quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SMS 443. Lutas por causas e pelo poder

29 dezembro 2011

Por este ou por aquele motivo e alcance, por aí se surgem iniciativas visando a formação de movimentos independentes por iniciativas de gente ou desesperançada com os partidos, por vezes a pretexto de causas a propósito das quais os partidos os seus representantes defraudaram. É legítimo mas é razoável que se separe as águas. Em democracia, os partidos existem para a conquista do poder através do voto, o que não conflitua, antes pelo contrário complementa ou aprimora esse papel, com os movimentos cívicos ou de cidadania. Os partidos lutam pelo poder com base nos seus quartéis de militantes e de milicianos cooptados, os movimentos cívicos batem-se por causas pelo que podem integrar gente de partidos ou à margem de qualquer filiação ou disciplina partidária. Os cooptados pelos partidos para a conquista do poder não são assim propriamente independentes, e os movimentos cívicos também não são privilégios de independentes, mas as regras do jogo já ficam tão claras quando se constituem movimentos de cidadania confessadamente ou não para a conquista do poder em competição com os partidos e sob a bandeira de independentes. Na verdade, é um mau sinal para a democracia quando ou se os partidos ficam reféns de nomenclaturas que impeçam a democracia interna e o debate de ideias, tomem decisões violentando a vontade expressa dos seus apaniguados, elejam dirigentes através de expedientes montados para a perpetuação de clientelas ou que atraiçoem promessas eleitorais pelas quais obtiveram o voto em sufrágio rasgando o contrato feito com os eleitores. Mas também é não apenas mau mas péssimo sinal para a mesma democracia que se tente fazer fora dos partidos o que dentro deles não se faz como se devia fazer por falta de coragem e de frontalidade, funcionando então os movimentos de duvidosos independentes como cómodo combate impessoal ou longe da cara dos efetivos destinatários do protesto político. A nível de freguesias, a luta pelo poder e a luta por causas confundem-se ficando isso civilizadamente diluído em guerrinhas cordatas de vizinhos. Mas a nível de municípios, esses sinais já são péssimos caso revelem a incapacidade dos partidos para a remoção de nomenclaturas politicamente suicidárias, sobretudo se os partidos, a nível local, tiverem ficado despovoados de quadros e funcionarem como meras máquinas eleitorais apenas animadas por líderes em tournée e pela mágica da sigla legal. E sendo assim, os independentes têm muito mais a fazer pela reclamada independência dentro dos partidos que fora deles. A não ser que se pretenda na eleição apenas ganhar um salário de prestigio social ou fazer prova de vida.

Carlos Albino
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Flagrante dúvida: A de se o Algarve em 2012 vai ter deputados, porque em 2011 não se notou a não ser aí por uns escritos genéricos e parajornalísticos.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

SMS 442. Nem quando toca a reunir

22 dezembro 2011

Diz um cómico do governo que esta não é altura para se pensar na regionalização pois o que se deve é proceder à descentralização. Mas descentralizar o quê, como e para quem quando se extinguem direções regionais supostamente criadas para funcionarem como alavancas e pedagogia de futuros centros de decisão regional? Descentralizar para os municípios quando se corta a eito nas verbas autárquicas ficando as câmaras sem dinheiro para mandar cantar um cego? É claro que as direções e delegações regionais, as extintas e as que se conservam, nunca foram nem são alavancas de regionalização e muito menos pedagogia. Foram e são empecilhos de burocracia, pequenos reinos de pareceres imperativos, correias de transmissão do chefe e zelosas máquinas de confiança partidária que muitos ingénuos têm designado por confiança política. Nesse mapa de mordomias de que os governos civis foram napoleónicos exemplos, as exceções ou tentativas de exceção tiveram os dias contados. É também claro que os municípios são instrumentos mais adequados para se transformar numa manifesta manta de retalhos aquilo que poderia ser uma região com pés para andar e cabeça para pensar. Nada melhor que descentralizar falsamente para os municípios caso o objetivo seja o de dividir para reinar, até porque, a rigor, o governo não pode descentralizar nada para os municípios, o que pode é alijar… Não descentraliza, alija. É a palavra. E é por isso que, com tais ilusórias descentralizações, os municípios ricos ficam mais ricos e os municípios pobres ficam mais pobres, assim se quebrando a coluna vertebral da solidariedade regional que é, no fundo, o que se quer partir. Na verdade, a melhor e mais fácil maneira de acabar com a ideia de Algarve é dividi-lo em 16 algarves cada qual tão ou mais endividado que o outro algarvezinho. E é assim que, com tanto algarvezinho, nem quando toca a reunir o Algarve se une. Não quando toca a reunir por reclamações de uma região que não passa de quintal de Lisboa ou de Caparica para o conveniente bronzeamento da socialite política, mas quando toca a reunir por uma ideia de Algarve.

Pequena nota: nunca se pensou que desejar Boas Festas fosse mesmo uma ironia, valendo todavia a intenção.

Carlos Albino
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Flagrante verdade bíblica: É mais fácil um injusto passar pelo fundo de uma agulha que primeiro-ministro e ministros decidirem alguma medida favorável ao Algarve.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

SMS 441. O mal está feito


15 dezembro 2011

Via do Infante, voltamos ao assunto.

O erro dos anteriores governos foi o de não terem desclassificado a via de “auto-estrada” para IP, pois de auto-estrada tem pouco. Além disso, muito boa vontade e tolerância têm mostrado os moradores das casas no meio das quais ela foi plantada, para não se prejudicar duas águias que ninguém viu e três linces da cor de um burro quando foge. Habituados à ideia de que a via era um bem caído do céu para a região, esses moradores poderiam ter solicitado indemnização pelo ruído contínuo desse pavimento acimentado de escórias contaminadas e comedor de pneus. Não o fizeram porque o terem lutado contra uma “auto-estrada” assim oferecida, além de ferir escandalosamente a militância de uns ecologistas enviesados, seria sobretudo lesar o Algarve, a sua indústria-rainha, o progresso, o futuro mais que perfeito do conjuntivo que se está nas tintas para o Algarve mas que o explora sem qualquer condicional. Agora que a estrada é paga, assiste-lhes esse direito à indemnização.  São às centenas e centenas os que se podem queixar – em nenhum lugar do mundo civilizado se faz uma auto-estrada a escassas dezenas de metros do quarto de dormir de cada um. É claro que a Via do Infante, nestas circunstâncias, deveria ter sido desclassificada, impondo-se limites de velocidade para proteção dos moradores e reconduzindo-a àquilo que efetivamente é - um itinerário sem alternativa entre localidades, inferno para quem mora junto ou perto, porque o ruído chega seguramente a um quilómetro de distância. E que ruído se houver um leve ventinho!

O erro do atual governo é o de dar este presente de Natal ao Algarve, região que só tem dado lucros ao Estado sem retorno, e não buracos – façam-se as contas. Uma via, inicialmente programada para três faixas, visando a substituição da 125 mas que levou uma eternidade para ser feita na sua metade com quatro faixas praticamente à custa da anulação de bermas; que levou outra eternidade para a sua segunda metade ir até Lagos; e que vai ditar uma terceira eternidade para a trágica requalificação da 125 depois de se ter deixado que esta tenha transformado o Algarve litoral numa Cisjordânia cheia de colonatos, pois, sem dúvida que este presente é magnífico.

E no erro dos anteriores governos e do atual estão obviamente comprometidos também os deputados e autarcas que, mal mudou o alfaiate mudaram de fato, ou, escrevendo pela ortografia antiga sem alfaiate, mudaram de facto.

Carlos Albino
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Flagrante surpresa: O Coro Infantil de Loulé a entoar canções de Natal no El Corte Inglês de Lisboa. 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

SMS 440. Feriados daquém e do além


8 dezembro 2011

É um erro grosseiro a forma como o governo vê a matéria dos feriados, como grosseiramente errada foi a literatura com que se pretendeu justificar os cortes – Portugal não tem mais feriados que outros e até nem tem os feriados incompreensíveis que outros têm (2.º dia de Natal e de Páscoa, na Suécia e Alemanha, por exemplo) e além disso os feriados nacionais, ou são nacionais ou não são, independentemente de terem origem religiosa ou civil. É evidente que, por enquanto, Portugal não precisa de um feriado semelhante ao Dia da Unidade Alemã como a Alemanha tem, nem de um Dia da Constituição com os espanhóis celebram, porque a nossa unidade nacional (com mais alguma coisa de essencial e que dura há séculos...) foi sempre celebrada a 1 de dezembro e a Constituição (ainda que com outros pretextos e disfarces...) foi sempre celebrada no 5 de outubro. O que não se entende é que o Dia de Corpo de Deus seja feriado facultativo em Espanha e tenha que ser obrigatório em Portugal, sem que dos dois lados da fronteira se compreenda o que é que isso tem de nacional num lado e no outro já não tem. Como não se compreende como os dias da dita Assunção de Maria (15 de agosto) e da Conceição da mesma (8 de dezembro) tenham que ser feriados nacionais obrigatórios. Como também não se compreende que 1 de novembro Todos os Santos) seja feriado por todos celebrado e usado como o dia dos Defuntos que é a 2, no dia seguinte, com os próprios responsáveis religiosos a terem a imensa trabalheira de explicar que nem todos os defuntos são os santos da véspera e que nem todos os santos são os familiares do dia seguinte – outro feriado dispensável e, esse sim, que poderia ser encostado a um domingo porque é um feriado do além.

Mas claro que se Hitler tivesse sido derrubado num qualquer 25 de abril por uma revolução democrática e não no termo de uma guerra mundial que dilacerou tudo o que era país e povo, os alemães teriam nesse dia o seu Dia Nacional da Liberdade como Portugal tem, para não se esquecer da queda dos seus hitleres de trazer por casa mas que infelizmente continuam a estar vivos e tão vivos que beneficiam da presunção de inocência eleitoral.

A abolição do 5 de outubro e do 1 de dezembro é um erro grosseiro do governo, mexe com o que de mais profundo a sensibilidade portuguesa possui, e contrariamente à simbologia nacional das datas, é um gesto de outorga e sem coragem.

Carlos Albino
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Flagrante feriado que falta: Os feriados municipais que no Algarve são 16. Bastaria um  Feriado do Algarve a coincidir, damos de barato, com um religioso comummente aceite como o 1 de janeiro. O início de cada ano não ficaria bem como o Dia do Algarve? Ficaria.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SMS 439. Fome, apenas isso

1 dezembro 2011

As notícias da fome, depois da fome envergonhada e contida, começam a chegar à praça pública. E quando tais notícias chegam à praça pública, mal vai a coisa. As cantinas das escolas básicas e secundárias têm tapado muita necessidade e nas casas de cada um só Deus sabe o que por lá vai. O mal chegou à universidade, sabendo-se agora que muitos estudantes, isolados das famílias e dependendo dos cêntimos daqui e dali, chegam a situações de carência alimentar extrema. O que podem fazer? Pouco. Estender a mão à caridade pública nas esquinas de Faro? Quem acredita? Poucos acreditarão até porque um qualquer estudante nessas circunstâncias não é propriamente elemento de bando romeno organizado. E basta noticiar essa realidade para a resolver? Não basta. É preciso dar-lhe solução, inventariar as situações de modo a que cada um dos necessitados não se sinta tingido na sua dignidade pois a fome, em gente honesta, é mal que se sofre pela calada até quase ao limite de cair para o lado.

Muitos dos pequenos roubos que jamais constarão nas queixas de esquadra, muitos dos pequenos assaltos que não entram nas estatísticas dos que apenas avaliam a realidade pelos números a grosso e não pelas causas (então, polícias a falarem de estatísticas!), e muita da agressividade que campeia nas relações do dia a dia, têm a sua origem em situações de fome. Ou pelo desemprego, ou pela brutal interrupção de esquemas pelo Estado, ou, no caso dos estudantes, pelo dilema que se lhes coloca entre estudar ou entrar na vida, a explicação está aí. As polícias podem andar atrás dos autores de furtos mas não andam atrás da fome, não podem prender a fome e entregá-la ao tribunal da área. A fome é um ladrão que escapa a tudo e até rouba a dignidade e sensatez de quem tem fome.

É claro que os municípios, entidades do Estado comprometidas, organizações cívicas, e, no caso, a própria universidade, já deviam ter-se sentado à mesa para formularem o problema, a extensão do problema e encontrar a melhor solução possível. Não apenas um município mas todos porque o problema é comum e a fome pode residir num deles mas atuar no outro. Cada um agir por seu lado pode resolver situações pontuais e redundar em prestígio ou reconhecimento social, o que não deixa de ser perverso. O problema é do Algarve e a fome que há nas outras regiões não desculpa que não se encare o facto para cá do Vascão até às moradias da Quinta do Lago. Mas possivelmente cada um está à espera do outro, ninguém sabendo por onde começar solidariamente, até porque nem para encarar um flagelo que afeta toda a região existe Algarve. Infelizmente, o Algarve, cada vez mais, é apenas uma maneira de dizer. Esse é o nosso pior défice e nem a fome envergonhada ou já pública, a pobreza extrema e uma multidão carente mas calada, faz abrir os olhos. Vamos voltar às filas dos pobres que se faziam no final das missas dos anos 40 e 50 do século passado, a pedir “um pãozinho para o pobrezinho”, ou já se esqueceram disso?

Carlos Albino
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Flagrante património: O fado chega a património imaterial da Humanidade, processo bem conduzido e justificado. Sagres que poderia e deveria ser património da mesma Humanidade, foi para o lixo. Muita culpa do Algarve e de muitos algarvios de sofá. Ou como observava Aleixo, de muitos doutores com a mosca pousada na cabeça.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

SMS 438. Faro, faltaram-lhe ao respeito


24 novembro 2011

Bem deu ao dedo, o jornalista Idálio Revez para nos explicar que “a cidade de Faro está doente” e isso porque “está asfixiada pela falta de áreas verdes para a população”...  E a doença será a “especulação imobiliária” que na verdade é um diagnóstico tão vago como o da pontada, como outrora se dizia quando quem morria morria sempre “de repente”.  É claro que Faro foi morrendo devagar e continuará devagarinho a morrer se não houver a coragem de identificar o vírus da dita especulação, vírus esse que não é mais nem menos que o bicho homem. É um senhor vírus e com mutações, trocando de disfarce para escapar do possível sistema imunológico e tornar-se  resistente a medicamentos antivirais. Esse vírus ora é arquiteto, ora é engenheiro, ora é simples mestre-de-obras, ora é fiscal da câmara, ora é aquele tal administrativo que dá um jeitinho nisso, ora até pode vir disfarçado num espirro do presidente contaminando vereadores e, misteriosamente, provocar a tosse coletiva da assembleia municipal, tosse tal que se ouve mais longe que o sino à esquerda da Sé de Faro.

Um exemplo? Está à vista desarmada, ali na Unidade de Radioterapia do Algarve, construída num logradouro público, com as traseiras de prédios a fazerem-lhe de cerca. Para esse local foi anunciado um jardim público, depois um parque infantil, enfim, qualquer coisa verde. Não está em causa as finalidades desse centro de radioterapia, nem se discute a parceria que a baseia, nada disso. Está apenas em causa o local onde o centro foi encavalitado, alegadamente “para dar mais movimento a Faro”. Erro. Tem sido esse o erro de Faro, esse o de querer encavalitar tudo para que nada lhe fuja das mãos, nada lhe fique de fora e, portanto, para que tenha muito movimento... Especulação imobiliária, isto? É também, mas não só. Olhem para aquela escola encavalitada numa urbanização tosca e de mau gosto; olhem para o hospital encavalitado no estádio e este no mercado, com urbanizações de mau gosto e toscas encavalitadas umas nas outras, tudo isso por decisões de assembleias a tossir e de presidentes a espirrar epidemicamente. Faro tem de verde o que de verde lhe ficou da primeira metade do século passado, além de uns relvados que só dão para passear aos besouros das palmeiras e tanta gente que ficou intocável. Faro está doente porque lhe faltaram ao respeito – não trataram a cidade como Ossónoba mas apenas como subúrbio de Casablanca.

Carlos Albino
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Flagrante símbolo nacional: Então quem duvida de que a árvore do Refúgio não é mesmo o símbolo nacional do Algarve que resta, depois de perdido o hino, a bandeira e o ego viajante do governo civil?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

SMS 437. Dentro das câmaras

17 novembro 2011

Ninguém ousa falar disso em voz alta, mas o cheiro das eleições autárquicas já entra pelas câmaras a dentro tal como o cheiro do peixe frito no rés-do-chão empesta o primeiro andar nas casas de sobrado. Ninguém fala disso dentro às claras dentro dos partidos, muito menos de partido para partido e na rua, jamais – o silêncio á a alma da estratégia. Sente-se isso no ar, sobretudo nas câmaras em que o atual presidente atingiu o limite de mandatos, ou seja, 12 anos de poder político possível, supostamente para permitir a renovação de quadros e, também supostamente para impedir apegos ao poder, como se quem queira continuar a mandar não o possa fazer por interposta pessoa (por vezes, este esquema é até mais eficaz) e como se quem queira estar no poder até ao fim da vida também o não possa fazer através de herdeiros e protegidos dispostos a fazer a figura de estilo em mandato intercalar (por vezes, este esquema é será mais discreto e certeiro...)

Nota-se mais nas câmaras do que nas juntas de freguesia onde a limitação de mandatos é de somenos importânica. Nas juntas, há que aguardar o resultado de muita luta de galo e os presidentes cessantes não contam grande coisa. Nas câmaras é que já se nota: os presidentes em último mandato, não é que estejam já na prateleira, mas é como se estivessem, não só pelas lógicas ansiosas dos partidos concorrentes mas sobretudo pela força das concorrências subterrâneas dos próprios partidos, nos casos em que não há interpostos herdeiros ou protegidos. Por isso já se vai notando algumas desautorizações pela calada, sobretudo em que o presidente em mandato final não citou alguém como herdeiro ou não anda de braço dado com outro para que todos saibam que esse é o protegido. Se não tem um destes dois procedimentos – para tal é necessário que tenha também força incontornável no partido -, à medida que as eleições se aproximam assim a gestão autárquica pode ser maior inferno. E isto é rápido: 2011 está no fim, 2012 vai ser um ar que lhe vai dar e as autárquicas vão ser em 2013. à porta portanto, pois não é na véspera e sobre o joelho que se encontram candidatos ganhadores, sejam sucessores lógicos ou génios de alternância.

Ora é aí que queremos chegar: a luta de galos e a consequente marginalização dos presidentes que terminam lugar no poleiro, é coisa lamentável dentro das câmaras e por vezes entre pintos da mesma cor. Porque a democracia só tem a perder se em vez de galos, nos saírem uns pintos.

Carlos Albino
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Flagrante aldrabice: A das estatísticas da riqueza Algarve. É evidente que uma mansão da Quinta do Lago somada a uma casa de caliça rachada do Barranco do Velho, a dividir por dois dá uma pequena fortuna que é só de  um e até estará fora, nada tendo com a Algarve à exceção dos calções de banho.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

SMS 436. Arranquem essas placas

10 novembro 2011

Não, escrever sobre a crise, não – está nas ruas, entra pela casa, vê-se nos olhos, adivinha-se no pensamento. Escrever sobre autarcas, também não – foram eleitos sem contar bem com o que lhes saiu na rifa e em autarquias onde não há tostão, todos ralham e ninguém tem razão. Escrever sobre a qualidade da cultura, também não – os muito cultos que por aí há, queimam os últimos cartuchos e para o ano que vem vamos ter por certo saudades até do provincianismo. Escrever sobre a segurança, muito menos – bastam os relatos do dia a dia e a sorte grande de não haver ninguém na família, na vizinhança ou na terra que não seja assaltado para não se falar da sorte de cada um de nós a quem esse mal não bateu à porta. Escrever sobre os deputados, também não – uns, afinal, nada prometeram, outros nada podem fazer porque não contam em número, em influência e poder, tomara cada um cumprir o mandato nas calmas. Escrever sobre as portagens, sobre a Via do Infante, sobre a 125, sobre as variantes prometidas e não concretizadas, sobre as rotundas e seus monumentos e oliveiras transplantadas, jamais por enquanto – é chover no molhado e quem, por imperativo democrático, devia explicar mete-se nas suas sete quintas.  Escrever sobre o urbanismo, também não porque quando a construção civil colocava uma girar em cada duna, em cada esquina e em cada casa sobre outra casa, albergando obreiros clandestinos em contentores ou cada dúzia num quarto, ninguém quis ouvir e não é agora que vão fazer marcha atrás porque o mal está feito. Escrever sobre as insolvências às montanhas, sobre o comércio que fecha, sobre  a agricultura nem foi protegida nem se quis proteger, sobre as oficinas disto e daquilo que são ilhas rodeadas de dívidas por todos os lados, também não. Escrever sobre os jovens que saem das escolas sem saberem escrever uma carta e que consideram um insulto a oferta de um dicionário, também não, sendo inútil perturbar a avaliação do desempenho de quem tutela o seu ensino. Escrever sobre o saudoso governo civil? Não - foi extinto e nem se deu por isso.  Escrever sobre as iluminações de Natal? Qual coisa, agora que a generalidade das câmaras de vê aflita para manter a lâmpada da esquina. Escrever sobre a outrora apregoada linha de alta velocidade Faro-Huelva? Escreva Durão Barroso que concertou isso com Aznar, já lá vão uns bons anos, dizendo-lhe eu logo de cara a cara que não acreditava nesse fogacho populista. Por aí fora… Então o que posso e devo escrever? Posso e devo escrever sobre o essencial, as coisas essenciais que o Algarve a todo o custo deve manter, mas que, para tanto, cada câmara, cada município e até já cada freguesia não se pode comportar como se cada qual fosse um sultanato de costas viradas para o sultanato contíguo pelo que, para que não restem dúvidas dessa marcação, colocam placas delimitadoras de território, coladas umas à outras como se fosse terra conquistada. Ora comecem por arrancar essas placas, que há placas a mais, e só depois escreverei. Se, sem crise, os sultanatos são intoleráveis, em plena crise os sultanatos repugnam.

Carlos Albino
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Flagrante silêncio: Parece que houve muita alfarroba, pouco figo e que as azeitonas caíram pecas. Mas sobre o negócio da alfarroba, ninguém diz nada, nem os ciganos que andaram às escondidas no rabisco mas venderam e bem.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

SMS 435. Isso, no aeroporto, foi demais

3 novembro 2011

Como se sabe, numa terra onde o turismo é pão para a boca, o aeroporto é a sala de visitas onde não só tudo deve ser feito para dar boa imagem junto de quem se recebe ou se despede, mas sobretudo onde se prova os valores de civismo que temos, o nível de civilidade que possuímos e o estado dos serviços públicos ou de utilidade pública do anfitrião. E aquilo que ocorreu no aeroporto de Faro, foi demais, em todos os aspetos.

Antes de tudo, aquilo cair, sendo obra recente e não sendo aquilo propriamente uma barraca de feira, não é apenas estranho, é inconcebível. Decorre o inquérito do LNEC, oxalá seja rápido, mas qualquer leigo em construção civil vê à vista desarmada que um terminal de aeroporto apto a receber milhares de passageiros por dia não se constrói como quem monta um circo. Numa obra daquelas, há imponderáveis que devem ser obrigatoriamente previstos. Mas aconteceu e o que aconteceu depois, foi um espetáculo deprimente. Centenas e centenas de passageiros sem informação, sem apoio, atirados para o parque de estacionamento e na ânsia de fugir dali o mais rápido possível, rapidez que foram horas e horas, sem que fosse notória a presença de quem, com solicitude, devia dar informação e apoio. Naturalmente que não competia às companhias aéreas tomarem a dianteira na defesa da imagem do Algarve que estava em causa, intrometerem-se numa operação de emergência cívica que se impunha célere, substituírem-se aos procedimentos de civilidade que seriam expectáveis dos responsáveis pela aerogare, ou colmatarem a falta de resposta dos serviços públicos e de utilidade pública que, coordenadamente ali deviam ter acorrido prontamente com meios de atendimento e apoio. O que se viu foi que, com a maior naturalidade deste mundo, quem naquele momento devia gerir pessoas, informar pessoas e apoiar pessoas, estava preocupado com números, olhando para as nuvens do céu na expetativa de não chover no descampado. O que interessava era fazerem o chek-in, soprasse o vento que soprasse, demorasse o t6empo que demorasse. Tratados como bichos.

Infelizmente os casos de desprezo e de insensibilidade perante quem nos visita e desejamos que voltem a visitar-nos, são muitos e desde há muito – não foi apenas ali, no aeroporto, onde as coisas foram demais. Basta rebentar uma ETAR e as praias e as águas ficarem imundas, ou um penedo cair, para esse género de desprezo e insensibilidade ficar patente, sobretudo com omissão de informação supostamente para não estragar a “imagem do Algarve” e cada um que se amanhe, seja alemão, britânico ou belga que os da casa são parentes, vizinhos ou empregados e por isso calam.

Péssima gestão de imagem, civismo nas lonas, serviços públicos sem rei nem roque, gestores impantes empurrando uns para os outros e que parecem ter saído das novas oportunidades, não estas mas as da Idade Média, porque o procedimento é feudal.

Carlos Albino
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Flagrante eficácia: A revelada pelo ministro Álvaro Santos Pereira ao ordenar inquéritos sobre o que se passou no aeroporto de Faro – sobre as causas e sobre os efeitos. Também outra coisa não seria de esperar…

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

SMS 434. Pois que mais vida haverá?


27 outubro 2011

O conhecido governante por aí se desdobrou a dizer que há vida para além da austeridade ou além do Orçamento. Se ele se referia à vida no outro mundo, enfim, cada um tem legitimidade para acreditar no que entender. Se ele se referia à vida neste mundo e da qual apenas fugimos por razões alheias à nossa vontade, isso deve ter sido brincadeira ou infantilidade. O país enfrenta um recorde de défice e uma dívida pública insustentável a garrotar o crescimento e a asfixiar o emprego, e não vive isolado numa crise – ela é deveras vasta, incide desta ou daquela forma em todos os países colocados durante décadas na prateleira dos desenvolvidos e ameaça alastrar aos chamados países emergentes cujo êxito tem sido muito à conta dos maiores atropelos a direitos fundamentais do ser humano para obter trabalho barato e engenheirar economias competitivas, tão competitivas que provocaram esse fenómeno incontornável da deslocalização de empresas dos mais desenvolvidos para os menos. Portugal quer exportar mais, e é bom que o faça, e importar menos, sendo também razoável que também o faça no muito que é desnecessário e prejudica a produção interna, mas como a nossa crise não é só nossa, é sobretudo dos outros e em grande parte por causa de alguns outros, os outros também querem exportar mais e importar menos… O mesmo com a captação de investimentos, com o turismo, por aí fora – se nós, em crise, queremos crescer, os outros também querem, pelo que ou impera a abominável lei do mais forte ou se acendem conflitos que, como todos os conflitos, começam por rastilhos de que nem sempre nos apercebemos e até menosprezamos. Ou seja: estamos metidos num imbróglio de todo o tamanho, e quando isso acontece ou se prevê que esteja para acontecer (o governo anterior desdenhou avisos e advertências), o mínimo que se exige a um governo é que não tenha brincalhões. É que não há vida fora da prosperidade ou fora da austeridade.

Carlos Albino
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Flagrante evidência: Quanto às freguesias, se decretarem, o que podem fazer? Nada. E nada porque alguma força que por aí se simula mais não é do que localismo exacerbado e isso não é força – é incapacidade de argumentação.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SMS 433. O poder do lobby

20 outubro 2011

O ministro da Economia, Álvaro Santos Pereira, não veio ao Algarve garantir a requalificação da 125 desta ou daquela maneira, agora já ou daqui a instantes, nem veio a Faro prometer a correção da miserável linha ferroviária com estações onde deveriam estar, conservando-se exatamente como nos tempos em que era alternativa ao carro de burro. Mas foi a Viseu prometer a auto-estrada para Coimbra e, embora mais tarde mas nesta legislatura, a linha de comboio para a mesma cidade. Na sala, entre os que ouviam o ministro, estava o presidente da assembleia municipal de Viseu, Almeida Henriques de seu nome, e que por mero mas indisfarçável acaso, muito mero acaso, é também o secretário de Estado Adjunto da Economia e do Desenvolvimento Regional, trabalhando pois ao lado do ministro e com as delegações deste, pelo que aquilo que estava a ouvir não seria assim uma grande novidade. O lobby de Viseu estava ali sem qualquer disfarce, numa reunião partidária, com certeza, mas o que foi dito foi para Viseu ouvir, tomar conhecimentoe ganhar alento.

Naturalmente que só é de saudar Viseu pelo que consegue tal como é de saudar o Oeste (Leiria, Caldas) pelo que também conseguiu e vai conseguindo, o Algarve não deve invejar nem tem que invejar, mas é lícito que se interrogue sobre o poder dos lobhbies e sobre como as decisões políticas de exceção são feitas na sequência de lobbying, que é coisa que o Algarve não faz e que desde sempre não tem tido capacidade de fazer, por dois motivos. Primeiro motivo, é que quem poderia fazer lobbying (deputados influentes ou alguns raros admitidos em governos) cuidam mas é das suas vidinhas, até evitam assumir-se como algarvios a não ser cá em baixo para provocar uns circunstanciais aplausos dos provincianos e uns títulos na imprensa regional, como sempre acrítica e reverente. Segundo motivo, é que para haver lobbying por quem o possa fazer, a região tem que ter força moral como região, força política endossada pelas instituições que possua e sobretudo poder económico e financeiro. Nada disto o Algarve desgraçadamente tem porque não são uns verbos de encher que conferem tal força – a força moral da região nem chega ao Caldeirão com medo da travessia, a força política termina nestas direções regionais que na sua maior parte são sinecuras ou manifestos exemplares de gente que engoliu garfos - tem havido exceções mas porque são precisamente exceções, os governos também se têm encarregado de apear tais incomodidades. E quanto a força económica e financeira, ela está toda, na sua parte útil e operativa, fora da região – aqui nem molha os pés.

O Algarve fica para trás, neste jogo de lobbying que não é nada bonito, aliás é mesmo muito feio no pino desta crise sem precedentes.

Carlos Albino
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Flagrante impreparação: Há ministros deste governo, decisivos nos dinheiros, que desconhecem que cidades algarvias aparecem nas estatísticas com escassos milhares de habitantes mas que, por três a quatro meses, são literalmente ocupadas e usadas por centenas de milhares… E cortam como se tais cidades estivessem no deserto. Ou vieram do outro mundo, ou não passam de uns caloiros da governação.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

SMS 432. E assim a isto se chegou

13 outubro 2011

Há um ano ninguém queria acreditar e mesmo os que com isto ameaçavam por efeito dos calores da política, faziam-no vagamente convencidos ou esperançados que a tempestade passaria ao largo. E tão convencidos estavam de que isto era mais um jogo, que não tomaram providências na região, referindo-me às autarquias que há muito deviam ter preparado a casa para o pior que aí está – o governo de há um ano, esse já lá vai e o eleitorado avaliou-o na devida altura com a punição que se sabe. Continuou-se a gastar, sobretudo em muito de supérfluo, como se nada estivesse para acontecer, e em grande parte continuou-se a gastar por responsabilidade e inconsciência de muitos funcionários. E querem exemplos? Começa logo pelos veículos. Em Londres, os ministros vão a pé, de bicicleta ou de táxi para os seus ministérios; em Madrid foram tomadas medidas que apontam nesse sentido e em Lisboa o uso dos carros oficiais já é de mau tom fora das questões oficiais que é a fórmula portuguesa de contornar... Mas, vá lá, em Lisboa, além de apanhar um táxi seria sempre uma boa desculpa para chegar uma hora atrasado a tudo, ainda se entende que um ministro não vá a pé de Cascais, de Loures ou de Sintra onde possa morar que, à escala do Algarve seria o mesmo que calcorrear de Portimão até Faro.  O que não se entende é que no Algarve, escassos 100 ou 200 metros tenham que ser em carro oficial, ou mais grave, no caso dos chefes que são mais que os índios, em carro de serviço. É apenas um exemplo. Serve apenas para dar nota de que a consciência do que a crise é e do que a crise implica, surge tardiamente e apenas quando se fazem os cálculos para o próximo ano com base na situação presente que era esperada – as autarquias estão sem dinheiro e sem perspetivas de dinheiro. Sabia-se isso pelo que teria sido melhor poupar durante um ano com um terço dessas lâmpadas que estão nos descampados sem casas apenas para exibir a “grandeza urbanística” de nada, do que deixar-se agora as terras habitadas às escuras durante horas. Ou, em metáfora regional, que em vez de tanto fogo de artifício de cada um no seu quintal contíguo ao outro quintal, se tivesse feito apenas um, dois ou quando muito três exercícios de fogo preso que eram os suficientes para serem vistos do Algarve todo. Metáfora apenas, mas já é tarde.

Carlos Albino
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Flagrante presente envenenado: A Via do Infante que foi o maior presente envenenado oferecido à região.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SMS 431. D. Sebastião e o cardeal D. Henrique

6 outubro 2011

Foi um balde de água fria? Não foi. O facto do PSD ter colocado no Programa de Governo a criação de regiões-piloto, levou a que muitos tivessem pensado que vai ser agora, porquanto o PS não se oporá, o PCP não criará obstáculos, o BE irá na onda e quando muito o CDS colocará reservas., mas que, feitas as contas, a ideia terá pernas para andar. Mais uma vez se pensou que uma região, ainda que piloto, cai do céu, bastará um toque na lei fundamental, um decreto. E então, com o secretário de Estado Marco António á frente, ele que tem sido inegável campeão da regionalização, a pergunta era de lhe ser feita, o que aconteceu no recente debate em Vila Real de Santo António.  E a resposta só pode ter sido um balde água fria para os que se acomodaram à ideia de que para a criação da Região do Algarve, ainda que experimental, bastará o milagre supostamente fácil de quem legisla e de quem governa, sem mais, ou seja, sem que a região candidata a Região mexa uma palha, se organize civilmente, se movimente civicamente, sem que crie fóruns abrangentes onde o provincianismo fique à porta e sem a sociedade mostre que tem lideranças credíveis, com peso no País ou perante o País, que tem força própria, elevada, mobilizada e mobilizadora, e com autoridade moral, cultural, política e cívica – sobretudo cívica, que é o mais importante e não depende de decreto, nem de programas de governo. Para quem, por honestidade intelectual, reconheça que o Algarve não tem este acervo – tem fogachos, tem voluntarismos, sérios sem dúvida, mas apenas voluntarismos - a resposta de Marco António não foi um balde de água fria e a invocação do decálogo da troika foi mero pretexto, mero pretexto. Que respondeu Marco António? Depois de tribunar que a regionalização não é uma prioridade havendo que “perceber o que é essencial e o que se pode tornar acessório” em função do “cronograma e valores definidos” pela troika, ele foi direto ao assunto e gravou o epitáfio: “Não há tempo, nem momento, nem oportunidade para abrir um debate sobre a regionalização”. Mas qual debate? O debate político envolvendo poder legislativo e executivo, ou o debate oriundo da sociedade interessada? Marco António certamente ao responder aquilo não desconhecia que esses dois debates coincidem na inviabilidade de um com a inexistência do outro. Politicamente, o decálogo da troika dá o excelente pretexto; civicamente, a sociedade algarvia tem vozes mas não tem voz, é rica de voluntarismos mas não dá mostras de vontade coletiva, invoca a pretensão da região por conveniência e conforme a conveniência dos sultanatos autárquicos mas não tem movimento consolidado, plural, com caderno, com endereço. E, desculpem lá, a crise na construção civil é enorme, mas não são esses andaimes que dão força à reclamação da região, piloto que seja ela. O PS já provou que, afinal, não tem nenhum D. Sebastião e o PSD está a provar que não passa do cardeal D. Henrique, sem que com rigor se responda à pergunta: O que é o Algarve? Um conjunto de sultanatos? E isso basta?

Carlos Albino
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Flagrantes produtos portugueses: No hipermercado, água espanhola comercializada por empresa suíça… Ao menos a água!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

SMS 430. Vale a pena recordar


29 setembro 2011

Não é com intenção de acerto de contas mas apenas para se aquilatar o nível a que se coloca a política no Algarve, mesmo quando a política se cruza diretamente com o futuro da região, ou pelo menos com aquele futuro que uns quantos bem intencionados e que não esperam nada da política, desejam para a região. Aí por ocasião dos calores de discussão sobre a regionalização – assunto que a crise e a troika se encarregaram de colocar na arca congeladora -  foi sugerido pelos bem intencionados que as autarquias (municípios e freguesias) abrissem mão de poderes e até questionassem a justificação da sua própria existência e aceitassem colocar parte dos poderes que têm e parte da sua própria existência nas regiões, no caso do Algarve, na Região do Algarve que continuamos falsamente a supor que existe mas que é uma coisa falsa porque nem houve amostra disso nem há sinais de que possa haver. E o que sucedeu? Sucedeu que em vez de se aceitar que há municípios e sobretudo freguesias a mais com péssimos serviços, se estimulou a criação de novos concelhos e de novas freguesias, sendo melhor que quem lá de cima andou por aí a dar “ânimo” a uns ingénuos e até suporte a gente de mão, se esconda debaixo da mesa e mude de nome para não cair agora em contradição. Na verdade, os mesmos folgazões da política que se serviram de ingénuos para, com o enganoso municipalismo reforçado e com as rebeliões fragmentárias locais que levaram à multiplicação de freguesias e a ânsias de novos concelhos para efeitos meramente imobiliários (o resto é conversa), inviabilizarem a Região e reforçarem o centralismo que foi sempre a sua bandeira, são os mesmos agora que, a pretexto da crise e da rendição sem condições à troika, anunciam com regozijo funerário a extinção de freguesias e preparam a fusão de municípios. E com isto, a Região perdeu, o centralismo sai reforçado sem apelo e sem deixar margem a grande contestação, e naturalmente que a clientela iludida pelo fogo-fátuo do municipalismo que por pouco não voltava a ser foraleiro com o regresso dos pelourinhos, essa clientela também perdeu ou vai perder. É uma questão de tempo.

Carlos Albino
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Flagrante arrepio : Arrepio mesmo com o nível de conhecimentos, de capacidade e de motivação intelectual que a generalidade dos alunos do ensino superior revela no Algarve. Como é que gente tão atrasada chegou tão longe? E como é que se permitiu que se tivessem atrasado tanto?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

SMS 429. Não o convidem mais, por favor


22 setembro 2011

 Ainda estão dos ouvidos algumas palavras que Alberto João Jardim veio dizer aqui, no Algarve, convidado como estrela da regionalização, por certo com a intenção de motivar os algarvios a imitá-lo um pouco. Por aquilo que destemperadamente ele disse e não tanto pelo tom – cada um tem o tom que tem -, escrevemos que o convidado da Madeira em vez de ajudar, tinha vindo dar uma machadada no objetivo da regionalização, descredibilizando-a. Na verdade, sempre que Alberto João Jardim abre a boca julgando dar uma aula sobre regionalização, o que ele faz é falar de provincianismo, sobretudo daquele provincianismo que se colou à revolta da Maria da Fonte contra os enterramentos fora as igrejas. Mas a Madeira fosse um caso de sucesso de qualquer Maria da Fonte em traje moderno, seria de ouvir Jardim e calar. E não duvido que, se o convidaram a pregar no Algarve, era porque Jardim tinha precisamente a fama intocável de “fundador da Madeira”, pelo que, não havendo ainda “fundadores do Algarve”, o sermão do Funchal poderia estimular a procriação dos ditos. Só que aquilo que acaba de ser descoberto e deixa o país atónito (ocultação de dívidas perto de 1891 milhões de euros com desvio de verbas para isto e para aquilo) transformou o fundador da Madeira no “afundador da Madeira”, Madeira essa que tem menos de metade da população do Algarve e um território que equivale a Albufeira tão esticada como gostaria de se esticar se a deixassem, mas que, através da chantagem da independência, afinal brinca com o orçamento do Estado sugando-o, abusa dos contribuintes portugueses e dá suporte há três décadas à versão portuguesa mais acabada ou amacacada de um ilustre democrata do sertão africano. Por favor, não o convidem mais a pregar no Algarve, que, com os sermões que aqui veio fazer, já estragou muito e já levou a que alguns, mirando-se ao espelho, tenham discursado para si próprios: “Sou o Jardim do Algarve, não sou?”

Carlos Albino
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Flagrante reconhecimento: Discordou-se mas agora damos tardiamente razão a José Apolinário – “Faro é Faro”.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SMS 428. Publicidade e informação

15 setembro 2011

Há por aí grande confusão em determinada cabecinha, entre publicidade e informação. Para essa pessoa tanto faz uma coisa como outra e, pelos vistos, o que o Algarve necessitará é de publicidade, muita e mais publicidade, e a informação, também pelo que já está visto, é mero adorno desse fogo de vista. E então, vá de rios de dinheiro para essa publicidade, para esse fogacho que, como outros fogachos, vai durar um anito, quando muito um anito e meio.  E o comércio algarvio, que está nas lonas, vai nisto.

É claro que a preciosa liberdade de expressão não existe no vácuo – precisa de uma base material que lhe dê sustentação. E essa base, para os jornais e rádios, é uma sólida e variada carteira de anunciantes, cujo suporte financeiro permita a prática de um jornalismo crítico e independente. Os anunciantes e os leitores que pagam as suas assinaturas ou compram em banca o seu jornal preferido, deveriam ser as únicas fontes de receita dos jornais que não sejam meros expedientes ou refinadas aventuras. Cada expediente ou cada aventura que surja fora disto lançará uma justa e real sombra de desconfiança sobre toda a atividade jornalística na região, sobretudo se a obsessão publicitária revelar completa ausência de ética ou dispensar a ética.

Mas, segundo parece, está-se a brincar com coisas sérias. E, mais grave, a brincar num tempo de crise para todos, à exceção, naturalmente, dos brincalhões de paraísos fiscais a quem muitas vezes convirá brincar com o dinheiro como as crianças que jogam às manecas.

Carlos Albino
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Flagrante esclarecimento: Naturalmente que os ditos “jornais de encarte” não são jornais, são boletins e não mais. Um jornal que seja jornal não precisa de ser encartado noutro jornal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SMS 427. A crise dos jornais de cá


8 setembro 2011

Tinha que dar nisto. Os governos com políticas circunstanciais e imediatistas para a imprensa pobre da província que disseram querer apoiar, os municípios a constituírem-se em editores de publicações próprias compensando isso com subsídios informais, a publicidade dos serviços públicos distribuída por critérios difusos e de simpatia, grande parte da publicidade privada por livre arbítrio colada às paredes, as empresas jornalísticas (algumas, pagando as justas pelas pecadoras) brincando umas iludindo-se outras com os apoios ao longo de anos, e os leitores a habituarem-se comodamente à ideia de que os jornais são gratuitos e lhes chegam às mãos por barrigas de aluguer, tinha que dar nisto: semanários que passam a quinzenários, encerramentos. È da crise, mas não é só da crise que o problema vem de longe e é de raiz.

As maiores empresas que operam na região, operam como se não precisassem dos jornais, e pelo que fazem parece que não precisam. As pequenas, desde as funerárias às do espetáculos, também não precisam dos jornais – têm as paredes, bastando umas fotocópias desde as de grande formato às pequenas pagas pela família do morto, um balde de cola e um rapaz a horas. Os municípios fazem as suas agendas em papel couché, os seus boletins, montanhas de folhetos – também não precisam dos jornais para a divulgação institucional das suas atividades e da “mensagem do presidente” que é sempre a mesma. E a culminar, algumas aventuras que começaram luxuosas e acabam em remendadas, encarregaram-se de destruir o sistema de assinaturas próprio do jornal de proximidade. E sendo assim, os jornais não podem viver do ar – sem publicidade, sem assinantes, sem compra direta, têm que fechar.

É certo que o Algarve, contrariamente a outras regiões do País, conseguiu atravessar todo o século XX sem um diário, sem um grande jornal de referência e símbolo da força anímica da província, se a teve ou tem. Teve dois ou três semanários, que continua a ter, mas que, para isso tiveram que fazer das tripas coração. É também certo que os algarvios, na generalidade, não se dedicaram à leituras dos seus jornais como os de outras regiões se dedicam aos seus. Lê-se pouco na região, melhor dito, quase nada se lê., chega-se a casa com o da bola debaixo do braço e a televisão é a maravilha, ou à passagem pelo café basta uma olhadela pela página dos crimes. E sem interesse crítico dos leitores, não foram poucos os jornais que se traíram a si mesmos com “crónicas” de ilustres figuras que ninguém consegue ler ou com intermináveis prosas laudatórias a quem, direta ou indiretamente os foram subsidiando enquanto podiam ou podem, entretecendo-se isso com o noticiário “regional” de agência falando do que toda a gente já sabe, igual em todos os lados.

E temos a pescadinha de rabo na boca: não se lê porque pouco de útil e de bom interesse público há para ler, e não se pode publicar o muito que há de interesse público e útil porque aqueles de quem se depende põem condições, às claras ou às escondidas que às escondidas é o que mais há e impera.

Carlos Albino
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Flagrante apelo: Se querem homenagear José Barão, paguem a assinatura do “Times do Algarve” que os assinantes são a base dos jornais independentes e livres, embora tenham que ser feitos à proporção.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

SMS 426. Cunhas de affecto e de protecçaõ

1 setembro 2011

A protecçaõ que a politica offerecce , naõ he hum simples acto da illustre piedade se em cada hum houver tanto talento para o entender e vem dos nossos Maiores em successiva tradiçaõ pois já elles julgavaõ por periddo aquelle dia, em que naõ protegiaõ a alguém. Assim a amizade de hum deputado pela sua regiaõ que é reyno, poder-se-há ella dar a conhecer, mas naõ se costuma conservar se ninguém beneficciar do seu affecto e naõ usufruir da cunha de protecçaõ. Do fortíssimo empenho, com que um deputado quis que alguns fossem providos no Emprego pode resultar que naõ haõ de ser certamente dignos os seus humildes merecimentos, mas o desvanecimento he maior que a sua utilidade. Disto está o Allgarve cheio e porque tantos em taõ longos annos muitos obraram. Pergunta o reyno do Allgarve a cada deputado porque naõ tem maõ para escrever e preguntar no suave exercício dos seus preceitos, sabendo a razaõ – naõ tem coraçaõ para o amar. Onde ha affecto que naõ seja pella cunha ou pella affectuosa protecaõ, sempre ha tempo para preguntar. He taõ obstinado o silencio dos deputados que ao reúno a que futuro haõ de chamar regiaõ sem ser, já naõ parece silencio, perece crueldade. As cousas mortas, ainda que muitas vezes sejaõ chamadas, naõ respondem; ainda que sejam provocadas, naõ resentem. Tal he a amizade dos deputados pelo reyno, que nem respondem ás frequentes queixas, a naõ ser que venham elleicções que só servem para os acordar de taõ escadloso lethargo, voltando a pedir elles que resuscite a sua morta amizade pello reyno que até se riu daquella cenna sem grandeza do governador civil substituto. E a vinda daquelle outro á nossa quinta, que tantas vezes foi promettida, he como matéria prima, que sempre está em potencia, nunca se reduz a acto, sempre as suas promessas saõ promessas, e sempre as esperanças do reyno ficam esperanças. Todos os passos que daõ, saõ como os dos Planetas retrogados, que saõ inuteis. Mas breve he o dia para subir , e descer escadas de Ministros, e Escrivães; sendo que em huns naõ deixa de haver letras cobertas pello reybo, nem em outros presteza; mas as letras de huns, pelo que papaõ, saõ só de Papiano; e a presteza de outros, pelo que roubaõ, he comoa velocidade de Atalanta com sentido nos fructos de ouro. Mas como os deputados pouco sabem de mitologia, que Deos os guarde muitos annos.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: O autor não escreve segundo qualquer  acordo ortográfico mas em portuguez de 1815, quando havia reyno.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

SMS 425. Passos Coelho, não gostei dessa

25 agosto 2011

Naturalmente que ninguém estaria à espera de que Vossa Excelência anunciasse no Calçadão de Quarteira o fim das portagens na Via do Infante, a reavaliação dos critérios para a chamada requalificação da 125, desse algum alento aos que viram o Turismo Algarvio diluído na aguada do centralismo mais regionalista e até provinciano do que se possa imaginar, ou que fizesse alguma boa surpresa aos que trabalham e vivem na terra onde veio falar, cumprindo o ritual cujo momento, por força do marketing político, as primeiras páginas de jornais esperam, os telejornais preparam para abertura e, por certo, todo o país aguarda seja com dúvida profunda, mera curiosidade ou firme convicção. Falar no Calçadão, mesmo que este seja o Pontal em vão, não é mesmo que falar na praça da Sé de Braga, nos Aliados ou nos Restauradores. O discurso de verão do líder do PSD, esteja no governo ou na oposição, não é o de comício de exceção ou o de ajuntamento para angariar votos. Pelos anos que passaram, é um discurso que faz prova se o líder é tribuno e se, sendo tribuno, faz prova de que aquilo que diz não fica pela forma mas tem conteúdo, novidade e premonição. Daí que depois dos discursos de alguns que outrora falaram nesse ritual já inimitável ainda que sob a fórmula rifada de “Pontalinho”, rarefeitas as últimas palavras, até os apaixonados dissessem logo: “Este não vai lá!”. E não foram pelos indícios que as provas deixaram. É claro que discursos do Calçadão não são para o Algarve, mas faz parte da prova que o Algarve entre mesmo que num breve momento, por deferência à terra anfitriã. E Vossa Excelência tinha bons pretextos para isso, repetindo-se que nesses pretextos não se incluem questões menores como a das portagens, mas, sobretudo a questão de fundo que é a da terra não ser ouvida nem lhe darem explicações sobre medidas em que profundamente se sente afetada e se diz injustiçada por erros de decisão. Mas não! Vossa Excelência passou ao lado dessa mera questão de conteúdo e que a terra anfitriã muito gostaria que referisse ainda que fosse de forma geral e abstrata. Passou ao lado do conteúdo, ficou na forma. Por certo e independentemnete da hora de graça, provou como tribuno mas não deixou um laivo de premonição que é condição sine qua non para que apaixonados, expectantes e céticos digam: “É um político!” Ninguém disse que não ia lá, mas toda a gente reparou na omissão que, se foi calculada, foi mal calculada; se foi uma inadvertência ou conselho, acabou por funcionar como o apagamento da sagacidade que certamente Vossa Excelência terá. Não gostei dessa. E para o ano já é tarde.

Carlos Albino
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Flagrante ortografia: Aqui se declara que, no próximo apontamento, o autor escreve segundo o português do Século XIX. Não fica mal, como leve  apontamento de verão, e até ajuda a compreender a evolução das letras.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

SMS 424. Britânicos, como em toda a parte


18 agosto 2011

O pacífico Algarve que conheceu durante séculos a violência e pilhagens dos corsários britânicos da qual já se esqueceu e nem convém lembrar, acorda sem dúvida sobressaltado com a criminalidade violenta que, não vale a pena disfarçar, tem consequências nefastas na principal atividade da região: o turismo. E no turismo, afetada fica a corrente de turistas britânicos que aqui chegam confiantes em encontrar uma terra pacífica e segura. Mas ninguém, nenhum país, nenhuma nacionalidade hoje, no mundo, pode hoje dizer que dessa água não beberei, os britânicos, designadamente, na sua própria terra de onde partem confiantes, como inesperadamente provaram os recentes acontecimentos em Londres, Manchester, Salford, Birmingham, Wolverhampton, West Bromwich e Nottingham que não propriamente terras como Alcantarilha, Olhos de Água, Almancil ou Guia, nem tais acontecimentos, no seu gigantismo, se comparam aos atos selváticos mas isolados que no Algarve ocorrem e que todos desejaríamos que deixassem de ocorrer, fazendo mais por isso em prevenção e responsabilidade pública.

Parece, todavia, que os britânicos, pelo menos quem os representa, continuarão a pensar que neste mundo atual ninguém precisa de ninguém, ou que as obrigações só competem aos que dos outros precisam ou dos quais dependam de alguma forma, nem que seja por via do turismo que é a via mais pacífica dos povos se cruzarem e se conhecerem, virada que está a página de má memória do corso ao serviço de Sua Majestade.

Vem isto a propósito do que, em matéria de conselhos a turistas britânicos, se lê na página oficial do Foreign Office, dada como atualizada nesta semana que vivemos. Relativamente a Portugal (Algarve naturalmente incluído, sendo o Algarve a principal escolha dos britânicos) lá se adverte que  aqui “há uma ameaça subjacente de terrorismo” e que “ataques podem ser indiscriminados, inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”.  E depois de uns considerandos, certamente para dar mostras de informação no terremo, chega-se ao ponto ou pormenor de recomendar particular cuidado com os roubos nas carreiras de n.ºs 16 e 28 dos autocarros em Lisboa, vá lá, não se citando como particularmente perigosas a carreira para o Parragil ou a que passa pela primeira curva à esquerda para o Montechoro. Isto dito com Tottenham em polvorosa, não é apenas ridículo – é inconsciência a roçar em zelo sedicioso contra os próprios.

Deixemos os pormenores e vamos ao essencial. Não sei se a embaixada portuguesa em Londres leu ou tomou conhecimento dessa advertência britânica aos seus turistas que se preparam para viajar de que em Portugal há uma “ameaça subjacente de terrorismo”. Se leu e tomou conhecimento, e não fez nada, nomeadamente pedindo explicações para essa “ameaça subjacente”, é mau. Imaginam um pacato turista britânico que parta para o Algarve, informado de fonte oficial de que pode ser alvo em Portugal de um “ataque terrorista indiscriminado inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”? Não é demais? É. E o que é demais não presta.

Carlos Albino
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Flagrante heroicidade: A dos jornais regionais do Algarve que resistem – do Algarve e não tanto no. Fazer das tripas coração é que dá mesmo problemas cardíacos. 

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SMS 423. Muro das provocações

11 agosto 2011

O défice democrático tem duas faces, qual delas mais tenebrosa, não sei: por um lado, há défice, quando o poder e seus intermediários agem sem diálogo, abusando da autoridade e impondo à força decisões que põem em crise o interesse geral e o bem comum; por outro lado, também há défice, quando o cidadão não usa os meios legais e legítimos para se defender do abuso de poder, das deliberações injustas e da violência autoritária. É por isso que o poder, se é democrático, tem que ouvir e explicar, e que o cidadão deve conhecer os meios que tem à sua disposição para agir e retificar desvarios. Vem isto a propósito da estrada 125 sobre cuja anunciada “requalificação” sempre aqui manifestámos dúvidas.

Um pouco de história. A Via do Infante, inicialmente prevista como mera via rápida e depois mascarada de auto-estrada, foi lançada e aceite para aliviar a 125, substituí-la até onde a 125 era já a estrada da morte, como o povo a batizou, porque era. A Via do Infante não foi portanto um luxo, foi a alternativa para o Algarve ter uma travessia segura, unindo as terras porque a 125, com a explosão urbanística e a evolução natural das coisas, deixou de ser estrada, mas em longuíssimos quilómetros, uma rua ou avenida ad  hoc, ao mesmo tempo que vilas e cidades foram planeando as entradas e saídas em função do novo traçado longitudinal que por isso mesmo, e não tanto por dois ninhos de águia dos ecologistas de trazer por casa, não foi remetido mais para a serra e longe dos centros urbanos. E o Algarve acomodou-se a essa solução, a vida corria normalmente sem que os algarvios sentissem que a “via rápida” mascarada de auto-estrada era uma situação de exceção e de privilégio no País. A vida corria calma até que surgiu essa ideia peregrina das portagens e com tais portagens o poder se lembrasse fazer na 125 o que podia e devia ter feito antes da explosão urbanística e antes que fosse estrada da morte – requalificá-la com critérios de emergência e à maneira do trolha arvorado em mestre de obras.

E então aí temos a 125, com traços saídos dos estiradores e do ar condicionado dos gabinetes, a ser refeita não em função das pessoas e do Algarve (que também tem pessoa) mas das portagens da outra via que nasceu para a substituir como estrada da morte. À força querem agora transformar a 125 na alternativa à estrada que nasceu como alternativa. Insuportável, claro. Tanto mais que, como se previa, a 125 só teria uma solução com longos separadores centrais e que por serem separadores, separam mesmo – separam vizinhanças, casas comerciais, serviços, a porta do primo que mora em frente, bens, separam tudo, numa extr4ema violência para o dia a dia das pessoas. E tudo isto sem discussão pública, sem explicação pública, assim por decreto e trolha a cumprir decreto, acrescentando mais uns quilómetros de muro aos quilómetros de muro já implantado, pois de muro se trata.

É muro. Por motivos bem diferentes, o mundo já conheceu o Muro de Berlim e também por outros motivos mais confessáveis, há muito que conhece o Muro das Lamentações. O que não se esperava é que o Algarve viesse a dispor como sucedâneo da estrada da morte, um Muro de Provocações. É uma provocação à região e Mendes Bota só fez bem em pedir à população lesada que use os meios legais e legítimos que a democracia disponibiliza. E os outros deputados só fizeram mal numa coisa: não aparecerem junto dos cidadãos lesados. Assim não se requalificam.

Carlos Albino
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Flagrante consequência: Aí se disse que sete escolas do Algarve vão perder 74 lugares com um número apreciável de professores com horário zero. A “catástrofe” está em que pouco ou nada fizeram para terem força moral para impedir isso. Pois que força moral face ao ranknig das escolas da região e ao deplorável grau de qualificação dos alunos algarvios? 

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SMS 422. Devia ser moda geral

4 agosto 2011

Dando uns pespontos de moralidade na bainha da saia larga do Estado, entendeu o governo, e bem, publicar as nomeações de quadros e designações de colaboradores para os gabinetes dos ministérios, e, além disso, os respetivos vencimentos em valor bruto mensal. E em hora de internet, criou um portal para o assunto que prometeu manter “atualizado” – e já colocamos aspas. É um pequeno embora conveniente gesto para pôr travão à fama dos boys que ascendem pela calada, à suspeita das mordomias que se movimentam atrás dos biombos, à convicção geral de que na peugada de cada ego político e cheio de poder segue uma legião de protegidos que entram sem concurso, vegetam sem escrutínio e sobem na vida por estratagema e esperteza. Por vezes, admita-se, à fama não equivale a verdade, à suspeita não correspondem os factos, e para a convicção que se espalha não se encontram fundamentos. Mas lá que isto parece um mar de boys e um oceano de mordomias, parece. E tem sido. Tem sido a todos os níveis – na administração central e local, nas grandes empresas públicas e nas empresas municipais. Além das nomeações diretas e acumulações nada éticas, são concursos feitos como fato talhado para o corpo e com pré.aviso do alfaiate, são jeitinhos e aproveitamentos nas nesgas da lei. O que é preciso é que tudo pareça “legal”, com aspas, claro, pois o Diário da República encarrega-se do resto já tarde e a más horas, meses e meses depois do facto consumado. Temos tido de tudo e até alguns bons ladrões têm aparecido com ar de crucificados ao lado do filho de Deus eleito para o sacrifício da causa pública.

Nos Estados democráticos que seguem a democracia com rigor, e muito antes da internet, essa é uma prática corrente, porquanto a transparência pode ser escrita até em papel de cartuxo, desde que se queira e essa seja a regra assumida e praticada. Para se dar contas das decisões públicas e pagas pelo contribuinte, nem é preciso meios sofisticados – basta querer e ter o sentido de responsabilidade pública. De ética, no fundo.

Só que o exemplo que vem lá de cima, pequeno pesponto, repita-se, na saia larga do Estado, devia ser moda geral. Ainda quanto ao governo central, as nomeações e designações para direções e delegações regionais, além da informação atempada sobre quem e para onde, deviam ser acompanhadas pelos currículos que fundamentem tais decisões. E cá mais para baixo, os municípios e empresas do seu âmbito, para já, deviam ter um local onde ficassem patentes as nomeações e designações que fazem, com nomes, caras, motivos e vencimentos. Admita-se que pode haver por aí muita suspeita sem correspondência com os factos, mas também há por aí muita gente a cair do céu e alguns bons ladrões de pára-quedas. As decisões tomadas com base na mera “confiança política” foram longe de mais pelo voluntarismo de reputados jogadores, e tão longe que fizeram com que este pobre Estado tenha uma saia larga. O eleitor que é, ou será também contribuinte, sabe disso, e é por isso que muitos perderam a confiança na política quando a política deveria ser um bem a preservar a todo o custo. Sobretudo a Política em Democracia, com letra maiúscula e sem aspas.

Percebeu, meu caro jogador? Ou quer que “eu o aprenda”, como outrora o filho do pescador dizia para o menino rico na Praia do Monte Gordo?

Carlos Albino
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Flagrante professorado: Vem aí novo ano letivo e os professores do Algarve, melhor dito, as suas estruturas e organizações no Algarve, nem uma palavra debitam, muito menos uma reflexão, sobre o estado do ensino na região, melhor dito, sobre o seu próprio estado. Lamentável, dado o panorama, melhor dito, dada a lástima salvo honrosas exceções, melhor dito, salvo heróicas exceções.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

SMS 421. O “nosso” elefante

28 julho 2011

Não gostaria de voltar a este assunto, mas tem que ser. Por aí ficou preto no branco que, pelo Estádio Algarve, a Câmara de Loulé paga 2,1 milhões de euros por ano enquanto a parceira Câmara de Faro paga apenas 900 mil euros, portanto menos de metade. E é com tais pagamentos que temos um estádio com o nome “Algarve”  mas às moscas, não fossem em todos estes anos uns desafios da II Divisão, três sacrifícios do Portimonense, um recurso afluente do Guadiana, e uns festivais, além do rali – tudo somado, muito pouco para compensar o esforço financeiro de Loulé sem fama nem proveito e o de Faro com fama. Mas é esse o nosso estimado elefante que custa a erário público 3 milhões de euros. Nem quero imaginar se tal montante fosse gasto num plano de combate à relutância da leitura, já não digo nos dois concelhos da obra – Faro e Loulé, mas em todo o Algarve! Seria um escândalo destinar três milhões de euros para que os jovens de modo geral não entrem cada vez mais parvos para as universidades, pagando a melhores professores do que os muitos que por ai andam a fazer de conta. Todavia, segundo parece, para se manter um elefante branco, o dinheiro, todo o dinheiro é bem empregue e poucos questionam, tal como ninguém questionou o slogan que durou durante toda a construção daquele estendal: “Construímos vitórias!”, era assim, quando deveria ter sido – “Construímos Buracos!”. É claro que, para além do estádio há o Parque das Cidades que, se é Parque ninguém deu por isso, e se é de Cidades, é de ver bem isso, quais são as cidades que se dão a esse luxo com fama e proveito.

Quando, por ocasião do lançamento da ideia do estádio, dissemos frontalmente ao direto responsável governamental da ocasião que, para ali, seria melhor um projeto mais integrado comunitariamente, com valências rentáveis e interligadas com a região por exemplo com o alvitre de um velódromo coberto, recordo-me da resposta - uma gargalhada. E ainda hoje ouço essa gargalhada quando vou àquele descampado verificar se houve alguma evolução da espécie e se a direção do vento mudou... enfim este pequeno pormenor que não se nota no estirador de arquiteto ganhador de concursos mas que não pode ser descurado por quem conta as notas de euros ao ar livre. E as notas, ali com a ventania do cerro da Goldra como voam! E como voam mais a de Loulé que as de Faro, cidade esta que não será com São Brás e muito menos com Almancil que vai compensar aquilo... Pelo contrário, fará aumentar a ventania.

Carlos Albino
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Flagrante mestra: Aquela rapariga de Guimarães que há um ano provocatoriamente e com toda a proa esvaziou as praias do Algarve, foi apeada pelos próprios de Guimarães. Só que a indemnização daria para pagar refeições escolares a crianças carecidas em três concelhos... Grande mestra!

quinta-feira, 21 de julho de 2011

SMS 420. Que assim seja. Todavia…

21 julho 2011

É um dado confortante que o cidadão, sem execção de ninguém e para ninguém, aceite contribuir para o salvamento do país – o mal começa com as suspeitas de exceções e, depois, a agravar, com as provas de que bastantes têm artes para se isentarem, fiados naquele lema segundo qual o segredo é a alma do negócio do momento. Já é um dado menos confortante que os governantes, levados pelo voluntarismo, não expliquem as medidas que decidem, ou que, quando as explicam, ficam pelo “modo geral”. Vem isto a propósito das portagens na Via do Infante, cuja explicação ficou pelo “modo geral” ou na justificativa de arrecadar receitas a todo o custo, seja onde for e, já agora, contra quem for. Portanto não se explica, não se ouve os argumentos de quem discorda, não se responde, como se o poder central, para ser central, tivesse que ser hipertrofiado e hegemónico para o funcionamento do País. Perante a crise, o grito das instituições naturalmente que deve ser escutado pelo cidadão, mas também para resolver a crise as instituições devem ouvir o grito do cidadão. A crise é o problema, um problema que está formulado, todavia não se dê o caso de à crise se sobrepor uma crise maior – a da desconfiança do cidadão perante poderes que não escrutinam minimamente como o bem comum pode e deve ser conciliado com o interesse geral, sobretudo nos temas que se converteram na caixa de ressonância da generalidade dos cidadãos sem os quais as instituições ficam a falar sozinhas – o que será mau, como doença. As últimas eleições deram a lição magistral de como o cidadão reage quando verifica que os dinheiros públicos são usados como pau para toda a obra, pelo que será aconselhável também que os governantes se interroguem sobre os motivos pelos quais os cidadãos reagem quando a crise é usada como obra para todo o pau.

A Via do Infante não é um caso particular e como tal atendível? Então digam porquê, como e que alternativas há cujo teor tenha relação direta e útil com o que está em causa, pois o que está em causa é apenas a única ligação longitudinal de que o Algarve dispõe neste acumulado de erros e virtudes com que a região chegou ao século XXI. A estrada 125 é uma estrada dos anos 40 do século passado e, repete-se, não é com 435 rotundas que o tempo volta para trás. Entre Lagoa e Portimão nada tem a ver com o ermamento de outrora onde o Pragal era um desconfortável oásis para operários conserveiros; entre Faro e Tavira nada tem a ver com os bucólicos postais ilustrados dos anos 50 – onde estav uma pita, está uma urbanização; entre Portimão e Lagos até Vila do Bispo, nada fica isolado e no cu de Judas; entre Tavira e Vila Real de Santo António é uma passadeira para uma Espanha que já não fica no Egito mas ali, vizinha de que até nem se tira partido pelo facto de Sevilha ser mais fácil que Lisboa, e Huelva apenas a outra margem; Silves poderia perfeitamente voltar a ser capital e com bispo na Sé; também só um psicopata ainda vê Albufeira como aldeia piscatória com duas tabernas, pronúncias envergonhadas e uma ribeira intransponível para os remexidos de trazer por casa; Loulé mescla-se com Quarteira tal como Faro se mescla com Olhão. Enfim, eis o Algarve que mais não é do que uma extensa cidade do litoral, com a população de Braga e, ironicamente, mais helénica do que no tempo de Teixeira Gomes, agora sim com uns bairros a fingir de cidades, outros de vilas e a 125 como rua do seu interior a que as 435 rotundas vão dar aspeto de beco sem saída para gáudio dos gabinetes de arquitetura e de engenharia que têm a sorte de pegar em mais este pau para bonita obra.

Assunto para continuar.

Carlos Albino
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Flagrante multiplicação: Com a neutralização do governador civil (M/F, como nos empregos), espantosamente estão a surgir os governadores civis substitutos. Agora é que acordaram?

quinta-feira, 14 de julho de 2011

SMS 419. O futuro do PS cá da terra

14 julho 2011

Interessa a todos. O futuro do PS, sobretudo o cá da terra, interessa tanto como o do PSD, o do PCP, o do CDS, o do BE, e de cada um dos demais, desde que sejam legais e concorram, tenham conseguido assentos parlamentares ou não, estejam representados somente numa assembleia de freguesia do monte ou estejam em todas, tenham poder ou não. Os partidos, no seu conjunto, formam o retrato político da terra e, gostemos ou não dos primos, sejam ou não parentes afastados ou mesmo parentes de pára-quedas, é a “família” que temos e perde o Algarve se a família for má. Agora, naturalmente, é o PS que está em causa, havendo aí uma parte que é restrita e das contas da casa, mas outra parte que é pública e do interesse público. E o PS está mal.

Primeiro, porque viveu ao sabor, ao ritmo ou por inércia das vitórias ou derrotas do líder nacional de cada momento – raramente se questionou, nos últimos anos, pelas causas próprias (não culpas), pelos motivos próprios (não interesses) e pelas responsabilidades no próprio cartório (não conjunturas lá decima). Segundo, como de resto é mal geral a todos os partidos, esteve sempre aberto a todas as críticas, sem dúvida, mas cada crítica ou foi tratada como armadilha da oposição, ou remetida para a prateleira dos ataques classificados como pessoais. Terceiro, viveu dos resultados – às mil maravilhas, camarada, quando se revelaram favoráveis, vitimando-se, apelando à misericórdia geral por ocasião dos tombos e enganando-se com aqueles cálculos primários de que amanhã é um novo dia, virando-se o disco e tocando a mesma música.

Ora se os partidos existem para conquistar o poder pelo sufrágio, é também pelo poder que conseguem conquistar e pelo número e qualidade dos protagonistas da conquista, que os partidos valem. Mais ou menos.

E o que é que o PS cá da terra conquistou? Pouco. Dois deputados, numa lista em que a figura do quarto lugar deveria ser a primeira, com uma terceira ninguém sabe porquê mas na expetativa de alguma renúncia, a primeira figura com interesses políticos manifestamente longe do Algarve (ou pelo menos longínquos) e a segunda figura que nem atou nem desatou, quando deveria ter atado logo nas legislativas de 2009 e desatado antes destas últimas, as de junho.

É que não basta ser voz no Algarve, é preciso ser voz do Algarve – é isso que o eleitorado exige, espera e reclama dos deputados eleitos, mesmo daqueles a quem não destinou o voto. E para ser voz do Algarve é preciso corporizar os interesses, as aspirações, as razões e sobretudo as condições que o Algarve entende como necessárias para o seu bem comum. Ninguém exige a um deputado algarvio que seja contra o Alentejo, uma boca aberta contra o Norte, um arqueiro medieval contra o Oeste ou um artista de circo contra o poder central. O que se exige é atenção política, corpo inteiro e alma viva, e particularmente do PS que não saia pela esquerda alta.

Claro que o Algarve precisa que o PS tenha isso, seja isso, como precisa que cada um dos restantes partidos tenham isso e sejam isso, porque se não tiverem e não forem, vão ver. É uma questão de tempo – para se enganar o eleitorado é preciso ter maior memória que este… o que é impossível, em democracia. Tirem os cavalinhos da chuva.

E a pergunta que inevitavelmente se coloca será esta: conseguirá o PS dar a volta por cima, conseguirá reagrupar-se para enfrentar o que o calendário democrático impõe – autarquias, para já, legislativas lá mais para a frente? E neste parlamento? O que é isso?

Carlos Albino
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Flagrante criminalidade: Naturalmente que nas esquadras não se combate o crime lendo calmamente os jornais que recebem em primeira-mão as notícias do próprio crime. E quando crime é já algo muito próximo do terrorismo, há que haver mobilização. Não é a palavra?