quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SMS 422. Devia ser moda geral

4 agosto 2011

Dando uns pespontos de moralidade na bainha da saia larga do Estado, entendeu o governo, e bem, publicar as nomeações de quadros e designações de colaboradores para os gabinetes dos ministérios, e, além disso, os respetivos vencimentos em valor bruto mensal. E em hora de internet, criou um portal para o assunto que prometeu manter “atualizado” – e já colocamos aspas. É um pequeno embora conveniente gesto para pôr travão à fama dos boys que ascendem pela calada, à suspeita das mordomias que se movimentam atrás dos biombos, à convicção geral de que na peugada de cada ego político e cheio de poder segue uma legião de protegidos que entram sem concurso, vegetam sem escrutínio e sobem na vida por estratagema e esperteza. Por vezes, admita-se, à fama não equivale a verdade, à suspeita não correspondem os factos, e para a convicção que se espalha não se encontram fundamentos. Mas lá que isto parece um mar de boys e um oceano de mordomias, parece. E tem sido. Tem sido a todos os níveis – na administração central e local, nas grandes empresas públicas e nas empresas municipais. Além das nomeações diretas e acumulações nada éticas, são concursos feitos como fato talhado para o corpo e com pré.aviso do alfaiate, são jeitinhos e aproveitamentos nas nesgas da lei. O que é preciso é que tudo pareça “legal”, com aspas, claro, pois o Diário da República encarrega-se do resto já tarde e a más horas, meses e meses depois do facto consumado. Temos tido de tudo e até alguns bons ladrões têm aparecido com ar de crucificados ao lado do filho de Deus eleito para o sacrifício da causa pública.

Nos Estados democráticos que seguem a democracia com rigor, e muito antes da internet, essa é uma prática corrente, porquanto a transparência pode ser escrita até em papel de cartuxo, desde que se queira e essa seja a regra assumida e praticada. Para se dar contas das decisões públicas e pagas pelo contribuinte, nem é preciso meios sofisticados – basta querer e ter o sentido de responsabilidade pública. De ética, no fundo.

Só que o exemplo que vem lá de cima, pequeno pesponto, repita-se, na saia larga do Estado, devia ser moda geral. Ainda quanto ao governo central, as nomeações e designações para direções e delegações regionais, além da informação atempada sobre quem e para onde, deviam ser acompanhadas pelos currículos que fundamentem tais decisões. E cá mais para baixo, os municípios e empresas do seu âmbito, para já, deviam ter um local onde ficassem patentes as nomeações e designações que fazem, com nomes, caras, motivos e vencimentos. Admita-se que pode haver por aí muita suspeita sem correspondência com os factos, mas também há por aí muita gente a cair do céu e alguns bons ladrões de pára-quedas. As decisões tomadas com base na mera “confiança política” foram longe de mais pelo voluntarismo de reputados jogadores, e tão longe que fizeram com que este pobre Estado tenha uma saia larga. O eleitor que é, ou será também contribuinte, sabe disso, e é por isso que muitos perderam a confiança na política quando a política deveria ser um bem a preservar a todo o custo. Sobretudo a Política em Democracia, com letra maiúscula e sem aspas.

Percebeu, meu caro jogador? Ou quer que “eu o aprenda”, como outrora o filho do pescador dizia para o menino rico na Praia do Monte Gordo?

Carlos Albino
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Flagrante professorado: Vem aí novo ano letivo e os professores do Algarve, melhor dito, as suas estruturas e organizações no Algarve, nem uma palavra debitam, muito menos uma reflexão, sobre o estado do ensino na região, melhor dito, sobre o seu próprio estado. Lamentável, dado o panorama, melhor dito, dada a lástima salvo honrosas exceções, melhor dito, salvo heróicas exceções.

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