quinta-feira, 27 de novembro de 2003

SMS 29: Música e Estádio, abençoadas penúrias

27 Novembro 2003

1. Para 13 de Dezembro, está marcado para a Sala dos Embaixadores no Palácio da Ajuda (Lisboa) um concerto da Orquestra do Algarve. Vou lá estar. Mas o caso até seria de festa para o bom e grande grupo de Algarvios que também «fazem» Lisboa, se mesmo antes dos compassos binários, ternários ou quaternários que Álvaro Cassuto irá martelar, a coisa já não tivesse dado fífia. E porquê? Segundo o programa, a Orquestra do Algarve vai apresentar em primeira audição absoluta «cantos natalícios portugueses». E, de facto, lá está um dos Açores, outro da Beira Baixa, segue-se um de Trás-os-Montes, outro mais do Alentejo, ainda outro do Douro e, a rematar, coisa do Ribatejo. E do Algarve? Nada, rigorosamente nada, ainda que o nosso querido Algarve tenha um dos mais ricos patrimónios musicais do País em matéria de cantos natalícios. Ou a ordem dos sustenidos de Álvaro Cassuto anda trocada ou a ordem dos bemóis de uma Orquestra que se intitula do Algarve e é paga pelo Algarve, está a necessitar de um valentes bequadros que anulem e rapidamente os meios-tons da inaceitável omissão. Maestro, corrija o andamento!

2. No Domingo, foi inaugurado o Estádio do Algarve. Com a bênção do bispo, oxalá fique abençoado, já que estes rituais jogam sempre no banco dos suplentes; com a placa, de certeza que o ego do ministro inaugurador ficou perpetuado; com o cocktail, enfim, estou em crer que muita gente comeu camarão de boca aberta, e com o fogo de artifício quase seguramente, à queda das canas, surgiram mais uns buracos na única estradinha do Estádio para Loulé. E a inauguração resumiu-se a isto com José Vitorino a justificar a penúria por «as cidades algarvias não estarem a disputar protagonismos com ninguém». Não entendo. Então para que é um Estádio do Algarve? É para que, logo à partida, seja um Elefante Branco a comer camarão? Custaria assim tanto formar uma Selecção do Algarve e chamar a Selecção de Marrocos, por exemplo, a da Andaluzia que fosse ou mesmo uma equipa de honra do Cachopo?

Penúria, penúria e penúria. Tanto nas partituras como nas abençoadas quatro linhas.

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de novembro de 2003

SMS 28: O Presidente Jorge Sampaio deveria fazer isto mesmo

20 Novembro 2003

Sei, de forma muito particular, como o Presidente Jorge Sampaio se preocupa com os direitos, os problemas e os anseios dos cidadãos, sobretudo daqueles de que, sofrendo pela calada, ninguém fala. Em função desse apurado talhe humanista de espírito e de sensibilidade profunda, Jorge Sampaio tem percorrido o País e programado as suas Presidências Abertas. Mas no que diz respeito ao Algarve, descontados pequenos circuitos de circunstância política, ainda não vi o Presidente da República assentar arraiais na vasta Serra de Monchique e Silves a Loulé/São Brás e Alcoutim, zona secularmente abandonada onde, à evidência, estão as zonas mais pobres de Portugal (Alcoutim é mesmo isso – o Concelho mais pobre do País!) e no abandonado Barrocal onde desgovernos, anti-planeamentos e voragem de lucros fáceis avançam como truculentos conquistadores deixando atrás uma insustentável ruptura cultural e uma mancha de populações desorientadas que protagonizam o alastramento da pobreza envergonhada a par da extrema insegurança, da doença e do isolamento. Ora o Presidente Jorge Sampaio deveria fazer uma Presidência Aberta aí e só aí, ouvindo todos, podendo e devendo ver tudo em directo e não em diferido por via das esclarecidos donos de jardins, arquitectos de campos de golfe, engenheiros de hotéis e técnicos de esplanadas da estreita faixa da beira-mar – frágil Paraíso mas, enfim, Paraíso. Estou em crer que o Presidente Jorge Sampaio aceitará este desafio de «auscultar» a paupérrima Serra e o indefeso Barrocal Algarvio que nenhum Governo – nenhum – levou a sério. Que venha por Bem.

Carlos Albino

sábado, 15 de novembro de 2003

SMS 27: O maior desprezo pelo Algarve

13 Novembro 2003

Como sempre, o poder central português agora casado com o poder central espanhol, desta vez a a propósito dos comboios de alta velocidade, destina para o Algarve o maior desprezo. Foi assim com as estradas, continua e continuará a ser assim com os portos, foi sempre exactamente isso com os caminho de ferro. Pura e simplesmente desprezo. Estive na Figueira, ouvi atentamente Barroso e Aznar, confrontei as versões portuguesa e espanhola das conclusões desse arranjo político em que o transmontano de Lisboa foi de carrinho, digam-me o que disserem. Não vou falar muito do carrinho mas apenas do que interessa ao Algarve. Para já, alta velocidade apenas vai existir para Lisboa e Porto. Haverá para Lisboa porque os espanhóis querem impor uma nova centralidade estratégica em Badajoz absorvendo o Alentejo português até ao mais pequeno ossinho, sendo o resto conversa. Haverá também alta velocidade para o Porto, porque idêntica estratégia espanhola está delineada para Vigo. Mas bem lá no fundo do túnel pretendem, querem e impõem os espanhóis que todos os caminhos vão dar a Madrid. E assim será, basta ver o mapa. E para o Algarve? Bem para o Algarve, em matéria de comboios, lá ficou prometida na Figueira, uma «conexão» entre Faro e Huelva à qual, olhando para o tal mapa, prefiro chamar um ramal da Andaluzia para o aeroporto do Sapal. Porque não Lagos? E é um ramal apenas para velocidade elevada e não para alta velocidade, nada mais. Além disso, os termos do chamado acordo não são claros: a «conexão» Faro-Huelva será planificada «em função dos resultados dos estudos a desenvolver», de forma que essa ligação possa estar concluída antes de 2018. Imaginem - 2018! - e «em função dos resultados dos estudos»… Ah! Já me esquecia – promete o poder central de Lisboa uma nova ligação entre Faro e Évora (primeira e única paragem do TGV em Portugal antes de Lisboa) com óbvia travessia da Serra Algarvia. Como se viu com a auto-estrada, os ecologistas já devem estar de plantão certamente e, tal como no passado, preparados para acordos debaixo da mesa em Almodovar. Não se chama a isto desprezo pelo Sul do País, mas simplesmente desprezo pelo Algarve. E então aquela data de 2018, data das comemorações do primeiro centenário do fim da I Guerra Mundial, faz-me rir deste desprezo.

Carlos Albino

SMS 26: O Orçamento

06 Novembro 2003

Ninguém duvida: o Algarve que gera receitas apreciáveis para o Estado até por aqueles circuitos em que os Municípios não pregam prego nem estopa, é um dos principais lesados pelo Orçamento desse mesmo Estado. Quer isto dizer que as Câmaras Municipais do Algarve vão continuar com obras fundamentais pura e simplesmente adiadas, e se, na generalidade, elas já não tinham grande tendência ou mesmo criatividade para a elaboração e apresentação de Projectos (P grande!), com esta filosofia orçamental do Estado é que vão encolher os ombros sem que deixem de ser quintais de poder. E a existência de quintais é o pior que pode acontecer para a coesão do Algarve e para a ideia de Região do Algarve que está ferida de morte. Nem o quintalão de Faro que a partir das 19 horas fica às moscas em nove meses por cada ano, a salva. Capital de quê?

Carlos Albino

segunda-feira, 3 de novembro de 2003

SMS 25: Bodas de Prata!

30 Outubro 2003

Número 25 das SMS, eis as Bodas de Prata uma vez que, sabemos, para muitos leitores esperar uma semana é um ano. Chegou então a hora de balanço. Aqui vai:

  • A prevenção do crime, no Algarve, continua a bradar aos céus e a fundação fantasma continua fantasma mas há mais fundações fantasmas...

  • Não houve multa que se visse por erro de português em Albufeira, e dos quatro modelos de autarca, um deles (Francisco Leal, de Olhão) por pouco ia borrando a opa por essa história do Tribunal Administrativo.

  • Fica-se a saber: é difícil encontrar um advogado no Algarve que não se dedique à imoliária. As Portas do Céu, a tertúlia de Loulé, continua e bonita. Mas a justiça desta terra... recordam-se da saia de 7.032 Quilómetros?

  • Líderes algarvios? Onde, se nem os presidentes de câmatas de entendem, como diz Macário?

  • Via do Infante, continua «sem história». Agora, um busto de D. Henrique na berma, como se tivesse morrido atropelado, ali no descampado...

  • Balcanização do Algarve: sim, é isso e não é outra coisa, com se a aspiração a concelhos tivesse que ser um «grito de guerra».

  • Poetas, continuamos a ter Cinco Liras, felizmente.

  • Paulo Neves? Quem o acusou que atire a primeira pedra. Não o conhecia pessoalmente mas continuo testemunha disponível. Uma verdadeira infâmia.

  • Helder Martins continua a não apresentar o curriculum completo. Por dever de resposta ou o PSD não tivesse feito, e bem, a campanha eleitoral que fez.

  • O problema do Algarve parece eterno: a falta de estrutura mental.

  • Deputados do PS: muita parra e pouca uva e quanto a blogues - todos diferentes, alguns têm água no bico. O Poeta que descobri é que continua à espera de subsídios...

  • Nuno Júdice, atenção! Seruca Emídio prometeu colocar o poema junto do mar de Quarteira!

  • Região do Algarve. Ninguém, ninguém reagiu.

  • Adriano Pimpão, apoiado com validade e o padre de São Brás deve ter perguntado a Cristo se tem medo dos anti-fundamentalistas.

  • José Plácido dos Santos é mesmo catita naquele casamento do monte que é a CCDR que é bem o exemplo da lassidão do Algarve e dos Algarvios, para fechar.

    Novo balanço, lá para a SMS 50, Bodas de Ouro.

    Carlos Albino