O ministro Manuel Pinho agrediu o Algarve e os Algarvios. O caso de Allgarve já se transformou num vasto anedotário nacional que ombreia, em êxito, com aquele velho chavão racista segundo o qual algarvios, marroquinos e cães de caça são todos da mesma raça, aliás acordou o chavão. E com essa agressão, segundo creio, colocou mal deputados socialistas e eleitos locais socialistas que, de modo geral, ficaram sem palavras, pois se viessem com palavras a favor dessa brincadeira de analfabetos e iletrados do marketing irresponsável, ficariam ainda mais mal colocados do que no silêncio em que se fecharam a sete copas. Ainda me recordo do humorístico barulho do PS quando se alterou a placa de Poço de Boliqueime para Fonte de Boliqueime (como sempre foi, de resto, pelo que aí sim deviam ter-se calado). Agora é pena que, perante este Allgarve de iletrados, se tenham fechado em copas, perdendo uma excelente oportunidade para provarem que não estão apenas em bons empregos políticos ou vivendo à sombra da política, mas sobretudo que estão em funções políticas com o sentido da responsabilidade.
Na verdade, eu não gostaria de ter de concordar tantas vezes seguidas com Mendes Bota, preferia concordar com Miguel Freitas, como Mendes Bota sabe. Mas tenho de concordar com Mendes Bota. E mais: agradecer. Mendes Bota, como deputado eleito pelos Algarvios fez o que tinha a fazer contra a apreciável aplicação dos dinheiros públicos numa campanha que vai desvirtuar o nome do Algarve em redor do mundo – mundo este onde o nome do Algarve não precisa de ajudas do ministro Pinho para ser conhecido, quando precisaria era das suas ajudas, como ministro da Economia, para se tornar numa Região melhor e com mais meios e instrumentos de desenvolvimento e progresso. Eu sei que aos marroquinos e aos cães de caça tanto faz que seja Algarve como Allgarve ou ainda Alarve. Mas aos Algarvios isso não é indiferente porque tem a ver com a nossa indesmentível identidade, com a nossa inquestionável sensibilidade e com a nossa legítima dignidade.
Mas o caso é mais grave porque, segundo parece, a ideia proclamada por Pinho teve o apoio de responsáveis da RTA. Gostaria de me enganar - a RTA não tem nenhuma legitimidade para se pronunciar sobre a alteração abusiva do nome histórico da Região para fins de eficácia duvidosa e com efeitos nefastos no que de nós fica na memória mundial, porque fica se a campanha não for de imediato cancelada, como se reclama, como se exige e como se torna imperativo antes que surja um movimento consolidado de repulsa. Não nos conformamos com iletrados no poder.
Aliás, não basta cancelar. O Governo e alguém da RTA têm que pedir desculpa e pedra sobre o assunto.
- Desculpe-me Luís Vicente, ainda não é desta que vou falar da ACTA e do seu magnífico Ricardo III, por razões óbvias. Os Ricardos III vivos, têm prioridade mesmo sobre um Ricardo III magistralmente representado.
Flagrante profecia: A previsão do secretário da Justiça, Conde Rodrigues, de que o Algarve é um alvo preferencial do terrorismo islâmico, cumpriu-se: o ministro Pinho bombardeou o secular nome do Algarve e fez estoirar a nossa paciência com a marca-armadilha da sua inteligência e espertezas conexas.
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