Dando uns pespontos de moralidade na bainha da saia larga do Estado,
entendeu o governo, e bem, publicar as nomeações de quadros e designações de
colaboradores para os gabinetes dos ministérios, e, além disso, os respetivos vencimentos
em valor bruto mensal. E em hora de internet, criou um portal para o assunto
que prometeu manter “atualizado” – e já colocamos aspas. É um pequeno embora
conveniente gesto para pôr travão à fama dos boys que ascendem pela calada, à
suspeita das mordomias que se movimentam atrás dos biombos, à convicção geral
de que na peugada de cada ego político e cheio de poder segue uma legião de
protegidos que entram sem concurso, vegetam sem escrutínio e sobem na vida por
estratagema e esperteza. Por vezes, admita-se, à fama não equivale a verdade, à
suspeita não correspondem os factos, e para a convicção que se espalha não se
encontram fundamentos. Mas lá que isto parece um mar de boys e um oceano de
mordomias, parece. E tem sido. Tem sido a todos os níveis – na administração
central e local, nas grandes empresas públicas e nas empresas municipais. Além
das nomeações diretas e acumulações nada éticas, são concursos feitos como fato
talhado para o corpo e com pré.aviso do alfaiate, são jeitinhos e aproveitamentos
nas nesgas da lei. O que é preciso é que tudo pareça “legal”, com aspas, claro,
pois o Diário da República encarrega-se do resto já tarde e a más horas, meses
e meses depois do facto consumado. Temos tido de tudo e até alguns bons ladrões
têm aparecido com ar de crucificados ao lado do filho de Deus eleito para o
sacrifício da causa pública.
Nos Estados democráticos que seguem a democracia com rigor, e muito
antes da internet, essa é uma prática corrente, porquanto a transparência pode
ser escrita até em papel de cartuxo, desde que se queira e essa seja a regra
assumida e praticada. Para se dar contas das decisões públicas e pagas pelo
contribuinte, nem é preciso meios sofisticados – basta querer e ter o sentido
de responsabilidade pública. De ética, no fundo.
Só que o exemplo que vem lá de cima, pequeno pesponto, repita-se,
na saia larga do Estado, devia ser moda geral. Ainda quanto ao governo central,
as nomeações e designações para direções e delegações regionais, além da
informação atempada sobre quem e para onde, deviam ser acompanhadas pelos
currículos que fundamentem tais decisões. E cá mais para baixo, os municípios e
empresas do seu âmbito, para já, deviam ter um local onde ficassem patentes as
nomeações e designações que fazem, com nomes, caras, motivos e vencimentos. Admita-se
que pode haver por aí muita suspeita sem correspondência com os factos, mas
também há por aí muita gente a cair do céu e alguns bons ladrões de
pára-quedas. As decisões tomadas com base na mera “confiança política” foram
longe de mais pelo voluntarismo de reputados jogadores, e tão longe que fizeram
com que este pobre Estado tenha uma saia larga. O eleitor que é, ou será também
contribuinte, sabe disso, e é por isso que muitos perderam a confiança na
política quando a política deveria ser um bem a preservar a todo o custo.
Sobretudo a Política em Democracia, com letra maiúscula e sem aspas.
Percebeu, meu caro jogador? Ou quer que “eu o aprenda”, como
outrora o filho do pescador dizia para o menino rico na Praia do Monte Gordo?
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante professorado: Vem aí novo ano letivo e os professores do Algarve, melhor dito, as suas estruturas e organizações no Algarve, nem uma palavra debitam, muito menos uma reflexão, sobre o estado do ensino na região, melhor dito, sobre o seu próprio estado. Lamentável, dado o panorama, melhor dito, dada a lástima salvo honrosas exceções, melhor dito, salvo heróicas exceções.
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