Na semana passada, para aqui dissemos cobras e lagartos do Director Nacional Adjunto da Polícia Judiciária e máximo responsável pela Direcção Central de Combate ao Banditismo da PJ, Teófilo Santiago, por lhe ter sido atribuída (incorrecta e indevidamente, como se vai ver) a afirmação de que «o Algarve é alvo preferencial de um ataque do terrorismo islâmico em Portugal». O caso chegou a dar manchete em matutino espampanante mas credível nestas coisas, correu e, naturalmente, foi alvo de reparos. Deveras, a afirmação foi proferida, mas como sempre, nesta sociedade que desejávamos responsável, o autor do genial disparate não reivindicou a autoria, o que devia ter feito mas não fez – calou-se, baixou à trincheira do silêncio, por certo à espera que o barulho da guerra que provocou, acabasse. O visado errado que explique a sua inocência, terá pensado quem de facto disse aquilo com direitos de autor que não abonam a glória.
Ora, assim acabou por acontecer. Cercado pela crítica injusta, designadamente a nossa, o alto responsável da PJ, encurtou o caminho e com evidente polidez e resguardo, escreveu-nos isto mesmo:
- «Relativamente ao assunto em epígrafe, convém esclarecer que a afirmação seria de facto irresponsável se tivesse sido por mim proferida como se refere. Só que tal não aconteceu como, de resto, já foi manifestado ao jornal Correio da Manhã, ficando a aguardar a devida correcção. Aquela afirmação, ou algo parecido, terá sido expressa por alguém na cerimónia de encerramento da Conferência, sendo que o signatário já nem sequer se encontrava presente.
Fica o esclarecimento.
Cumprimentos.
Teófilo Santiago
E foi um alívio! De há muito, tínhamos pessoalmente, mas com cultivada discrição, o maior apreço pelas qualidades profissionais e nível intelectual de Teófilo Santiago, tendo sido uma surpresa dolorosa quando vimos atribuído um dislate daqueles, não a um cidadão vulgar, mas ao Director Nacional Adjunto da PJ, para mais responsável pela luta contra aquilo por todas as pessoas probas e de bem lutam – o banditismo.
Então quem foi? È a pergunta.
Bem! Quanto a isso, o esclarecimento acabou por nos chegar por outra via, a de quem presenciou e organizou a conferência «Globalização, Segurança e Terrorismo». E o que ficámos a saber? Que «tal afirmação foi de facto feita na dita conferência, mas não pelo Dr.º Teófilo Santiago, mas sim pelo Senhor Secretário de Estado Adjunto da Justiça, Dr.º Conde Rodrigues», acrescentando-se, por outras palavras, que este governante terá chegado àquela conclusão pelo raciocínio analógico sobre o que se ocorreu em complexos turísticos no Egipto e na Indonésia e, mais recentemente, com a preparação detectada de um atentado numa estância de desportos de Inverno em Espanha.
Não nos vamos alongar. Mas não se resiste dizer com clareza que Conde Rodrigues teria sido mais sensato se, pela mesma linha do raciocínio analógico que é a última coisa que a cabeça perde, afirmasse que o Algarve, tanto quanto se avalia, é seguro e está fora do alvo do terrorismo fundamentalista islâmico por não possuir estações de metro como Londres, terminais ferroviários como Madrid, até mesmo torres gémeas como Nova Iorque, e, argumento máximo, pelo facto das populações pobres do interior não serem uns sunitas contra os chiitas de passagem do litoral.
Aquela afirmação, fica-se a saber, proferida por Conde Rodrigues é mais uma a comprovar a banalidade e irresponsabilidade do discurso político em Portugal, nos tempos que correm. Fez uma figura triste.
E é triste.
Carlos Albino
Flagrante contraste: Conde Rodrigues (acima, na foto), em algum dia encalorado, a comer calmamente salmonete grelhado na Ilha de Faro , e directores de hotéis, turistas, músicos da Orquestra do Algarve, actores da Acta, as Nagragadas e até as crianças da Emergência Infantil a fugirem dele, contando comigo, claro, nessa fuga.
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