sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

SMS 38: A superfície da Área e o volume da Região...

29 Janeiro 2004

Essa ideia peregrina de dividir o Algarve em duas comunidades urbanas, supostamente uma polarizada em Portimão e outra em Faro, é de quem não conhece o Algarve ou, se conhece, quer deliberadamente feri-lo de morte arrancando-lhe por decreto o coração da unidade, vazando-lhe por despacho o sangue da coesão e, no estilo próprio dos bichos das campas rasas, dividindo o cadáver para reinar. A solução que, em última análise, consistiu em atirar para o ar - ou em sortear como na lotaria da Santa Casa – as Grandes Áreas Metropolitanas, as Comunidades Urbanas, as Comunidades Intermunicipais de fins gerais e as Associações de Municípios de fins específicos, é uma solução copiada daqui e dali, não é original. Mas admita-se que tal sorteio sirva para resolver - ou pelo menos para o Poder Central em exercício limpar a água do capote - os problemas do Norte e do Centro do País onde impera a agressividade por um ou dois palmos de terra e as lutas selvagens por independências locais que não deixam de ser independências macacas. Politicamente, foi esse Centro e esse Norte que inviabilizaram a Regionalização que há muito devia ter sido feita pelo que não há qualquer legitimidade em impor-se agora ao Algarve uma solução espúria, oportunista e sem mapa, porque o problema do Centro e do Norte é o mapa, está no mapa e decorre do mapa – mapa que o Algarve tem sem margem para dúvidas. É verdade que perante esse fracasso dos mapas estranhos ao Algarve, alguns algarvios politicamente responsáveis vergaram indecorosamente a cabeça tentando salvar-se também politicamente com dois discursos: um, para uso em Lisboa, e outro, para iludir o pobre Reino cá de baixo que lhes deu profissão política e até nome. Mas o certo é que os amuos de Aveiro-Viseu-Coimbra, as disputas Guimarães/Barcelos-Braga, as coisas entre Covilhã e Castelo Branco, os despiques de Leiria e Santarém, para não se falar das reivindicações de Bragança, da Guarda, de Tomar e até do desafinanço alentejano de Évora e Beja, tudo isso não tem nada a ver, nem de perto nem de longe, com o que se passa no Algarve - mesmo quando se regista inequívoca discórdia de fundo percebe-se que a discórdia algarvia decorre exclusivamente de não haver Região e é um custo da Não-Região, como também custo da Não-Região é a longa lista de disparates que não cabe aqui descrever. Assim, essa solução da Grande Área Metropolitana para os 16 Municípios do Algarve apenas pode ser aceite como expediente de solução para a superfície ou mapa do Algarve. A Região é o único volume político que se adequa ao Algarve pelo que a excepcionalidade da Região-Piloto deveria ser reposta na Constituição da República.

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

SMS 37: A questão da Região é fundamental

22 Janeiro 2004

O resto até pode ser conversa. Ou melhor: será mesmo conversa. A questão da Região do Algarve é a questão política fundamental. Não vale a pena os partidos, os respectivos chefes circunstanciais e habituais cortejos de clientela contornarem o assunto, silenciarem o assunto, alterarem os termos do assunto. Foi um erro crasso aquele que, outrora, os deputados do Algarve em S. Bento cometeram ao terem permitido que a excepcionalidade da criação da Região-Piloto fosse retirada da Constituição. Foi um erro imperdoável a que não hesito chamar coisa próxima de traição, em função dos compromissos e das promessas eleitorais que confortavelmente respaldaram esses tristes políticos sem fibra. Como será um erro imperdoável se agora se permitir que a comprovada coesão algarvia fique espatifada com essa história das comunidades urbanas. Naturalmente que, no xadrês político algarvio, as palavras principais cabem ao PSD e ao PS, para nada lhes servindo que dissimulem a questão fundamental. O Algarve é uma Região Natural pelo que os políticos (e depois deles a própria democracia) pagarão muito caro se se furtarem às suas responsabilidades. Para já, a excepcionalidade da Região-Piloto deve ser reposta na Lei Fundamental. Os nossos ilustres deputados, em vez de por aí andarem - se perderam o poder - a visitar ribeirinhas entupidas ou - os que têm o poder na mão - a tentar amaciar os erros do mesmo poder, devem ser claros, devem definir-se de uma vez por todas quanto à questão fundamental. O resto é conversa.

Carlos Albino

SMS 36: Eurodeputados? Emigrantes de luxo…

15 Janeiro 2004

Estão à porta novas eleições ditas europeias que de europeias nada têm, tratando-se apenas de uns arranjos feitos pelos estados-maiores dos partidos. Sobretudo, as duas últimas dessas eleições ensinaram – gente incómoda pela crítica e também outra gente que se tornou num fardo pelo comportamento, mas que por efeito do marketing político arrastam maiores ou menores grupos de eleitores enganados, essa gente lá vai feliz e contente ou cantando e rindo, como queiram, para o corrupio entre Bruxelas e Estrasburgo. Vão felizes e contentes porque somam ao curriculum o pomposo título de eurodeputados e vão cantando e rindo porque afinal partem para uma emigração de luxo: um ordenado de ministro, mordomias com que nunca sonharam na vida e quase nenhum trabalho, porque se houver algum trabalho não faltam os gabinetes e consultores que por encomenda e bem pagos lhes fazem os relatórios, pelo que para se ser «eurodeputado» nem é preciso saber nada na vida. O resto continua a ser marketing e apenas marketing político: notícias para os jornais que não são notícias, convites para viagens que nem são convites (têm um grado orçamento só para esse efeito…) e, de vez em quando, a prestação ou simulação de prestação de uns favores alegadamente nos corredores de decisão de Bruxelas a empresários incautos. Nem sei para que vale o Algarve e os Algarvios terem-se convencido de que elegeram ou vão eleger eurodeputados. Voltaremos ao assunto.

Carlos Albino

SMS 35: Álvaro Cassuto: Bravo! Bravo!

8 Janeiro 2004

Mas que magnífica noite em Loulé! O Cine Teatro – pérola de arquitectura pela simplicidade e harmonia – estava cheio e o programa tinha elementos para domesticar até animais selvagens: entradas de Mozart, condimentos de Donizetti e alguns doces de Rossini. Mas não foram os condimentos, nem as entradas e muito menos os doces que estiveram à prova no primeiro deste ano de 2004. Certamente que o melhor meio para de dirigir seres humanos será talvez tocar-lhe violino, embalá-los com o violoncelo, acordá-los com a trompa, amaciá-los com o oboé, dar-lhes profundidade com o contrabaixo e – porque não? – limpar-lhes a parte má da consciência com uns valentes abanões vindos lá dos lados dos tímpanos. Mas também nada disto estava em causa. A Orquestra do Algarve entrou como se fosse a continuação das nossas vidas e o maestro Álvaro Cassuto, depois de discretamente beijar a batuta, começou o seu trabalho com a seriedade de quem sabe que pode acrescentar mais alguma coisa às mesmas nossas vidas. Ele ia dirigindo suavemente aquela afinada máquina de sons humanos e pensava eu: este homem, se assim continua, está a domesticar o Algarve. Ele entusiasmava-se fugidiamente para, com um ligeiro levantar de tacão dos seus sapatos de verniz, prevenir o melhor simultâneo dos sopros com as cordas e pensava eu: este homem vai fazer escola. Ele ouviu uma longínqua faladura de criança, deixou a batuta suspensa, olhou para o lado sorrindo e pensava eu: já tem garantido o voto daquela criança. Por tudo isto, não perdoarei, jamais perdoarei a quem negar todo o apoio a Álvaro Cassuto e à sua Orquestra do Algarve e por tudo isso, levanto-me da plateia e por entre os aplausos grito: Bravo! Bravo! Um aprendiz de negócios, dizia outrora a Voltaire: «É uma grande felicidade para mim, mas nunca me sobrou tempo para ter bom gosto!». Também não perdoarei a quem me disser que não lhe sobra tempo para gritar «Bravo!» a Álvaro Cassuto que está a colocar no Algarve a praia que nos faltava. A daquela Arte que estimula a liberdade de espírito.

Carlos Albino

SMS 34: Que seja um bom ano de clarificação

1 Janeiro 2004

Tenho verificado que os Algarvios estão muito conformados. Perante aqueles que implantaram, aqui e ali, a execrável lei do quero, posso e mando, os Algarvios aceitam tudo, encolhem os ombros e só falta que – como nos tempos do Dr. Salazar – se generalize o conselho para que «não te metas na política, faz a tua vida e deixa andar…» Os Algarvios parecem subjugados à fatalidade dos que usam do poder (claro, é od poder local que estamos a falar!) como se a autarquia fosse autocracia, como se autonomia de decisão fosse despotismo e como se ousar dizer duas palavras alarves fosse clarividência. Na verdade, verifiquei que alguns autarcas entraram com pezinhos de lã, com mesuras para a direita e para a esquerda, e hoje permitem-se decidir da coisa e interesse público sem consulta pública, sem a mínima auscultação, sem o mínimo respeito pela cidadania. Ora, com este ano de 20004, não só acaba o benefício da dúvida para uns tantos, como para outros termina a dádiva da tolerância. É que voltou a histeria das ciclópicas construções à beira-mar, sem dúvida que pela exigência dos galopins (sim, galopins são os compradores de votos…), voltaram as insistências em projectos megalómanos de terceiro mundo que só fascinam no terceiro mundo e, com tudo isso, voltaram a reinar os sabichões do negócio rasteiro aliados aos teóricos da chafarica. Que 2004 seja um Bom Ano de clarificação. Espero que sim, se os Algarvios, de uma forma ou de outra, virarem a página do conformismo que o primo-irmão de todos os chefes da Sicília e já agora de Nápoles. Bom Ano!

Carlos Albino