quarta-feira, 24 de junho de 2009

SMS 319. A grande expectativa


24 Junho 2009

Depois dos resultados das “europeias” (entre aspas porque a Europa ficou entre aspas) naturalmente que a grande expectativa dos algarvios vai para as listas de candidatos que os partidos preparam ou reformulam para as legislativas, pois para as autárquicas o figurino está traçado – há candidatos que seguramente ganharão porque já ganharam e candidatos que apenas vão fazer o favor de se apresentarem como a solução local menos pior possível e pouco mais, descontada a vergonha política por algum lugar prometido por tal sacrifício. Todavia, por diferentes motivos, é bem possível que PS e PSD estejam a reformular os esboços de Janeiro/Fevereiro, com umas tantas figuras a saltar do barco e outras tantas a querer entrar.

No PS/Algarve, que se supõe ter aprendido amargamente que não há lugares garantidamente elegíveis, os nomes de deputados pela região têm que ser pensados um a um, nenhum pode estar associado a um escândalo por pequeno que seja e os cabeças de lista (nºs 1, 2 e 3) devem ser identificados mais por uma ideia ou um projecto em que o eleitorado acredite, do que por mero empenho nos empregos políticos que a maioria absoluta transformou em rotina. Se o PS não conseguir ou pura e simplesmente recusar fazer esse exercício de selecção que exige alguma purga, pior será.

No PSD/Algarve, que atravessou as europeias com temas cruciais lá muito bem escondidos ao fundo (a regionalização, por exemplo…) e que colheu os frutos do seu principal candidato nacional tudo ter feito para salvar a líder e não, como aconteceu no PS, ter-se visto o líder a tentar salvar o candidato, foi notório que, mal conhecidos os resultados, apareceu inesperadamente gente a forçar, a querer ou a sugerir uma entrada na lista, ligando lá para cima e aparentemente passando ao lado da estrutura regional. Se o PSD, mais uma vez, se apresentar como uma passadeira do oportunismo, também pior será.

O Bloco, a CDU e o CDS, certamente que, por esta ordem, beneficiando mais dos erros alheios do que dos méritos próprios, poderão mesmo entrar pelo Algarve no próximo parlamento e por aquela mesma ordem. Para o Bloco seria histórico, para a CDU seria um corolário e para o CDS seria, enfim, alguma prova de que não é um partido SCUT – ou seja, um partido que viaja em auto-estradas sem cobrança de portagem como parece viajar.

Carlos Albino

      Flagrante falha de autoridade: Muita gente já gastou o que não devia ter gasto nesta confusão dos furos (nos laboratórios de análises, então, com ou sem IVA…). A Administração da Região Hidrográfica do Algarve não tem uma explicação a dar com cinco cavalos de humildade, depois da nota informativa do ministro?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

SMS 318. Tristeza e mau presságio



18 Junho 2009

As eleições para a Europa foram uma tristeza. O debate político foi paupérrimo e até deprimente, na sua grande maioria os candidatos tiveram tudo menos de europeus e não passaram de uns sorridentes provincianos com cara de paraíso garantido, muitos dos eleitores conscientes do que está em jogo neste Velho Continente ficaram atónitos e os restantes nem se aperceberam de que esteja alguma coisa em jogo. E como se previa, o Algarve que não teve um único candidato em lugar seguramente elegível em qualquer das listas, passou ao largo ou limitou-se a ver as alegres caravanas passar. O resultado é o que está à vista e, embora seja saudável cultivar o optimismo, não é de rejeitar a ideia de que estas eleições para a Europa, em vez de terem funcionado como alavancas para as legislativas e autárquicas, foram as primeiras que deixaram um sinal de profunda descrença na forma como os partidos usam o sistema de escolha colectiva. Oxalá que assim não seja, mas é aconselhável não assobiar para o lado.

Aliás, o Algarve não teve um candidato europeu que se impusesse nos jogos internos dos partidos porque também não tem líderes regionais com projecto na cabeça, plano nas mãos e força nos pés – o Algarve não tem líderes regionais, tem apenas funcionários regionais, zelosos e ciosos é certo, mas que por serem funcionários apenas funcionam como os mandam funcionar. E não tem líderes porque também não há contributos para uma ideia estruturada, não existe um debate sustentado e de finalidade digna, não há ânimo que desinteressadamente trace a rota do bem comum – o que não se consegue por decreto, por nascente da terra ou lembrança divina… Há na verdade militantes que se transformarem em profissionais da política e políticos que se treinaram nas técnicas de sobrevivência dentro dos partidos, a que se acrescenta uns poucos cuja reclamada independência dos partidos mais não é do que ressaibo trajado de movimento de cidadania. Estas espécies jamais evoluem para líderes.

Estas eleições europeias foram uma tristeza, e para o Algarve foram um mau presságio.

Carlos Albino
      Flagrante evidência: A regra do vale-tudo já começou para as autárquicas.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

SMS 317. Secretários do Peneco



4 Junho 2009

Para a inauguração de um elevador, o da Praia do Peneco, dois secretários de estado à frente de um batalhão de gente. Desceram, subiram, tiraram a bandeirinha da placa que eterniza nomes e egos, discursaram e, naturalmente, segundo testemunham as gazetas, muito público para o espectáculo, além da habitual tribo nómada de funcionários que não perdem uma coisa destas para se fazerem notados.

Vem de longe e de muito alto, esta prática de inaugurações, placas e discursos seja a que pretexto for, parecendo que nada de novo começa a funcionar neste país, nem que seja um elevador, sem inauguração, placa, discursos e sobretudo sem gente da mais alta soberania possível na agenda do momento. Ora, o que se passava antes da instalação do regime democrático, causava náuseas e dava-nos o sentimento de pertença de um país condenado ao atraso e ao provincianismo mental. Pessoalmente senti essa repulsa em dois momentos, antes de 1974: um, quando, tive que reportar a inauguração das escadas rolantes da estação de Metro do Parque Eduardo VII pelo chefe de estado de então (Américo Tomás); outro, quando igualmente tive de reportar a inauguração das lavandarias do hotel Sheraton pelo mesmo presidente da República. Chegou-se a isto – um presidente da República a inaugurar escadas rolantes e lavandarias de hotel, também com discursos, muito público e, obviamente, perante a coeva tribo nómada que nada perdia para se fazer notada.

Nos últimos meses, por aí tem havido inaugurações atrás de inaugurações, puxando gente do governo, algumas vezes não passando de projectos longe de obra, planos de obra apressada ou meros anúncios de obras para o tempo da Maria Cachucha. Algumas dessas inaugurações – poucas, diga-se – justificam-se. Mas a generalidade dessas façanhas volta a dar-nos esse tal sentimento de provincianismo mental de quando o presidente da República se apresentava como presidente das Escadas Rolantes ou como presidente das Lavandarias de Hotel. O que se diz sobre o elevador do Peneco, vale para o resto.

Carlos Albino
      Flagrante injustiça: O facto de Manuel Pinho, da parte dos 16 municípios algarvios, apenas ter recebido de Loulé a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro. Os restantes 15 municípios algarvios deviam encher aquele peito de medalhas, além de colocarem o nome em praças e ruas, avenidas e travessas.