quinta-feira, 6 de abril de 2017

SMS 710. Uma ideia de Algarve, como, com quem e quando?


6 abril 2017

Nestas décadas em que o Algarve envelheceu tanto e como cada um de nós, têm sido vários os "arranques" visando a meta da regionalização. Arranques tais, todos falhados no terreno ou diluídos nas ambições que a cada arranque ficou subjacente.

Os fracassos de tais iniciativas podem ser explicados pelo espontaneísmo dos seus promotores, e também por intenções de afirmação pessoal sem relação direta e útil com a causa a que se propunham, além de, em pouco tempo, se revelarem meros exercícios de poder individual difuso, quase sempre por ressaibo e por frustradas derivas de liderança e sem correspondência com as capacidades e as competências comprováveis.

Nesse histórico figuram movimentos independentes cujo carácter de "independência" provinha exclusivamente de ressentimentos; figuram associações abrangentes cuja “abrangência” foi apenas procurada ou obtida no refugo das forças políticas relativamente organizadas e frágeis fora dos calendários eleitorais; figuram também iniciativas expectantes cuja “expectância” se fazia depender de uma suposta "vaga de fundo", iniciativas que hoje e sem ofensa já podem ser classificadas de populismo; e figuram ainda voluntarismos, por certo muito ativos mas sem biografia sólida, ou decorrentes de auto-atribuídos carismas, numa evidente confusão entre qualidades de pregoeiro ou leiloeiro autoritário, e capacidade de estruturar ideias e de inspirar entusiasmo e adesão, na humildade da convivência. De uma forma ou de outra, isso foi inviabilizando o aprofundamento sério da ideia de Algarve, se é que, não raras vezes, colocou essa mesma ideia no ridículo junto de quem a respeita e poderia respeitar mais.

Também não é difícil verificar-se nesse histórico, que tais ações espontaneístas e voluntaristas surgiram sempre que se antevia a abertura de alguma janela para a devolução mais ou menos parcial da Administração que compete ao Estado para os Administrados algarvios. Tais ações, na generalidade, tiveram um efeito perverso.

No momento que passa, quando há, não uma janela mas uma vaga hipótese de janelim a abrir-se, assiste-se a mais uma revoada desse mesmo espontaneísmo e desse voluntarismo, que tal como nas anteriores revoadas, não vai aportar a lado nenhum porque a sua base é a mesma – o carisma de falsete, seja qual for a patine com que se possa recobrir. É uma questão de tempo, tempo que seria tão necessário para que a ideia de Algarve não possa ser mais uma vez adiada.

Ora uma ideia de Algarve como região, não se conseguirá construir ou reconstruir com se fosse uma passadeira de espontaneísmo estendida para algum rei nu passar, e, acabada a festa, desarmar-se o trono. Para se evitar esse erro de paralaxe, o caminho é estreitíssimo, se é que ainda haja espaço, pois o desiderato dos espontaneistas, voluntaristas e auto-convencidos de carisma, aparentemente com a melhor das intenções, é queimar caminho. Em terra de videntes, quem se vê ao espelho é rei.

Então, o que fazer? Quem poderá fazer? E quando se deverá fazer? Julgo que o Algarve, desde que não lhe falte opinião pública, plateia de pensadores e patamar com decisores, esse Algarve é melhor que os algarvios apressados e irrequietos seja qual for o seu número. Se houver uma opinião pública algarvia feita por comunicação e não pelo traçado das comarcas, se os pensadores tocarem a reunir sem corporativismos de pensamento, e se o patamar de decisores assim se assumir, acima de questiúnculas, na linha do denominador comum, isso será possível, não faltando quem, e talvez quando menos se espere.

Carlos Albino
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Flagrante pecado cultural: Segundo se escreveu e não foi desmentido, o pároco de Olhão desconhecia que a igreja matiz onde procedeu a obras de livre arbítrio, está classificada como Imóvel de Interesse Público, classificação que ocorreu há cinco anos (maio de 2013), num processo que se arrastou por 15 anos. O pecado não foi por pensamentos ou palavras, mas, na inteira propriedade do termo, por obras.