quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

SMS 295. Este 2009 que aí está

31 Dezembro 2008

Assim como nos anos das vacas gordas, a política no Algarve não passou do «esperemos que isto passe para se ver no que isto vai dar», também não é agora em tempo de vacas magras que a atitude política se vai alterar. Assim, no silêncio calculado dos que vivem da política e dela, quase mecanicamente, recebem as benesses e o salário de prestígio social, este 2009 que aí está e que envolve eleições, aquela regra vai ser de ouro, e todos esses vão esperar que isto passe para ver no que vai dar. Na verdade, quando a política é tomada e vivida ou manipulada, ao mesmo tempo, como causa e efeito, quem arrisca não petisca,. e quem não arrisca, pela certa petisca. É claro que, há uns anos, estaríamos longe de imaginar que a democracia daria numa situação que não passa de jogos de interesses – interesses pessoais ou interesses organizados de grupo, tanto faz, em que os eleitores e contribuintes apenas existem, não para serem ouvidos, atendidos e servidos pela política para melhor, mas apenas para legitimar a vitória dos que por aí andam a esperar que isto passe para se ver no que vai dar.

Teremos, pois, autárquicas, europeias e legislativas. Nas autárquicas, na maior parte dos16 casos do Algarve, voltará a ganhar que ganhou, pelo que as oposições locais andam a desencantar quem possa perder sem grande transtorno, mesmo com recurso a quem foi exonerado da política ou que há muito a política devia ter demitido. Não há ninguém que a troco de um lugar certo de deputado que é o maior petisco, arrisque uma derrota autárquica. Nas europeias, nem se sabe se o Algarve terá algum lugar «elegível», como se diz no jogo em que a democracia se transformou, em todo o caso parece que há lugar cativo e o esforço para essa marcação foi notório. Nas legislativas, salvo algum autarca de relativo êxito provinciano que tenha sonhado ou mesmo reivindicado um voo mais alto para S. Bento, as máquinas partidárias têm obviamente os nomes na calha, pelo que gentinha cá de baixo só é ouvida para não se dizer que não foi escutada – fica quem estiver de alma e coração na situação porque de situação se trata por muito que custe a quem jamais esperaria que a democracia desse em situação.

Carlos Albino

      Flagrante expectativa: As contas e resultados dessa coisa do Allgarve que foi a maior asneira do Ministério da Economia Cultural ou da Cultura Económica, como queiram, pois misturar cultura e economia é regra de qualquer situação.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

SMS 294. O respeito pelas religiões

24 Dezembro 2008

Os poderes públicos devem obviamente respeitar a igualdade entre religiões, não lhes cabendo dizer se a crença professada por uns é melhor que as outras. E esse respeito é independente de uma crença ser aparentemente maioritária relativamente a outra. Se uma determinada religião é reconhecida e não colide com a Constituição e as leis, não cabe aos poderes públicos professar, pois cada um é livre de professar o que entender ou de não professar nada. Os poderes públicos não podem nem devem quer hostilizar uma determinada religião ou os seus agentes em função desta, como também não podem nem devem privilegiar alguma religião mesmo que os seus agentes gostem.

Ou pela aproximação das eleições, ou para alicerçar «imagem política», ou até a pretexto de «apoio cultural», o certo é que os poderes autárquicos, aqui e ali, vão fazendo das suas pondo em crise preceitos da convivência democrática mesmo que ninguém levante cabelo. Um exemplo, o que por vem nas agendas municipais em matéria de cultos com a prestação de informação certamente adequada e legítima num boletim ou num jornal confessional mas que de forma privilegiada e exclusiva não tem cabimento. Se por hipótese, tais agendas municipais prestassem informação relativa a todos os cultos professados no território autárquicos, enfim, ainda seria um critério embora se duvide que em terras pequenas como as do Algarve, os crentes sejam assim tão desleixados que precisem da agenda do município para o cumprimento dos deveres religiosos e onde fica o templo para esse exercício. Mas não, a religião para tais autarquias parece ser só uma e mais nenhuma, e nesta observação não há qualquer interesse em representar religiões eventualmente lesadas não se sabendo também se alguma se queixou. Apenas um exemplo, porque há mais e até exemplos com água no bico.

As religiões, a começar pela dominante, dizem-se apolíticas e só lhes fica bem. Mas já fica muito mal aos poderes públicos construídos e constituídos pela política deixarem-se levar por confessas simpatias por uma religião em detrimento das restantes, deixando sugerir uma proximidade promíscua que não ajuda deus nem mata o diabo, porque apenas visa o voto dos anjinhos.

Carlos Albino

      Flagrante drama: O do alcoolismo no Algarve.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

SMS 293. A Imprensa livre, bela prenda

18 Dezembro 2008

Numa democracia – é bom repetir – a Imprensa livre e isenta é a melhor prenda que uma sociedade pode ter ao longo do ano e não apenas pelo Natal que precede eleições. Livre e isenta – é bom repetir. E como não há liberdade sem responsabilidade (sem esta responsabilidade é melhor que não seja prenda) é evidente que a Imprensa livre é um pequeno reduto se os irresponsáveis forem a maioria. Já quanto à isenção, costumam os pensadores de café argumentar que não é possível Imprensa isenta, mas é – a Imprensa é isenta se tiver o fito do bem comum e perderá cada vez mais a mesma isenção se tiver em mente apenas o interesse geral, sabendo-se que o chamado interesse geral não passa da imposição dos interesses particulares dos mais fortes em detrimento dos interesses dos mais fracos. Para ser isenta, a Imprensa terá que escrutinar em cada momento, do grande título de primeira página à vírgula da necrologia, se está a servir o bem comum ou o interesse geral. Aliás, compete à Imprensa ir dizendo o que lhe parece ser bem comum, ainda que correndo o risco do erro e submetendo-se com humildade ao dever de reconhecer quando erra.

Estafadamente vai para 35 anos, e com isto quase duas gerações, que o país andou a zurzir contra a censura prévia da ditadura e ainda zurzem como se isso existisse mas dando jeito para descargo de consciência. Ora quem viveu e lidou frontalmente com essa censura prévia, tem alguma legitimidade para afirmar que numa democracia há o equivalente, se não até pior: é a condição prévia. Um regime autoritário impõe a censura prévia para impedir a democracia; numa democracia, quem submeta a Imprensa à condição prévia está a chamar pelo regime autoritário como o pastor chama os cães com belos assobios.

Muitos ou bastantes sabem do que estou a falar. Os restantes sabem mais do que aquilo que aqui deixei esboçado. Por ora. Esboço é esboço.

Carlos Albino



      Flagrante inversão de papéis: O dos políticos que não usando, como devem, a tribuna própria para a qual foram eleitos, se convertem em colunistas, cronistas e até já se conclamam de jornalistas!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

SMS 292. Estragam isto

11 Dezembro 2008

1. A profissão de deputado. Bastou aquele 31 da votação sobre a avaliação dos professores para levantar a lebre: as faltas dos deputados duplicam à sexta-feira (devem triplicar nas sextas antes das pontes) pelo que neste ano de 2008 já perto do final, tais faltas vão em quase 700. E curioso, as ausências são justificados com «trabalho político».

Não se questiona o «trabalho político», compreendendo-se agora (no caso do Algarve) a razão pele qual, volta e meia, há deputados a queixarem-se dos jornais não falarem deles e dos seus «trabalhos políticos» e apenas referirem o trabalho político de um ou outro como se falar de quem trabalha fosse conceder privilégio. Naturalmente que uma coisa é a justificação da falta no parlamento e outra é o pretexto, mas daria um grande jeito os jornais documentarem a presença de Suas Excelências em notícias tão importantes como esta: «Nesta sexta-feira x, o deputado Y deslocou-se à Ilha de Faro para constatar in loco o nível de subida do mar, rumando depois para Albufeira para constatar a qualidade do peixe grelhado.»

Relacione-se isto com a recusa ou escusa de alguns deputados profissionais em se candidatarem nas próximas autárquicas e teremos a chave da justificação para as autárquicas e dos pretextos para o parlamento. Estragam isto.

2. A profissão de banqueiro central. E pasma-se quando se fica a saber agora que Vítor Constâncio, pelo comando do Banco de Portugal, recebeu em 2007 18 vezes mais o rendimento nacional por habitante e está entre os banqueiros centrais mais bem pagos do mundo, quando o seu salário é ponderado pelo rendimento per capita – recebe 250 mil euros por ano. Não se exige que o governador banco central seja um frade franciscano descalço, mas como se compreende que ele, num país onde os ricos são cada vez menos pobres e os pobres cada vez mais miseráveis, ganhe mais do que o seu colega norte-americano que leva para casa escassos 140 mil euros/ano?

Outro profissional a estragar isto.

Carlos Albino

      Flagrante buraco financeiro: A banca portuguesa, de Janeiro a Junho portanto antes da crise financeira - , lucrou cerca de seis milhões de euros por dia, pelo que ganhou mais de mil milhões de euros e mantendo elevados os custos operativos. Então porque é que não estava a banca preparada para enfrentar a crise e teve que pedir ao Estado que tratou como Maomé e a quem só ofereceu toucinho? Estragam isto.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

SMS 291. Regionalização e professores

4 Dezembro 2008

1. Regionalização. A guerrilha institucional a propósito do Estatuto dos Açores cai mal. E cai mal porque o mesmo governo que fecha as portas à regionalização administrativa no continente é o mesmo que estimula ou rubrica a cada vez maior autonomia política das regiões insulares, num descompasso despropositado e inaceitável. Não se sabe quem irá pagar os custos gravosos desta continentalização onde as disparidades da distribuição da riqueza são evidentes, mas não é justo que os pobres cada vez mais pobres paguem os custos da insularidade. Chega-se, por exemplo, ao ponto de, para a nomeação de coordenadores do ensino na América do Norte, ser na prática a secretaria regional de educação dos Açores a fazer, na prática, as nomeações, apenas porque os Açores têm lá emigrantes, sendo esse um assunto de estado – o Algarve, as Beiras e Trás os Montes também lá têm emigrantes.

2. Professores. Do 8 caiu-se no 80. Sem que se tenha feito uma avaliação serene e séria das razões e motivos do divórcio da escola relativamente à sociedade, estendeu-se o dedo aos professores, e, na prática apenas contra os professores. Mais grave: em vez de se estabelecer um sistema de avaliação de desempenho por via do qual a escola e a sociedade ganhassem de vez confiança recíproca, optou-se pela via mais pérfida que em Portugal pode existir e que é a da criação de um policiamento de matriz corporativa, com professores convertidos em polícias dos seus colegas. Naturalmente que por entre os que a isso se prestam, sabe-se que a sua maioria descamba para os actos de sediciosa vingança. E o resultado está à vista: professores da melhor água estão destroçados na carreira e nas suas vidas pessoais, vítimas desta Mocidade Portuguesa tardia mas persistente na mentalidade daqueles para quem a finalidade vencedora da vida está nos despojos ganhos em guerras de secretaria.

Dois assuntos de fábula que mostram como a democracia potencialmente pode eleger ditadores, os grandes e os pequenos. Naturalmente que não estamos ainda em risco de eleger um grande (ainda não foi convocado um plebiscito) mas os pequenos aí estão a pulular. E pululam nas escolas.

Lamentável.

Carlos Albino

      Flagrante advocacia: Ainda não se viu sinais de debate da transparência e da responsabilidade perante a Sociedade que assiste calada à querela corporativa interna. Lamentável também o baixo tom das palavras a que se chegou de parte a parte.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

SMS 290. Há um Plano B?

27 Novembro 2008

Tempos difíceis vão vir, mas não desejamos, ninguém deseja que o pior possa acontecer para a actividade que se converteu no principal suporte económico do Algarve e para as actividades conexas ou que andam em órbita do turismo. Mas, ainda há bem poucos anos ninguém pensaria que uma crise financeira a ditar uma crise económica pudesse, com persistência, abalar o sistema adoptado à confiança pela generalidade dos países, a ponto de se terem tolerado como inofensivos os paraísos fiscais cujo relativo controlo, apenas desde há uns cinco, sete anos se revelou ser necessário no que toca a operações ilícitas e ilegais, as quais foram sobretudo atravessando os negócios imobiliários.

É sabido que, com poucas excepções, os grandes e verdadeiros proprietários das redes e unidades turísticas que operam no Algarve, não estão no Algarve nem sequer no país – estão fora. Por aqui mantêm delegados, com a categoria de directores mas sem grande ou mesmo sem nenhum poder de decisão autónoma para as questões de fundo, e, quando muito, representam. Enquanto o lucro for evidente, tudo correrá bem ou mais ou menos bem. E se o lucro desaparecer? Pois se desaparecer, é claro que vão-se os anéis e ficam os dedos.

Só agora por aí se começa a fazer estudos previsionais com bases credíveis e seriedade, os sinais de perigo até nem são alarmantes, os recuos podem ser recuperáveis mas tudo depende de factores que ninguém isoladamente controla e que mesmo em conjunto também ninguém pode controlar, mesmo que continue a haver magnífico sol, esplêndido mar, praias de sonho, ouro a olhos vistos nos campos de golf e… infra-estruturas.

Ora, já devia haver um Plano B para a região porque o salve-se quem puder, com o peso e a dependência que se gerou, não vai salvar ninguém. Não desejamos, ninguém deseja, mas a prudência aconselha a que não enterre a cabeça na areia.

Carlos Albino

      Flagrante ilusão: Duelos pessoais que não chegam a escaramuça e muito menos a batalha, e «guerras políticas» declaradas ou travadas artificialmente, não enganam a ninguém mas iludem muita gente.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

SMS 289. Diálogo totalitário


20 Novembro 2008

É inevitável falar desta questão que opõe os professores à ministra da Educação, com a sociedade a assistir atónita a este duelo em que a política, mais uma vez, se está a desprestigiar. E o que choca, no meio de tudo isto, é o fingimento de diálogo ou, para mais precisão, a cultura do diálogo totalitário que é a erva daninha da democracia.

A ministra da Educação mais não é do que o cúmulo do que tem vindo a acontecer ao longo de anos, da parte de numeroso grupo de políticos que jamais se deram ao trabalho de se auto-avaliarem, desde o recôndito presidente de junta ao mais alto magistrado. Na verdade, fomos ouvindo da boca desses políticos aquele frase já corriqueira do «Estou aberto a todas as críticas…» apenas para dissimular a prepotência, o autoritarismo, e muitas vezes até para dissimular práticas que roçam o crime público, como o abuso de poder. Então, nos pequenos meios em que não há bases de anonimato social, essa cultura de diálogo totalitário tem sido um a ver se te avias. Não são raros os casos em que o cidadão que critica de forma correcta é considerado como inimigo público – o que sendo aberrante em democracia, destrói a democracia ou a converte em mero exercício formal. Pior ainda quando à crítica se segue a represália como castigo, aquela represália de que a vítima não pode apresentar queixa porque há represálias que caiem do céu e sem provas, como é típico da cultura política totalitária que, não haja dúvidas, pode existir debaixo dos tapetes da democracia. Daí que cada um se feche em casa e sem que se note se gere um clima de medo na expressão pública das ideias que não sejam as de louvaminhas, encómios e elogios ao líder que para se justificar como líder, ainda assim, continua a repetir que está aberto a todas as críticas e vai o todos os sítios simulando ouvir todos não escutando ninguém tal como o coronel na parada em hora de ordem unida.

Estou em crer que larga percentagem de professores, detidos pelo medo da crítica, têm as suas vidas familiares destroçadas e as relações sociais desfeitas em grande parte, na obediência a esse desiderato de ordem unida a que a ministra se devotou aplicar nas escolas. E se vão à manifestação em Lisboa, não é porque o sindicato seja afecto a isto ou àquilo, mas apenas porque a manifestação é a única base de anonimato em que se podem expressar. É o escape ao qual a ministra, obviamente, destina total desprezo como é próprio do diálogo totalitário.

Ora este tipo de diálogo pode funcionar ou sobreviver com um presidente de junta ou mesmo um presidente de câmara; com um ministro, não, se ele não perceber o momento do ponto sem retorno.

Carlos Albino

      Flagrante falta de princípios: A dos partidos para os quais, à medida que as eleições se aproximam, vale tudo e até arrancar olhos. Não bom exemplo, nem erradicam a cegueira.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SMS 288. Liderança de quê?

13 Novembro 2008

O presidente da Câmara de Olhão, Francisco Leal, vem dizer que os autarcas do PS não vão apoiar Macário Correia para a «liderança» da Comunidade Intermunicipal do Algarve, se o actual presidente da AMAL for designado pelo PSD para essa posição de controle da estrutura sucedânea da área metropolitana. E quanto a justificação, Francisco Leal avançou com o reparo de Macário Correia «só pensar na sua promoção pessoal e na promoção do seu partido».

Primeiro. Não é que Francisco Leal não tenha razão para tal afirmação, porque tem, mas não disse o resto. E o resto é que não há nenhum, dos restantes 15 autarcas algarvios (Francisco Leal incluído) que, de uma forma ou de outra, apenas não pense na sua promoção pessoal e na do seu partido – obviamente que não podem pensar na sua despromoção e na despromoção do partido. Basta ver a página dois ou página três das agendas, boletins e folhetos municipais. Macário Correia, nisso, não é excepção.

Segundo. Se a justificação da «purga» de Macário Correia fosse a de que a gestão desta na AMAL foi errada ou errática, apagada ou para apagar, incapaz ou parcial, sediciosa para os interesses da conclamada região ou permanente excepção do pensamento geral, bem!, teríamos matéria para discussão, e além disso pretexto para se indagar de quem ou de quais os partidos dispõem que não sejam erráticos, borrachas de apagar, sediciosos e de calculada excepção comportamental no ponto de vista político.

Terceiro. Mas que liderança para a imperativa Comunidade? Poder-se-á falar de liderança? Há quem pense que não se trata de liderança mas de controle. Quem vai estar à frente da estrutura não pode ser líder, mas sim controleiro e tem que, à partida dar garantias de poder ser bom controleiro. E aqui é que bate o ponto que é o ponto. Havemos de voltar a falar do ponto. Temos tempo.

Carlos Albino

      Flagrante tiragem: A da edição, prometida por Mendes Bota, com as intervenções no debate sobre “A Ferrovia, o Algarve e a Europa”. Que sai do prelo depressa e, se possível, online para sinopses ou algumas por inteiro.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

SMS 287. Câmaras e deputados

6 Novembro 2008

Numa democracia, a primazia é ou deve ser da política, e mal vai uma democracia quando a política é ultrapassada na definição e salvaguarda da coisa pública, pelos interesses privados ou particulares (sejam eles de ordem forem) organizados perversamente não tanto contra a política, mas para a subjugar discretamente, a controlar sediciosamente, a orientar premeditadamente, a condicionar compulsivamente.

Numa democracia a sério, esta terá ou deveria ter instrumentos e mecanismos de refreio dos interesses que, não sendo à partida contra a política, retiram a esta a primazia, mas que anulando-a, aqui e ali, até granjeiam a fama de a reforçar a «política activa» na proporção directa das vantagens e favores que da política retiram. Daí que aconselhem a política e políticos a neutralizar escrutínios e a fugir destes como o diabo da cruz, o que conseguem e não é difícil quer dentro dos próprios partidos (desde a anestesia de aviso até ao que se poderá designar por assassinato político), quer nas avenidas largas da crítica que uma sociedade democrática deveria assumir como artérias principais e não como becos ou travessas para onde se remetem esses recalcitrantes e maldizentes dos entendimentos que correm à boca calada ou, para efeitos de debate público, disfarçados em linguagem que ninguém que deveria entender, entende.

Tem isto muito a ver com a corrida às câmaras, aos parcos lugares de representação no parlamento com que o Algarve conta, e ao que pingar do próximo governo a ser eleito ou de como tal governo resultar, corrida que começa agora. Obra feita ou obra que ele não foi capaz de fazer e eu sou, parece ser o refrão da disputa para as câmaras, refrão que já sobra para as juntas de freguesia onde o emprego político, pelos vistos, já se revela bom, tornando obsoleto a outrora invocada abnegação pela causa pública. Para os deputados, a coisa será mais complicada sobretudo para os que procuram segurar o lugar – é que decorrida uma legislatura, não se viu que tenha saído dos representantes com poder mas possivelmente sem grande influência, um projecto mobilizador da região, uma ideia sólida que torne o futuro do Algarve sinónimo de esperança. Projectos, sim, têm havido mas do deus-dará, e ideias, também sim, mas sem originalidade e gravitacionais do poder central. Duvida-se é se, no terreno, há quem também esteja mobilizado para pedir contas ou não tenha medo de as pedir. Sim, medo.

Carlos Albino

      Flagrante questão: Acredita-se que diminuiu o número de desempregados inscritos. Mas o que é que isso tem a ver com o número de desempregados não inscritos, sem falar da ausência de dados fiáveis e actualizados à data, sobre aumento, estabilização ou retracção da população activa? É que os números dão para tudo e as palavras alguma vez têm que ter ponto final.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

SMS 286. A entrevista do primeiro-ministro

30 Outubro 2008

José Sócrates falou de regionalização, na ciclópica entrevista para o DN/TSF e referiu-se a uma coisa chamada «maturidade» como condição para um governo seu avançar nesse processo. Com «maturidade» sim, sem «maturidade» não. E se em 2005, ele remeteu o assunto para depois de 2009, agora expressa a vontade e intenção de apostar na regionalização, mas sem se comprometer com datas – apenas com a «maturidade».

Mas «maturidade de quem? Do estado? Do governo? De cada uma das regiões? E se uma região que seja se revelar imatura, as restantes maduras terão que deixar a maturidade a fermentar? Sócrates não descreve o que, neste caso, deva ser a «maturidade indispensável» mas deixa sugerido que ela terá a ver muito com a desconcentração e que uma desconcentração perfeita ou razoável possa ser sinónimo da tal maturidade. E é nessa desconcentração administrativa do País que disse e reiterou estar empenhado neste mandato perto do fim.

Bem! Quanto à desconcentração, de acordo. Sempre aqui dissemos que se é a meta da regionalização que se marca como ponto de chegada, aí a natureza também não dá saltos, havendo degraus a cumprir por todos – pela administração e pelos administrados. Primeiro, desconcentrar serviços públicos; segundo, descentralizar comandos, e, por fim, a tal «maturidade» para a regionalização com o uso dos instrumentos democráticos do sufrágio para escolha de quem vai usar dos poderes regionais – problema que, por ora, não se coloca. Por ora, o problema é apenas o da «maturidade» do Estado na desconcentração e nos esboços de descentralização que está a fazer e como a faz.

Todavia, se a meta e a intenção é a da tal regionalização com maturidade, não há desconcentração nenhuma com o Estado a nomear pretores para as regiões, gente desligada ou gente que apenas está ligada por dois ou três negócios, por uma ou duas mordomias ou por uma sinecura, portanto gente que está por aqui mas continua com alma fora, que não pode dizer que o Algarve é «a minha terra» para o que não é condição ter berço aqui, enfim gente que à falta de poiso no Norte ou no Centro encontra um bom sítio no Algarve, não por opção mas por emprego político ou alguma conveniência pessoal que é antípoda da «maturidade» que Sócrates coloca como condição para a regionalização.

Pelo que clamorosamente se verifica no Algarve, o Estado está a revelar-se imaturo na desconcentração que diz fazer – nomeia gente como no quartel que em Tavira havia, se nomeava o oficial de dia e por turnos. No Algarve, é o Estado que tem sido imaturo.

Carlos Albino

      Flagrante prova dos nove: Seria um debate público, directo, cara a cara, entre Mendes Bota e Miguel Freitas sobre o Orçamento de Estado e implicações para o Algarve. Com tais figuras, teríamos o Teatro das Figuras repleto e possivelmente ficaria gente de fora.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

SMS 285. A fase do deixa-andar

23 Outubro 2008

Parece que vingou a regra do deixa-andar. Como se viu a propósito da RTA, apenas os nomes é que estiveram em causa, o 31 contra o 27, ninguém ficou a perceber bem que projecto, que ideia a fundamentar o projecto, que visão a fundamentar a ideia, que desígnio a justificar a ideia, no fundo, o que é que se quer ou se pretende para estas tristes quatrocentas e tal mil pessoas, para além das afirmações triviais, gastas e sabidas – ficaram portanto nomes em confronto e uns ressaibos para animar a cena, o que é muito pouco.

E não admira que assim seja. A política algarvia dá o tom – pobre de ideias, avessa ao debate, sem desígnio, sem projecto, sem ideias, sem visão que não seja a do feudo. Apenas nomes, dois três quando muito, cada um fugindo do outro mas à espera da roda da sorte eleitoral, é que parece sugerir que ainda há política, política algarvia. Se um defende com generosidade e até acutilância algo que se aproxime de um desígnio, o outro diz que defende o mesmo, se não melhor, sem explicitar bem o que defende, e o debate esvai-se, ficando um a falar sozinho e o outro a fingir que continua a falar na companhia de reservados. É o deixa-andar.

É claro que deste deixa-andar, as primeiras vítimas serão os próprios profissionais da política. Nas autarquias, porque os decisores eleitos estão atados pelos decisores efectivos que não são eleitos e que, em nome de critérios sobejamente técnicos, mais não fazem do que decidir em função de interesses que fogem da política e que vergam a decisão política. No parlamento, porque o eleitor, o cidadão comum, cada vez percebe menos porque é que há um círculo eleitoral pois quem representa, de facto exerce a política, mas não faz política apesar das aparências da actividade que o dever de oposição determina. E das instâncias delegadas, desconcentradas ou «regionalizadas» como para bom-tom se diz, nem se fale, porque, aí, a sobrevivência nos cargos pia mais fino – apenas candidatos a mártires arriscam, e até os mártires estão a desaparecer, porque não há mártires no deixa-andar.

E perante isto, até talvez seja melhor escrever sobre os passarinhos, coitadinhos, que fazem seus ninhos nos beirais, criando os filhinhos e fazendo enxovais no seu deixa-voar, etc, etc… Até se escreve melhor, é menos incómodo e proporcionará que cada político que encontre o autor, lhe dê uma palmada de júbilo nas costas e diga, aí sim, alto e bom som: «Grande prosa! A democracia precisa é disso!».

Carlos Albino

      Flagrante descoberta: Essa, a de que os comboios no Algarve dão prejuízo. Sem ligação a Espanha e sem perceber que um Algarve sui generis cresceu para outros lados, o que é que o dono dos combiois queria?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

SMS 284. Invocar a crise…

16 Outubro 2008

E anda bastante gente a invocar por aí a crise para o que lhe convém. É verdade que há crise, embora a crise de cada um dos portugueses, no seu dia a dia, seja hoje praticamente igual à de cinco, dez, vinte anos atrás… Dos portugueses, na sua maioria. Porque há, de facto, uma minoria de portugueses que, ao invés dessa maioria, apenas entra em crise quando lhe convém – e que boa oportunidade não é esta, para essa conveniência de atemorizar e tanto mais enquanto é tempo. Esta gente invoca a crise como os crentes hipócritas invocam deus – invocam o santo nome da crise em vão.

Crise no Algarve haveria e de que maneira, se de Londres ou de Zurique fossem dadas ordens para encerrar hotéis da cadeia (poucos há fora da cadeia); se não fosse anunciado novo e ainda maior hipermercado depois de inaugurado um outro tido maior do que o da véspera embora todos eles se designem por «grandes superfícies»; se o golfe deixasse de ser ouro, como diz Manuel Pinho; se os casinos deixassem de alimentar o vício do jogo ruinoso para alguns calados da tal minoria que no dia seguinte se queixam da crise perante trabalhadores e credores; se as câmaras deixassem de fazer o inadmissível mas fazem porque vêm aí as eleições (a crise, para algumas câmaras gastadoras até dizer basta, só virá depois das eleições, vão ver); enfim, crise grave haveria se a Política (letra maiúscula, a das ideias e a do debate crítico, não confundir com a política minúscula, a dos cálculos e empregos) não continuasse à espera do dono, na secção de perdidos e achados da PSP de Faro, e por aí fora.

Naturalmente que a crise, a crise financeira internacional provocada por uns tantos anónimos internacionais que não deveriam ficar impunes por terem procedido na floresta do sistema como os predadores na Amazónia, é um facto e que era esperado – seria difícil admitir a vigência das leis da selva no centro da civilização. Mas uma coisa é a crise desses índios e os seus reflexos em Wall Street e nas praças de Londres, Zurique e Frankfurt (o resto é paisagem) e outra é o pretexto da crise usado com desfaçatez no Cachopo ou em Marmeleite. Não chega lá.

Carlos Albino

      Flagrante constatação: Isto a propósito - o pior dos paganismos, o paganismo repulsivo, é o que entra pela igreja adentro.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

SMS 283. Apenas da maior importância

9 Outubro 2008

Há conferência em Faro, dia 18. Não é para bajulices, para atribuição de medalha, para encómio de governante ou escárnio de opositor. «A Ferrovia, o Algarve e a Europa», chama-se. É o PSD a organizá-la, podia ser outro, nem interessa porque o que interessa é o tema. E com os protagonistas certos – o ministro que acordou com os espanhóis, em 2003, o calendário do TGV português, onde o Algarve contava (Carmona Rodrigues), o coordenador da CP no Algarve (Luís Alho), o coordenador do Grupo Técnico para o Estudo da Mobilidade (Pinheiro Henriques), o presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Transporte Ferroviário (Arménio Matias) e, compreensivelmente, as vozes que o PSD, sendo anfitrião, tem para o caso - para além do líder regional do partido, Mendes Bota, o deputado Jorge Costa e o presidente da AMAL, Macário Correia, e com isto lá se vai já metade do espaço para este apontamento. Mas que o tema é da maior importância, é, num tempo em que o ministro Mário Lino fala 17 horas e meia para compensar o Oeste de um aeroporto que nunca existiu, e reserva para o Algarve quatro minutos e dois segundos, sendo dois desses minutos para falar no Algarve sobre o Oeste. Metáfora, claro.

É verdade que para o Algarve nunca esteve previsto um TGV mas apenas um comboio de alta velocidade entre Faro e Huelva (nem toda a alta velocidade é TGV), programado para 2018. Por acaso, estive nessa cimeira da Figueira da Foz e as circunstâncias proporcionam que, logo na ocasião, dissesse a Durão Barroso e a José Maria Aznar, primeiro a um, depois a outro também por circunstância, ter dúvidas e mesmo descrença que algum dia houvesse alta velocidade entre Huelva e Faro, mas que se isso acontecesse, mesmo uns dez, vinte anos depois em 2018, seria uma excepção no histórico da visão de Lisboa relativamente ao Algarve. Que não, disseram ambos, e quase chegaram ao Pare, Escute e Olhe. E está-se a ver, a escutar e a ouvir.

Em todo o caso, honra lhe seja feita, Mendes Bota mobilizou em alta velocidade a sua área política para falar do caso e é de ouvir e registar o que vai ser dito na conferência. Porque quem não fala no caso como devia e podia, está a perder não só o pendular mas também o intercidades.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

SMS 282. Linhas de água

2 Outubro 2008

Para que não restem dúvidas e, sobretudo, para que se eliminem suspeitas, deveria ser feito um levantamento do que no Algarve se tem construído e como se tem construído nas linhas de água e nas áreas de previsível influência do mar. A olho nu, nota-se que muito está mal, ou por decisões apressadas, ou por interesses cuja decifração corre em surdina mas que ninguém assume. Assim a olho nu, quem observe o que se construiu e como se construiu na costa e o que já vai invadindo o interior com indisfarçável voracidade, não é difícil chegar à conclusão de que muito está mal. A tal ponto que, hoje, «o que se fez no Algarve» ou «a tragédia urbanística do Algarve» já é uma bitola pelo País afora para avaliar o mau grau do que parece estar mal pelo mesmo País afora, com alguma chuvada inesperada a dar fundamento às impressões, pareceres intuitivos ou mesmo suspeitosos de cada um. Será bom acabar com isto através de um estudo sério, rigoroso e célere que desse azo à elaboração de um livro branco sobre a construção civil e obras públicas no Algarve, porque nem tudo o que aconteceu com as últimas chuvadas se explica por falta de limpeza de colectores, caixas e sarjetas de rua ou por atulhamento de ribeiras, algumas já esquecidas como ribeiras que a natureza cavou sem inteligência imobiliária. Como nem tudo o que pode vir a acontecer – oxalá que não – se poderá explicar com o desnorte dos anos 60-80, nem com as excepções de correcção do PROTAL.

Parece que há estudos ou avaliações sobre quanto o mar poderá subir ou quando e em que circunstâncias subirá, também parece que há avaliações sobre as águas subterrâneas e outras águas de que cada projecto ou plano de golfe carece, mas desconhece-se alguma reflexão segura sobre as águas que podem cair do céu, para onde ou por onde elas têm que escorrer e se muita construção por aí feita não briga com a força natural das coisas. Naturalmente que o problema não é o da manilha mais larga ou menos larga, mas sim o das linhas de água em todo o mapa do Algarve.

Carlos Albino

      Flagrante mau filme: O da direcção-geral das Artes, acusada pela associação DeVIR de se esquecer de orçamentar verba para financiar o 11ª edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea «a sul» envolvendo cinco autarquias algarvias e 13 companhias de dança convidadas (oito do continente africano).

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

SMS 281. E não haverá mais?

25 Setembro 2008

Pelos relatos, foi um incêndio que pôs a descoberto um dormitório clandestino albergando mais de uma centena de imigrantes usados na construção civil. Portanto, não foram autoridades nem alguma das organizações civis subsidiadas para escrutinar que descobriram – foi o incêndio que descobriu. Ainda pelos relatos, esse dormitório situado no pacífico lugar da Sinagoga em Tavira, era uma antiga suinicultura e sendo o que foi, imagina-se as obras que não foram feitas para humanos tomarem o lugar dos animais, e não vale a pena falar mais do caso porque o incêndio encarregou-se de descobrir, porquanto, pelos vistos, tanto fiscal – de câmaras e de ministérios – que há pago pelo erário público para descobrir, também devem confiar em algum incêndio para que a ilegalidade e a desumanidade não fiquem encobertas.

Mas, apagado o incêndio e descoberta que foi uma suinicultura transformada em hotel de estrelas furadas, com o proprietário a garantir que «as condições são as ideais» e com Macário Correia a comentar que os imigrantes estavam «em condições desumanas», a pergunta que se coloca é, naturalmente, esta: não haverá mais? Não haverá até coisas piores do que antigas suiniculturas com essa carne para canhão? Não haverá casas sobrelotadas com vinte imigrantes onde outrora quatro pessoas dormiam já unas sobre as outras, não haverá contentores com beliches atrás das árvores igualmente numa santa ilegalidade e numa desumanidade de bradar aos céus?

Todos sabemos as dificuldades e a burocracia que tem ser vencida para qualquer ser humano normal obter uma licença de habitabilidade numa construção nova ou mesmo remodelada. Sabe-se também o que custa desrespeitar a lei e regulamentos nessa matéria. Por isso caso é para espantar que mais de uma centena de imigrantes consigam viver clandestinamente numa antiga suinicultura que não era propriamente desconhecida e que pela natureza dos antigos locatários se fazia notar.

É claro que também sabemos porque é que tanto fiscal ignora o que um único incêndio descobre com uma fumarada de rotina.

Carlos Albino

      Flagrante aviso: Em Albufeira, com as brincadeiras nas linhas de água. Pelo Algarve afora, ninguém pode dizer que dessa água não beberá.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

SMS 280. O Algarve, que futuro?

18 Setembro 2008

Anda Portugal, por aí fora, a debater o seu futuro, se terá viabilidade nos próximos dias ou até mesmo se ainda existe hoje. Aquilo são colóquios no Norte, são seminários no Centro, são jornadas na capital, e até mesmo a televisão, certamente para compensar aquela atoarda que apenas não cheirou totalmente a perfume de antigo cigano porque substituiu 28 de Maio, segundo a qual os elementos identitários de Portugal seriam «futebol, Fátima e 25 de Abril», até mesmo a televisão viu-se compelida a pleitear a viabilidade deste Estado, ou do país com este Estado, ou da nação com este País, como se queira. Quando não se quer ver escrutinado o presente, provoca-se o divertimento com o futuro, sendo este exercício paraolímpico apenas mero divertimento porquanto qual o País, qual o Estado, qual a Nação que tendo futebol, Fátima e 25 de Abril não haverá de sobreviver? Não se percebe como é que, com tais elementos identitários manifestamente perenes, os pensadores paraolímpicos ainda perdem tempo em indagar a viabilidade ou mesmo a existência de Portugal… Tenhamos pena, verdadeira pena é das regiões que, dentro desse Portugal imortal, não tenham dotes para pontapés, não disponha de um lugar de aparições divinamente pagãs, ou que nunca tiveram um 28 de Maio a sério nem um 25 de Abril a brincar uma vez que dois dias de democracia converteram muito antigo comissário da ditadura em fervoroso missionário da liberdade. Com a situação em que o futebol algarvio se encontra, dado que também não há meio para alguma divindade descer dos céus para aqui havendo tão bons sítios para isso (em Marmeleite, no Cachopo ou no terraço de algum hotel de Albufeira, por exemplo) e porque, quanto a datas, falta pouco para alguns líderes da região, trocando as coisas, evocarem o 25 de Maio e o 28 de Abril, é de temer se este Algarve, sem os elementos identitários de Portugal, tem viabilidade, se tem futuro ou mesmo se existe.

Carlos Albino

      Flagrante sugestão: Uma ida a Almodôvar, para uma visita ao Museu da Escrita do Sudoeste. Diz respeito ao Algarve e a todos os que, por identidade, são algarvios.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

SMS 279. Esta máquina de esquecer

11 Setembro 2008

Trata-se do «8.º Encontro dos Povos», com o lembrete das migrações em pano de fundo. Num Algarve onde tanta gente assobia para o ar, sobretudo aquela gente para a qual a imigração apenas é carne para canhão, o facto de Estói se lembrar dos que, vindo de longe, entre nós estão e, salvo lamentáveis excepções, fazem das tripas coração para aprender a língua, trabalhar com gosto e ganhar umas migalhas de felicidade, merece registo, apoio e estímulo.

Embora a avaliar pelo folheto que anuncia esse encontro de imigrantes para dia 21, pareça tratar-se de uma iniciativa confessional e marcadamente religiosa, este pretexto não diminui a bondade da iniciativa. Primeiro, porque, com as dimensões que tem ou pode ter, o encontro de Estoi preenche uma grave lacuna do Algarve para com os migrantes que acolhe, quer a nível regional, quer a nível autárquico (as agendas municipais, por exemplo, desconhecem soberanamente os imigrantes). É como se, descontando tudo aquilo que nas escolas se faz por obrigação e lei, não tivéssemos uma palavra a dizer e duas a ouvir desses milhares de pessoas que também, na generalidade, contactam com a nossa cultura e história por mera curiosidade ou acaso.

É claro que o encontro de Estoi sabe a pouco – começa com um desfile de bandeiras dos países presentes e, com uma celebração religiosa pelo meio, vai pela tarde fora com gastronomia, música e danças dos grupos «de vários povos». Fica aquém do que seria razoável fazer, mas já é alguma coisa e sobretudo é uma boa lembrança. Na verdade, as «entidades regionais» descalçando a bota não estão viradas para este género de generosidade cultural, e as autarquias, cada qual por seu lado, esvoaçam entre «eventos» e animação em função dos que votam, acontecendo que esta doença infantil da democracia já há muito chega às juntas de freguesia. Parece que o Algarve anda esquecido que o pouco que culturalmente tem e lhe dá fortes traços identitários é derivado das migrações, de muitas e variadas migrações que rapidamente esquecemos uma a uma, ou uma depois de outra. Ou o Algarve não fosse uma máquina de esquecer.

Carlos Albino

      Flagrante falta de palavra: O comboio de alta velocidade entre Faro e Huelva combinado com Espanha em 2003, para funcionar em 2018…

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

SMS 278. O Carrocel Oito

4 Setembro 2008

Como era de esperar, o PSD reelegeu Mendes Bota, e, como se esperar será, o PS vai reeleger Miguel Freitas, ficando compostas as flores centrais do ramo que vai adornar as eleições. O PSD algarvio que não teve debate, teve despique e fez barulho, tem mais ou menos os seus nomes fixados mesmo que se admita algum mau humor da liderança nacional do partido; e o mais ou menos algarvio PS que não tem despique nem debate, sem problemas com a chefia, caminhando mudo e prosseguindo calado (pois que há-de dizer?) vive a paz daquelas força políticas em que a vontade política é como se fosse um acto administrativo ou, por indolência, um benefício nada sofrido daquela regra segundo a qual «as favas estão contadas».

Está à vista que há nomes mas não há debate. Miguel Freitas repete casuisticamente o que vem lá de cima, Mendes Bota faz a oposição casuística que pode. Sobre a região, o futuro da região e o que a região deve ser, há umas ideias gerais e umas explanações específicas (específicas, consoante se procure a conformidade com o poder ou a coerência de oposição), sobre os problemas da Sociedade troca-se por miúdos os comunicados do poder ou verbera-se o silêncio oficial quando tais problemas parecem ser graúdos, e assim se vai gastando o tempo, o tempo político até à normal e previsível efervescência da formação das listas – listas autárquicas e listas de deputados, esse Carrossel Oito que simula o debate que não houve até agora e possivelmente não haverá até às próximas corridas de Mendes Bota e Miguel Freitas, com mais uma voltinha para a menina Manuelinha e mais uma voltela para a menina Manuela, como o altifalante do Carrocel Oito a sério dizia.

Pode ser isto um divertimento e até proveitoso, mas a primeira vítima desta política aos oitos é sem dúvida a própria Sociedade, e as últimas vítimas serão os próprios políticos. Deixem chegar só mais uma geração.

Carlos Albino

      Flagrante vergonha: O que aconteceu na Praia dos Salgados (Albufeira) e zonas limítrofes. À causa chamam agora «efluentes» como se aquilo fosse o mesmo que emanante, proveniente ou irradiante, e os dicionários não registassem aquela adequada palavra que só pela palavra dá vergonha... Na verdade, Praia dos Efluentes é coisa mais nobre e fina.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

SMS 277. Ora, quando a segurança está insegura…

28 Agosto 2008

Não estive à espera do último crime para tocar no tema que a todos preocupa – o da segurança. Já aqui se tem repetido que a segurança não consiste em colocar um polícia ou guarda atrás de cada criminoso – a segurança existe quando cada cidadão, confiado no estado, não sente a necessidade premente de organizar e prevenir a sua própria defesa, sendo que, quando são muitos os cidadãos a sentirem essa necessidade, isso é um sinal de que o estado não cumpre uma das suas principais missões pois para isso se arma e tem justiça penal, o que os cidadãos, por princípio, não podem nem devem fazer. Um cidadão arma-se, quando muito, para ir à caça das perdizes e mesmo assim é preciso que ache piada em ser caçador ou disto tire algum proveito. Já o criminoso, por definição e estratégia, está armado e anda à caça dos cidadãos como quem desportivamente vai às perdizes. Fiados na mão leve dos tribunais e dos juízes de arribação, ou, se as coisas correrem pior nas esquadras, expectantes num comunicado protector dos direitos humanos, os criminosos sabem que a actuação lhes fica facilitada quando é a própria segurança que está insegura. E está.

Há cidades algarvias já de apreciável dimensão e movimento em que, por dias e noites, e por noites e dias, não se vislumbra uma patrulha, um guarda de giro, uma presença da autoridade ou a forte probabilidade dessa presença. E pelos campos e aglomerados isolados da serra, nem se fale. É como se a segurança se resumisse àquele telefone da esquadra com um estagiário à espera de que alguém comunique uma ocorrência, como nos bombeiros. A segurança tem um domicílio, está domiciliada, entre horários de expediente e piquetes de atendimento. A segurança recuou até esse ponto e quando avança ou se torna pública, notória e não raramente sobranceira, é porque há procissão, festival ou corrida de ciclismo, que obviamente é quando os criminosos não aparecem pois só correm quando andam a monte.

Resumindo e concluindo, não há um plano de prevenção contra o crime que seja conhecido desde a humilde taberna da serra ao litoral da autarquia que olha por cima do ombro para a autarquia do litoral contíguo. Porque não se culpe só a guarda ou a polícia domiciliada – as autarquias são também responsáveis desta segurança que está insegura.

Carlos Albino

      Flagrante bandeira preta: De ano para ano, a apertar o cerco à praia da Falésia, aquele caos de betão que Albufeira aprova. Uma vergonha. Vergonha a merecer bandeira preta.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

SMS 276. E falemos da alfarroba!

21 Agosto 2008

Continua o mesmo de há uns anos a esta parte: enquanto o Algarve está entretido com festivais dia-sim dia-não, nos campos e serras trabalha-se para não se ser roubado e rouba quem quer estando em causa essa coisa de valor económico apreciável que ainda tem o nome de alfarroba, valor económico que os armazenistas e industriais de trituração sabem muito bem qual é ele.

À falta de gente para a apanha, começou-se por dar metade da produção a quem fosse varejar as árvores. Agora nem isso. Verdadeiras hordas de gente marginal para quem nem a lei nem os direitos dos outros existe, devassam terras e terras pela calada da madrugada, enchem sacos e sacos, e possivelmente os armazenistas e industriais de trituração agradecem. Ainda há pouco tempo, esta ladroagem organizada ia de carro de besta a partir de acampamentos que montados e desmontados conforme as conveniências da natureza, agora vai de furgão fechado de duvidosa inspecção periódica a avaliar pelos pneus carecas, fumarada e matrículas mal amanhadas. Mas lá vai, deixando mulheres e crianças para a limpeza, recolhendo no retorno sacas e sacas, sendo certo que nem uma alfarroba fica nas árvores nem nos caminhos, enquanto dos armazéns de trituração, que por milagre se enchem até ao tecto, partem enormes camiões TIR que sobretudo as indústrias alimentares da Suíça bem agradecem e pagam melhor.

Ora é tempo dos municípios onde a produção de alfarroba conta, tomarem alguma iniciativa com conta e medida, mas sobretudo com imaginação. É tempo de esses municípios criarem departamentos de apoio ao agricultor, em parceria com os armazenistas e industriais de alfarroba e com os centros de emprego, abrindo portas ao trabalho voluntário remunerado, através de programas com princípio, meio e fim. No fim do varejo, tais programas dariam certamente lucro para todos e acabar-se-ia com este reino de ladroagem nos campos. É uma ideia, digam se não terei razão em chamar a atenção desses municípios.

Carlos Albino

      Flagrante chapeau: Para a excelente coluna de José Carlos Barros. É certo que o elogio fica em casa, mas tal como a coluna, chapeau! - de alto a baixo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

SMS 275. Açores, Madeira e Algarve

14 Agosto 2008

Paradoxalmente há dois movimentos opostos em matéria de regionalização: um, para a Madeira e para os Açores, onde vale o princípio de quanto mais regionalização melhor, sejam quais forem os expedientes dos beneficiados e as intenções nem sempre clarificadas dos decisores; outro, onde prevalece o mandamento segundo o qual quanto menos regionalização melhor ainda, ora com desculpa na crise e no défice, ora com receio de se perder a fartura e abastança das horas em que isto relativamente houve.

A eliminação da hipótese constitucional da criação de regiões-piloto que todo o país entendeu, desde a primeira à última hora, visar fundamentalmente o Algarve (remotamente Trás-os-Montes) tem claramente a ver com esse paradoxo da política portuguesa. Paradoxo esse que tem invariavelmente levado a que cada um dos dois dois partidos que chega ao poder coloca a meia-haste a bandeira da regionalização, aquela mesma bandeira que também invariavelmente iça ao mais alto do mastro enquanto hiberna na oposição.

É claro que o problema não é o do Algarve não ter um Alberto João Jardim ou um Carlos César; o problema é que o Estado ou a rede que nele decide e delibera politicamente em última instância tem Albertos e Césares a mais, tudo fazendo para não incomodar ou mesmo sequer ferir a sensibilidade dos protótipos da Madeira e dos Açores. E ai de quem incomode e fira!

Ora, era de fazer bem as contas do que a Madeira e os Açores dão, cada um, para o orçamento do Estado e do que dele retiram. E já agora, também umas contas-piloto do que, por exemplo, o Algarve dá para o mesmo orçamento e dele beneficia. Talvez assim se compreendesse melhor o paradoxo do Região Autónoma do Continente, com seus Albertos e seus Césares.

Carlos Albino

      Flagrante discriminação: A dos cultos e religiões, por exemplo, nos boletins municipais, alguns deles verdadeiros boletins confessionais para não dizer pior.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

SMS 274. Para que a novela termine

7 Agosto 2008

Há nesta novela da Maddie, uma evidência de poderosa realidade – Maddie é a culpada, afinal culpada de tudo. É a verdade. Ela é a culpada da existência da Judiciária, julga-se que até a criação da inexperiente PJ portuguesa foi uma das suas brincadeiras, porque antes já tinha inventado a experimentadíssima polícia de investigação inglesa para a qual está ainda para surgir um caso que não tenha sido resolvido; ela foi a culpada de ter convencido o Papa, pelos canais diplomáticos, a receber o casal McCann; ela foi a culpada por aquela jantarada; ela, sim, só ela através de heterónimos implantados com sagesse nos diários, rádios e televisões, foi a única culpada de todo este espalhafato; ela foi a culpada por essa dúvida de rapto ou morte, conforme a conveniência; outro culpado não se encontra para o avanço de tantos detectives privados, uns espanhóis, outros britânicos, possivelmente outros ainda apátridas e alguns até videntes; culpada foi da organização do fundo, da gestão do fundo e do marketing do fundo; culpada foi do resort, da Praia da Luz, da Igreja, dos cães, dos vestígios, dos porta-vozes e sobretudo culpada dos desenhos dos retratos robots de um moreno e sobretudo caucasiano. E, portanto, de tudo o que se coligiu, é que a culpa de Maddie no seu próprio caso não teve, e por sua única culpa não podia ter tido esta interrogativa racional: - «Qual é a pista mais provável?». Teve esta estranha interrogativa: «Quem é alguém que está algures e não diz nenhures?». Naturalmente esse alguém que está algures e não diz nenhures só pode ser Maddie, a única culpada.

Agora só falta um milagre, o milagre da aparição de Maddie na Praia da Luz. Mas duvida-se que Deus, sabedor do que todos os protagonistas sem culpa sabem, autorize. Mas que tal milagre daria jeito para que a novela termine, ah! lá isso dava.

Carlos Albino

      Flagrante expectativa: Por um estudo sobre os benefícios e malefícios da marca Allgarve porque há experiências que matam.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

SMS 273. Os cônsules honorários que há

31 Julho 2008

Volta e meia, têm notado, aqui se tem chamado a atenção para o panorama dos cônsules honorários com residência oficial no Algarve ou em cuja jurisdição consular o Algarve está, em todo o caso acreditados pelo estado português. E é natural que se chame a atenção – no Algarve movimentam-se não só milhares e milhares de estrangeiros, mas também centenas de interesses, desde a imobiliária à imigração, desde os negócios offshore a outros, alguns inimagináveis. Sabe-se naturalmente que um cônsul honorário que represente um país estrangeiro, seja ele português ou da nacionalidade do país defende, apesar de ser agente do estado que representa, não é funcionário deste, pelo que nada recebe pelo exercício de funções. Que leva então um cônsul honorário a trabalhar graciosamente, sobretudo para representar estados que quase não contam no mapa geopolítico afim ao Algarve e ao país? Possivelmente, há que ter em conta o salário de prestígio social de que o cônsul usufrui – matrícula consular no carro, chapa de respeito à porta do escritório, convites para eventos políticos de pôr-do-sol ou de sociedade a qualquer hora, de qualquer forma coisa pouca, muito embora haja aquela porta das facilidades, privilégios e imunidades por onde discretamente algum proveito pode passar. Se passa com honra, o honorário tem direito ao nome. Mas nem sempre será assim.

Para encurtar a questão, que é de transparência, embora a lei não estipule, o Governo Civil de Faro deveria publicar no seu site oficial a lista actualizada dos cônsules honorários acreditados no Algarve ou para o Algarve. É que fiquei muito preocupado pela hipótese de Bemba, por exemplo, ter estado um ano no Algarve sem saber se o Congo tem ou não tem cônsul honorário que o protegesse, coitado.

Carlos Albino

      Flagrante maior responsabilidade: A do Jornal do Algarve, com esta confirmação de ser o jornal mais lido e mais credível do antigo reino que nunca teve rei e da actual região que também não tem regente - tem delegados que também querem ser lidos e passar como credíveis.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

SMS 272. Bemba e as interpostas pessoas

24 Julho 2008

Agora nos calabouços do Tribunal Penal Internacional, acusado por crimes de guerra e contra a humanidade, Jean-Pierre Bemba viu assim interrompida a sua paradisíaca vida de há um ano na Quinta do Lago, na moradia de 2,5 milhões de euros que acaba de ser apreendida pela PJ, juntamente com contas bancárias, participações em empresas e aquele Boeing estacionado no aeroporto de Faro. O resto da história é conhecida – as circunstâncias em que ele, Bemba, teve que abandonar o seu país, supostamente para tratamento médico urgente no Algarve, e as circunstâncias que ele, Bemba, acabou por beneficiar de protecção policial especial por receio fundado de atentado contra a sua vida, desconhecendo-se quem transmitiu tais fundamentos e desconhecendo-se também se ele próprio, em função do passado, não estaria a atentar contra outros. No entanto, sabe-se agora que neste ano de acolhimento protegido e já após a detenção em Bruxelas, ele, Bemba, ou por interpostas pessoas, conseguiu transferências de dinheiro através de offshores.

Portanto, tivemos entre nós, um bom rapaz que, independentemente do que fez no passado (o TPI apurará) espalhava o cheiro atractivo do dinheiro a partir do Algarve, independentemente da proveniência dessa fortuna aparentemente colossal (o Congo, algum dia, terá uma palavra a dizer), não se sabendo em que áreas de negócio o «doente» operava, com que parceiros e se tais eventuais parceiros sabiam com quem estavam a lidar.

É certo que Portugal, pelo menos até agora, formalmente escapou-se da pior imagem, prestando sempre uma explicação lógica para este caso-Bemba, mas há que recear, até em função de outros casos, se o Algarve não estará a ganhar a imagem de refúgio para bons rapazes e interpostas pessoas. Por acaso, receio mais as interpostas.

Carlos Albino

      Flagrante insistência: E não há meio do Governo Civil publicar a lista oficial dos cônsules honorários com residência no Algarve ou em cuja jurisdição consular o Algarve está.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

SMS 271. A política está formatada

17 Julho 2008

Até às eleições, o panorama político do Algarve não deverá mudar: o PS tem Miguel Freitas com telecomando à frente do seu barco, no PSD as dúvidas foram tiradas a limpo por José Mendes Bota no que aqui se previa ser uma escaramuça como foi, e quanto ao resto, o PCP vai fazendo o seu tradicional trabalho colectivo (sem grande rosto que se veja), o CDS-PP anda por aí como as equipas do sobe-e-desce da primeira liga mais à espera de algum desaire do competidor ou boleia de grande, e o Bloco aponta, requer, denuncia, protesta, condena, luta a confraternizar e confraterniza a lutar – o que faz falta e nos dá o conforto de alguém cumprir o seu papel. Ah! Faltam os activistas isolados que saíram dos partidos, ou, por expressão sinónima, cujas cabeças os partidos abandonaram, ou ainda que apenas estariam nos partidos se deles fossem cabeça – estes escrevem artigos, e algum com mais elevado sentido de sobrevivência joga mão a uma associação, a um movimento, ou mesmo a um grupo de pressão, enfim, na expectativa de poder entrar no barulho, mas, até ao barulho, escrevem artigos.

Quanto às chamadas «instituições regionais», onde a AMAL faz de conta e pouco mais, o governo civil está possivelmente atento aos fogos no verão, não se prevendo grandes cheias no inverno que falta até às eleições e reza a todos os santos para que as coisas da segurança não desmintam aquele indesmentível Algarve dos bons costumes fora as excepções; a RTA parece que está apaziguada, e as direcções ou delegações dos ministérios cumprem e cumprirão as ordens de cima, com a corte de funcionários que circulam sobretudo em Faro e animam Faro, passando soberanamente ao lado de qualquer polémica.

O Algarve está formatado – politicamente, 2009 começa agora, embora ainda não haja muito barulho.

Carlos Albino

      Flagrante raciocínio: Há um aviso aos doentes que entram nas urgências do Hospital de Faro que diz: «A qualidade dos serviços públicos começa em si»… E estávamos todos a pensar que tal qualidade deveria começar nos serviços e nos funcionários públicos!

quinta-feira, 10 de julho de 2008

SMS 270. Uma paz nada agradável

10 Julho 2008

Assim ao sabor do sentimento, digamos que há uma paz nada agradável, politicamente clara. Parece que cada terra, cada uma à sua maneira, está apaziguada ou conformada com o que tem; quem está no poder não sente nem quer pressentir a eventualidade de sismos, políticos, claro; quem está na oposição local também não se mexe muito por aquela regra das favas contadas, e, bem vistas as coisas, não há oposição regional porque também não há poder regional. De resto, estamos em festa, porque começa a haver festas, festivais e festividades por todo o lado, quase todas internacionais mesmo que não saiam da rua dos promotores. E quando há festas, festivais e festividades, quem não se sente em paz mesmo que saiba tratar-se de paz provisória e efémera?

O Algarve político, portanto, até Setembro, ficará confinado às celebridades que venham a banhos, às revistas e suplementos de jornais especializados em «eventos» e apanhados, e, de resto, que Deus ajude aos que, nas pequenas casas de comércio disto e daquilo, ou fazem por estes dois, três meses algum dinheirinho, ou terão muito que penar. E quanto às grandes casas, pouco importará, porque estão aqui como poderiam estar em Marrocos, na Tunísia, na Grécia ou no México, enquanto a imobiliária se compraze numa cumplicidade de interesses que as autarquias também não enjeitam no final da fila de intermediários aos quais também a ocasião dá jeito.

O que por aí se sente, possivelmente não será paz, mas apenas bonança. Precederá alguma tempestade? Oxalá que não. Significará um potencial de pensamento e reflexão? Duvida-se que assim seja ou, melhor dizendo, tudo aponta para que não seja assim. Um escritor norueguês que lá foi há muito mas que prezo, Björnstjerne Björnso, advertia que «em política, a verdade deve esperar o momento em que alguém precisa dela». Possivelmente, a generalidade dos algarvios está à espera da verdade.

Carlos Albino

      Flagrante disfarce: Há agendas autárquicas que há muito deixaram de ser agendas – são adendas de promoção política e, para disfarçar, até põem as missas todas.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

SMS 269. Oxalá, não esteja a voltar o pior

3 Julho 2008

Pois pior do que a censura e do que o exame prévio, é o calculado controlo dos canais de opinião e informação para deliberada omissão do que fuja aos fins não confessados, pior do que uma polícia estatal para os meios de comunicação é a conversão destes em meios de propaganda de interesses, sejam estes de poderes económicos, confessionais ou meramente pessoais. É que censura, exame prévio e polícia política têm quartéis, sabendo-se quem entra ou sai dos quartéis apenas possíveis em regimes autoritários e que nenhuma democracia tolera. Já na deliberada omissão organizada e na informação transformada em propaganda não há quartel e entra democracia adentro sem que a generalidade se aperceba, tal como a água por baixo da porta.

E como avisar ou alertar não ofende quem não prevarica, é oportuno deixar claro que crescem os sinais no Algarve de que, aqui e ali, há opinião organizada e informação calculada por consabidos funcionários públicos arvorados em jornalistas nas horas vagas; há meios que sobrevivem a troco de financiamento indirecto a pretexto de duvidosos propósitos ou finalidades de instrução pública que é saia larga; há apoios sem justificação aparente veiculados naquela cor que os camaleões da publicidade indirecta ganham conforme onde estão, e há também benesses de excepção que vão desde o salário de prestígio social aos chamados arranjinhos discretos e dobradinhos na gaveta entre as dobras do lençol. É por isso que, no exemplo mais palpável, alguns jornais se queixam de não obter das autarquias, em circunstâncias de igualdade, as informações que outros conseguem com privilégio a troco de parcialidade, de exercícios acríticos, de tácitas garantias de omissão, tudo isto em nome da Liberdade de Imprensa.

Claro que não é tudo assim, não sendo ainda caso para se dizer que sobram umas excepções honrosas. Há sinais. Mas é bom que aqueles que prevaricam saibam que há quem esteja atento e que numa Democracia, nesta, a nossa por exemplo, não há lugar para a delação (isto é coisa para os do antigamente, seus filhos e já netos que bem conheço) mas há lugar para o uso dos mecanismos adequados para que não volte o pior.

Carlos Albino

      Flagrante sugestão: Os jornais e rádios locais e regionais do Algarve com a consciência em paz, meia dúzia que sejam, deviam esquecer questiúnculas e organizarem jornadas anuais sobre o estado da informação local e regional. Não por interesses ou critérios corporativos, mas por estrita responsabilidade democrática.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

SMS 268. Resta a escaramuça

26 Junho 2008

Pelo que se deu conta, apenas uma só pessoa do Algarve marca presença nos novos órgãos nacionais do principal partido da oposição – Isabel Soares, secretária da mesa do Congresso, um lugar de faz de conta, sem desrespeito pela autarca de Silves.

Houve quem esperasse, enfim, que Macário Correia na eterna mas também divertida estafeta partidária com José Mendes Bota, pudesse personificar a tradicional consolação reservada pelos grandes partidos aos tristes sulistas e liberais palradores. E chegou-se a pensar que as suas profissões de fé em Manuela Ferreira Leite seriam já não tanto um passaporte para vogal da Comissão Política Nacional do PSD, mas pelo menos um visto de residência no Conselho Nacional.

Macário Correia foi governante, é autarca prestigiado e sendo presidente da Grande Área Metropolitana do Algarve (embora esta coisa pareça uma ONG), ele reunia condições para, desta vez e nas águas que passam agora debaixo das pontes do seu partido, assinar politicamente o livro de ponto. Mas não. Macário Correia ficou de fora e também seria difícil a Manuela Ferreira Leite encontrar alguém do Algarve que com ela fizesse equipa, sobretudo na matéria da regionalização administrativa da qual foge como o diabo da cruz.

Se Macário tivesse o peso adquirido de dirigente nacional do partido, naturalmente que o próximo embate com José Mendes Bota na disputa da liderança regional do PSD, teria outro sabor político. Não seria guerra, mas poderia ser diferendo de ideias, enfim, de projectos de sociedade, se é que nos tempos que correm se pode esperar de algum líder ou candidato a líder alguma ideia ou algum projecto de sociedade, porquanto são quase tão só bandeiras de algum conjunto de interesses difusos.

Nestes termos, o embate de Macário Correia com José Mendes Bota não vai passar de escaramuça. Independentemente do desfecho, quem ganhar a escaramuça outra coisa não vai ser na actual máquina do PSD do que um sorridente sulista e inofensivo palrador.

Carlos Albino

      Flagrante regresso: O de João Sabóia ao Arquivo Distrital de Faro que tem andado demasiado arquivado.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

SMS 267. O debate político…

19 Junho 2008

É já um lugar comum dizer-se que há falta de debate político no Algarve. E outra coisa não seria de esperar, sendo este um verdadeiro paradoxo da democracia que temos – não se usa os instrumentos que temos para, em completa liberdade de ideias e opinião, se aperfeiçoar a sociedade. É claro que se discute o cargo e o nomeado ou o preterido, a construção permitida ou interdita, a estrada que devia passar para todos e não à porta do regedor, é-se do contra quando não pinga o subsídio e defende-se o compadre quando o subsídio pingou, mas claro é também que isto não é a Política e muitas vezes ou quase sempre sendo da política está contra a Política.

As secções regionais dos grandes partidos limitam-se às escaramuças de sucessão e alternativas (agora é o PSD a passar por essa fase) ou então não ultrapassam a gestão calculada dos benefícios do poder para o que o silêncio é regra de ouro (caso típico do PS também nesta fase). A coisa parece aquecer quando o calendário eleitoral força a elaboração de listas para S. Bento, câmaras e juntas e, mesmo assim, a política não passa da política de listas em função de interesses e de grupos de interesses paralelos à política – o que também não é Política, muito menos debate político, embora se diga que seja. Resumindo e concluindo, aquilo a que impropriamente se chama política pouco mais será do que a organização de interesses privados mascarados de interesse público, sem que alguma vez se questione o bem comum, os valores que devam nortear a convivência, os projectos para uma ideia firme de sociedade no Algarve e os programas que avaliem meios para atingir as finalidades do bem comum e dos primados da pessoa, da justiça, da segurança e do desenvolvimento. Não se nega que os partidos, a começar pelos grandes (PS e PSD) estão cheios de ideais gerais sobre essas matérias, mas de ideias gerais está o inferno cheio com isso enganando-se todos os diabos.

Colocar nomes a este propósito, não só seria de mau-senso como também não seria de bom-tom para a Política como a entendemos numa democracia. Os nomes são secundários nesta abordagem e diabolizá-los também não iria salvar ninguém que esteja no inferno das ideias gerais. Mas será bom que todos os diabos pensem nisto, antes que o inferno estoire por falta de Política.

Carlos Albino

      Flagrante aniversário: O da Orquestra do Algarve que fez seis anos. Ora como a idade de uma orquestra é como a dos gatos (o primeiro ano equivale a 15 anos humanos e cada ano a mais vale cinco) a orquestra do maestro Cesário Costa tem 40 anos. Que o Algarve preserve o seu 17.º concelho que é a nossa maior autarquia de humanismo. Sem esse gato estaríamos mais pobres e sem companhia de estimação.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

SMS 266. Algarvios na Patagónia

12 Jumho 2008

Ponto prévio - Só por estreiteza de visão é que se pode ver aguerrida competição política entre a Presidência da República com a atribuição do Prémio Empreendedorismo Inovador na Diáspora Portuguesa e os Prémios Talento do governo para distinguir os portugueses e luso-descendentes residentes no estrangeiro que se destaquem precisamente por isso – pelo talento. E estreiteza de visão ainda, lá porque uns prémios sejam dados num dia e outro no dia seguinte – no mesmo dia que fosse e à mesma hora, uma iniciativa não anula a outra, completam-se e, desde que os critérios sejam os da excelência, o mundo da emigração merece esses e mais prémios que houvesse nesse fito de reconhecimento da excelência.

Este ano, um dos prémios talento foi para uma associação de emigrantes radicados nos confins da Patagónia, emigrantes na sua maioria descendentes de algarvios – trata-se da Associação Portuguesa de Beneficência e Socorros Mútuos de Comodoro Rivadavia, província de Chubut, na Argentina, junto aos Andes patagónicos, a 2.000 kms de Buenos Aires. E quem subiu ao palco, foi a presidente dessa instituição, Maria Coelho Amado de Martín, descendente directa de gente do sítio da Tenoca, Boliqueime, Loulé… Aliás, os emigrantes dessa longínqua comunidade são, na sua maioria, oriundos do Algarve, chegados a essas terras desérticas a partir de 1902.

Fundada a 7 de Outubro de 1923, a associação liderada por Maria Coelho Amado é hoje uma obra imensa, pujante e afirmativa cuja descrição não cabe neste espaço, nem viria a propósito. O que vem a propósito deixar claro que o Algarve não pode nem deve perder de vista as extensões talentosas que possui na emigração, sabendo dar sem olhar ao que poderá receber ou sem fazer contas para tal e acima de estreitas visões.

Por isso, calou fundo a presença da governadora civil do Algarve na cerimónia de entrega dos prémios Talento, no convento do Beato. Não sendo algarvia, procedeu como algarvia e isso cala fundo.

Carlos Albino

      Flagrante trabalho de casa: Para Seruca Emídio que, com esta “descoberta” de louletanos nos confins da Argentina, lá tem que ir para a Patagónia. Mas que vá bem acompanhado.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

SMS 265. Sinais dos tempos

5 Junho 2008

A delegação portuguesa ao Congresso dos Poderes Locais e Regionais da Europa nomeada pelo governo, mostra os sinais dos tempos. Esse congresso, cuja primeira sessão plenária, em Estrasburgo, decorreu no final de Maio tendo decido por efectuar duas sessões a partir de 2009, é um dos quatro principais órgãos do Conselho da Europa, ao lado do Comité de Ministros, da Assembleia Parlamentar e do Secretariado-geral, aí cada estado faz o que entende – ou participa a sério e leva a sério, ou pura e simplesmente dedica-se ao turismo político. Mas o que, por ora se questiona, não saber-se se Portugal faz nisso turismo político, ou a isso se dedica a sério. Está em causa a delegação portuguesa.

Justificou o governo que para a nomeação de tal delegação consultou os governos autónomos dos Açores e da Madeira e ainda a Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) e a Associação Nacional de Freguesias (ANF). E compreende-se – o congresso tem duas câmaras, a dos poderes locais e a dos poderes regionais.

Vejamos então no que resultou a consulta: os delegados dos poderes locais partem dos municípios da Covilhã, Sousel, Cabeceiras de Basto e da freguesia de Oliveirinha, com substitutos de Leiria, Torres Novas, e da freguesia de Torgueda. Por sua vez, os delegados à Câmara dos Poderes Regionais, são o óbvio Carlos César (Açores), obviamente Alberto João Jardim (Madeira e Maria da Luz Rosinha (da Junta Metropolitana de Lisboa), com substitutos também da Madeira, dos Açores, mais um da Junta Metropolitana do Porto e outro ainda da junta de Lisboa – trata-se portanto de aplicar a velha fórmula do poder central e ilhas adjacentes.

Isto não engana – o Algarve não conta, nem para substituto como «região», nem ao menos para figura de corpo presente por entre os poderes locais. Não conta, e também não faz muito para contar. Algum dia, o Algarve será definido como uma área geográfica onde outrora viveram algarvios.

Carlos Albino

      Flagrante diferença de preços: Até para temas políticos, qualquer dia teremos que atestar em Espanha…

quinta-feira, 29 de maio de 2008

SMS 264. Jornalismo de cidadania

29 Maio 2008

A Internet ainda não entrou em pleno no Algarve, embora seja já apreciável a comunidade de utilizadores e comunicadores por esse meio, por um lado jovens estimulados nas escolas por professores de visão larga, e, por outro lado, por uma elite gradualmente mais vasta e também cada vez mais primando pela qualidade de intervenção, por inegável seriedade de pensamento e de escrutínio da coisa pública. Pelo meio, há evidentemente um grupo de divertidos, por vezes a tender para o grotesco, mas também estes, sem que tenham esse objectivo, contribuem para o alastrar desse meio de comunicação que é por natureza multiplicador de conhecimentos, alguns dos quais, na era do papel, estavam confinados e reservados a redutos fechados ou pura e simplesmente controlados pelos interessados. A quantidade e a velocidade de informações de interesse público na rede de computadores já é tamanha que passou a ser comum os diversos líderes da sociedade terem em conta «o que diz a net» sobre eles mesmos ou sobre as matérias que tratam, ou mesmo a recorrerem à net para dizerem o que entendem. Há uns dez anos atrás todos tínhamos que enfrentar as lacunas impostas pela escassez de informações, agora temos igualmente todos a tarefa de filtrar, perante um volume impressionante de dados e opiniões, o que de facto é relevante e útil. Num Algarve sem tipografias vocacionadas para a informação e sem televisão própria, a net é um túnel de escapatória para uma sociedade cujo maior problema, assim entendemos, é de comunicação.

Aí está portanto uma era bem-vinda de jornalismo de cidadania em que cada um pode livremente comunicar com todos, sendo evidentemente maior a responsabilidade. E ainda bem que a generalidade dos jornais da era do papel (que não acabará, antes pelo contrário…) entenderam que têm de ter uma vida paralela na net, com actualizações ao dia, à hora ou ao minuto, conforme podem, numa interacção que apenas reforça o seu «papel» na sociedade e no quadro de um jornalismo de cidadania cuja eficácia já suplantou a dúvida porque deveras escrutina.

Carlos Albino

      Flagrante apresentação: Estamos para ver quantas lojas do cidadão de segunda geração, das 30 previstas até final de 2009, ficarão no Algarve. Os municípios que se mexam.