quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SMS 425. Passos Coelho, não gostei dessa

25 agosto 2011

Naturalmente que ninguém estaria à espera de que Vossa Excelência anunciasse no Calçadão de Quarteira o fim das portagens na Via do Infante, a reavaliação dos critérios para a chamada requalificação da 125, desse algum alento aos que viram o Turismo Algarvio diluído na aguada do centralismo mais regionalista e até provinciano do que se possa imaginar, ou que fizesse alguma boa surpresa aos que trabalham e vivem na terra onde veio falar, cumprindo o ritual cujo momento, por força do marketing político, as primeiras páginas de jornais esperam, os telejornais preparam para abertura e, por certo, todo o país aguarda seja com dúvida profunda, mera curiosidade ou firme convicção. Falar no Calçadão, mesmo que este seja o Pontal em vão, não é mesmo que falar na praça da Sé de Braga, nos Aliados ou nos Restauradores. O discurso de verão do líder do PSD, esteja no governo ou na oposição, não é o de comício de exceção ou o de ajuntamento para angariar votos. Pelos anos que passaram, é um discurso que faz prova se o líder é tribuno e se, sendo tribuno, faz prova de que aquilo que diz não fica pela forma mas tem conteúdo, novidade e premonição. Daí que depois dos discursos de alguns que outrora falaram nesse ritual já inimitável ainda que sob a fórmula rifada de “Pontalinho”, rarefeitas as últimas palavras, até os apaixonados dissessem logo: “Este não vai lá!”. E não foram pelos indícios que as provas deixaram. É claro que discursos do Calçadão não são para o Algarve, mas faz parte da prova que o Algarve entre mesmo que num breve momento, por deferência à terra anfitriã. E Vossa Excelência tinha bons pretextos para isso, repetindo-se que nesses pretextos não se incluem questões menores como a das portagens, mas, sobretudo a questão de fundo que é a da terra não ser ouvida nem lhe darem explicações sobre medidas em que profundamente se sente afetada e se diz injustiçada por erros de decisão. Mas não! Vossa Excelência passou ao lado dessa mera questão de conteúdo e que a terra anfitriã muito gostaria que referisse ainda que fosse de forma geral e abstrata. Passou ao lado do conteúdo, ficou na forma. Por certo e independentemnete da hora de graça, provou como tribuno mas não deixou um laivo de premonição que é condição sine qua non para que apaixonados, expectantes e céticos digam: “É um político!” Ninguém disse que não ia lá, mas toda a gente reparou na omissão que, se foi calculada, foi mal calculada; se foi uma inadvertência ou conselho, acabou por funcionar como o apagamento da sagacidade que certamente Vossa Excelência terá. Não gostei dessa. E para o ano já é tarde.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: Aqui se declara que, no próximo apontamento, o autor escreve segundo o português do Século XIX. Não fica mal, como leve  apontamento de verão, e até ajuda a compreender a evolução das letras.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SMS 424. Britânicos, como em toda a parte


18 agosto 2011

O pacífico Algarve que conheceu durante séculos a violência e pilhagens dos corsários britânicos da qual já se esqueceu e nem convém lembrar, acorda sem dúvida sobressaltado com a criminalidade violenta que, não vale a pena disfarçar, tem consequências nefastas na principal atividade da região: o turismo. E no turismo, afetada fica a corrente de turistas britânicos que aqui chegam confiantes em encontrar uma terra pacífica e segura. Mas ninguém, nenhum país, nenhuma nacionalidade hoje, no mundo, pode hoje dizer que dessa água não beberei, os britânicos, designadamente, na sua própria terra de onde partem confiantes, como inesperadamente provaram os recentes acontecimentos em Londres, Manchester, Salford, Birmingham, Wolverhampton, West Bromwich e Nottingham que não propriamente terras como Alcantarilha, Olhos de Água, Almancil ou Guia, nem tais acontecimentos, no seu gigantismo, se comparam aos atos selváticos mas isolados que no Algarve ocorrem e que todos desejaríamos que deixassem de ocorrer, fazendo mais por isso em prevenção e responsabilidade pública.

Parece, todavia, que os britânicos, pelo menos quem os representa, continuarão a pensar que neste mundo atual ninguém precisa de ninguém, ou que as obrigações só competem aos que dos outros precisam ou dos quais dependam de alguma forma, nem que seja por via do turismo que é a via mais pacífica dos povos se cruzarem e se conhecerem, virada que está a página de má memória do corso ao serviço de Sua Majestade.

Vem isto a propósito do que, em matéria de conselhos a turistas britânicos, se lê na página oficial do Foreign Office, dada como atualizada nesta semana que vivemos. Relativamente a Portugal (Algarve naturalmente incluído, sendo o Algarve a principal escolha dos britânicos) lá se adverte que  aqui “há uma ameaça subjacente de terrorismo” e que “ataques podem ser indiscriminados, inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”.  E depois de uns considerandos, certamente para dar mostras de informação no terremo, chega-se ao ponto ou pormenor de recomendar particular cuidado com os roubos nas carreiras de n.ºs 16 e 28 dos autocarros em Lisboa, vá lá, não se citando como particularmente perigosas a carreira para o Parragil ou a que passa pela primeira curva à esquerda para o Montechoro. Isto dito com Tottenham em polvorosa, não é apenas ridículo – é inconsciência a roçar em zelo sedicioso contra os próprios.

Deixemos os pormenores e vamos ao essencial. Não sei se a embaixada portuguesa em Londres leu ou tomou conhecimento dessa advertência britânica aos seus turistas que se preparam para viajar de que em Portugal há uma “ameaça subjacente de terrorismo”. Se leu e tomou conhecimento, e não fez nada, nomeadamente pedindo explicações para essa “ameaça subjacente”, é mau. Imaginam um pacato turista britânico que parta para o Algarve, informado de fonte oficial de que pode ser alvo em Portugal de um “ataque terrorista indiscriminado inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”? Não é demais? É. E o que é demais não presta.

Carlos Albino
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Flagrante heroicidade: A dos jornais regionais do Algarve que resistem – do Algarve e não tanto no. Fazer das tripas coração é que dá mesmo problemas cardíacos. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SMS 423. Muro das provocações

11 agosto 2011

O défice democrático tem duas faces, qual delas mais tenebrosa, não sei: por um lado, há défice, quando o poder e seus intermediários agem sem diálogo, abusando da autoridade e impondo à força decisões que põem em crise o interesse geral e o bem comum; por outro lado, também há défice, quando o cidadão não usa os meios legais e legítimos para se defender do abuso de poder, das deliberações injustas e da violência autoritária. É por isso que o poder, se é democrático, tem que ouvir e explicar, e que o cidadão deve conhecer os meios que tem à sua disposição para agir e retificar desvarios. Vem isto a propósito da estrada 125 sobre cuja anunciada “requalificação” sempre aqui manifestámos dúvidas.

Um pouco de história. A Via do Infante, inicialmente prevista como mera via rápida e depois mascarada de auto-estrada, foi lançada e aceite para aliviar a 125, substituí-la até onde a 125 era já a estrada da morte, como o povo a batizou, porque era. A Via do Infante não foi portanto um luxo, foi a alternativa para o Algarve ter uma travessia segura, unindo as terras porque a 125, com a explosão urbanística e a evolução natural das coisas, deixou de ser estrada, mas em longuíssimos quilómetros, uma rua ou avenida ad  hoc, ao mesmo tempo que vilas e cidades foram planeando as entradas e saídas em função do novo traçado longitudinal que por isso mesmo, e não tanto por dois ninhos de águia dos ecologistas de trazer por casa, não foi remetido mais para a serra e longe dos centros urbanos. E o Algarve acomodou-se a essa solução, a vida corria normalmente sem que os algarvios sentissem que a “via rápida” mascarada de auto-estrada era uma situação de exceção e de privilégio no País. A vida corria calma até que surgiu essa ideia peregrina das portagens e com tais portagens o poder se lembrasse fazer na 125 o que podia e devia ter feito antes da explosão urbanística e antes que fosse estrada da morte – requalificá-la com critérios de emergência e à maneira do trolha arvorado em mestre de obras.

E então aí temos a 125, com traços saídos dos estiradores e do ar condicionado dos gabinetes, a ser refeita não em função das pessoas e do Algarve (que também tem pessoa) mas das portagens da outra via que nasceu para a substituir como estrada da morte. À força querem agora transformar a 125 na alternativa à estrada que nasceu como alternativa. Insuportável, claro. Tanto mais que, como se previa, a 125 só teria uma solução com longos separadores centrais e que por serem separadores, separam mesmo – separam vizinhanças, casas comerciais, serviços, a porta do primo que mora em frente, bens, separam tudo, numa extr4ema violência para o dia a dia das pessoas. E tudo isto sem discussão pública, sem explicação pública, assim por decreto e trolha a cumprir decreto, acrescentando mais uns quilómetros de muro aos quilómetros de muro já implantado, pois de muro se trata.

É muro. Por motivos bem diferentes, o mundo já conheceu o Muro de Berlim e também por outros motivos mais confessáveis, há muito que conhece o Muro das Lamentações. O que não se esperava é que o Algarve viesse a dispor como sucedâneo da estrada da morte, um Muro de Provocações. É uma provocação à região e Mendes Bota só fez bem em pedir à população lesada que use os meios legais e legítimos que a democracia disponibiliza. E os outros deputados só fizeram mal numa coisa: não aparecerem junto dos cidadãos lesados. Assim não se requalificam.

Carlos Albino
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Flagrante consequência: Aí se disse que sete escolas do Algarve vão perder 74 lugares com um número apreciável de professores com horário zero. A “catástrofe” está em que pouco ou nada fizeram para terem força moral para impedir isso. Pois que força moral face ao ranknig das escolas da região e ao deplorável grau de qualificação dos alunos algarvios? 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SMS 422. Devia ser moda geral

4 agosto 2011

Dando uns pespontos de moralidade na bainha da saia larga do Estado, entendeu o governo, e bem, publicar as nomeações de quadros e designações de colaboradores para os gabinetes dos ministérios, e, além disso, os respetivos vencimentos em valor bruto mensal. E em hora de internet, criou um portal para o assunto que prometeu manter “atualizado” – e já colocamos aspas. É um pequeno embora conveniente gesto para pôr travão à fama dos boys que ascendem pela calada, à suspeita das mordomias que se movimentam atrás dos biombos, à convicção geral de que na peugada de cada ego político e cheio de poder segue uma legião de protegidos que entram sem concurso, vegetam sem escrutínio e sobem na vida por estratagema e esperteza. Por vezes, admita-se, à fama não equivale a verdade, à suspeita não correspondem os factos, e para a convicção que se espalha não se encontram fundamentos. Mas lá que isto parece um mar de boys e um oceano de mordomias, parece. E tem sido. Tem sido a todos os níveis – na administração central e local, nas grandes empresas públicas e nas empresas municipais. Além das nomeações diretas e acumulações nada éticas, são concursos feitos como fato talhado para o corpo e com pré.aviso do alfaiate, são jeitinhos e aproveitamentos nas nesgas da lei. O que é preciso é que tudo pareça “legal”, com aspas, claro, pois o Diário da República encarrega-se do resto já tarde e a más horas, meses e meses depois do facto consumado. Temos tido de tudo e até alguns bons ladrões têm aparecido com ar de crucificados ao lado do filho de Deus eleito para o sacrifício da causa pública.

Nos Estados democráticos que seguem a democracia com rigor, e muito antes da internet, essa é uma prática corrente, porquanto a transparência pode ser escrita até em papel de cartuxo, desde que se queira e essa seja a regra assumida e praticada. Para se dar contas das decisões públicas e pagas pelo contribuinte, nem é preciso meios sofisticados – basta querer e ter o sentido de responsabilidade pública. De ética, no fundo.

Só que o exemplo que vem lá de cima, pequeno pesponto, repita-se, na saia larga do Estado, devia ser moda geral. Ainda quanto ao governo central, as nomeações e designações para direções e delegações regionais, além da informação atempada sobre quem e para onde, deviam ser acompanhadas pelos currículos que fundamentem tais decisões. E cá mais para baixo, os municípios e empresas do seu âmbito, para já, deviam ter um local onde ficassem patentes as nomeações e designações que fazem, com nomes, caras, motivos e vencimentos. Admita-se que pode haver por aí muita suspeita sem correspondência com os factos, mas também há por aí muita gente a cair do céu e alguns bons ladrões de pára-quedas. As decisões tomadas com base na mera “confiança política” foram longe de mais pelo voluntarismo de reputados jogadores, e tão longe que fizeram com que este pobre Estado tenha uma saia larga. O eleitor que é, ou será também contribuinte, sabe disso, e é por isso que muitos perderam a confiança na política quando a política deveria ser um bem a preservar a todo o custo. Sobretudo a Política em Democracia, com letra maiúscula e sem aspas.

Percebeu, meu caro jogador? Ou quer que “eu o aprenda”, como outrora o filho do pescador dizia para o menino rico na Praia do Monte Gordo?

Carlos Albino
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Flagrante professorado: Vem aí novo ano letivo e os professores do Algarve, melhor dito, as suas estruturas e organizações no Algarve, nem uma palavra debitam, muito menos uma reflexão, sobre o estado do ensino na região, melhor dito, sobre o seu próprio estado. Lamentável, dado o panorama, melhor dito, dada a lástima salvo honrosas exceções, melhor dito, salvo heróicas exceções.