Numa democracia, a primazia é ou deve ser da política, e mal vai uma democracia quando a política é ultrapassada na definição e salvaguarda da coisa pública, pelos interesses privados ou particulares (sejam eles de ordem forem) organizados perversamente não tanto contra a política, mas para a subjugar discretamente, a controlar sediciosamente, a orientar premeditadamente, a condicionar compulsivamente.
Numa democracia a sério, esta terá ou deveria ter instrumentos e mecanismos de refreio dos interesses que, não sendo à partida contra a política, retiram a esta a primazia, mas que anulando-a, aqui e ali, até granjeiam a fama de a reforçar a «política activa» na proporção directa das vantagens e favores que da política retiram. Daí que aconselhem a política e políticos a neutralizar escrutínios e a fugir destes como o diabo da cruz, o que conseguem e não é difícil quer dentro dos próprios partidos (desde a anestesia de aviso até ao que se poderá designar por assassinato político), quer nas avenidas largas da crítica que uma sociedade democrática deveria assumir como artérias principais e não como becos ou travessas para onde se remetem esses recalcitrantes e maldizentes dos entendimentos que correm à boca calada ou, para efeitos de debate público, disfarçados em linguagem que ninguém que deveria entender, entende.
Tem isto muito a ver com a corrida às câmaras, aos parcos lugares de representação no parlamento com que o Algarve conta, e ao que pingar do próximo governo a ser eleito ou de como tal governo resultar, corrida que começa agora. Obra feita ou obra que ele não foi capaz de fazer e eu sou, parece ser o refrão da disputa para as câmaras, refrão que já sobra para as juntas de freguesia onde o emprego político, pelos vistos, já se revela bom, tornando obsoleto a outrora invocada abnegação pela causa pública. Para os deputados, a coisa será mais complicada sobretudo para os que procuram segurar o lugar – é que decorrida uma legislatura, não se viu que tenha saído dos representantes com poder mas possivelmente sem grande influência, um projecto mobilizador da região, uma ideia sólida que torne o futuro do Algarve sinónimo de esperança. Projectos, sim, têm havido mas do deus-dará, e ideias, também sim, mas sem originalidade e gravitacionais do poder central. Duvida-se é se, no terreno, há quem também esteja mobilizado para pedir contas ou não tenha medo de as pedir. Sim, medo.
Carlos Albino
- Flagrante questão: Acredita-se que diminuiu o número de desempregados inscritos. Mas o que é que isso tem a ver com o número de desempregados não inscritos, sem falar da ausência de dados fiáveis e actualizados à data, sobre aumento, estabilização ou retracção da população activa? É que os números dão para tudo e as palavras alguma vez têm que ter ponto final.
Sem comentários:
Enviar um comentário