou também como a «Mater Soberana», curiosamente as mesmíssimas palavras que os louletanos de hoje empregam. O Município de Loulé faz mal em embarcar nesse fundamentalismo redutor dos 450 anos que é mais uma manifestação secundária do Concílio de Trento, e a Igreja Católica mal faz em não aceitar ou não assumir que é a herdeira de tradições místicas dos tempos do paganismo aos quais ninguém deseja voltar mas que não podem ser alvo de inquisições inúteis. Aliás, os louletanos são «louletanos» e não louleeiros ou louleenses porque aquele «t» fatal terá a haver alguma coisa com a antecessora de Diana… Um dia falaremos disto aqui, mas vamos ao que interessa e o que interessa é que a Mãe Soberana fez, no Domingo passado, comprovadamente um grande milagre em Loulé, pois milagre foi: pela primeira vez, a Santa uniu na sua corrida triunfal pela ladeira acima, o Poder, a Oposição e a Independência! Confesso que nunca pensei que o deputado do PSD e presidente da Assembleia Municipal, Patinha Antão tivesse força nas pernas para chegar lá ao alto, pois também sempre comprovei que o Luís Filipe Madeira só conseguiria subir aquilo a cavalo, a pé jamais; nunca tinha visto o presidente da Câmara, Seruca Emídio, também do PSD, de braço dado fosse com quem fosse, a «empurrar» a Santa ao passo marcado pela ímpar marcha dos Artistas de Minerva (sempre, em anos anteriores, o tinha notado a ver a banda passar); também não faltarei à verdade se disser que o líder da oposição local e anterior presidente Vítor Aleixo (PS) há anos que sobe com a Mãe Soberana ao meu lado, sendo ele um convertido mais tardio que André Magrinho que foi uma das melhores inteligências económicas do primeiro-ministro Guterres e que também sobe todos os anos - o que não é milagre, uma vez que a gente da minha geração sobe porque «a Santa está na alma» que é o que se acaba sempre por dizer aos sacerdotes católicos lá em cima, quando agnósticos inquietos, ateus serenos e crentes convictos, todos estão juntos, parecendo aquilo o concílio mais ecuménico do Mundo! Rimo-nos, abraçamo-nos, respeitamo-nos, enfim nada temos a ver com aqueles que dividem e se rebentam, rebentando o Mundo. Ora aqui está o valor da grande festa de Loulé que, obviamente, sendo coisa também para turistas admirarem, não é uma festa turística. É sobretudo uma festa da convicção humana e do Humanismo. É claro que na subida deste ano só faltou ainda Cavaco Silva mas suspeito que para o ano ele lá se decidirá a ir, suspeito… Ora eu creio que tendo o andor da Santa arrastado este ano, à frente ou atrás, não interessa, Seruca Emídio, Vítor Aleixo, Patinha Antão e André Magrinho e, para mais – para maior perfeição do milagre - acabando todos por se reunir lá em cima para escutarem o bispo louletano D. António Carrilho, foi milagre deveras, muito embora, sendo festa, tudo terminou em festa que também se desarma. Mas foi um milagre que eu, com a independência que reclamo sem qualquer suspeição, peço que se repita em 2005. Seruca Emídio e Vítor Aleixo só fazem bem mesmo que o armistício seja breve. A Santa registou porque os armistícios breves estimulam a serenidade da crítica e da democracia para os dias seguintes, mesmo que a democracia louletana continue a ser uma promessa a pagar à Mãe Soberana…

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de abril de 2004

SMS 50:Bodas de Ouro! Honra lhe seja feita

22 Abril 2004

E assim chegamos ao Número 50 destes modestos apontamentos semanais – são as Bodas de Ouro pois, para muitos leitores, esperar uma semana continua a ser um ano. Justifica-se o balanço:

• As Câmaras do Algarve continuam com obras fundamentais adiadas e o poder central (todos os poderes centrais) continuam a ter pelo Algarve o maior desprezo. Correios, florestas e o mais que se avizinha… tudo a mudar para os alentejanos de Évora que pensam devagar mas dominam o Terreiro do Paço.

• E o Presidente Sampaio? Nem uma palavra. Entendeu não visitar o pobre nordeste algarvio e muito menos as terras queimadas de Monchique e Silves.

• Estádio Algarve ou Estádio Louletano? Tenho pena de José Vitorino que há tantos e tantos meses anda a dar 25% do seu ordenado para o Farense…

• Droga, álcool e barulho continuam. Portimão não teve a gentileza de convidar o presidente do parlamento argelino, Karin Younss. O ano de 2004 está longe de ser um ano de clarificação para o Algarve, por mais que José Apolinário, como bom homem do Pechão, pergunte, requeira, reúna, se desloque, se insurja, aponte, enumere, difunda…

Maestro Álvaro Cassuto? Agora somos nós que estamos em falta. Um grande maestro a que não hesitamos chamar já Algarvio.

• Eurodeputados «do Algarve»? O que é isso? Mendes Bota ainda tem que esperar algum tempo pela resposta à interrogação. Tenha paciência como paciente será a oligarquia de Alte, honra lhe seja feita.

• Descentralização. Aí temos a Grande Área Metropolitana. A questão marginal ou acessória está resolvida e o resto, como diz o meu amigo do Cachopo, são «pormenores fundamentais».

• O secretário de Estado do Turismo, Correia da Silva continua a não pedir desculpas à Universidade do Algarve como se fosse alentejano de Évora. E se calhar é.

• E, já agora, se faz favor Luís Villas-Boas, continue a resistir.

• Continuo a aguardar que o presidente da RTA, Hélder Martins, apresente o seu curriculum profissional por dever de resposta, tal como continuo a aguardar que Paulo Neves seja acusado de qualquer coisa como até agora não foi – antes pelo contrário viu a sua gestão aprovada na íntegra e sem reparos. Foi uma coisa suja e há por aí aprendizes de jornalismo que não perceberam que antes de escrutinarem os perseguidos por um polícia, devem e têm que, por imperativo ético e deontológico, escrutinar o perseguidor.

quinta-feira, 15 de abril de 2004

SMS 49: A qualidade de vida da minha rua…

15 Abril 2004

Esclareço, antes de tudo: a minha rua não entrou e possivelmente jamais entrará na história mundial, embora não fique a destoar de muitas ruas já célebres do Afeganistão, do Iraque e mesmo da Somália famosas por aquela selvajaria que é a irmã gémea da poeira suja, do ruído agressor e da falta de decoro. E sendo uma rua de Loulé, não foi certamente por causa da minha rua que Loulé se tornou cidade. No entanto, para os que vivem nesses cento e vinte, talvez cento e cinquenta metros e para os que aí nasceram conservando o lugar do berço como dever sagrado - pelo que legitimamente continuam a dizer «a minha rua» - trata-se de uma rua inacreditável. Os veículos, entre abandonados, à venda por oitocentos euros ou mesmo os de gama impante, além de num exercício de anti-civismo escroque ocuparem em absoluto os passeios assim tornados intransitáveis, também estacionam em segunda e em terceira fila até ao traço central que os homens camarários, há duas semanas, andaram a pintar no alcatrão num louvável assomo de modernidade, pelo que esse traço acaba por ser útil como guia único para as centenas de crianças saídas das aulas, para os velhotes de bengala e para as mães com carrinhos de bebé que se afoitam às curvas para evitar o carro furioso que vem de baixo e as grandes motas de escape aberto que vêm de cima como nos espectáculos do poço da morte. E ali estão dezenas de motos sobre a calçada com lavagens oficinais para a valeta pública onde poeiras e óleo fazem pasta. Além, há bilhas de gás, e mais além, bilhas de gás há que não estoiram porque não há acidente nem acasos e os bombeiros estão perto. Naquele espaço público de recanto, dezenas de grades vermelhas de vasilhame seguem a rigor a opção estética habitual em Casablanca. E por aí se aproxima o dia em que pessoa particular pede ao presidente da Câmara uma ingénua licença de ruído, mas como vem acontecendo há anos com a maior das impunidades, no que uma simples licença de ruído resulta? Pois chega a resultar no corte da via pública e na transformação da rua em grande esplanada de frango assado e sardinhada, com palco de origem municipal armado e ligação da energia à rede de distribuição pública – tudo isto, imagine-se, para celebrar um exótico santo popular que ninguém conhece naquelas paragens mas que corresponde ao nome geral dos donos do estabelecimento comercial assim favorecido e que consegue a proeza e os genitivos da proeza – está lá o poste metálico, inclinado já a quinze graus, à espera da função e do regabofe dos favores administrativos. Não falarei já dos ruídos de um pequeno bar feito discoteca por sua vez feito sala de espectáculos com música ao vivo aleatoriamente nos mais elevados decibéis até às três, quatro, cinco e seis da madrugada que já outro dia; não falarei dos donos dos cães e do que estes fazem por aqueles, ambos sumindo-se no que imaginam deixar para trás invisível; não falarei do facto de se ter perdido já a memória da pressão da água de uma agulheta a limpar os dejectos, as lamas, os óleos e os ossos dos cães que se acumulam nas rodas dos carros abandonados e não falarei dos ralis inglórios que o rapaz camarário faz com seu carrinho varredor que nada pode varrer onde deveria varrer; não falarei do lugar onde houve um grande chafariz, derrubado para aí surgir um chafariz pequeno mas onde até os burros iam beber sozinhos aprendendo o caminho de cor e que acabou por ser igualmente derrubado para dar lugar a uma sebe com um poste ao meio, como acontece em todas as ruas famosas do terceiro mundo. No entanto, apesar desta evidente qualidade de vida que a minha rua oferece, lá vou acarretando para aquela casa onde nasci, os meus livros e documentos que certamente doarei a sítio público de Loulé. Não tenho é coragem de convidar ninguém para lá ficar um dia ou pernoitar uma noite que seja – a «qualidade de vida» da minha rua de Loulé equivaleria a um castigo que os meus amigos não merecem.

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de abril de 2004

SMS 48: CTT, uma lástima

08 Abril 2004

Os Correios de Portugal, S.A. ou CTT, S.A. são uma pessoa colectiva de direito privado, com estatuto de sociedade anónima de capitais exclusivamente públicos. No fundo, o privado é por enquanto uma redundância a encobrir certamente intenções que estão longe de ser públicas. Em todo o caso, o presidente dos Correios, Carlos Horta e Costa que, na fotografia hieratizada para os portugueses on line, surge em mangas de camisa apoiando o queixo em mão de pensador perscutante - como agora parece ser obrigatório na imitação serôdia dos empresários norte-americanos dos idos anos 70 – garante-nos que «a reformulação levada a cabo (nos CTT) tornará a empresa mais ágil, eficiente e inovadora». E naturalmente, como os CTT são, por enquanto, de capitais exclusivamente públicos, Horta e Costa acrescenta o óbvio descargo de consciência: «queremos que os nossos clientes nos sintam como um parceiro de negócio com a preocupação central de oferecer as melhores soluções e elevar a qualidade de serviço». Não se questiona que os CTT de Horta e Costa tenham que preparar-se para enfrentar novos desafios, embora ele destaque o da «liberalização de mercado» - objectivo que, como se sabe e à falta, por enquanto, da mão espanhola no nosso sistema de serviço postal universal, em todo o terceiro mundo se consegue através de protocolos com juntas de freguesia… Mas não é de Espanha (que tem a distribuição postal numa lástima, tal como a Alemanha, a Suécia…) que importa falar aqui. Falemos do Algarve que, até sob o ponto de vista postal e dos serviços financeiros postais, é uma região caracterizada. Pois o que fez Horta e Costa para tornar a sua empresa de capitais exclusivamente públicos numa empresa supostamente «eficiente e competitiva, rentável e com qualidade» no Algarve? Bem, Horta e Costa fez isto: acabou com a direcção regional dos CTT e mudou-a para Évora, sem escrutinar a decisão com os «parceiros do negócio». Foi uma desastrosa decisão e as consequências estão à vista. Os CTT que já mentiam na sigla (o primeiro T de Telégrafos falta à verdade e ao segundo T de Telefones até os dentes lhe caiem) também passaram a não ser confiáveis no C de Correios. Na verdade, ao mudar o quartel para Évora, Horta e Costa acabou com os Correios no Algarve, além de, segundo parece, ter falhado nessa ideia peregrina de fazer converter os presidentes de junta em parceiros de balcão. Digamos que, no que diz respeito ao Algarve, Horta e Costa brincou em demasia com capitais exclusivamente públicos. Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

sexta-feira, 2 de abril de 2004

SMS 47: Luís Villas-Boas, se faz favor, resista!

01 Abril 2004

Sim, Faro é uma planura mas, nas imediações do Refúgio Aboim Ascensão, surgiu um enorme monte. Um monte de inveja, cobiças, ressaibo e perversões ali mesmo a cair sobre o Centro de Emergência Infantil e, claro, sobre o bom, abnegado e, na matéria de apoio a crianças, o sábio homem que é Luís Villas-Boas. Primeiro, foram umas contas mal interpretadas pelo jornalismo de trazer por casa a tentar fazer a cama da montanha, sem êxito, diga-se. Depois, há mês e tal, foi a questão da adopção de crianças por «casais» de homossexuais. E sendo esta uma questão que lança as maiores dúvidas e até os mais sérios debates na generalidade dos países, aqui, em Portugal, foi a aberrante sanha de uns tantos que querem impor a excepção tolerada como regra, a margem compreensível da natureza como normalidade e a sublimação questionável da apetência como instinto consagrado. E finalmente, na semana passada, foi o ataque descabelado a propósito dos cuidados especiais que as crianças seropositivas requerem e que o Refúgio não está preparado para prestar mas que afinal nunca recusou. Ora havendo mais de 600 instituições em Portugal que se dedicam a apoiar nos primeiros anos de vida as crianças atiradas ao lixo - por entre elas a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa com cerca de 3.500 funcionários! - e todas procedendo de igual forma como o Refúgio, porque razão essa campanha contra Villas-Boas? Porquê a actividade vulcânica desse estranho sindicato que emite não menos estranhos pseudópodes em televisões e jornais de primeira, atirando-se exclusivamente contra o Refúgio e vendo-se nitidamente que, a qualquer pretexto, visa perfidamente um homem – Luís Villas-Boas? Pois essa minoria de gente que de inquirida passou rapidamente a inquisidora, o que faz, em vez de avaliar serenamente a experiência de um homem que, quase a partir do zero, construiu uma instituição modelar no País - melhor dito e sem hesitação, modelar na Europa, conhecida e reconhecida pelo mundo afora – o que faz? Faz aquela montanha que já cheira mal. Daí que tenha de dizer: Luís Villas-Boas, resista se faz favor! Neste momento tem 98 crianças para cuidar, as duas últimas abandonadas no último sábado, e você estava ao pé delas já a noite entrava adentro, quando por certo os seus algozes improvisados estariam distendidamente a alegrar-se com o balanço da refrega. Resista, se faz favor, porque não está sozinho.

Carlos Albino

sexta-feira, 26 de março de 2004

SMS 46: Ora aqui está um bom slogan!

25 Março 2004

Possivelmente o que vou escrever é coisa já requentada e conhecida de todos, menos por mim. Pois estava eu muito longe da filosofia e exasperado com a sujidade e o ruído das ruas (já por aqui uma vez se garantiu que muitas das nossas cidades algarvias de marca estão perto do nojo que grande parte do terceiro mundo já varre) mas ao entrar num café, olho, leio um letreiro e de imediato me recordo de Unamuno. Lembrei-me de como o filósofo espanhol foi pelo pensamento afora quando ao entrar numa velha farmácia de Valência, encontrou na parede um letreiro com a fórmula para a última tentativa de salvação do moribundo que tivesse experimentado remédios indicados atrás de remédios, sem resultado para debelar o mal desconhecido. A fórmula do boticário de Valência chamava-se treuka máxima e consistiia numa mistura das parcelas de toda a medicamentação conhecida, fosse ela qual fosse - a esperança era a de que alguma dessas parcelas, na misturada de centenas e centenas, acertasse contra as causas do mal.

Ora nesse café de uns uns 16 metros quadrados apenas (para mais um café de Loulé que é a capital da algazarra) acabei de encontrar coisa semelhante à treuka achada por Unamuno, para a pior doença do Algarve que é o barulho selvagem, portanto um barulho mortal. O que diz o letreiro? Isto: «A Terra tem 5 Oceanos, 7 Mares, 5 Continentes, 513 milhões de quilómetros quadrados… e você vem fazer barulho para aqui?» Estão a ver o remédio, não estão? Eu fui pelo pensamento afora e vi o remédio…

Carlos Albino

quarta-feira, 17 de março de 2004

SMS 45: O que é ser Algarvio ?

18 Março 2004

Não é que pensar nisto provoque um cansaço cerebral, mas vale a pena pensar nisso de vez em quando. O que, ao longo dos séculos - arriscar-me-ia a escrever mesmo milénios - caracteriza esta Querida Terra, é ser ela uma plataforma de gente que entra e de gente que sai, ficando naturalmente alguma gente parente de todas as outras gentes. Não somos algarvios pelo sangue, mas pelo território aberto. O Algarvio é, pois, aquele «que está aqui», se identifica com a Terra onde está, e que em algum momento, começou a amar a Claridade e a Nitidez, quer na natureza, quer nas relações humanas. Coisa simples e universal. Por isso, o Algarvio é simples e é universal. É anti-fundamentalista, assim mesmo: anti-fundamentalista. De corpo e de espírito. Noutras paragens, a coisa é diferente e, entre outros exemplos, se me permitem dou um testemunho pessoal. Há já alguns anos, o homem que ficou como carismático director do Jornal do Fundão que é de pura matriz beirã, precisamente o saudoso António Paulouro, pediu-me para, na prática, salvar-lhe o jornal. Aquilo estava num imbróglio técnico, numa grande confusão em termos de organização jornalística. Por alguns meses fiz o trabalho que foi levado a bom porto e a imagem, estilo e cunho que inculquei no jornal perdura até hoje em laivos identificáveis. Só que houve uma barreira, uma fronteira intransponível: o que, para além do «fazer o jornal» eu escrevesse, não tinha a «sensibilidade beirã» porque não era da Beira, era Algarvio… E como para deixar de ser «algarvio» para passar a ser «outra coisa» não vale a pena fazer muito esforço, retirei-me pela esquerda alta, salvando a amizade e o respeito recíproco, ficando eu sem perceber - diga-se, até hoje - o que é «ser Beirão»! Ora vejam como no Algarve as coisas são completamente diferentes, e nos exemplos do mesmo campo. Repugna a alguém que um transmontano escreva sobre Aljezur? E que uma minhota escreva sobre Albufeira? E que um ribatejano escreva sobre Faro? E que todos passem por Algarvios? Desde que pensem como seres liberais e, sobretudo amem a Terra, ninguém vai questionar o transmontano, a minhota ou o ribatejano… Sempre assim foi. Os desertores polacos da tropa napoleónica ocupante do Algarve não nos deixaram o acordeão, o corridinho sem letra e a cataplana? Deixaram, e hoje são coisas «algarvias». Os transmontanos que, transportados por galegos, para aqui emigraram nos séculos XVI, XVII e XVIII não nos deixaram os romances e o cancioneiro da serra que o Teófilo Braga em boa hora recolheu assinalando as variantes da origem do extremo norte? Também deixaram. Não vejo nenhum mal em que o Algarve continue a ser a plataforma milenarmente movimentada, uma Terra de chegada para uns, de partida para outros e de permanência para os que por aqui ficaram adoptados como liberais, de espírito aberto e universal. Os bandidos é que estão a mais, como outrora os piratas de costa, fossem eles mouros ou britânicos… O bandido é que jamais poderá ser Algarvio mesmo que as estatísticas o mostrem como tal e se apresente vestido de médico, de jornalista ou de trolha. E basta por hoje.

Carlos Albino

quinta-feira, 11 de março de 2004

SMS 44: Triste cena essa, a de Correia da Silva

11 Março 2004

O secretário de Estado Correia da Silva, vai para quase um ano, condenou o Observatório do Turismo à morte pelo garrote que é a pior das mortes que um projecto pode ter, sobretudo quando a pena é executada pela política encapuzada. Correia da Silva lançou publicamente um acusatório contra o Observatório e, implicitamente, contra os investigadores que o compunham e as instituições que eram, em última análise, o respaldo científico da iniciativa, no caso a Universidade do Algarve e a Universidade de Aveiro. Disse esse secretário de Estado que o Observatório não tinha feito nada na vida e que nenhuns resultados tinha produzido. Cedo me pareceu que Correia da Silva entrou pelo campo da irresponsabilidade política porque ele não fez avançar nenhuma prova consistente e nenhum argumento susceptível de discussão – atirou palavras para o ar. O secretário de Estado foi na onda de dissolver o que podia dissolver julgando que com isso agradaria certamente a Manuela Ferreira Leite. Foi uma triste cena essa a de Correia da Silva. Sei que muita gente desejará um «turismo à balda», sem avaliação estatística criteriosa, sem qualquer escrutínio relativamente às questões do ordenamento do território, sem observação do emprego, da actividade empresarial e, naturalmente, sem uma dissertação correcta da Qualidade (letra maiúscula, por favor!) do Turismo. Correia da Silva já devia ter pedido desculpas públicas do que disse, já devia ter emendado o que fez e já devia ter percebido que, como secretário de Estado, não podia ter brincado com coisas sérias. Um governante não pode andar e decidir na política como se fosse uma espécie de motar a desafiar a vida em sentido contrário nas auto-estradas. Voltarei à questão.

Carlos Albino

quarta-feira, 3 de março de 2004

SMS 43: E garantem-me que já há especialistas em construção de ruínas...

5 Março 2004

Pasmo: em plena cidade, uma casa sem passeio e portanto sobre a estrada, recebe um primeiro andar falso e estende mais por uns valentes metros quadrados. Licença? Para quê a licença se o proprietário é funcionário municipal? Tudo clandestino. O presidente deve saber, o fiscal fecha os olhos, o mamarracho ali fica para a posteridade... É claro que o dono disto se ri dos que, com todo o escrúpulo e zelo pela lei, aguardam há meses, anos, vários anos por alguma licença de obras.

E aquela casa mesmo à beira da estrada? Bem, essa recebe dois andares. Também sem qualquer licença. Tudo clandestino. Os da junta encolhem os ombros, a carrinha do fiscal passa sem travar. Para quê travar? Ou não é verdade que, uns cinquenta metros abaixo, um antigo e exíguo salão de baile deu em vasto armazém de alfarroba, com mais cinco metros para cima, um enorme portão de ferro em vez da velha portinha e o dono a rir-se? Não tinha ele, mesmo em frente ocupado metade de uma via pública para idêntica façanha clandestina? Para quê licença?

Estes são apenas dois exemplos de como o Algarve das obras clandestinas está a tornar-se insuportável. São exemplos miúdos, porque há também os graúdos! Sim, os graúdos em quem ninguém pode tocar no receio de represálias na próxima campanha eleitoral...

E garantem-me que há já por aí firmas «especializadas» em construção de ruínas em lugares ermos, seja em terrenos só de lavoura ou mesmo em encosta íngreme de pedras! Tudo para que a ilegalidade das obras, com esse passe de mágica, se torne – imaginem – legal!

Neste panorama de ilegalidades monstruosas - em que tanto os decisores cá de baixo mas que, nas câmaras, condicionam os decisores lá de cima, como os fiscais de rua que a olhos vistos enriquecem sem justa causa, tornam obviamente obrigatório o perdão imediato a qualquer GNR de trânsito apanhado com uma perna de fora no quartel de Albufeira - o cumprimento da lei, para o cidadão que queira ser íntegro, acaba por se transformar numa punição. Numa injusta e irremediável punição.

E o curioso é que não há campanha eleitoral local, desde Aljezur a Alcoutim e entre Castro Marim e Vila do Bispo, que nos últimos trinta anos não tenha sido feita «contra a corrupção»... Perante tanta honestidade não me curvo apenas – faço uma circunferência!

Carlos Albino

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

SMS 42: Desculpem-me, mas dou um conselho

27 Fevereiro 2004

Acabo de ouvir pela rádio uma intervenção pública de um autarca algarvio. Não interessa saber-se agora quem é, nem do que falou nem para quem falou. Não quero «fulanizar», como agora se diz quando um texto é incómodo, e muito menos desejo converter pessoa tão bem convencida e melhor rodeada, em vítima a concitar a misericórdia e a compaixão. Assim diz-se melhor o que se tem para dizer. Desde que este ano de 2004 começou, já deve ser a vigéssima personalidade pública de relevo que – ou pelo que ouço ou pelo que leio - mostra à evidência desconhecer a gramática portuguesa, ou dar notórios sinais de que pouco ou nada percebe do que fala, e, com todo o àvontade da terra e dos céus, mergulha o cérebro na celha dos maiores disparates. Desculpem-me mas dou um conselho: levem ao menos o discursozito escrito, razoavelmente bem pensado e não tenham vergonha de pedir uma opinião prévia a quem sabe sobre a matéria que estiver em causa. Falar bem de improviso não é apenas um acto de coragem ou de «treino» como os ignorantes reciprocamente se desculpam e estimulam quando sobem pelos escadotes podres dos partidos. E se o falar, só por si, é um acto de responsabilidade sobretudo quando se fala «em nome de...», o falar de improviso quando não se percebe patavina da matéria é um acto de desrespeito grosseiro. Na verdade, tenho de dizer: a «qualidade» do discurso público no Algarve anda muito por baixo e toca no ridículo.

Carlos Albino

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2004

SMS 41: Duas Guinés-Bissaus? Não, obrigado

19 Fevereiro 2004

1 . Cheiro da Serra e odor da Doca. Naturalmente que prefiro ver Aljezur, Monchique, São Brás de Alportel e Alcoutim integrados numa Grande Área Metropolitana. O cheiro da Serra incomoda-me menos do que o da Doca de Faro em hora de maré baixa. Além disso prefiro ver todos os concelhos da linha serrana numa única área muito embora admita que o poder central – seja qual for o partido que por ele ande a rolar – gostará de ver o Algarve dividido para melhor reinar. Sabe-se como isso tem acontecido com os Municípios e não vale a pena gastar espaço em dissertações sobre o óbvio. E mais: prefiro ver sempre algum concelho da linha serrana ou na presidência ou numa das vice-presidências de uma Junta Metropolitana do Algarve, do que vê-los como caniches atrelados a alguma Comunidade Urbana ou a alguma Associação Intermunicipal que, no Algarve, serão mais tarde ou mais cedo sempre fórmulas para dividir tudo isto em duas Guinés-Bissaus a bem da truculenta Grande Imobiliária que, no mesmo Algarve, tem sido anti-cosmopolita, anti-metropolitana e já agora anti-Região. Além disso, não gosto de caniches em Política – nem são cães nem são gatos.

2. Acusaram o toque. Naturalmente que a Região-Piloto do Algarve nunca esteve na Constituição... mas o incómodo dessa ideia acompanhou a Lei Fundamental desde as constituintes a todas as cenas de revisões (a de 1982 foi o exemplo da tal traição). A imposição da «simultaneidade» para as regiões administrativas teve apenas um fim em vista: inviabilizar qualquer pretensão algarvia, e que um eventual êxito da regionalização, mesmo que em regime experimental, contaminasse o País. Daí que tenhamos escrito e voltemos a escrever: a Região-Piloto esteve lá, fez parte do espírito da Lei Fundamental mas foi retirada por uns braços no ar a que – logo vi – só lhes interessava fazer uma Oligarquia no Algarve e não uma Região. Os braços acusaram o toque e fiquemos por aqui. Além disso, não gosto de oligarcas em Política – nem são caniches nem são domadores de circo.

3. Curiosamente. Até agora, sempre que têm estado no poder, tanto o PS como o PSD revelam-se fortissimos zeladores do Poder Centralizador em detrimento da Regionalização, esquecendo o discurso de campanha. Mas sempre que voltam ou alternam na oposição, também cada um desses partidos volta a reivindicar a Regionalização... Nestas alterações de comportamento (no poder e na oposição) as elites «distritais» que, por regra, sobrevivem da nomenclatura centralista só enganam quem quer ser enganado. Recordo-me por exemplo, de um inquérito feito em 1996, pelo Expresso, junto de 15 dos 19 presidentes das distriatis do PSD – apenas Mendes Bota (então a liderar a distrital de Faro) se declarou «inquestionávelmente favorável» à regionalização. Claro que os restantes 14 então homólogos de Mendes Bota não tinham ainda tido tempo para compreender que a promessa eleitoral de regionalização feita pelo PS não era para cumprir e que o referendo (ou a forma como referendo foi montado) equivaleu a um lavar de mãos. Tal como na revisão de 1982.

Carlos Albino

terça-feira, 17 de fevereiro de 2004

SMS 40: Possivelmente estamos cansados

12 Fevereiro 2004

Não é verdade que em 1998, o referendo sobre a regionalização foi transformado numa batalha entre o partido então no Governo e o partdo então na primeira linha da oposição? O resultado viu-se: mais de 50 por cento de portugueses pura e simplesmente se abstiveram. E não falemos mais do passado (as autárquicas como pretexto para a inexplicável fuga de Guterres do Governo...) porque basta estar-se atento ao que se aproxima, pelo que aí vem a pergunta no mesmo tom – não é verdade que, a propósito de eleições europeias, o principal partido agora na primeira linha da oposição já deu indicações de que considera esse sufrágio como argumento válido para chumbar o partido agora no Governo? «E o que é que uma coisa tem com a outra?» pergunta sempre aquele caçador do Cachopo quando, no preciso momento em que ele alveja uma perdiz, alguém lhe diz, para travar a cartuchada, que a apanha de amêijoa está proibida... Na verdade, já cansa ver como os partidos, na ânsia de reocuparem ou conservarem ou voltarem a ocupar o aparelho central do Estado, até da proibição da amêijoa se servem para impedirem algum tiro numa perdiz. E digo isto porque o meu amigo José Lança lançou uma dúvida pertinente: a de não se saber pela certa se de facto os Algarvios querem a Região do Algarve. O referendo de 1998 quanto a isso foi inconclusivo, ou melhor: nada tinha ou teve a ver com isso. Mas para além da pertinência da dúvida, admita-se é que os Algarvios começam é a ficar cansados de uma meta política face à qual é o Estado que não cumpriu a Constituição pela confusão que se arrasta - vai para trinta anos! - entre perdiz e amêijoa. A abstenção é a resposta. Infelizmente, mas é a resposta. Pobre perdiz.

PS: Na próxima SMS vamo-nos lembrar da resposta de Mendes Bota em 1996 e de como em 2004 ficará melhor a Alcoutim e Aljezur serem metropolitanos ao lado de Tavira e Lagos do que contunarem a ser humilhados como serrenhos. É só para adiantar.

Carlos Albino

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2004

SMS 39: Gato por lebre...

05 Fevereiro 2004

Fez bem o Director do Jornal do Algarve, Fernando Reis, alertar para as diferenças entre desconcentração, descentralização e regionalização. É coisa que há muitos, muitos anos é dos livros, mas os políticos têm usado esses termos segundo as conveniências do momento ou, como se costuma dizer, sobretudo no Cachopo, têm vendido gato por lebre. Na verdade, mal se decidiu alguma desconcentração a trinta por cento lá vinha o ministro da festa (senão até o próprio primeiro-ministro da fanfarra!) falar em Faro de «descentralização» - falso! E mal essa tímida generosidade do poder central subia para os quarenta e cinco por cento, lá vinham os mesmos, dessa vez a falar em «regionalização» - falsíssimo! Por esse andar, não seria de espantar que, em caso da singela desconcentração subir aos oitenta por cento, para aí surgissem os mesmos ou outros por eles, a dizerem que, com isso, se consumaria a plena independência do Algarve como Estado soberano! A falsidade não foi tão longe mas esses caçadores da política obrigaram muita gente a comer gato por lebre. Mas onde é que está afinal desconcentração no Algarve? Tímida e muito pouca. E a descentralização? Quase nenhuma. E a regionalização? Nada, absolutamente nada. E tanto que é assim, que há muito «director regional» que mais não é, ou pouco mais é que o equivalente a chefe de divisão do respectivo Ministério da tutela. O resto é apenas «consideração pessoal». Foi este rosário de falsidades começou por punir os Municípios e acabou também por ferir de morte as poucas instituições «distritais» que por aí andavam a arrastar as pernas sem incumbências, sem competências e, sobretudo, sem respaldo institucional. Mas, mais grave, tais falsidades acabaram por impedir que a desconcentração efectiva fosse a pedagogia para a descencentralização, e esta fosse a pedagogia para a regionalização como patamares ou degraus que uma Democracia faria supor. Ora, como se sabe, em Política (letra grande, se faz favor…) é muito mais difícil eliminar um moribundo do que enterrar um morto. Por isso, os governadores civis têm vivido o drama de sentirem, ou quererem, ou ainda serem tentados a representar este «distrito», que foi «província» e até já foi «reino», mas não passando de meras extensões do Governo pelo que quanto mais grave foi a borrasca mais isso se percebia. E também foi por isso que Macário Correia (parabéns que tem a sua cidade de Tavira muito bonita) ousou com coragem, num debate em Outubro e perante membros do Governo, estranhar que, tendo a Assembleia Distrital de Faro, deliberado em reunião ordinária, comunicar ao Governo a sua totalidade inutilidade «este não encontre solução para a dar por extinta»… A fábula mostra que, no Algarve, qualquer «associação intermunicipal» seja ela de fins gerais ou de fins específicos, como alternativa a uma Grande Área Metropolitana - aceite estrategicamente como degrau para a Região que não há - mais década menos década terá a mesma sina da moribunda Assembleia Distrital. Pensem bem nisto. Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

SMS 38: A superfície da Área e o volume da Região...

29 Janeiro 2004

Essa ideia peregrina de dividir o Algarve em duas comunidades urbanas, supostamente uma polarizada em Portimão e outra em Faro, é de quem não conhece o Algarve ou, se conhece, quer deliberadamente feri-lo de morte arrancando-lhe por decreto o coração da unidade, vazando-lhe por despacho o sangue da coesão e, no estilo próprio dos bichos das campas rasas, dividindo o cadáver para reinar. A solução que, em última análise, consistiu em atirar para o ar - ou em sortear como na lotaria da Santa Casa – as Grandes Áreas Metropolitanas, as Comunidades Urbanas, as Comunidades Intermunicipais de fins gerais e as Associações de Municípios de fins específicos, é uma solução copiada daqui e dali, não é original. Mas admita-se que tal sorteio sirva para resolver - ou pelo menos para o Poder Central em exercício limpar a água do capote - os problemas do Norte e do Centro do País onde impera a agressividade por um ou dois palmos de terra e as lutas selvagens por independências locais que não deixam de ser independências macacas. Politicamente, foi esse Centro e esse Norte que inviabilizaram a Regionalização que há muito devia ter sido feita pelo que não há qualquer legitimidade em impor-se agora ao Algarve uma solução espúria, oportunista e sem mapa, porque o problema do Centro e do Norte é o mapa, está no mapa e decorre do mapa – mapa que o Algarve tem sem margem para dúvidas. É verdade que perante esse fracasso dos mapas estranhos ao Algarve, alguns algarvios politicamente responsáveis vergaram indecorosamente a cabeça tentando salvar-se também politicamente com dois discursos: um, para uso em Lisboa, e outro, para iludir o pobre Reino cá de baixo que lhes deu profissão política e até nome. Mas o certo é que os amuos de Aveiro-Viseu-Coimbra, as disputas Guimarães/Barcelos-Braga, as coisas entre Covilhã e Castelo Branco, os despiques de Leiria e Santarém, para não se falar das reivindicações de Bragança, da Guarda, de Tomar e até do desafinanço alentejano de Évora e Beja, tudo isso não tem nada a ver, nem de perto nem de longe, com o que se passa no Algarve - mesmo quando se regista inequívoca discórdia de fundo percebe-se que a discórdia algarvia decorre exclusivamente de não haver Região e é um custo da Não-Região, como também custo da Não-Região é a longa lista de disparates que não cabe aqui descrever. Assim, essa solução da Grande Área Metropolitana para os 16 Municípios do Algarve apenas pode ser aceite como expediente de solução para a superfície ou mapa do Algarve. A Região é o único volume político que se adequa ao Algarve pelo que a excepcionalidade da Região-Piloto deveria ser reposta na Constituição da República.

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

SMS 37: A questão da Região é fundamental

22 Janeiro 2004

O resto até pode ser conversa. Ou melhor: será mesmo conversa. A questão da Região do Algarve é a questão política fundamental. Não vale a pena os partidos, os respectivos chefes circunstanciais e habituais cortejos de clientela contornarem o assunto, silenciarem o assunto, alterarem os termos do assunto. Foi um erro crasso aquele que, outrora, os deputados do Algarve em S. Bento cometeram ao terem permitido que a excepcionalidade da criação da Região-Piloto fosse retirada da Constituição. Foi um erro imperdoável a que não hesito chamar coisa próxima de traição, em função dos compromissos e das promessas eleitorais que confortavelmente respaldaram esses tristes políticos sem fibra. Como será um erro imperdoável se agora se permitir que a comprovada coesão algarvia fique espatifada com essa história das comunidades urbanas. Naturalmente que, no xadrês político algarvio, as palavras principais cabem ao PSD e ao PS, para nada lhes servindo que dissimulem a questão fundamental. O Algarve é uma Região Natural pelo que os políticos (e depois deles a própria democracia) pagarão muito caro se se furtarem às suas responsabilidades. Para já, a excepcionalidade da Região-Piloto deve ser reposta na Lei Fundamental. Os nossos ilustres deputados, em vez de por aí andarem - se perderam o poder - a visitar ribeirinhas entupidas ou - os que têm o poder na mão - a tentar amaciar os erros do mesmo poder, devem ser claros, devem definir-se de uma vez por todas quanto à questão fundamental. O resto é conversa.

Carlos Albino

SMS 36: Eurodeputados? Emigrantes de luxo…

15 Janeiro 2004

Estão à porta novas eleições ditas europeias que de europeias nada têm, tratando-se apenas de uns arranjos feitos pelos estados-maiores dos partidos. Sobretudo, as duas últimas dessas eleições ensinaram – gente incómoda pela crítica e também outra gente que se tornou num fardo pelo comportamento, mas que por efeito do marketing político arrastam maiores ou menores grupos de eleitores enganados, essa gente lá vai feliz e contente ou cantando e rindo, como queiram, para o corrupio entre Bruxelas e Estrasburgo. Vão felizes e contentes porque somam ao curriculum o pomposo título de eurodeputados e vão cantando e rindo porque afinal partem para uma emigração de luxo: um ordenado de ministro, mordomias com que nunca sonharam na vida e quase nenhum trabalho, porque se houver algum trabalho não faltam os gabinetes e consultores que por encomenda e bem pagos lhes fazem os relatórios, pelo que para se ser «eurodeputado» nem é preciso saber nada na vida. O resto continua a ser marketing e apenas marketing político: notícias para os jornais que não são notícias, convites para viagens que nem são convites (têm um grado orçamento só para esse efeito…) e, de vez em quando, a prestação ou simulação de prestação de uns favores alegadamente nos corredores de decisão de Bruxelas a empresários incautos. Nem sei para que vale o Algarve e os Algarvios terem-se convencido de que elegeram ou vão eleger eurodeputados. Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

SMS 35: Álvaro Cassuto: Bravo! Bravo!

8 Janeiro 2004

Mas que magnífica noite em Loulé! O Cine Teatro – pérola de arquitectura pela simplicidade e harmonia – estava cheio e o programa tinha elementos para domesticar até animais selvagens: entradas de Mozart, condimentos de Donizetti e alguns doces de Rossini. Mas não foram os condimentos, nem as entradas e muito menos os doces que estiveram à prova no primeiro deste ano de 2004. Certamente que o melhor meio para de dirigir seres humanos será talvez tocar-lhe violino, embalá-los com o violoncelo, acordá-los com a trompa, amaciá-los com o oboé, dar-lhes profundidade com o contrabaixo e – porque não? – limpar-lhes a parte má da consciência com uns valentes abanões vindos lá dos lados dos tímpanos. Mas também nada disto estava em causa. A Orquestra do Algarve entrou como se fosse a continuação das nossas vidas e o maestro Álvaro Cassuto, depois de discretamente beijar a batuta, começou o seu trabalho com a seriedade de quem sabe que pode acrescentar mais alguma coisa às mesmas nossas vidas. Ele ia dirigindo suavemente aquela afinada máquina de sons humanos e pensava eu: este homem, se assim continua, está a domesticar o Algarve. Ele entusiasmava-se fugidiamente para, com um ligeiro levantar de tacão dos seus sapatos de verniz, prevenir o melhor simultâneo dos sopros com as cordas e pensava eu: este homem vai fazer escola. Ele ouviu uma longínqua faladura de criança, deixou a batuta suspensa, olhou para o lado sorrindo e pensava eu: já tem garantido o voto daquela criança. Por tudo isto, não perdoarei, jamais perdoarei a quem negar todo o apoio a Álvaro Cassuto e à sua Orquestra do Algarve e por tudo isso, levanto-me da plateia e por entre os aplausos grito: Bravo! Bravo! Um aprendiz de negócios, dizia outrora a Voltaire: «É uma grande felicidade para mim, mas nunca me sobrou tempo para ter bom gosto!». Também não perdoarei a quem me disser que não lhe sobra tempo para gritar «Bravo!» a Álvaro Cassuto que está a colocar no Algarve a praia que nos faltava. A daquela Arte que estimula a liberdade de espírito.

Carlos Albino

SMS 34: Que seja um bom ano de clarificação

1 Janeiro 2004

Tenho verificado que os Algarvios estão muito conformados. Perante aqueles que implantaram, aqui e ali, a execrável lei do quero, posso e mando, os Algarvios aceitam tudo, encolhem os ombros e só falta que – como nos tempos do Dr. Salazar – se generalize o conselho para que «não te metas na política, faz a tua vida e deixa andar…» Os Algarvios parecem subjugados à fatalidade dos que usam do poder (claro, é od poder local que estamos a falar!) como se a autarquia fosse autocracia, como se autonomia de decisão fosse despotismo e como se ousar dizer duas palavras alarves fosse clarividência. Na verdade, verifiquei que alguns autarcas entraram com pezinhos de lã, com mesuras para a direita e para a esquerda, e hoje permitem-se decidir da coisa e interesse público sem consulta pública, sem a mínima auscultação, sem o mínimo respeito pela cidadania. Ora, com este ano de 20004, não só acaba o benefício da dúvida para uns tantos, como para outros termina a dádiva da tolerância. É que voltou a histeria das ciclópicas construções à beira-mar, sem dúvida que pela exigência dos galopins (sim, galopins são os compradores de votos…), voltaram as insistências em projectos megalómanos de terceiro mundo que só fascinam no terceiro mundo e, com tudo isso, voltaram a reinar os sabichões do negócio rasteiro aliados aos teóricos da chafarica. Que 2004 seja um Bom Ano de clarificação. Espero que sim, se os Algarvios, de uma forma ou de outra, virarem a página do conformismo que o primo-irmão de todos os chefes da Sicília e já agora de Nápoles. Bom Ano!

Carlos Albino

quinta-feira, 25 de dezembro de 2003

SMS 33: Prenda no sapatinho

25 Dezembro 2003

Prometi, na semana anterior, falar dos eurodeputados que o Algarve tem mandado ou aceitado mandar para Bruxelas e Estrasburgo. Porque é Natal, evito o tema por esta semana – seria estragar a festa a alguns cidadãos impolutos e, muitissimo mais importante, os leitores merecem assunto adequado à quadra e não coisa triste. É claro que não se pode fugir às prendas no sapatinho. Que se pode pedir, então, para este Algarve? Deve-se pedir coisa de que, para já, precise e que lhe possa dar aquela suavidade perfumada de acreditar no futuro. E aqui está não tanto o embaraço da escolha mas a impossibilidade de se encontrar coisa perfumada. Procurei e não encontro. O Governo tem a cabeça no Norte, o coração da forma de uma carteira no Centro e o aparelho digestivo em Lisboa. Dos partidos, sobretudo os tais dois partidos com vocação de poder, só prendas envenenadas, ou pela vocação ou pelo poder que têm ou ambicionam ter. E aqui no Algarve cada um trata da sua vida pelo que o individualismo tem a classificação de cinco estrelas. Neste Natal de 2003 o Algarve tem que se conformar – o sapatinho fica vazio. E outra coisa não seria de esperar pois no mesmo dia em que se inaugurava um Estádio de 35 milhões, começou nas ruas um peditório para a finalização das obras da unidade de radioterapia que Faro engavetou num logradouro cercado de prédios e para onde, em décadas, se prometeu sucessivamente um jardim, um parque infantil, um silo para estacionamento... sei lá, só faltou prometer uma estufa de flores. O presidente de Portimão. Manuel da Luz, tem razão: o Algarve está hipotecado. O que que dizer que governos e partidos andaram nos últimos anos a brincar ao Pai Natal. «Haja no Céu uma Estrela, já não há quem tenha amor...», cantava-se nos natais antigos pelo Barrocal e pelas Serras. Podemos voltar a cantar isso. Eu canto.

Carlos Albino

SMS 32: Região do Algarve, líderes e listas

18 Dezembro 2003

Já se vai percebendo o frenesim. Aproximam-se as eleições europeias e já uns poucos sujeitos (poucos porque não podem ser muitos) fazem contas com alguma sorte na rifa, sendo a rifa o equivalente a um chorudo ordenado e uma emigração de luxo em Bruxelas e Estrasburgo. E ainda as eleições autárquicas estão na linha do horizonte e também outros tantos sujeitos, se estão na oposição dizem estar na linha de partida, e se estão no poder exibem o ar mais displicente deste mundo como se exercer o poder fosse um acto de caridade para os Algarvios daqui e dali ou então alguma mesmo uma generosidade equivalente a imolar a vida ou como se ser Presidente de Câmara fosse o mesmo que Cristo a lavar os pés dos pobres. As listas estão a ser forjadas. Nisto, os líderes dos principais partidos do Algarve – o PSD e o PS – esquecem ou fingem esquecer a questão-chave que é a da Região do Algarve, questão postergada mas chave. Nem uma palavra, nem um projecto, nem uma iniciativa. Mas compreende-se: os estados-maiores dos partidos, para cuja massa cinzenta que é noventa e sete e meio por cento do Caldeirão para cima, não têm interesse em ressuscitar a questão e para essa gente o Algarve só conta para banhos, para tantas aventuras sociais quantos os divórcios e para, nuns salmonetes grelhados na Ilha de Faro e enquanto palitam os dentes, desvanecerem-se em considerações com selectos apaniguados locais (algarvios, claro) dando instruções políticas para o futuro. E como o ideal da Região do Algarve foi substituído pelo culto da personalidade, começamos a ver o espectáculo. Na próxima semana trataremos desse triste espectáculo que tem sido Bruxelas e Estrasburgo e nalguma semana a seguir, se Deus me der vida, saúde e paciência, havemos de tratar dos cultos de personalidade que não é apenas triste mas sobretudo um sórdido e pornográfico espectáculo.

Carlos Albino

quinta-feira, 11 de dezembro de 2003

SMS 31: Aquele Quarto 13 da Pensão Estrela

11 Dezembro 2003

Nos dias que correm, ouvir dizer bem de um Algarvio é coisa que recebemos com alegria e com gosto. E se esse Algarvio ainda é ou foi um político, será caso de especial celebração porque estaremos então perante um fenómeno. Foi o que há pouco aconteceu na Argélia. Ao receber Jorge Sampaio que ali foi em visita de Estado, o presidente do parlamento argelino, Karin YounSs, como todos os chefes parlamentar em qualquer parte do mundo, foi buscar o melhor para o discurso alinhavado para receber o Presidente Português. Esse melhor foi Teixeira Gomes. Com orgulho, Karin YounSs afirmou ter nascido e crescido precisamente na terra – Dedjaia (outrora Bougie) - onde o nosso Algarvio se exilou nos últimos dez anos da sua vida e onde morreu em 1941. E porquê esse orgulho do argelino? Porque, testemunhou ele a Sampaio, ainda hoje muito gente de Dedjaia, sobretudo pescadores, se recorda de Teixeira Gomes como «um homem sábio que gostava de conversar com a gente simples e contemplar com eles as maravilhas do mar». E Teixeira Gomes ficou de tal forma no coração dessa gente que o Quarto N.º 13 que ocupou na Pensão Estrela ainda em laboração, está preservado como quarto-museu, à disposição de historiadores, biógrafos e visitantes. Ouvir dizer na Argélia que estimam ali um Algarvio porque ele era sábio e falava das maravilhas do mar com a gente simples, isso é um grande lenitivo para os dias que correm. Se Teixeira Gomes tivesse sido um analfabeto reciclado à força pelo papel da política e tivesse falado com os da gente simples apenas pela bazófia de lhes sacar futuros e potenciais votos, de certeza, o Quarto N.º 13 já teria ido à viola. Bem, celebro com alegria e gosto a veneração por Teixeira Gomes em Dedjaia mas ainda não desesperei de encontrar, para já em Estrasburgo ou em Bruxelas, quartos preservados onde tenham estado Algarvios sábios…
Carlos Albino

segunda-feira, 8 de dezembro de 2003

SMS 30: Droga, álcool e barulho

4 Dezembro 2003

Se, como o bispo do Algarve deve ter dito ao abençoar o estádio de São João da Venda, há três virtudes fundamentais – fé, esperança e caridade – há neste Sul do País três males opostos: droga, álcool e barulho. Quanto à droga, cujos traficantes e consumidores parecem preferir, agora, estradas e caminhos esconsos do interior para negócios da noite, soube que, na semana passada, um agricultor do Barrocal, já farto desse movimento junto da sua fazendinha, pegou na caçadeira e, com uns tiros para o ar, afugentou o extenso grupo que entre si trocava sacos de produto por gordos maços de notas... Quanto ao álcool, à revelia da lei, por aí continuam bares – eu tenho visto! - a vender o inimaginável a menores e maiores, mais os menores que os maiores, até às cinco e seis da madrugada que já é outro dia. E quanto ao barulho, mesmo os surdos ouvem – o que não é milagre. Pois que resultará desta salada social de drogados, alcoolizados e gente sem as mínimas noções cívicas? Resultam assaltos, roubos e, infelizmente, matanças seleccionadas aqui e ali, ou o receio justificado. Acresce a isto, uma emigração cuja componente clandestina é um barril de pólvora com rastilhos que, bem pensadas as coisas e conforme informações seguras, vão dar a todas as mafias. Perdemos, assim, a fé na segurança, os motivos de esperança são cada vez mais ténues e não há vontade de ser caridoso para uns quantos brutos que estragam a convivência algarvia. O que está a acontecer é pior que o incêndio de Monchique.

Carlos Albino

quinta-feira, 27 de novembro de 2003

SMS 29: Música e Estádio, abençoadas penúrias

27 Novembro 2003

1. Para 13 de Dezembro, está marcado para a Sala dos Embaixadores no Palácio da Ajuda (Lisboa) um concerto da Orquestra do Algarve. Vou lá estar. Mas o caso até seria de festa para o bom e grande grupo de Algarvios que também «fazem» Lisboa, se mesmo antes dos compassos binários, ternários ou quaternários que Álvaro Cassuto irá martelar, a coisa já não tivesse dado fífia. E porquê? Segundo o programa, a Orquestra do Algarve vai apresentar em primeira audição absoluta «cantos natalícios portugueses». E, de facto, lá está um dos Açores, outro da Beira Baixa, segue-se um de Trás-os-Montes, outro mais do Alentejo, ainda outro do Douro e, a rematar, coisa do Ribatejo. E do Algarve? Nada, rigorosamente nada, ainda que o nosso querido Algarve tenha um dos mais ricos patrimónios musicais do País em matéria de cantos natalícios. Ou a ordem dos sustenidos de Álvaro Cassuto anda trocada ou a ordem dos bemóis de uma Orquestra que se intitula do Algarve e é paga pelo Algarve, está a necessitar de um valentes bequadros que anulem e rapidamente os meios-tons da inaceitável omissão. Maestro, corrija o andamento!

2. No Domingo, foi inaugurado o Estádio do Algarve. Com a bênção do bispo, oxalá fique abençoado, já que estes rituais jogam sempre no banco dos suplentes; com a placa, de certeza que o ego do ministro inaugurador ficou perpetuado; com o cocktail, enfim, estou em crer que muita gente comeu camarão de boca aberta, e com o fogo de artifício quase seguramente, à queda das canas, surgiram mais uns buracos na única estradinha do Estádio para Loulé. E a inauguração resumiu-se a isto com José Vitorino a justificar a penúria por «as cidades algarvias não estarem a disputar protagonismos com ninguém». Não entendo. Então para que é um Estádio do Algarve? É para que, logo à partida, seja um Elefante Branco a comer camarão? Custaria assim tanto formar uma Selecção do Algarve e chamar a Selecção de Marrocos, por exemplo, a da Andaluzia que fosse ou mesmo uma equipa de honra do Cachopo?

Penúria, penúria e penúria. Tanto nas partituras como nas abençoadas quatro linhas.

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

SMS 28: O Presidente Jorge Sampaio deveria fazer isto mesmo

20 Novembro 2003

Sei, de forma muito particular, como o Presidente Jorge Sampaio se preocupa com os direitos, os problemas e os anseios dos cidadãos, sobretudo daqueles de que, sofrendo pela calada, ninguém fala. Em função desse apurado talhe humanista de espírito e de sensibilidade profunda, Jorge Sampaio tem percorrido o País e programado as suas Presidências Abertas. Mas no que diz respeito ao Algarve, descontados pequenos circuitos de circunstância política, ainda não vi o Presidente da República assentar arraiais na vasta Serra de Monchique e Silves a Loulé/São Brás e Alcoutim, zona secularmente abandonada onde, à evidência, estão as zonas mais pobres de Portugal (Alcoutim é mesmo isso – o Concelho mais pobre do País!) e no abandonado Barrocal onde desgovernos, anti-planeamentos e voragem de lucros fáceis avançam como truculentos conquistadores deixando atrás uma insustentável ruptura cultural e uma mancha de populações desorientadas que protagonizam o alastramento da pobreza envergonhada a par da extrema insegurança, da doença e do isolamento. Ora o Presidente Jorge Sampaio deveria fazer uma Presidência Aberta aí e só aí, ouvindo todos, podendo e devendo ver tudo em directo e não em diferido por via das esclarecidos donos de jardins, arquitectos de campos de golfe, engenheiros de hotéis e técnicos de esplanadas da estreita faixa da beira-mar – frágil Paraíso mas, enfim, Paraíso. Estou em crer que o Presidente Jorge Sampaio aceitará este desafio de «auscultar» a paupérrima Serra e o indefeso Barrocal Algarvio que nenhum Governo – nenhum – levou a sério. Que venha por Bem.

Carlos Albino

sábado, 15 de novembro de 2003

SMS 27: O maior desprezo pelo Algarve

13 Novembro 2003

Como sempre, o poder central português agora casado com o poder central espanhol, desta vez a a propósito dos comboios de alta velocidade, destina para o Algarve o maior desprezo. Foi assim com as estradas, continua e continuará a ser assim com os portos, foi sempre exactamente isso com os caminho de ferro. Pura e simplesmente desprezo. Estive na Figueira, ouvi atentamente Barroso e Aznar, confrontei as versões portuguesa e espanhola das conclusões desse arranjo político em que o transmontano de Lisboa foi de carrinho, digam-me o que disserem. Não vou falar muito do carrinho mas apenas do que interessa ao Algarve. Para já, alta velocidade apenas vai existir para Lisboa e Porto. Haverá para Lisboa porque os espanhóis querem impor uma nova centralidade estratégica em Badajoz absorvendo o Alentejo português até ao mais pequeno ossinho, sendo o resto conversa. Haverá também alta velocidade para o Porto, porque idêntica estratégia espanhola está delineada para Vigo. Mas bem lá no fundo do túnel pretendem, querem e impõem os espanhóis que todos os caminhos vão dar a Madrid. E assim será, basta ver o mapa. E para o Algarve? Bem para o Algarve, em matéria de comboios, lá ficou prometida na Figueira, uma «conexão» entre Faro e Huelva à qual, olhando para o tal mapa, prefiro chamar um ramal da Andaluzia para o aeroporto do Sapal. Porque não Lagos? E é um ramal apenas para velocidade elevada e não para alta velocidade, nada mais. Além disso, os termos do chamado acordo não são claros: a «conexão» Faro-Huelva será planificada «em função dos resultados dos estudos a desenvolver», de forma que essa ligação possa estar concluída antes de 2018. Imaginem - 2018! - e «em função dos resultados dos estudos»… Ah! Já me esquecia – promete o poder central de Lisboa uma nova ligação entre Faro e Évora (primeira e única paragem do TGV em Portugal antes de Lisboa) com óbvia travessia da Serra Algarvia. Como se viu com a auto-estrada, os ecologistas já devem estar de plantão certamente e, tal como no passado, preparados para acordos debaixo da mesa em Almodovar. Não se chama a isto desprezo pelo Sul do País, mas simplesmente desprezo pelo Algarve. E então aquela data de 2018, data das comemorações do primeiro centenário do fim da I Guerra Mundial, faz-me rir deste desprezo.

Carlos Albino

SMS 26: O Orçamento

06 Novembro 2003

Ninguém duvida: o Algarve que gera receitas apreciáveis para o Estado até por aqueles circuitos em que os Municípios não pregam prego nem estopa, é um dos principais lesados pelo Orçamento desse mesmo Estado. Quer isto dizer que as Câmaras Municipais do Algarve vão continuar com obras fundamentais pura e simplesmente adiadas, e se, na generalidade, elas já não tinham grande tendência ou mesmo criatividade para a elaboração e apresentação de Projectos (P grande!), com esta filosofia orçamental do Estado é que vão encolher os ombros sem que deixem de ser quintais de poder. E a existência de quintais é o pior que pode acontecer para a coesão do Algarve e para a ideia de Região do Algarve que está ferida de morte. Nem o quintalão de Faro que a partir das 19 horas fica às moscas em nove meses por cada ano, a salva. Capital de quê?

Carlos Albino

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

SMS 25: Bodas de Prata!

30 Outubro 2003

Número 25 das SMS, eis as Bodas de Prata uma vez que, sabemos, para muitos leitores esperar uma semana é um ano. Chegou então a hora de balanço. Aqui vai:

  • A prevenção do crime, no Algarve, continua a bradar aos céus e a fundação fantasma continua fantasma mas há mais fundações fantasmas...

  • Não houve multa que se visse por erro de português em Albufeira, e dos quatro modelos de autarca, um deles (Francisco Leal, de Olhão) por pouco ia borrando a opa por essa história do Tribunal Administrativo.

  • Fica-se a saber: é difícil encontrar um advogado no Algarve que não se dedique à imoliária. As Portas do Céu, a tertúlia de Loulé, continua e bonita. Mas a justiça desta terra... recordam-se da saia de 7.032 Quilómetros?

  • Líderes algarvios? Onde, se nem os presidentes de câmatas de entendem, como diz Macário?

  • Via do Infante, continua «sem história». Agora, um busto de D. Henrique na berma, como se tivesse morrido atropelado, ali no descampado...

  • Balcanização do Algarve: sim, é isso e não é outra coisa, com se a aspiração a concelhos tivesse que ser um «grito de guerra».

  • Poetas, continuamos a ter Cinco Liras, felizmente.

  • Paulo Neves? Quem o acusou que atire a primeira pedra. Não o conhecia pessoalmente mas continuo testemunha disponível. Uma verdadeira infâmia.

  • Helder Martins continua a não apresentar o curriculum completo. Por dever de resposta ou o PSD não tivesse feito, e bem, a campanha eleitoral que fez.

  • O problema do Algarve parece eterno: a falta de estrutura mental.

  • Deputados do PS: muita parra e pouca uva e quanto a blogues - todos diferentes, alguns têm água no bico. O Poeta que descobri é que continua à espera de subsídios...

  • Nuno Júdice, atenção! Seruca Emídio prometeu colocar o poema junto do mar de Quarteira!

  • Região do Algarve. Ninguém, ninguém reagiu.

  • Adriano Pimpão, apoiado com validade e o padre de São Brás deve ter perguntado a Cristo se tem medo dos anti-fundamentalistas.

  • José Plácido dos Santos é mesmo catita naquele casamento do monte que é a CCDR que é bem o exemplo da lassidão do Algarve e dos Algarvios, para fechar.

    Novo balanço, lá para a SMS 50, Bodas de Ouro.

    Carlos Albino
  • sexta-feira, 24 de outubro de 2003

    SMS 24: Lassidão - é a palavra

    23 Outubro 2003

    Seria de esperar que o acordo de pescas – e mais do que o acordo de pescas, a clamorosa falta de fiscalização das nossas águas – provocasse o debate sereno mas forte, o enunciado de interesses e uma posição inequívoca dos Algarvios para quem o Mar é tudo no presente e se calhar no futuro. De facto, houve alguma reclamação dos homens da Vila de Santa Luzia (Tavira), porque José Apolinário, nestas coisas das pescas, é um bom rebocador. E pouco mais houve, como em tudo: é assim na agricultura, é assim no turismo, é assim nos serviços. Dir-se-á que é apatia, ou seja – indiferença, marasmo, insensibilidade. Não me parece. A palavra é a lassidão. O Algarve está mergulhado numa profunda lassidão, ou seja – tédio, frouxidão, cansaço. Assim não vamos a lado nenhum, embora Portimão lute por ser capital disto, Tavira daquilo, Lagos doutra coisa que nem se sabe o que é, Loulé do que lhe vai restando de Faro e Olhão, Albufeira do que lhe vai iludindo… Capitais em demasia para tamanha lassidão.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 16 de outubro de 2003

    SMS 23: CCDR, catitamente... um casamento do monte

    16 Outubro 2003

    A entrevista que o advogado e presidente do CDS/Algarve, José Plácido dos Santos deu a Pedro do Carmo (Algarve Região) é a todos os títulos notável. Sabe-se que, por mero preço de uma coligação que nada tem a ver com a realidade política e até com a entidade do Algarve, foi «distribuída» a José Plácido dos Santos uma das vice-presidências da CCDR, tal como nos casamentos do monte, e, com toda a desfacatez, o homem não vê incompatibilidade nenhuma seja com o que for. Confrontado com os exemplos de Carlos Martins que abandonou a liderança do PSD/Algarve quando assumiu o cargo de Secretário de Estado da Saúde ou de Miguel Freitas que abandonou a CCR quando se candidatou à liderança do PS/Algarve, José Plácido dá uma resposta catita: «O problema não está nos cargos, está na isenção com que são desempenhados». Isenção, vejam. E confrontado com a sua ligado à interesses imobiliários, José Plácido, também catitamente, exara: «É difícil arranjar um advogado no Algarve que não tenha clientes que não tenham interesses imobiliários». Isenção, claramente, sendo a CCDR o que é para o que é. Por isso e por aí, também não haverá incompatibilidade, segundo o evangelho de Plácido. Na verdade, este José Plácido é uma típica figura de uma CCDR que (re)nasce mal: partidarizada e de costas voltadas para a ética política. Voltaremos ao assunto.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 9 de outubro de 2003

    SMS 22 - Até estranhei a ausência do padre de São Brás

    9 Outubro 2003

    «Aqui repousam os restos mortais de um homem que, durante a sua vida, fez o possível para ser honesto e que, se, por diversas vezes, ele faltou aos seus deveres, foi motivado pelas injustiças dos homens» - foi a frase que João Rosa Beatriz, fundador do Concelho de São Brás de Alportel, pediu que lhe colocassem na campa. João Rosa Beatriz foi «anti-clerical» porque no seu tempo ser anti-clerical era o mesmo que, hoje, ser anti-fundamentalista, sendo o fundamentalismo uma doença que não ataca apenas muçulmanos, cujos contaminados por esse mesmo mal, continuam a entregar todo o poder aos clérigos. Não vamos fazer história porque, para além do País estar cheio de historiadores (90 por cento dos portugueses são historiadores), o que Maria João Raminhos Duarte disse com grande inteligência, em São Brás, a propósito de um Algarvio generoso que imolou toda a vida e sem tréguas pelo ideal do combate à injustiça, acabou por ser uma verdadeira «oração ecuménica». Por isso, estranhei que o padre de São Brás estivesse ausente. É verdade que a Igreja por aí tem andado a pedir desculpa pelos seus fundamentalismos do passado (um extenso comboio, sobretudo quando a Inquisição era um verdadeiro regime de talibãs…) mas ficar-lhe-ia bem que reconhecesse, ainda que discretamente, que alguns anti-fundamentalismos também do passado contra ela, tiveram justificação e legitimidade. Pelo que se lhe conhece, Cristo, se fosse vivo, estaria presente na evocação de João Rosa Beatriz. E se calhar esteve, estando o padre ausente. Não há desculpa, a não ser que o padre também seja historiador.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 2 de outubro de 2003

    SMS 21 - Adriano Pimpão. Apoiado!

    2 Outubro 2003

    A Universidade do Algarve está a avançar com firmeza por aqueles dois carris paralelos em que o Saber surge como o motor potente da sociedade, mesmo nas curvas mais apertadas impostas pelo traçado da ignorância natural. A internacionalização e a abertura à sociedade, estão a ser à evidência os dois grandes suportes desse magnífico rodado que se converteu já na instituição mais respeitada do e no Algarve e, por certo, num dos fortes motivos de esperança no futuro. É certo que a internacionalização só pela internacionalização é coisa oca, e que a abertura apenas pela abertura acaba por ser show off. Mas quando a internacionalização e a abertura fazem deslizar o chassis da investigação e do desenvolvimento, então temos comboio para andar. É o que está a acontecer com a Universidade do Algarve cujo êxito de afirmação da dignidade ao projecto se chama Adriano Pimpão a quem irrecusavelmente digo: Apoiado! Lamentavelmente os operadores económicos de maior peso no Algarve mas cuja sede financeira está fora da «região» nem um único protocolo celebraram com a Universidade do Algarve, precisamente porque actuam no Algarve tal como os corsários, ainda há menos de cem anos, faziam incursões em Lagos e tal como a pirataria moura devassava as póvoas do litoral. Também lamentavelmente ainda hoje há responsáveis da própria Universidade para os quais o Algarve termina no aeroporto ou começa nas bermas da A2, pelo que em todo o caso conhecem o Patacão e pouco mais. São os primos dos piratas. Mas Adriano Pimpão não deixou cair os braços e, em segundo mandato, está a converter a Universidade na moderna fortaleza de que o Algarve tanto carece. Em função dos longos diálogos que mantive com Gomes Guerreiro no tempo em que a Universidade patinava pela tibieza do poder central e pela indecorosa falta de coragem e sentido de liderança dos políticos «regionais», pois se o primeiro Reitor fosse hoje vivo, também diria, pela certa: Apoiado! E como eu gosto de repetir esta palavra – Apoiado! – no Jornal do Algarve onde a proposta da Universidade foi apresentada e defendida pela primeira vez, nos remotos anos 70, contra os minimalistas que se contentavam com um institutozinho politecnicozito (que nem isso ganharam) e que, pertencendo quer à então situação ou quer à então oposição, fizeram o Algarve perder vinte anos. Foi muito tempo perdido mas olhemos para a avenida larga do futuro. Apoiado!

    Carlos Albino

    quinta-feira, 25 de setembro de 2003

    SMS 20 - Sem regionalismos, a Região do Algarve

    25 Setembro 2003

    Sentimos todos que o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo sólido que chegou a existir à volta da criação da Região Administrativa do Algarve, tudo isso caiu. E caiu porquê? Porque os entusiastas de várias orientações que monopolizaram entre si o debate, a dinâmica e até algum entusiasmo, todos eles ou a maior parte deles, afinal, apenas estariam à espera da Lei e dos decretos-lei... Como os resultados do referendo nacional inviabilizaram a decisão de Estado, a ideia da Região caiu – politicamente, faça-se a precisão. É verdade que alguns responsáveis partidários (não só dirigentes e eleitos, mas também gente sem poder mas que quer dar nas vistas) volta e meia falam dessa coisa da Região, mas vê-se-lhes a desmotivação pela evidente falta de perspectiva da lei e do decreto. Mas também é verdade que os argumentos não ultrapassam, em substância, o nível corriqueiro do «regionalismo» que, desculpem a paráfrase mas dá jeito, é a doença infantil do provincianismo tal como muito do «folclore popular» é apenas e só cultura contra o Povo. Pensamos, todavia, que se algum dia se conseguir no Algarve, recolocar o debate, a dinâmica e algum entusiasmo num nível superior da Política, ou seja das Ideias, então poderá começar-se a sentir Região, independentemente da lei e dos decretos. E não vejo outro caminho que não seja, para já, a formação de um Fórum amplo e abrangente, integrando representantes de partidos, instituições independentes mas credíveis (como Universidade e institutos superiores), personalidades de referência dos mais diversos quadrantes, organizações empresariais e sindicais, enfim o Algarve tanto quanto possível em peso. Não vamos perder de vista a questão. Há batalhas que vale a pena travar, mas sem a doença infantil do provincianismo que é uma «lei» que o Algarve não merece.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 18 de setembro de 2003

    SMS 19 - O que Deus e um Poeta criam em Quarteira

    18 de Setembro 2003

    E ali estávamos, às duas da madrugada, num terraço de quinto andar, com o enorme círculo de Mar a fazer razia à frente dos olhos. A fronteira desse Mar com a Terra era o longo corrupio de gente cujo vai-vém era inegável prova de paz. E quem estava no terraço? Estava Serras Gago, conselheiro da Representação Portuguesa junto da OCDE, a dissertar sobre o rumo do País e o futuro do Algarve, tirando o melhor da sua reconhecida experiência de sociólogo. Estava Manuela Júdice, a grande inventora da Casa Fernando Pessoa a quem João Soares tirou indecentemente o tapete. Estava Lídia Jorge, a testemunha sábia de todos os meus momentos e de todas as minhas inquietações. E estava o Poeta Nuno Júdice, de olhos perscrutantemente incrustados num corpo tão quieto, tão quieto como um monge budista jamais conseguiu e jamais conseguirá. Um corpo tal como Mar em frente. Todavia, notei uma enorme, secreta e julgo que irreprimível movimentação nesse corpo, tal como no Mar a fazer razia. E desafiei-o: «Nuno, esse poema que por aí anda, por mais breve ou longo que seja, é para os leitores das SMS do Jornal do Algarve». E como que a não querer interromper o secreto discurso, ele apenas murmurou um curto «Sim». Uns poucos dias depois, recebi sete linhas que são a síntese daquela sensação esmagadora de Belo e que certamente levou Deus, ao sétimo dia, à decisão de criar Loulé em Quarteira e o Algarve no oitavo. Leiam:

    LUAR EM QUARTEIRA

    Roubo, do céu onde a noite
    a fixou, a prumo sobre
    o mar, o rebordo vermelho da lua,
    nem crescente nem minguante;
    e um gemido de maré
    cola-se ao buraco branco
    que ficou no céu.

    10-8-2003

    Nuno Júdice


    Se eu fosse autarca, mandaria gravar as sete linhas numa placa de pedra a colocar junto daquele Mar.

    Carlos Albino

    sexta-feira, 12 de setembro de 2003

    SMS 18 - Subsídios já p’ró Poeta

    11 de Setembro 2003

    Foi descoberto um homem que, pelo diz e escreve, pode ser considerado já o maior Poeta Popular vivo do Algarve, supondo-se que também tenha lugar assegurado entre os mortos. Uma quadra inédita que nos chega às mãos é prova suficiente da abençoada genialidade:

    Vim ao mundo tirado a ferros
    Sem que dissesse ai nem ui!
    Minha mãe é que ficou aos berros
    - Porque pai de mim próprio fui.


    A rima de «ferros» com «berros» e de «ui» com «fui», além do uso do travessão no quarto verso, são fórmulas tidas como definitivamente inovadoras da Literatura Portuguesa. Assim sendo, Silves deve dar já 24 mil euros para a publicação do primeiro livro do Poeta; Loulé deve dar e quanto antes 30 mil euros para a investigação, naturalmente universitária, sobre o manuscrito ainda inédito; Faro, obviamente em parceria com a RTA e Parque da Ria Formosa, tem a obrigação de conceder 100 mil euros para o primeiro álbum fotobiográfico do poeta popular. Monchique deve-lhe fazer alguma homenagem (60 mil euros - e já! - da Delegação do Ministério da Cultura para foguetes e sessão) e que Portimão, Lagos e Lagoa puxem pela imaginação porque génios como o do nosso Poeta devem ser subsidiados sem hesitação e generosamente, até porque o Tribunal de Contas não presta atenção a gastos deste género... Entenderam como se pode ganhar 214 mil euros de uma penada?

    Carlos Albino

    quinta-feira, 4 de setembro de 2003

    SMS 17 - Grande surpresa, meu Deus!

    4 Setembro 2003

    Passaram dois séculos de «cartas ao director», em que alguns dos mais afoitos e privilegiados, enfim, lá iam conseguindo ver impresso, tarde e más horas, um resuminho de reflexão, de protesto e de alerta ou, mais extensamente, as louvaminhas segundo a sabida conveniência das sociedades locais. A internet acabou com as restrições e as «cartas» começam a ser outras, tudo podendo ser divulgado num ápice. Basta querer e conhecer. Quase a única limitação será, hoje, a de não querer e a de não conhecer. E é com grande surpresa, meu Deus!, que vejo surgir blogs algarvios, por regra pautados pela dignidade, pela elevação e pela qualidade. Vejam como www.jaquinzinhos.blogspot.com dá cartas; abram www.notasoltas.blogspot.com; sintam como tempo não é perdido em www.umpoucomaisdesul.blogspot.com e, se fazem favor, vejam como o humor pode ser cortante e sadio em www.macjete.blogspot.com. Claro que há diferença entre os exercícios de www.1000euma.blogspot.com e as boas tiradas de www.alcagoita.blogspot.com; que o caminho de www.ambliguidades.blogspot.com é diferente do de www.hemogoblina.blogspot.com tal como as há entre www.diariodamarilu.blogspot.com e www.lampadamagica.blogspot.com. Mas há mais, todos a reforçar uma «ideia» de Algarve: www.a-formiga-de-langton.blogspot.com, www.blogal.blogspot.com; www.baldepeixe.blogspot.com; www.repensar-a-politica.blogspot.com; www.almariado.blogspot.com; www.algarveglobal.blogspot.com; www.deslizarnosonho.blogspot.com e www.vialgarve.blogspot.com. Antecipadas desculpas se houve omissão de algum blog algarvio, mas serve a mancha deste texto para ajudar a concluir que se está já num mundo novo. Oxalá, os cafés das nossas cidades e vilas começem a substituir a enfadonha televisão pelo computador. E se cada um dos 400 mil algarvios tiver um blog – não haja medo disso! - haverá menos gritaria e mais Algarve. Então, honra aos pioneiros.

    Carlos Albino

    quinta-feira, 28 de agosto de 2003

    SMS 16 - Muita parra e pouca uva

    28 Agosto 2003

    1 - Agradeço imenso ao deputado José Apolinário a gentileza de ter enviado o relatório-síntese supostamente da actividade dos quatro parlamentares eleitos no Algarve pelo PS, ou melhor e para ser mais preciso, dos três eleitos pelo PS e de mais um para o PS que ninguém viu por cá mesmo que a Região tivesse ardido toda. Gostaria que os restantes quatro do PSD - porque não há mais - fizessem o mesmo no que toca ao Algarve.

    2 - Cumprido o agradecimento, vamos à matéria do relatório. Salta dali aos olhos uma fácil colectânea de conhecidas reivindicações locais, muitas delas tão velhas que já têm barbas e outras tão gastas que não há meio de deixarem de ser bandeira dos que se revezam na oposição, numa espécie de reposição política do Senhor Feliz e do Senhor Contente.

    3 - Para além das 200 perguntas ou requerimentos que garantem, e acredito, terem apresentado ao Governo (até estranho que não tenham despachado 1675 perguntas ou mesmo 8965 requerimentos porque perguntar é fácil e requerer muito mais), o relatório de José Apolinário fala do trabalhoso interesse dos deputados por 15 ligações rodoviárias, sete portos de pesca ou de recreio, quatro hospitais, quatro esquadras de polícia ou quartéis da GNR, três barras e duas passagens de nível. E ainda tiveram tempo e forças para se interessarem por uma ponte, um projecto urbanístico, um teatro, um achado arqueológico, um pólo universitário, uma escola de hotelaria, um tribunal, um estádio, um INEM, um centro emissor, um Metro de Superfície e por pouco não chegavam a Marrocos e se interessavam por uma palmeira, um camelo, um tijolo de mesquita em Fez, uma tâmara de Marraquexe e já agora a árvore que falta plantar em frente da minha terna casa de Loulé.

    4 - Ah! Já me ia esquecendo, também se interessaram pela elevação de Odiáxere a vila e promoveram a excursão de 400 algarvios até às galerias de S. Bento o que, apesar de tudo, é um acto politicamente mais limpo do que essa peregrina ideia das juntas de freguesia algarvias, num gesto de duvidosa religiosidade, organizarem e promoverem excursões a Fátima como se fossem paróquias.

    5 - O relatório das «actividades parlamentares» fica por aí como se um deputado fosse um «autarca» de primeira grandeza ou um «porta-voz» dos autarcas de segunda que não raro também falam como se fossem Deputados de primeira. É que no relatório e por certo também nas actividades, não há uma palavra para os assuntos fundamentais, estratégicos e da verdadeira Política na pureza desta palavra se é que ela ainda é pura. Ora, sabemos todos que um deputado é muito mais do que um compadre de presidente de junta e, naturalmente, muito menos que um enteado de Chefe de Estado por mais que deste seja predilecto a desfavor dos filhos naturais. Mas também não é um presidente simultâneo e ambulante das 16 câmaras algarvias e claro que também não será um fiscal de obras ministeriais andando de concelho em concelho com o livro de ocorrências em punho. Um deputado transporta ou deveria transportar uma Ideia, um Projecto, uma Estratégia, um Rumo de Valores, e é ou deveria ser a superior afirmação da Política. E isto é que não há meio de se ver. É um mal que vem de há muito e não há meio do mal acabar porque aqueles que optaram pela profissão de políticos, são esses os primeiros a confundir Ideia Política com chicana, Discurso Político com circunstancial tagarelice populista e Estratégia Política com colectânea de reivindicações, pelo que nada custa aceitar que perguntem e requeiram até sobre a tâmara de Marraquexe. Muita parra e pouca uva.

    Carlos Albino