27 outubro 2011
O conhecido governante por aí se desdobrou a dizer que há vida para além da austeridade ou além
do Orçamento. Se ele se referia à vida no outro mundo, enfim, cada um tem
legitimidade para acreditar no que entender. Se ele se referia à vida neste
mundo e da qual apenas fugimos por razões alheias à nossa vontade, isso deve
ter sido brincadeira ou infantilidade. O país enfrenta um recorde de défice e
uma dívida pública insustentável a garrotar o crescimento e a asfixiar o emprego,
e não vive isolado numa crise – ela é deveras vasta, incide desta ou daquela
forma em todos os países colocados durante décadas na prateleira dos
desenvolvidos e ameaça alastrar aos chamados países emergentes cujo êxito tem
sido muito à conta dos maiores atropelos a direitos fundamentais do ser humano
para obter trabalho barato e engenheirar economias competitivas, tão competitivas
que provocaram esse fenómeno incontornável da deslocalização de empresas dos
mais desenvolvidos para os menos. Portugal quer exportar mais, e é bom que o
faça, e importar menos, sendo também razoável que também o faça no muito que é
desnecessário e prejudica a produção interna, mas como a nossa crise não é só
nossa, é sobretudo dos outros e em grande parte por causa de alguns outros, os
outros também querem exportar mais e importar menos… O mesmo com a captação de
investimentos, com o turismo, por aí fora – se nós, em crise, queremos crescer,
os outros também querem, pelo que ou impera a abominável lei do mais forte ou
se acendem conflitos que, como todos os conflitos, começam por rastilhos de que
nem sempre nos apercebemos e até menosprezamos. Ou seja: estamos metidos num
imbróglio de todo o tamanho, e quando isso acontece ou se prevê que esteja para
acontecer (o governo anterior desdenhou avisos e advertências), o mínimo que se
exige a um governo é que não tenha brincalhões. É que não há vida fora da prosperidade
ou fora da austeridade.
Carlos Albino
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Flagrante evidência: Quanto às freguesias, se decretarem, o que podem fazer? Nada. E nada porque alguma força que por aí se simula mais não é do que localismo exacerbado e isso não é força – é incapacidade de argumentação.
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