quinta-feira, 30 de junho de 2005

SMS 112. Os Direitos Humanos desta vez em Faro...

30 Junho 2005

Não sei mas gostaria de saber se é o forte construtor civil que tem razão ou se é o fraco e por ceto indefeso sexagenário António Afonso que viu a sua habitação a ser demolida às seis da manhã e à força que mais razão terá. O que se sabe é que os responsáveis por um empreendimento com mais de 800 fogos, pela descrição do jornalista Idálio Revés, fizeram ou mandaram fazer o inacreditável porque é próprio de uma sociedade de barbárie: nesse começo de dia, arrastaram o homem para cima de pedras, taparam-lhe a boca para não gritar e deitaram-lhe a casa abaixo onde vivia há 35 anos para o empreendimento avançar... Não é assim que a razão se apura, não é assim que se trata um ser humano. Na verdade, alguns construtores civis actuam no Algarve como se fossem ocupantes da Faixa de Gaza ─ e então por essas falésias onde não há ninguém é um ver se te avias. Mas se fora das falésias encontram um ser humano, alguns fazem obra desta, à margem dos tribunais, à margem da polícia, à margem da segurança social. Volto a repetir que não sei se António Afonso tem razão, o que sei é que o construtor a perdeu com esta acção própria da barbárie. É evidente que a Câmara de Faro e a PSP, cada entidade por lado teria uma palavra a dizer sobre a hora ou enquanto era tempo. A PSP descartou-se bem («os factos terão ocorrido antes da chegada da polícia») e a câmara em hora de eleições silenciou-se ─ o que é de mau tom numa sociedade onde egoístas e egocêntricos campeiam cada vez mais. Resta dizer que para executar acções como esta de Faro, mão-de-obra «especializada» não falta no Algarve... A polícia conhece essa mão-de-obra e os seus elevados conhecimentos de Direitos Humanos que aplicam com mestria nas horas vagas e pela calada da noite que é a prima irmã da clandestinidade. Mas os construtores também sabem. Vamos bem.

Carlos Albino

quinta-feira, 23 de junho de 2005

SMS 111. Duas citações…

23 Junho 2005

Primeira citação, o programador de Faro Capital da Cultura, Miguel Abreu, disse nem mais nem menos que «temos de ver se as pessoas percebem que o espectador do Algarve é igual ao espectador de Paris, de Lisboa ou de Nova Iorque». Nem mais nem menos – é igual. Igualíssimo. Grande programador!

Segunda citação, o vice-presidente da Câmara de Albufeira, José Carlos Rolo, disse também nem mais nem menos que «neste mundo global, se não tivermos uma Língua e uma Bandeira, deixaremos de ser portugueses, provavelmente». Grande pensador!

Carlos Albino

quinta-feira, 16 de junho de 2005

SMS 110. Autárquicas…

16 Junho 2005

As listas estão prontas, a luta vai começar, aliás já começou – os primeiros cartazes pré-eleitorais já por aí começam a ser afixados com o vale tudo e erros gramaticais à mistura. Possivelmente apenas Faro vai mudar de mãos por todas as razões e mais uma. Na verdade se alguma coisa Faro deverá querer é deixar de ser capital do provincianismo nacional. Mas também possivelmente haverá luta renhida em Portimão e abanão em Albufeira. O resto deve continuar mais ou menos na mesma, a avaliar os indícios – todos sabemos que os indícios valem pelas melhores sondagens, sobretudo quando os Municípios se transformaram em umbigos e onde apenas se olha para o umbigo sem lógica de Algarve, sem pensamento de Algarve, sem visão de Algarve, sem golpe de asa, sem a ambição superior de excelência. Os eleitores estão cansados de promessas não cumpridas e de constatar que afinal quem não é eleitor é quem manda no Algarve, desde que saiba satisfazer os umbigos municipais dando uma volta sobre a lei, dando uma volta sobre o bem comum, dando uma volta em tudo o que for preciso. E por aqui ficamos, porque em algumas listas as companhias não são sérias.

Carlos Albino

quinta-feira, 9 de junho de 2005

SMS 109. Aquele pormenor que Sócrates esqueceu

9 Junho 2005

O primeiro-ministro José Sócrates escolheu Sagres para algumas decisões importantes mas tardias como são os casos do ponto final na novela da Barragem de Odelouca. (mesmo assim a ver vamos…) e do plano de ordenamento da orla costeira. Na verdade, quem percorra a costa algarvia, sobretudo na zona de Quarteira-Albufeira, o que parece ter orientado aquela gente (autarcas, investidores, arquitectos e construtores) foi um plano de caos costeiro, verdadeiro caos típico de economia virtual, cega e aldrabona além do mais com sede em paraísos fiscais.

E quando estamos no caos, sabemos todos, ninguém se entende. Sócrates que, enfim, teve a coragem que faltou a Guterres e a Barroso para enfrentar este caos, argumentou que os investidores que defendam um turismo de qualidade apoiarão pela certa as medidas preconizadas, mas esqueceu-se de um pormenor – o pormenor dos algarvios, da população algarvia que segue atónita e descrente os movimentos da ilegalidade, da política subterrânea, da falta de fiscalização ou da fiscalização manobrada, das decisões desiguais e pela calada, um rosário sem fim que termina nos «aldeamentos turísticos» que, a partir de qualquer nesga de falésia, usurpam literalmente o domínio público. Sócrates esqueceu-se desse pormenor do número esmagador de algarvios que estão fartos do caos, dos autarcas do caos, dos arquitectos do caos, dos investidores do caos e dos construtores do caos mais o respectivo séquito de clandestinos.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de junho de 2005

SMS 108. Cerejas, morangos e outras frutas

2 Junho 2005

Possivelmente tive azar. Bem queria cerejas e morangos, mas tive azar. Fui a quatro hipermercados, dois supermercados e a dois minimercados à procura de cerejas e de morangos a sério, mas tive azar – ou eram cerejas do Douro, com dedo espanhol, com a cor dos olhos de borrego morto, sem sabor e metade bolorentas (toda a gente sabe que cerejas a sério são as da Cova da Beira, onde os produtores estão desesperados por não conseguirem escoar a sua fruta ímpar), ou eram morangos espanhóis, verdadeiros monumentos às hormonas e que, há duas semanas, enganado, comprei à beira da estrada da Patã, mas tive que os deitar fora – eram intragáveis. E apenas para verificar até onde as coisas podem chegar, andei pela 125 onde os pequenos agricultores, talvez mais por desespero do que por manha, pelos vistos se prestam, paredes meias com comércio ilegal mas a pretexto das laranjas «do produtor», a servirem de esgoto da fruta que a Andaluzia rejeita e não pode exportar para a Europa minimamente exigente. Afinal, nem uma cereja a sério, nem um morango a sério encontrei por todos os mercados possíveis numas três horas que não dou como perdidas – nessa experiência percebi «a coisa». Quer isto dizer que Portugal, cujos políticos andam por aí entusiasmados com o Mercado Interno Ibérico depois do entusiasmo pouco ou nada sério com o Mercado Interno Europeu, não conseguiu realizar e garantir o seu próprio mercado interno, o mercado interno português.

Os produtores algarvios de citrinos sabem dramaticamente do que estou a falar e os produtores de cerejas da Cova da Beira são as vítimas mais recentes e actuais – os beirões sofrem com as cerejas o mesmo ou mais do que os algarvios têm sofrido com as laranjas. Que os hiper, super e mini mercados encham as prateleiras com a fruta que a Espanha não consegue vender em mais lado nenhum, isso tem uma explicação que os senhores Belmiro de Azevedo e Américo Amorim guardam – sabemos. Mas o que não dá para entender é que os agricultores algarvios de citrinos em vez de darem a mão aos produtores beirões de cerejas, concertando estratégias, façam por ganhunça à beira da Metropolitana 125 o mesmo que nos hiper, super e mini se pratica: esgoto.

Carlos Albino