quinta-feira, 27 de janeiro de 2005

SMS 90. Ora vejam bem...

27 Janeiro 2005

Fica-se a saber que o Estado Português se empenha, de corpo e alma, na candidatura de Coimbra a Cidade Anfitriã para a Europa em 2005. Coimbra que já foi, e muito bem, a Capital Nacional da Cultura em 2003, agora é a proa de mais uma promoção no âmbito da Organização Mundial de Turismo.

Com tudo o que temos vindo a assistir, a saber e a adivinhar, sejamos claros: o Algarve não conta. Não vale a pena andarem por aí a tapar o sol com uma peneira, a prometerem isto e aquilo. Não conta.

Possivelmente resta ao Algarve explorar uma grande parceria com a Andaluzia. Quando a solidariedade dentro das fronteiras não é cultivada, não há outra alternativa que não seja a solidariedade e a cooperação transfronteiriça. E em todos os capítulos.

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de janeiro de 2005

SMS 89. Mas que mal, o Algarve fez à China e a Sampaio?

20 Janeiro 2005

Fora dessa espectacular comitiva. Mais de uma centena de empresários e representantes de organizações que configuram interesses económicos de relevo, nomeadamente na área do turismo, acompanharam Jorge Sampaio à China mas o Algarve ficou, mais uma vez, de fora. Naturalmente, seria de esperar que, ao menos, a RTA fosse incluída para pôr um pé nesse promissor mercado turístico. Mas nem a RTA, nem sequer, enfim, alguma das associações empresariais da região teve lugar ao menos na cauda do avião presidencial.


Razões? De acordo com as operadoras que actuam no gigante asiático, os chineses preferem visitar lugares exóticos e com natureza exuberante, dispensando o turismo do tipo sol e mar. Nestes termos, possivelmente para os critérios de selecção da comitiva de Sampaio, o Algarve em muito pouco faria comover os chineses, visando a formatação de pacotes turísticos. Ora nada mais errado do que reduzir o Algarve a sol e mar, como decorre da insuportável visão colonial britânica do nosso turismo. Três exemplos: a inigualável Ria Formosa, o ímpar Promontório de Sagres e o périplo das cidades históricas algarvias (à evidência, primado para Silves e Tavira) têm todos os elementos para cativar e agradar a um milhão de chineses...

E não menosprezemos. Pelas estimativas da Organização Mundial do Turismo (OMT), no ano passado foram cerca de 22 milhões de turistas chineses a circular pelo mundo contra 17 milhões no ano anterior, calculando-se que, em 2020, a China se torne no quarto maior emissor de turistas no ranking mundial com 100 milhões de chineses viajando pelo mundo. Ainda de acordo com a OMT, 50 % dos chineses que viajam pelo mundo estão na faixa etária entre 25 e 45 anos. O turista chinês gasta por dia, em média, 107 dólares durante as viagens internacionais e, somente em souvenirs, esses viajantes gastam, num pacote de uma semana em país estrangeiro, cerca de mil dólares. A OMT aponta algumas razões para que os altos gastos dos chineses em viagens internacionais, designadamente, o gosto dos chineses pela compra de presentes e o hábito de fazer a junção entre viagens de lazer e de negócios.

Sampaio fez bem em levar os homens que andam a provar a navegabilidade do Douro para cima e do Douro para baixo com um cálice de Porto de comporta em comporta, com certeza que fez bem Mas esquecer assim o Algarve foi péssimo, péssimo e péssimo.

Carlos Albino

quinta-feira, 13 de janeiro de 2005

SMS 88. Prémio SMS de Jornalismo: Idálio Revez

13 Janeiro 2005

Enquanto houver saúde e o sol der lugar à lua para este vosso modesto escriba, o Dia de Reis será dedicado, todos os anos, a uma reflexão muito especial: a atribuição do Prémio SMS de Jornalismo. E foi o que aconteceu no passado dia consagrado aos Magos. É verdade que tal prémio não tem regulamento nem pode ter e dispensa júri, como também não haverá espectáculo com meninas descascadas para entrega de troféu, nem envelope com uns tantos euros a sair das mãos do governador civil sob o aplauso de uma plateia que a 90 por cento não lerá jornais. Mas também é verdade que este mesmo prémio é uma distinção – nada mais que distinção pura e tão imaterial como o ouro puro, tão proba como prata certificada e tão talhada para a memória como o bronze das estátuas que evocam gente querida.

Portanto, meus senhores e minhas senhoras, vamos ao anúncio: «O Prémio SMS de Jornalismo 2004, foi este atribuído ao jornalista Idálio Revez, do diário Público».

Prosa serena, atenta, crítica e por vezes com uma pitada de ironia como é próprio dos homens de Querença; informação sobre o Algarve, ao longo de 2004, sem deslizes, sem subserviências e sem sobrancerias, coisa que é difícil manter em Faro; e não muito mas de vez em quando, com posições corajosas que resultam mais da doutrina dos factos do que de impulsos pessoais.

Um abraço para o premiado. No Dia de Reis de 2006, outro premiado se seguirá ao jornalista Idálio Revez. Se o sol for dando lugar à lua.

Carlos Albino

quinta-feira, 6 de janeiro de 2005

SMS 87. Música, escaiola e chaminés!

6 Janeiro 2005

Este novo ano de 2005 começa bem por três bons motivos, tenham Mendes Bota 1) e João Cravinho 2) santa paciência…

Primeiro, a Orquestra do Algarve. Já se vai tornando num hábito imprescindível, o concerto de Ano Novo da Orquestra do Algarve – com inteira propriedade deveria já passar a designar-se por Orquestra Metropolitana do Algarve, que o Prof. João Guerreiro pense nisso porque pensará bem… E quem fala da Orquestra é o mesmo que falar do maestro Álvaro Cassuto e dos 31 músicos que, em conjunto, formam uma daquelas poucas coisas que, no Algarve, fazem a terra tocar nos céus. Ouvi-os em Loulé, a meio da tarde, como os podia ter ouvido à noite em Olhão, mas tinha que os ouvir. Desta vez foi Mozart, foi Barber, foi a magnífica interpretação do concerto para dois fagotes de Vanhal (levantei-me para os aplaudir) e no final a N.º 2 de Beethoven. Obrigado Álvaro Cassuto, muito obrigado!

Segundo, a Embaixada da Arte Poética. O poeta Nuno Júdice inaugurou a sua bela casa herdada de avós, na Mexilhoeira Grande, cheia de suaves escaiolas. A passagem do ano foi aí, o poeta leu sonetos inéditos, tão recentes e tão belos que 2005 entrou como um gole do melhor vinho e como o sabor da única verdade, naquela mesa melhor que a do protocolo de Estado. Pois essa casa está baptizada: é a Embaixada da Arte Poética. Há uns bons meses, tinha ido lá pouco antes da casa entrar em obras de restauro – do chão até meia altura, as escaiolas estavam numa lástima e duvidei que alguém, hoje em dia no Algarve, ali refizesse coisa próxima do original. E não é que há? O mestre escaiolador José Grilo chegou, trabalhou e fez obra. Obrigado José Grilo que não conheço mas ainda bem que conserva uma arte que faz às paredes o mesmo que a poesia faz ao que os dedos da alma sentem: suavidade e imposição a que o pensamento tenha tacto. Muito obrigado!

Terceiro, o esplendor das Chaminés. Sim, as chaminés. São as chaminés que abrem Loulé como a capital da cultura, ironia do destino e sarcasmo da presunção porque água benta cada um toma a que quer… Uma exposição das chaminés de Eduardo dos Santos, em barro fino, chaminés a rigor, ao todo 28. Eduardo dos Santos deixou o número dos vivos em 1990, mas deixou obra de oleiro. Perante os 50 mil historiadores e 17 mil mestres de história que o Algarve tem em anexo, asseguro a minha firme convicção sobre a origem romana das nossas chaminés que nada têm de árabe. Convido os leitores destas modestas mensagens semanais a irem até Loulé. Vejam, meus senhores e minhas senhoras, como o magnífico espectáculo das chaminés algarvias autênticas nada tem a ver com as pepineiras de Leiria vendidas na 125. Uma chaminé algarvia autêntica e esplendora está para o esplendor da música de Álvaro Cassuto assim como a pepineira moldada de Leiria está para a festa das chouriças de Querença!
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1) Oh Mendes Bota! Os líderes partidários têm tribuna própria que chegue - mais do que isso, só na Madeira é que se vê… Já lá dizia o duque de Lévis que se fosses grande, não precisarias de andas.

2) Não era caso de a cidadania algarvia lhe ter despertado mais cedo, tal como a Mariano Gago e possivelmente até a Guilherme de Oliveira Martins? Como o Algarve lhes teria ficado agradecido!


Carlos Albino