quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

SMS 198. Mas porque será que Ben Laden quer estoirar com o Algarve?

Nota importante: Este apontamento motivou um esclarecimento por parte do Dr. Teófilo Santiago, aqui citado, e se publica em SMS 199 AQUI.

22 Fevereiro 2007

Ninguém acredita que Miguel Freitas, como líder do PS/Algarve, ande por aí a fazer caricaturas de Maomé; ou que Mendes Bota, em nome do PSD cá de baixo, tenha gravado um CD blasfemo, muito menos que Macário Correia tenha mandado alterar a letra do hino para versos anti-sarracenos. E não passa pela cabeça de ninguém que o bispo do Algarve tenha canonicamente decretado uma cruzada contra os mouros abortivos da costa. Ninguém também acredita e muito menos se recorda do exército do Algarve, que mal tem fardas e nem limpa-metais tem para o cornetim, ter participado em guerras contra o Islão, como não consta que alguma câmara algarvia se tenha recusado a ceder terrenos para campos de treino de talibãs, além de que é improvável que o governador civil António Pina tenha dado ordem de expulsão aos cônsules honorários de repúblicas islâmicas fundamentalistas ou recambiado para a Mauritânia a mão de obra clandestina que em vez de assentar tijolos andará por aí a cimentar corões nas paredes de cada um.

Apesar deste cenário pacífico, o director nacional adjunto da Polícia Judiciária, Teófilo Santiago, entendeu proclamar que o Algarve «é o alvo preferencial» de um ataque do terrorismo islâmico em Portugal – não «um alvo», mas «o alvo». Fora de brincadeiras, porque já estamos na Quaresma, a proclamação do responsável da Judiciária foi infeliz, inoportuna, desnecessária, imprudente, descabida, inconveniente, despropositada, insensata, imponderada, extravagante, leviana e passível de penitência.

A três meses da presidência portuguesa da UE, sem que haja indício de força maior, motivo aparente ou justificação razoável, obviamente que a proclamação de Teófilo Santiago de que o Algarve «é o alvo preferencial» de um ataque do terrorismo islâmico em Portugal, mesmo que a coisa tivesse ficado entre polícias, leva a perguntar a Miguel Freitas, a Mendes Bota, a Macário Correia, ao bispo do Algarve, aos comandantes das forças militares estacionadas no Algarve, a António Pina e aos 16 desarmados presidentes de câmaras: «O que é que vocês fizeram para que o Ben Laden queira estoirar com o Algarve?»

Carlos Albino

Flagrante contraste: Alexandre Alves e Alexandre Alves.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

SMS 197. O sismo e outros tremores

15 Fevereiro 2007

1. Não se entende, é que não se entende mesmo, como se chega a 2007 sem que haja um plano de emergência sísmico para o Algarve. Diz o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil que está a desenvolver «trabalhos relativos à caracterização do risco sísmico e de tsunamis para a região»… Ainda está a caracterizar o risco! Mas então o risco não é evidente, não está comprovado e não é previsível? Ainda é preciso caracterizar? Isto faz lembrar o helicóptero do Hospital de Faro.

2. O corte de 45 por cento nos fundos comunitários para o Algarve, aí está. E essa explicação do secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, Rui Baleiras, segundo o qual «se não tivesse havido negociação política a redução teria sido de 76 por cento» faz lembrar aquele homem que sentindo uma violenta e persistente dor de cabeça, deu uma fortíssima martelada no seu próprio crânio para que, com essa maior dor, deixasse de sentir a dor da causa real. E se Rui Baleiras deixasse de dar marteladas na cabeça dos algarvios, não seria mais sensato? Essa da «negociação política» ou é papas ou é bolos.

3. José Apolinário acaba de defender «uma maior celeridade» na criação da Região Administrativa do Algarve. Refere-se à celeridade do Governo em conceder tal dádiva, ou à celeridade da região em exigir e pressionar, organizando-se com maturidade política, assente num escol de políticos e recolocando credibilidade na Política?

Carlos Albino

Flagrante semelhança: entre o tal nefasto lema segundo o qual «Obedece e saberás mandar!», e o carreirismo político.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

SMS 196. Uma questão de alma

8 Fevereiro 2007

E vou ser claro: digo Sim, no dia 11, antes do dia 11 e depois do dia 11. E digo Sim para que se abra uma porta das poucas portas aceitáveis, senão a única, para que, sem equívocos e sem hipocrisias, se comece a acabar com o aborto clandestino e com as desmanchas, até que, algum dia, todos os que queiram ter um filho o tenham por gosto. É preciso tender para isso e fazer tudo para que esse dia chegue. A despenalização, o aconselhamento e a assistência são os três pilares indispensáveis para esse edifício moral de que a sociedade carece. Deixemo-nos de equívocos e de hipocrisias.

Por formação, a que não posso fugir, se há coisa que profundamente me toca é o mistério da vida que, além de me tocar, fascina-me precisamente por ser mistério, e, neste mistério, a questão da alma, da alma racional, da alma humana é ponto central. Quando e porque é que é essa alma racional começa a ter existência na evolução da espécie de corpo que temos, é a questão que a ciência escrutina e as religiões fazem por intuir, designadamente o cristianismo que nega o baptismo e proíbe exéquias eclesiásticas aos fetos abortivos mortos, nem sequer sob condição, e por maior força de razão, aos embriões inviáveis – isso está claro no direito canónico, no antigo e no que vigora desde 1983. E com isto, o cristianismo impede, no seu âmbito, que os embriões e fetos gorados tenham nome porque, nesse entendimento, não terão recebido aquela alma que nos distingue das plantas e dos animais – a alma humana. Felizmente que, nesta matéria, o cristianismo não pensa como o islamismo e como o hinduísmo, sendo chocante que alguns hipócritas, por uma questão política, não sendo a questão política, e por uma questão partidária, não se percebendo como é que os partidos se metem nisto depois de abdicarem do uso dos poderes de legislação, lavando as mãos e remetendo o caso a referendo popular, pois não se percebendo como é que alguns católicos têm sobre a origem da alma e o momento de haver alma humana, os mesmos argumentos dos islâmicos fundamentalistas. Sou agnóstico, mas se tivesse que ser assim, confesso, preferiria que fosse Deus a criar a alma humana como os católicos acreditam e não como os islâmicos impõem, tal como prefiro que seja a Mulher a escolher responsavelmente – e oxalá que todas escolhessem – que o embrião que eventualmente transportem, receba essa dádiva misteriosa, para alguns divina. Os machos hipócritas não têm legitimidade para criminalizar quem queira ter uma cumplicidade humana com um Deus civilizado que o fundamentalismo, qualquer fundamentalismo não oferece.

E por causa desta deriva, hoje não há flagrante contraste.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

SMS 195. Fechar o Consulado de Sevilha, é não perceber o Sul do País

(Edifício do Estado)


1 Fevereiro 2007

Naturalmente que não posso estar de acordo com o facto do Consulado de Sevilha, posto de carreira, volta e meia, servir de sinecura ou de refúgio a diplomatas portugueses sem brilho, sem golpe de asa, com passado profissionalmente controverso ou até pela conveniente proximidade de informal residência no Alentejo. Volta e meia acontece isso. Mas uma coisa é acabar com essa apatia ou estagnação do consulado que se limita a fazer o que por obrigação tem a fazer e não mais, e outra é encerrá-lo, erradicando-o do mapa consular português como extensão da Administração do Estado, mais grave, como braço do que devia ser estratégia do Estado. O Embaixador de Portugal em Madrid, Morais Cabral, tem carradas de razão ao insurgir-se contra esse critério, e carradas de razão tem o deputado Mendes Bota ao considerar que isso «é um colossal erro estratégico». Mas lamento que as chamadas «forças vivas» do Algarve não percebam que assim é, juntando-se a este mal, o mal de Lisboa em, mais uma vez, não perceber o Sul do País. Em tempo e muito antes de tais reparos, disse isto mesmo ao secretário de Estado António Braga e não retiro uma palavra.

A argumentação de Mendes Bota quanto ao intenso movimento do consulado, ao facto das receitas serem cinco vezes superiores aos custos de funcionamento e o edifício custar zero ao Estado – edifício valioso patrimonialmente e em imagem - , é válida, mas o valor estratégico desse consulado supera ou deveria superar em muito esses considerandos. O Consulado de Sevilha devia ser de facto um posto avançado dos interesses do Estado na Andaluzia, e, nesses interesses, os do Algarve contam com peso, conta e medida, o que, obviamente, nada tem a ver com sinecuras de diplomatas alentejanos ou com quintas no Alentejo. Sevilha é um ponto estratégico para o Algarve e o fecho desse consulado vai contribuir para o cerco do Algarve, para cavar mais o fosso da dependência que fragiliza o Algarve e em nada aproveita o País – apenas o prejudica também.

Fechar o Consulado de Portugal em Sevilha equivale a dinamitar a Ponte do Guadiana, salvas as devidas proporções e engenhos, tal como manter o consulado na mera rotina da prática dos actos consulares e na estéril tradição dos mangas de alpaca é o mesmo que voltar as costas à Ponte de Alcoutim, como foram voltadas. Como é que o erro pode ser evitado ou emendado, não sei. Mas que é erro, é. E grande.

Carlos Albino

Flagrante contraste: Os avisos da Universidade do Algarve sobre o inevitável avanço do mar e alguns PIN que são autênticos abortos e cuja interrupção voluntária da gravidez deveria ser imposta, a bem da mãe terra, do pai mar e dos afilhados da política. Mas não digam isto a Fernando Santos que é para a gente ver o que nasce.