quinta-feira, 26 de abril de 2007

SMS 207. Movimento cívico? Aderi.

26 Abril 2007

Anda o Estado, há um ror de anos, a prometer regiões administrativas por via daquilo que é mais sagrado num estado de direito – a Constituição. Há 33 anos que promete, a idade de Cristo, acabando sempre por crucificar a ideia, no alto de um monte, num perfeito entendimento entre os Pilatos do regime e os sacerdotes do poder central que nunca deixou de ser uma corporação do autoritarismo e, amiúde, do desdém pelo cidadão comum, passada a hora da captação do voto. E o pior é que a ideia tem sido sempre crucificada entre dois ladrões, o bom e o mau, sugerindo que se trata de uma ideia ladra. Ora, 33 anos, já é demais.

Num dia, afirmam uns centuriões que o povo não está preparado para a criação de regiões; no dia seguinte, para acalmar clientela, promete-se desconcentração cumprindo-se dela uns arremedos; e quando os arremedos são postos em causa, agita-se o caminho para a descentralização que, bem vistas as coisas, não tem passado de embustes burocráticos. Quando havia dinheiro, promoveu-se um referendo cujo resultado se antevia e cujos promotores no fundo desejavam, respirando de alívio com o adiamento das regiões para algum dia que, também no fundo, desejavam que fosse o de São Nunca à Tarde. Agora que não há, porque o dinheiro foi gasto por esses mesmos em tudo menos nas regiões ou para regiões, o argumento é outro mas a intenção é a mesma: crucificar a ideia.

Por estas e outras razões, aderi ao movimento cívico «Regiões, Sim». Naturalmente que não aderi a Mendes Bota, não se trata de aderir a pessoas mas aderir a uma ideia. Diria o mesmo se fosse Miguel Freitas a tomar o pulso. Não é por a iniciativa ter partido de Mendes Bota que, só por isso, haveria que diabolizar a ideia já de si tão crucificada - aderi ao movimento, o qual espero que se mantenha «cívico» e sem tutelas partidárias directas. Aderi porque julgo ter chegado o momento de se descriminalizar politicamente as regiões, e quando precisamente os centuriões de sempre se preparam para colocar sobre as regiões o carimbo acintoso do «regionalismo» apresentado, sem qualquer honestidade intelectual e moral, como doença infantil do regime democrático. É com carimbos destes que se crucificam as ideias que ponham em causa o Estado naquilo que ele tem de corporação autoritária avessa ao escrutínio dos cidadãos e sempre com dois ladrões à mão – o bom e o mau.

Carlos Albino

Flagrante sugestão: Ao autarca que foi a São Brás proferir uma conferência sobre «Como conquistar uma autarquia depois de uma derrota», ele ir preparando já outra conferência sobre como «Perder uma autarquia depois de uma vitória» …

quinta-feira, 19 de abril de 2007

SMS 206. Um pouco mais de humanidade…

19 Abril 2007

Por estes dias, andei a espreitar. Não levem a mal, mas andei a espreitar e a meter o nariz onde não sou chamado, onde, por assim dizer, está a vida privada ou até mesmo a intimidade – a vida privada dos imigrantes e a intimidade dos imigrantes, tanto quanto possível sem que estes dessem por mim. E observei situações inacreditáveis. Em centros de cidades, em casas degradadas, alugadas por montantes exorbitantes aqui a ucranianos, ali a romenos, mais além a moldavos, há quartos minúsculos com cinco e seis camas, cozinham à porta, amontoam-se sem condições humanas, sem qualquer qualidade de vida. Pelos campos em sítios esconsos ou já à berma de estradas, pior ainda: em perímetros sem urbanização possível, onde até há pouco estavam alfarrobeiras e amendoeiras, por aí se vêem contentores em cima uns dos outros, filas de contentores, verdadeiras aldeias de contentores onde, num ambiente concentracionário e de maus prenúncios, igualmente se amontoam ucranianos, romenos, moldavos, por vezes com africanos ou então apenas estes porque a amálgama desumana é a mãe da segregação e do apartheid. Clandestinos? Legais? Não vem para o caso. O que vem para ocaso é que esta situação tem que ser, deve ser escrutinada, embora dela não se fale – há interesses pelo meio, uns rasteiros por parte de gente que quer dinheirinho sejam quais forem os meios e métodos, outros mais elevados porque decorrem do perigoso jogo de investidores sem rosto ou alguns com ele mas igualmente perversos. Pois, por estes dias, por aí andei por ruas e ruas, por campos e campos, por amontoados e pardieiros escondidos. Não gostei do que vi e estou a interrogar-me se no Algarve há uma política de imigração, de acolhimento, de integração e de todas aquelas variáveis que devem desembocar num pouco de mais humanidade. Pelo que vi, não há, ou se há, a política parece que cruza os braços face a uma situação que só por milagre não vai resvalar para uma situação potencialmente explosiva.

Carlos Albino

Flagrante pergunta: E se, por acaso, mais ano menos ano, a avaliar as dívidas presentes, algum gigantesco aldeamento turístico redundar num gigantesco caso de Tróia, como será?

quinta-feira, 12 de abril de 2007

SMS 205. Não resisto a contar

12 Abril 2007

Metáfora do tempo que passa, não resisto a contar o que o Washington Post fez em Janeiro mas que só agora corre pelo mundo. O grande diário norte-americano lançou a seguinte questão: Passaria desapercebido um dos maiores violinistas do mundo tocando em plena hora de ponta no metropolitano de Washington? Vai daí, convenceu Joshua Bell, sem dúvida um dos prodigiosos e grandes violinistas da actualidade, a pegar no seu Stradivaruis avaliado em três milhões de dólares, para, trajado de vaqueiro, camisola de algodão e boné de basebol, tocar à entrada do metro, na L’Enfant Plaza, no centro político de Washington, solicitando moedas a quem passasse. Ninguém o reconheceu a executar Bach, e durante 43 minutos, das 1.070 pessoas que deram de caras com o célebre violinista, apenas 27 deixaram cair uma moedinhas de esmola, apenas 7 pararam para o ouvir mais de um minuto e no final da façanha, o que estava no fundo do boné, somava exactamente 32 dólares…

Que lição a tirar daqui? A de que a excelência, neste mundo que passa, apenas é reconhecida quando há fama e que apenas há fama quando a excelência é artificialmente colunável no seu lugar e como tal imposta. Em Faro, por exemplo, Joshua Bell, com o seu Sradivarius e as suas magistrais execuções de Bach, ali à beira da Doca, nem sete euros recolheria. Mas a Lili Caneças ou outra qualquer cara de capa, mesmo que, para além da fama sem excelência, pouca coisa saiba fazer ou alguma coisa tenha a dizer de útil e de válido, senhores e senhoras, na Rua de Santo António veria cair no seu boné, em apenas um quarto de hora que fosse, um montante 330 vezes superior ao que o próprio Joshua Bell recolheu no Metro de Washington.

Naturalmente que a metáfora chega à política, chegou à política: no Algarve, dão-se valentes esmolas à fama enquanto a excelência passa desapercebida. E tal como na Arte, mal vai a Política quando os Famosos que tudo fazem para terem mais fama sem excelência, substituem os Excelentes ali na Doca, a pedir esmola para a excelência de que o Algarve tanto carece.

Carlos Albino

Flagrante reserva: Sobre o que, juntando ao que sabia, fiquei a saber da questão de Vilamoura, de Jordan, da Praza, da Inframoura e da Câmara de Loulé, de me calarei até ir a Córdova e, no regresso se for possível, tirar a limpo algumas coisas com o BCP.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

SMS extra. "ESTADO do ALGARVE"

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SMS 204. Por este lado, acabou

5 Abril 2007

Depois de seguir atentamente a audição parlamentar do majestático Manuel Pinho e de avaliar as prestações dos majestáticos deputados, nas matérias de turismo e de marcas, descansem que por este lado acabou. E acabou por este lado porque a sobranceria de Pinho, a subserviência dos apaniguados, e o tom belicosamente inconsistente da oposição em nada abonam os protagonistas.

Naturalmente que mantenho a crítica aqui feita à marca com uma abusiva brincadeirinha de palavra, de resto cópia não desmentida de outra brincadeirinha que até estava aparentemente falida mas ao nível do que servia e agora está à venda depois desta inesperada subida de cotação – Vejam no negócio que as brincadeirinhas dão num Algarve que já é cabo para toda a colher. Oxalá que esta brincadeirinha tenha sido a última, mas não foi a primeira, houve mais, como aquela da secretaria de estado em Faro muito ao género de como com papas e bolos se comem os tolos.

O politicamente sobranceiro Manuel Pinho é uma tristeza, como tristeza é ver a atroz e rastejante subserviência de deputados de uma maioria com os tiques de partido único (até já se auto-avaliam como colunistas roubando essa prerrogativa da avaliação que, numa democracia, compete à Imprensa livre e independente), e ainda tristeza é ver como a oposição é incapaz de consolidar argumentação com dignidade, serenidade e elevação. E como a sagesse de uns está para a sagesse dos outros, por este lado acabou.

Carlos Albino

Flagrante continuidade: As nomeações de filhos de amigos, compadres e cristas de galo para a grande escapatória de mordomias que é a das empresas municipais – lençol pequeno para ser tão esticado.

terça-feira, 3 de abril de 2007

SMS extra. A síntese final do holandês...

E aqui está a síntese final do holandês que colocou à venda o site http://www.allgarve.biz/ da marca copiada, tirando partido da questão, com mais L ou menos L:



Comentários? Basta recorrer à ensinança de La Fontaine segundo a qual "é um prazer dobrado enganar quem engana"... O dinheiro que Pinho pagou dá para comprar.