quinta-feira, 29 de dezembro de 2005

SMS 138. Casa do Algarve

29 Dezembro 2005

Parecendo que cai mas não cai, com o peso do passado mas, a bem da verdade, reflexo apenas do peso que o Algarve tem, aí temos a Casa do Algarve que a democracia em nada facilitou porque os democratas, os nossos democratas algarvios foram ao longo dos anos pensando apenas nas suas carreiras pessoais e nas suas ganhunças com a política entre um lugarzitro em S. Bento, uma chance rara nalguma secretaria de Estado menor e, para desenjoar, uns quanto mensalões em Estrasburgo que até dão para pagar papalvos. Apesar disto, a Casa do Algarve continua de pé, já resistiu ao pior e, com nova sede a ser erguida de raiz partir de 2007, prepara-se para o sétimo fôlego da sua vida e para reassumir o papel de agente facilitador do Algarve e dos Algarvios junto do poder em Lisboa e da opinião pública portuguesa, quer se queira ou não, é filha ilegítima de Lisboa. Já se viu claramente que a democracia não se esgota nos partidos e, então no caso particular do Algarve, está mais do que provado que os partidos recusaram o seu papel pedagógico do debate público. PS e PSD parece que existem para apagar a ideia de Região da cabeça dos Algarvios, o PCP não conta e é pena, os dissidentes do PCP sentaram-se no adro da política a palitar os dentes, o BE tem piada mas ainda é cedo para se acreditar na salada, e o CDS nem chega a ter piada porque quando aparece no Algarve não foge da fama de ser mera obra clandestina na falésia do PSD. Nestas três décadas de obsessão pelos partidos, a ideia da Casa do Algarve chegou a ser posta de lado como desnecessária, e praticamente como que jogada para o balde do lixo pelos políticos de carreira responsáveis pelo desatino emproado do PS, pelo mau corridinho do PSD, pelo jogo de manecas do PCP e pelo oportunismo de sacristia do CDS. Ora, como o Algarve vai precisar, e muito em breve, da sua Casa do Algarve como pão para a boca, tal como os Açoreanos há muito que perceberam que precisam da Casa dos Açores, os Beirões da Casa das Beiras e os Alentejanos da Casa do Alentejo, que 2006 seja um ano grande e um grande ano para a Casa do Algarve tão estupidamente esquecida por uns quantos e menosprezada por outros tantos - precisamente os tais de que já estamos fartos porque levaram três décadas a olhar para os seus umbigos e para os empregos dos seus filhos e filhas que deputam e já delegam tal como os pais, sendo que a Democracia não é para isto.

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

SMS 137. Os italianos, por exemplo

22 Dezembro 2005

Para não falar dos chineses que imitam tudo e quando imitam as cópias são aos milhões, e também para não falar dos espanhóis que vendem gato por lebre mas porque vendem, arrecadam, falemos dos italianos e a propósito de presépios. Pois, para o presépio deste Natal, quem andou à procura das tradicionais figuras de barro portuguesas, andou em vão - as figuras desapareceram. E desapareceram porque essas figurinhas - milhares e milhares de figurinhas todos os anos colocadas no mercado nesta época - saíam das mãos e do trabalho de crianças naturalmente exploradas aos magotes, em fábricas ali nas cercanias de Famalicão entre outras cercanias - estive numa dessas fábricas e pude constatar, estupefacto, com os meus próprios olhos. Com a dita proibição do trabalho infantil, os grandes empresários que se tornaram grandes à custa dessas misérias, pura e simplesmente acabaram com o fabrico das figurinhas. Ora, a preencher este vazio de mercado, chegaram os italianos que encheram Portugal até dizer basta, com reproduções das figuras dos presépios de Nápoles que são a matriz de todos os presépios da Europa. Os italianos venderam em Portugal como nunca, aliás os portugueses importaram como sempre e desta vez até Presépios. É claro que reproduções dos presépios portugueses - os de Machado de Castro, por exemplo, mas lembrando-me também do Presépio de Estoi - feitas com seriedade artística e empresarial e sem as macacadas do trabalho infantil, teriam êxito assegurado e, naturalmente, êxito na exportação. Poderia até ser aquilo a que os teóricos da economia de salão chamam um «nicho de mercado». Mas se os italianos souberam tirar partido dos presépios de Nápoles, os portugueses preferem, pelos vistos, o mercado de antiguidades bem abastecido pelos ladrões e ofícios correlativos que pilham o nosso património. Já quanto aos Algarvios, estes estão perdoados neste Natal, por não terem tirado ainda partido do Presépio de Estoi. E estão perdoados porque, como se viu com as figurinhas de Faro-Capital-Nacional-da-Cultura, nós Algarvios, infelizmente somos um Presépio vivo e burros são os que, com o seu bafo, aquecem o menino.

Carlos Albino

quinta-feira, 15 de dezembro de 2005

SMS 136. Segurança

15 Dezembro 2005

Não é difícil concluir que, em matéria de segurança, o Algarve anda ao Deus dará. Há localidades importantes, cidades pois, onde durante um dia inteiro, dois dias, três dias seguidos não se avista um polícia (se há polícia) nem um guarda (se há GNR) sequer para cuidar do trânsito e para prevenir aqueles incidentes que são muitos e se resolvem já como na Idade Média – justiça directa. E dos arredores dessas localidades cada vez mais povoados, nem se diga nada! Sim, é verdade, de vez em quando por aí passa uma patrulha de carro a vinte à hora, mas isso não passa de passeata. Os assaltos a pessoas e bens são mais do que muitos com os criminosos a safarem-se à vontade ou a ficarem impunes se alguém lhes deita a mão. Cada vez mais se descrê na eficácia da participação, cada vez mais as ruas principais, e não já apenas os lugares esconsos, se enchem de clandestinos chantageados em que a percentagem de desespero também sobe perigosamente em flecha, pelo que também todo o tipo de marginalidade se aninha à volta disto – sabem do que estou a falar.

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

SMS 135. A árvore

8 Dezembro 2005

Aquela árvore obriga a tréguas. E lendo bem a emoção, cada lâmpada daquela árvore faz lembrar não 100 watts mas 100 crianças umas desprotegidas, outras abandonadas, quase todas talhadas para um dia ganharem apenas o salário do choro que normalmente desconta o imposto da revolta incontrolável, revolta que começa por ser interior - como os moralistas gostam que se diga - e, deixando se ser inquietação, acaba por se transformar em angústia que é a prima-irmã da delinquência. Claro que fui ver a Árvore de Faro assumir todo o seu esplendor com as suas largas centenas e centenas de lâmpadas, não por serem lâmpadas mas porque cada uma delas tem a claridade de 100 crianças. E também é verdade que já quando todos apenas olhavam para a festa luminosa, possivelmente alguns lamentando no íntimo que a árvore não tivesse 287 metros de altura para que fosse a maior do mundo e dois biliões de lâmpadas para que excedesse a população da China, pois eu olhava para o tronco e tentava imaginar como serão as raízes dessa árvore a devassar a profundidade do chão. Não escondo que essas raízes escrevem, por estranho capricho subterrâneo, um nome que só raízes podem escrever porque se trata de um Benemérito - Aboim Ascensão. Mas também não escondo que, tal como acontece por vezes na palma das mãos haver uma letra bem caligrafada no enrugamento de nascença, pois não escondo que nesse tronco, a árvore no seu lento crescimento foi talhando outro nome: Vilas Boas. Ora, se uma obra tem raízes com nome e tem nome no tronco, então sim, podemos olhar para as ramadas, para a copa, para o cimo da árvore. Faro deve orgulhar-se dessas raízes e desse tronco. E foram assim as tréguas.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de dezembro de 2005

SMS 134. O lamentável exemplo dos Meritíssimos Juízes

1 Dezembro 2005

Há coisas que não podemos esquecer, aliás não devemos esquecer para que constem. Esta semana até tínhamos bons e variados temas para este cantinho, temas de relevante interesse para o Algarve e para os Algarvios, mas com esta dos juizes não hesitei no assunto. De onde menos se esperava, partiu a má educação, a quebra do respeito civilizado e civilizador, a falta de decoro próximo do de horda bárbara dos tempos medievais. E que coisa foi essa, assim de tão grave, a dos juizes? Pois, reunidos num congresso, os meritíssimos juizes que travam uma luta de pruridos, dispensas e privilégios com o Governo e em particular com o Ministro da Justiça, quando o ministro entrou na sala, pura e simplesmente não se levantaram. Como nas tascas cá de baixo.

Sabemos o que os juizes fazem quando ou se um arguido, um advogado ou uma testemunha não se levanta na Sala de Audiências quando o meritíssimo entra. Independentemente das razões ou da falta dela, qualquer juiz considera esse acto de continuar sentado com uma ofensa ao tribunal, um insulto à Justiça, um crime portanto, que até pode dar processo e prisão se tal manifestação de assento for acompanhada com alguma palavra que reitere o acto. E é assim que todos, desde o criminoso confesso apanhado junto ao Vascão até à pombinha mais inofensiva de Aljezur, todos se levantam quando o meritíssimo entra para o julgamento, mesmo que se saiba que quem vai julgar, por hipótese, está ali transferido por punição decretada na sequência de inspecção impiedosa (quase todas são piedosas) ou por comportamento impróprio num tribunal de comarca longínqua.

Ora, se os juizes não se levantam por deferência civilizada, quando entra o ministro de que discorda, porque se hão de levantar as crianças quando entra o professor, porque se hão de levantar os cidadãos quando entra o Presidente da República, ou porque se hão de levantar os fiéis católicos de Moncarapacho se por caso e inesperadamente o Papa lhe der na cabeça em celebrar missa em Moncarapacho onde o lugar da missa até é mais agradável e mais cortês que a Capela Sistina? E se a partir de agora, arguidos, advogados e testemunhas, seguindo escrupulosamente o exemplo que vem de cima, ou seja, dos próprios Meretíssimos, deixarem de levantar nas salas de audiência?

Para que haja boa disposição, digamos que a lamentável atitude dos juizes, foi na inteira propriedade das palavras, uma manifestação de assentos. O que até teve as suas vantagens, quanto mais não seja a vantagem de ficar provado que os meritíssimos juizes, para além de por profissão os fazerem, também têm assentos.

Carlos Albino

quinta-feira, 24 de novembro de 2005

SMS 133. Umas tristezas que por aí andam

24 Novembro 2005

Não são muitos, não chegam aos 500 mil algarvios de raiz, nem sequer somam os 30 ou 40 mil imigrantes que no Algarve se fixaram ou pela mão-de-obra ou para descanso da vida reformada. São, quando muito uns 18, talvez 22, sendo que cada um deles dá a entender que é o único génio durante escassos oito dias que o período quando mais se olham ao espelho de frente, de lado e por interpostas pessoas. E o que fazem? Nada menos, nada mais: escrevem, publicam, as câmaras e coisas afins financiam as edições cheias de disparates e de exercícios próprios do divã do psicanalista, quando o que escrevem, publicam e conseguem editar não passa de meros plágios de filósofos esotéricos e de pensadores de meia tigela de que até os adventistas do sétimo dia riem. No fundo são apenas ignaros ousados, bússolas avariadas que por aí andam a enganar a direcção Norte assim enganando também o Sul, o Oeste e Este. Outrora, quando a Escola era uma instituição – há-de voltar a ser, creio firmemente – esses sujeitos que à Escola voltaram costas tinham um nome por entre vários. Se sabiam escrever mas escreviam até sem erros de ortografia com ares de autoridade sobre o que não sabiam porque não estudaram, tinham o nome de Ignorantes – assim, com maiúscula. E se por acaso até sabiam algumas coisas mesmo que as não tivessem estudado mas escreviam com sete erros em cada linha e duas trocas de letras em cada palavra, também tinham nome – eram Analfabetos. E era assim neste quadro que Ignorantes e Analfabetos mais dia, menos dia, pela ordem natural das coisas ou se conformavam com a correspondente vergonha de terem fugido à Escola ou assumiam uma justificada revolta por não terem podido aceder à mesma Escola.

Hoje, os mesmíssimos Ignorantes e os mesmíssimos Analfabetos intitulam-se Autodidactas. São quando muito uns 18, talvez 22, sendo que cada um deles dá a entender que é o único génio do mundo durante os escassos oito dias em que com alguma mestria ou esperteza conseguem enganar ignorantes de letra minúscula e analfabetos de letra minúscula também.

Carlos Albino

P.S.: No final da semana, encontrei-me com um autarca reeleito, naturalmente que o felicitei pelo êxito eleitoral e pedi-lhe que a sua Câmara não pactuasse com os que recobrem os espinhos da Ignorância e do Analfabetismo com o cetim do pomposo título de Autodidactas. Se serei atendido, não sei porque sobre alguns mecanismos sou mesmo ignorante e com letra minúscula.

quinta-feira, 17 de novembro de 2005

SMS 132. A Casa Madeira

17 Novembro 2005

Desconcertantes foram os termos usados por Luís Filipe Madeira sobre a candidatura presidencial de Soares. «Não pertenço à Casa Soares – sou um cidadão, não sou um criado de serviço», disse o homem de Alte que, repetidamente, é apresentado como «figura nacional» e que nos meandros políticos de Lisboa é, por deferência de serviço, tido como «líder do Algarve» mas cuja obra mais notável a favor do Algarve terá sido, como a população sabe, a rectificação da curva da 125 nas Ferreiras, há uns vinte anos, e pouco mais para além dos discursos pois Filipe Madeira discursou muito e pouco fez. Naturalmente que a população igualmente sabe que se Madeira não pertence à Casa Soares, também Soares não pertence à «Casa Madeira», e fiquemos por aqui porque a continuarmos por aqui, seria fazermos o mesmíssimo jogo dos que têm estragado a democraticidade interna dos partidos no Algarve, aquela democraticidade real, não a formal ou a politicamente correcta – nomeadamente a do PS, mas sem excluir a do PSD que também tem as suas «casas», não tanto gentílicas mas de interesses difusos.

Em síntese e por aquilo que veio a lume, parece que Filipe Madeira dedicou-se à sua casa pelo não avanço da regionalização, muito embora ele saiba que a regionalização do Algarve ficou em definitivo e há muito postergada quando foi retirada da Constituição a possibilidade da criação das regiões-piloto, por obra e graça de magníficas abstenções, silêncios oportunistas e votos dos criados de serviço da época. O amuo aparente de Filipe Madeira não tem pois justificação, e porque não tem justificação, ele sempre fez política de casa, naquele sentido formal e de jogo ou de jogada, ou por si próprio ou por interpostas pessoas. Filipe Madeira está e não está, conforme lhe convém, e agora, a demarcação desconcertante face a Soares, não passa de uma conveniência para ele estar. Ora, um comportamento político destes não é o de um líder mesmo na reserva, e porque comportamentos destes abundam no Algarve – nomeadamente face a Cavaco também – eis uma das razões porque não temos líderes regionais na coerência forte do termo, e o motivo porque os líderes circunstanciais apenas são «figuras nacionais» enquanto forem criados de serviço.

Carlos Albino

quinta-feira, 10 de novembro de 2005

SMS 131. Sampaio, uma tristeza

10 Novembro 2005

Agora, já no final do mandato, Sampaio veio ao Algarve de raspão por causa de uma «presidência aberta» sobre turismo que lhe deu para ir a quase todo o lado, do Porto Santo a Esposende, terminando tudo em Tróia naturalmente com mais uma cena de condecorações que é uma coisa que Sampaio gosta tanto fazer como João Paulo II gostava de fazer santos. No Algarve, houve um poiso na Fortaleza de Sagres, um salto a Vilamoura, uma passeata de helicóptero sobre as belas obras das falésias e foi tudo para além das palavras. E quanto a palavras, Sampaio não trouxe nenhuma novidade – repetiu um bocadinho, apenas um bocadinho do que muitos têm dito há 30 anos e que, por terem dito, foram espezinhados, humilhados e esquecidos. Portanto, Sampaio veio chorar sobre o leite derramado e conviver à portuguesa com alguns que provocaram o derrame do leite ou com outros que bem o querem derramar ainda mais. Sampaio, nesta deslocação ao Algarve foi uma tristeza.

E Sampaio foi uma tristeza porque só o Algarve justificaria, em tempo certo e que já passou, uma presidência aberta, sendo agora tudo muito tarde, mesmo de raspão, assim como quem dá uma tacada de golfe. Mas para isso, para uma «presidência aberta» a sério no Algarve, Sampaio teria que ter tido coragem que é uma coisa que se aprende em todos os desportos, incluindo o desporto da política, mas que não existe no golfe. Coragem para, em vez de ir a poente depois de Lisboa ter maltratado e adulterado Sagres de todas as formas e feitios, ir a nascente que é onde ficam Vila Real de Santo António, Castro Marim e Alcoutim e aí defender uma nova estratégia do turismo algarvio face ao desafio espanhol. Coragem para, em vez de pela décima milésima vez jantar com empresários do turismo, a maior parte dos quais nem são algarvios nem põe os pés no Algarve reinvestindo sistematicamente fora da Região o que no Algarve lucram se é que não fazem as suas operações através dos paraísos fiscais, ouvir ao longo da 125 quem da 125 vive ou ainda vive, e preconizar um «destino metropolitano» para a mesma 125. Coragem para ouvir os agricultores, as gentes das serras incendiadas, os pescadores de Quarteira e Olhão, os artesãos a quem as portas do mesmo turismo empresarial se fecham, andar pelas universidades nascidas a martelo, indagar como tantas presidências autárquicas foram uma farra, enfim, coisas de coragem não faltariam a Sampaio em tempo oportuno, como agora coragem teve Seruca Emídio em tocar no assunto do Hospital. Mas desconfio que Sampaio já não tenha tempo para condecorar a coragem de Seruca Emídio.

Carlos Albino

quinta-feira, 3 de novembro de 2005

SMS 130. Formiga branca

3 Novembro 2005

Até agora, pelos menos aparentemente, o Algarve tem estado imune ao mal que, aqui e ali mas cada vez mais em mais lugares, ataca as traves mestras da democracia, que é o um mal em tudo idêntico ao da formiga branca. Sem que se note, o bicho consome tudo deixando apenas uma fina película exterior a dar o aspecto de que o mundo está normal. Apenas há um pormenor que o bicho não disfarça - o cheiro. E quando cheira a formiga branca há que pelo menos desconfiar. Ora, no Algarve, embora o mundo, sobretudo o mundo autárquico e a película exterior do poder sufragado, pareça um mundo normal, alguns, possivelmente muitos de nós sentimos esse cheiro a formiga branca que anda nos ares. O tráfico de influências envolvendo alguns barões reformados dos partidos é notório, amiúde reforçando o indevido poderio do clã; os negócios da imobiliária envolvendo paraísos fiscais são coisas faladas à boca calada, mas são coisas; o enriquecimento sem justa causa fornece uns quadros bem pintados mas discretos como mandam as regras do enriquecimento sem justa causa, e por aí fora, sem falar na intensa economia paralela que é a metamorfose alada da formiga e que desova à vontade quando a justiça, também ela, está corroída . É claro que não temos autarcas algarvios, do presente ou do passado recente, à berlinda como a formiga branca de Felgueiras, mas cheira. Cheira. Também não temos casos como os que na Andaluzia, há poucas semanas, levaram à prisão de vários eleitos locais precisamente pelas ligações perigosas entre exercício do poder e imobiliária, mas cheira. Cheira a formiga branca e pergunto a mim mesmo se em Portugal houvesse uma Operação Mãos Limpas a sério como a que houve na Itália, também aqui os partidos, todos sem excepção, não teriam que mudar de nome como condição para a sobrevivência do ideal democrático. E, ou muito me engano, ou um dia que não será longínquo, estaremos a falar de nomes. Prefiro que me esteja a enganar.

Carlos Albino

quinta-feira, 27 de outubro de 2005

SMS 129. Capitalidade e coisas capitais

27 Outubro 2005

É evidente que o Algarve precisa de Faro. E precisa também de que à frente de Faro esteja alguém com o sentido de Algarve e não de regedor, que possua um discurso político elevado e não de comarca de terceira classe e, sobretudo, que saiba ser um parceiro dos restantes quinze inevitáveis pares do Algarve, a começar pelos mais próximos como Olhão e Loulé e a acabar nos mais pobres como Alcoutim e Aljezur. Faro, se quer ser e sequer continuar a ser capital irrecusável do Algarve, tem de saber sentar-se ao lado de Alcoutim e de Aljezur, tem que ter a consciência de que não desce de nível à altura de Silves ou de Vila do Bispo, ou seja – Faro tem a obrigação de ser e dar o exemplo de ser uma cidade ou um autarquia tão metropolitana como as restantes quinze autarquias e, se quer ser a capital metropolitana, não pode deixar-se enredar na tentação de ser um Terreiro do Paço provinciano pois já tem demasiados funcionários mais provincianos do que os do Terreiro do Paço, no pior que em educação e cidadania a burocracia provinciana sugere – há até cada vez mais algarvios que preferem a burocracia do emblemático Terreiro do Paço de Lisboa às burocracias dos nossos Terreiros do Paço a brincar. Faro é reconhecidamente capital e não tem que lutar por capitalidade, tal como Portimão não tem que porfiar por sub-capitalidade, e tal como Albufeira em pouco ou em nada serve para o Algarve procedendo como se fosse principado independente, como naquele ano em que deitou foguetes e fez fogo de artifício no dia em que Silves estava a arder à vista desarmada. Esse caminho da capitalidade, das sub-capitalidades e dos principados está ao arrepio do sentido e do caminho do Algarve e só terá um resultado final – o provincianismo e a mentalidade de quintal, com a coisa pública entregue a títeres locais que nem sequer categoria têm para serem ditadores, muito menos para serem exemplares democratas na atitude e nos factos. Essa obsessão por capitalidade, por sub-capitalidades e por principados é a doença infantil do narcisismo provinciano, e são estes meninos que foram e vão estragando o Algarve – o Algarve como Algarve que precisa de coisas capitais e não desses meninos.

Carlos Albino

P.S.: Este reacender da polémica das portagens na Via do Infante tem muita piada e mais piada tem que o ministro Mário Lino venha a reconhecer que a 125 é em grande parte já uma via urbana – entre pelos olhos da cara. Pegaremos nisto.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

SMS 128. O caso Vitorino

20 Outubro 2005

Julgo saber que José Vitorino foi o único caso de derrotado no Algarve que atribuiu as culpas do desaire à comunicação social, assim fugindo à assunção de responsabilidades políticas, designadamente face ao partido que o apoiou e de que, outrora, ele fez parte. Na verdade, não sei se José Vitorino sabe o que significa comunicação social, porquanto ele, com tal explicação de mau perder, suporá que a comunicação social deveria ter feito campanha por ele, exaltando por exemplo a forma como o Farense arrecadou importante quantia, ao longo de quatro anos, com a célebre dádiva mensal dos 25 por cento descontados do ordenado de Vitorino, exemplo acabado do populismo mais tosco. Ora, Vitorino não entendeu que o populismo é o mesmo que comprar um carro novo em Faro e ir sempre em primeira mão bem puxada até ao aeroporto da Ria Formosa - gripa no Montenegro. Enquanto o carro anda, o povo saúda, há sorrisos de um e outro lado da estrada, todos se curvam à passagem do carro do presidente: mas se o carro gripa porque o presidente desconhecia o dever elementar de meter mudanças, naturalmente que a comunicação social tem o dever de registar o facto, sendo o facto simples - o carro novo do presidente gripou no Montenegro porque o seu populismo não saiu da primeira mão, derretendo o motor. E como, em política, um mandato de quarto anos não envelhece o carro - antes pelo contrário, deixar gripar assim o motor a meio caminho para o aeroporto o que é que tem a ver com a comunicação social que, nesta mecânica das autárquicas, até foi benevolente e caritativamente omissiva para a condução de Vitorino? Aliás, não apenas para o caso de Vitorino mas para muitos outros casos designadamente vitoriosos, a comunicação social do Algarve, de modo geral tem sido benevolente e caritativamente omissiva justificando-se até a sua santificação pelo papa Bento XVI, se por aí não houvesse uns casos de favores e de subsídios indirectos que borram a santidade.

Carlos Albino

quinta-feira, 13 de outubro de 2005

SMS 127. Os partidos, claro

13 Outubro 2005

1. Aqui e ali – não apenas em Felgueiras, Gondomar e Oeiras, mas no Algarve também – estas eleições ensinaram que os partidos, todos do CDS ao BE, têm que mudar de estilo, de meios e de visões. Trinta anos são suficientes para envelhecer uma democracia, dar azo ao laxismo, à inércia e à distracção, com isto abandonando-se a discussão crítica dos problemas de fundo, pondo-se de lado o interesse geral e sacrificando o bem-comum aos vorazes apetites do oportunismo organizado. No Algarve, isto tornou-se particularmente evidente pela pressão dos lobbies ligados à imobiliária e à construção (há muito que acabou o casino do figo no Café Aliança), não por serem lobbies mas pela pressa com que o turismo e actividades conexas lhes aguçam apetites. Nestas circunstâncias, os partidos têm sido meios privilegiados para quem quer subir na vida depressa, enriquecendo sem justa causa. Foi assim que surgiu uma nova arte – a arte de «saber fazer bem as coisas», o que significa «fazer as coisas» sem deixar uma perna de fora. Se a justiça funcionasse – não funciona porque muitos juízes também cultivam essa arte de não deixar uma perna de fora – os episódios que a todos nos chocam, teriam adequado e rápido desfecho nos tribunais, punindo corruptos e corruptores. Como não funciona, a política salva os delinquentes, iliba os arguidos e confere até aos acusados ares de definitiva e não apenas de presuntiva inocência, nem importando, para o caso, que salvos pela política, falem como foliões e ameacem com a violência própria dos perversos – referimo-nos naturalmente à perversidade contra a democracia que salva corruptos e corruptores. Assim sendo, será até secundário que a lei mude – o importante é que os partidos mudem as suas práticas, os seus métodos de triagem internos, as suas «máquinas» montadas para o clientelismo.

2. Chocante será assim que um «independente» ganhador proclame, na hora do entusiasmo perverso, que ganhou porque o povo não acredita nos partidos, mas muito mais chocante é que alguém no Algarve, eleito legitimamente por um partido e devido a um partido, apregoe que foi eleito com os votos dos que já não acreditam nos partidos – adivinhem quem é. Começa mal e, se não emendar, pode acabar pior que a foragida de Felgueiras.

3. Apolinário ganhou porque encontrou uma metáfora muito melhor do que Vitorino que talvez nem saiba o que é uma metáfora. Além disso, atravessou o Rubicão que, entre nós, não passa da Ribeira de Pechão mas é Rubicão. Vitorino não entendeu que para se ser presidente da Capital do Algarve não se pode estar num permanente estado de alma contra Olhão nem contra Loulé. Faro não é nada ou pouca coisa é sem uma estudada e concertada parceria com os arredores. Vitorino perdeu nos arredores mas não sei se ele sabe o que significa arredores.

Carlos Albino

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

SMS 126. Os nossos Albertos

6 Outubro 2005

O Algarve também tem os seus Albertos. Embora a Madeira tenha o protótipo, o original sem par a quem todo o mundo reconhece o cómico direito de ser João Jardim para além de Alberto, os nossos Albertos – infinitamente mais comedidos porque não somos uma ilha e manhosamente mais discretos porque também não temos paraíso fiscal que cubra as jogadas – não deixam de ser Albertos, enfim, pequenos mas eficientes Albertos, ou seja, Albertos uns à escala concelhia e outros à escala de freguesia mas Albertos. Quando podem, os nossos Albertos controlam os pequenos jornais impondo-lhes o conteúdo sempre com expedientes indirectos, submetem ao seu jogo as estações de rádio locais condicionando-as na forma e no cheque. Claro que apenas fazem isso quando podem, mas quando o fazem, porque são Albertos, cuidam de não deixar indícios de prova, e, como se costuma dizer neste século de Isaltinos, Fátimas, Valentins e Ferreiras Torres, fazem-no dentro da mais estrita legalidade – Oh! Como os juízes em greve apreciam esta coisa da estrita legalidade! Embora com os mesmos propósitos da programada caça ao voto longamente pensada e do controlo da opinião pública, naturalmente que os nossos Albertos não passam de pequenos Albertos porque, aqui, tudo também é pequeno (a Agência Lusa é pequena, a RDP é pequena e a RTP pequenina é) mas se o Algarve tivesse um paraíso fiscal como a Madeira tem, já teríamos um Alberto igual ao protótipo. Perfis não faltam. Pequenos perfis, diga-se, mas igualmente perversos.

Carlos Albino

quinta-feira, 29 de setembro de 2005

SMS 125. Foi com uma vacina, imaginem com o resto

29 Setembro 2005

Neste País, o que deve e pode ser estudado, não se estuda, e o que salta aos olhos da vista, dispensando mais estudos, passa a estudo, com a nomeação da tal comissão de estudo que se farta de estudar até ao cansaço cerebral. O senhor ministro da Saúde, até que enfim, afiançou que a necessidade de um Hospital Central no Algarve já lhe saltava aos olhos da cara, mas - para não fugir à regra nacional - logo adiantou que precisava de um estudo que vai estudar o óbvio. É como se Correia de Campos, para ter a certeza de que 2 e 2 são 4, se sentisse na obrigação política de nomear comissão para apurar tal evidência. Então, contemos ao ministro uma história recente.

Pois, senhor ministro, aconteceu que uma jovem, na corrida que diariamente faz nas férias, ao atravessar o pinhal de Monte Gordo, foi atacada e mordida por um cão, mordida a sério porque os cães quando lhes dá para morder, não estudam - mordem. Mandam os bons conselhos que alguém nessas circunstâncias corra o mais rapidamente que puder para um vacina contra o tétano. E aqui começou a saga: os Centros de Saúde procurados não tinham vacina anti-tetânica, aconselhando a jovem a adquiri uma vacina em alguma farmácia. E assim fez mas sem êxito: em todas as farmácias lhe disseram não estar autorizados a vender vacinas desse tipo. Então a jovem, na emergência, rumou para o Hospital de Faro, sem mais estudos. A meio da tarde, a fila de espera nas urgências de Faro era de tal extensão que, na melhor das hipóteses, logo lhe disseram que apenas poderia ser atendida já noite adentro... Claro que a jovem, ciente do que lhe poderia acontecer, não hesitou e rumou de novo de Faro para o nascer do sol, ou seja Espanha. Dirigiu-se ao posto público de saúde em Ayamonte onde apenas não foi vacinada de imediato porque a jovem não tinha o Cartão de Saúde Europeu (atenção leitores destas SMS, tratem disto) mas sugeriram-lhe adquirir a vacina numa farmácia (espanhola, claro) que ela seria administrada prontamente. E assim foi - vacina comprada, vacina aplicada com a adequada assistência médica.

Ora, senhor ministro, não concluiu nada desta história ou será que apara concluir necessidade de uma comissão de estudo que avalie a aplicação urgente de vacinas no Algarve? Mas se quiser nomear mais comissões de estudo, também lhe posso contar mais histórias, muitas histórias envolvendo corações, aneurismas, pernas, olhos, intoxicações, por aí fora, incluindo os cansaços cerebrais das muitas comissões de estudo que não passam de pretexto para disfarças a ausência de vontade política. Com Correia de Campos pode não ser o caso, mas como diz a bela canção, uma comissão de estudo é um nome que não é um espanto, mas é cá da terra... Perante evidência, qualquer comissão de estudo é uma Maria Albertina que dá o nome de Vanessa à filha…

Carlos Albino

quinta-feira, 22 de setembro de 2005

SMS 124. É um calafrio

22 Setembro 2005

Não cabe repetir aqui o que vai subindo ao noticiário quotidiano em matéria de segurança no Algarve. O crime vai aumentando em números, grau de brutalidade e frequência, regra geral associado ao tráfico de droga, às redes de prostituição e à actuação de grupos de criminosos, sem dúvida organizados e que assentam arraiais na imigração ilegal. Quase todos os dias é um calafrio, para não lembrar as centenas de casos abafados ou sem queixa ou por chantagem dos criminosos ou por falta de confiança do sistema se segurança. É óbvio que toda esta gente indesejável actua sobre uma grande almofada de impunidade suportada classicamente por interesses locais cruzados, tudo isto resultando do desfasamento entre as autoridades policiais e os tribunais, desfasamento que advém por sua vez de legislação obsoleta e que não atende a casos específicos como é o caso do Algarve. As autoridades espanholas, depois do massacre de Madrid, estão a tentar atacar o mal pela raiz, identificando os grupos, proveniências e métodos. Na Andaluzia, por exemplo, foram identificadas várias dezenas de grupos de crime organizado, máfias tradicionais e novas máfias cuja actuação vai além fronteiras. No caso da Andaluzia, não é difícil concluir que esse além fronteiras significa em apreciável medida o Algarve – se, para cada um de nós Sevilha é um salto, para uma organização de criminosos o Algarve também é um pulo, se é que também não pulem de cá para lá. Ora, anunciar o reforço policial no Algarve durante o Verão, não basta, como também não é suficiente essa corrida entre autoridades aos recordes da apreensão de droga, própria de autoridades da parvónia. É preciso ir à raiz do problema, e, para tanto, há que identificar o problema, até porque – grande Aleixo! – há criminosos que não parecendo o que são e porque não são aquilo que parecem, têm sobretudo medo da identificação do problema. Esta gente está, anda entre nós, e é um calafrio.

Carlos Albino

quinta-feira, 15 de setembro de 2005

SMS 123. E não se sai daqui

15 Setembro 2005

Um, tal como outros sete, diz que pretende «consolidar a mudança»; outro, tal outros cinco desta ou daquela maneira, apela a que o deixem «realizar o que o tempo não permitiu»; todos os que estão na oposição local garantem que «nos últimos quatro anos a terra parou» enquanto os que estão no poder asseguram que nesses mesmos quatro anos foi o progresso e que nunca se fez mais pela terra. E não se sai daqui, a não ser nos casos em que, por inspiração do marketing político balofo dos anos 90, quem está na oposição julga que o simples lançar do desafio de um «debate directo» com o adversário principal para discutir os problemas da terra, lhe dará votos acrescido. Não há uma ideia grande, um golpe de asa, uma posição firme e clara da terra no Algarve e sobre o Algarve implicando à terra. Até agora, apesar do adorno de inaugurações forçadas – algumas até afrontosas - o debate autárquico no Algarve tem sido pobre e duvido que enriqueça muito mais até ao sufrágio de Outubro, a começar pela referência «regional» que é Faro a que tem faltado um líder com cabeça, tronco e membros, que imponha um protagonismo político da cidade no País já não digo no nível de Lisboa ou Porto, mas pelo menos no de Coimbra, Évora ou mesmo Aveiro. O populismo e o voluntarismo que José Vitorino usa como instrumento de sobrevivência, não chega para isso e a repetir o que se lhe ouviu na televisão, Faro está a ter o destino do Farense: até perde em Lagoa por falta de comparência, além de nem ter dinheiro para tomar o autocarro para o Estádio Algarve.

Carlos Albino

quinta-feira, 8 de setembro de 2005

SMS 122. Balões cheios de ar

8 Setembro 2005

A atravessar uma crise profunda – que não é só económica, é sobretudo cultural, moral e social – os líderes de partidos no Algarve cruzam os braços e se abrem a boca dizem o óbvio, o trivial ou então cumprem o seu papel de poder ou de oposição certamente para Lisboa receber os atestados das fidelidades. Das bandas do PSD, é certo que Mendes Bota vai dizendo umas coisinhas mas que não pegam ou pelos menos não pegaram até agora e Macário Correia do palanque que dispõe na chamada Junta Metropolitana, enfim, fala da água e pouco mais, desconhecendo-se se esta falácia da região já tem hino e música. Das bandas do PS, Miguel Freitas é como a Lua nas noites de eclipse parcial – vê-se o recorte, e quanto aos deputados (Cravinho, o que é isso?), nada sai que o noticiário político se sinta na obrigação de registar. O PCP algarvio tem diferença específica mas não tem peso e o Bloco ganhou algum peso mas não possui diferença específica. Claro que há líderes regionais porque cada partido tem que os ter estatutariamente, portanto líderes por inércia. E vendo bem as coisas, foi sempre assim no passado recente – grandes nomes em que Lisboa sempre acreditou serem líderes do ou no Algarve, afinal nunca passaram de balões cheios de ar. Não admira que hoje tenhamos muito ar a encher balões.

Carlos Albino

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

SMS 121. Então, foi assim na Ilha de Tavira

1 Setembro 2005

Pelo segundo ano consecutivo, fiz de protector civil na Ilha de Tavira para que os bombeiros não tivessem por certo algum grande trabalho. Costumo visitar, a meio de Agosto, amigos que não trocam nada deste mundo por uns dias naquele paraíso e que se instalam em casa certa. No ano passado, era já noite, não hesitei em dirigir-me a um grupo de jovens já entradotes que atiçavam um enorme fogo na orla do pequeno pinhal, com labaredas a tocar os ramos das árvores. Este ano a cena repetiu-se, também à noite, ainda mais dentro do pinhal, mas não sei se os irresponsáveis eram os mesmos de 2004 ou diferentes, sendo todos iguais. E nem tiveram trabalho para levar carvão – partiram uns ramos de árvores, puxaram fogo e estavam à espera que as labaredas abrandassem para chamas e estas para brasas, aparentemente para o preparo de uma sardinhada como se aquilo fosse o catamarã de Vilamoura. Mas se no ano passado, o grupo acatou a advertência, este ano assim não foi e, por pouco, o caso não deu para o que imaginam – mas o fogo terminou à força. Ora, como todas as histórias devem produzir alguma moralidade ou ensino, aqui segue a conclusão: um incêndio na Ilha de Tavira pode fazer jeito a alguém.

P.S.: Macário, faça o favor de colocar a protecção civil na sua estimada ilha. Sobretudo à noite. Não aguarde pela surpresa.

Carlos Albino

quinta-feira, 25 de agosto de 2005

SMS 120. Tempos difíceis

25 Agosto 2005

A juntar a tantos males, já esperava que, mais dia, menos dia, o Banco de Portugal revelasse o que em círculos restritos se comentava desde há um mês: as câmaras municipais, no primeiro semestre deste ano, apresentavam um défice de 174 milhões de euros. Em qualquer democracia, essa notícia provocaria um enorme debate público. Aqui, na terra dos expedientes, não – e seria impensável que o Algarve fugisse à regra, mais: ninguém se preocupa e muito menos se discute, com seriedade e sem folclore, a situação financeira de cada uma das nossas 16 câmaras algumas das quais, apesar do montante dos empréstimos obtidos por processos quase virtuais (Oh! Se o Banco de Portugal descobre!) dissimulam o mal como se nisso houvesse um entendimento tácito entre quem está no poder e quem está na oposição. Se calhar, há. Para o cidadão, para os munícipes, os tempos são difíceis, para já, de entender.

P.S.: Naturalmente que, algum dia, vamos falar da Capital Nacional da Cultura. Temos tempo e não nascemos ontem.

Carlos Albino

quinta-feira, 18 de agosto de 2005

SMS 119. Sete metáforas de Verão

18 Agosto 2005

1.ª – Dizem-me e não acredito que seja verdade – No âmbito do Plano Regional de Turismo, houve concurso da RTA para o fornecimento de viaturas para apoio às praias do litoral algarvio (uma por concelho). Como mais vale tarde do que nunca, o concurso apenas devia merecer aplausos. Só que as viaturas têm tracção às quatro rodas – se entrarem pela areia, atolam-se. Além disso não dispõem de ar condicionado pelo que será de ver tais viaturas estacionadas junto dos pontos de boa cerveja à escolha dos funcionários e o alegado apoio às praias em breve mais não será do que passeatas. Bem! Os comunistas angolanos dos anos 70 do século passado ficaram felizes pelo fornecimento soviético de limpa-neves para o alegado asseio das avenidas e ruas de Luanda. Os limpa-neves obviamente nunca chegaram a ser utilizados e ainda hoje jazem num grande cemitério de ferro inútil. No Algarve ainda não se chegou aos limpa-neves para o asseio das praias onde funcionam ou dizem que funcionam tractores de agricultura, mas estas viaturas sem tracção às quatro rodas e sem ar condicionado para apoio das praias, serve de metáfora para a qualidade dos decisores do Algarve, a ser verdade o que me dizem mas em que não acredito. Na verdade, vivemos de passeatas.

2ª. – Mas que Volta a Portugal? Foi verdade – a Volta a Portugal que, com todo o descaramento começou e terminou autotitulando-se Volta a Portugal, mentindo, não passou de uns circuitos pelas Beiras, pela área do Porto, pelo Minho com uma devassa por Trás-Os-Mintes e, em perfeita homenagem ao centralismo do Estado, por uma tirada curva entre Lisboa e Oeiras... Foi uma Volta a Portugal dos Pequeninos e mais nada. E não temos que nos lamentar porque o desporto das duas rodas mais não imita do que os decisores beirões, minhotos, transmontanos e alguns destes emigrados em Lisboa pretendem da Regionalização e com a Regionalização: um Portugal dos Pequeninos – pequeninos mas espertos de uma esperteza que estraga a Democracia. A Volta serve de metáfora.

3.ª – Sinalética, tabuletas – Então nisto, nos concelhos de Lagoa e de Albufeira é o caos. No penúltimo fim de semana, até conseguir chegar à casa de verão de um embaixador algarvio, foi o inferno. Em vez da indicação correcta dos sentidos das terras, dos sítios e dos lugares, deparei pelas estradas e caminhos com dezenas e dezenas de tabuletas, uma para a Casa Gabirá ou para a Moradia Isabú, outra para a Vivenda Ginga, grandes cartazes para a Urbanização Conchinha, outros do mesmo tamanho para o Aldeamento dos Passarinhos do Pinhal para não falar das dezenas de setas com quilómetros de antecedência para a Cabeleireira Céu, para o Canalizador Esteves e para Mecânico Jocas, por entre muitas outras cabeleireiras, outros tantos canalizadores e não menos mecânicos - nomes de sítios, lugares, terras ou sentidos de terras, nada, nada e nada. Este péssimo hábito está a chegar, pelos vistos, já ao concelho de Loulé. Um sujeito que tenha abra um restaurante a que por hipótese dê o nome de Tasca da Alfarrobeira Dobrada ou mesmo alguém que tenha recuperado a sua casinha a que passou a chamar Casa do Pintatolas ou comprado coisa semelhante baptizando-a de Vivenda Xico Beirão, pois não tardará que quilómetros antes e em cada cruzamento ou desvio lá surjam uma tabuletas de papelão presas com arames, a indicar a Casa do Pintarolas, a Tasca da Alfarrobeira Dobrada e a Vivendo Xico, encavalitadas noutras tabuletas num verdadeiro enxame a ocultar as poucas placas que indiquem nomes de sítios lugares e terras. Cada um faz o que lhe apetece, cada um pensa apenas no seu umbigo e as Câmaras porque nada ou pouco fazem, também deixam fazer tudo. Já um dia me referi ao cemitério das tabuletas. É uma metáfora.

4.ª – O sentido de sobrevivência de Vitorino. E com esta de Vitorino dizer em alto e bom som que «Faro não é o Faroeste», fazendo cair a espada municipal sobre um construtor que pode perceber muito de betão mas nada percebe nem quer perceber de direitos humanos estragando o arranjo, admito que o sentido de sobrevivência desse político o possa fazer passar sobre as eleições autárquicas como César passou o Rubicão. A esta distância, as sondagens embora entretenham, pouco significam, sobretudo porque, no Algarve, o mês de Agosto até 15 de Setembro equivale a um ano e meio. Ainda falta um ano até Outubro e no faroeste já toda a gente está conformada com o Farense no escalão mais baixo. Apolinário tem que produzir melhor metáfora, melhor dizendo: tem que produzir uma boa metáfora. Como se sabe (Vitorino talvez não saiba mas Apolinário sabe) o Rubicão era o pequeno rio, que separava a Itália da Gália Cisalpina. O Senado Romano declarava traidor à Pátria e votado aos deuses infernais, todo aquele que, à frente de uma legião, ou ainda de uma comitiva, transpusesse tal rio. César infringiu a proibição e passou o Rubicão, exclamando: Alea jacta est ! ( A sorte está lançada!) O Rubicão de Faro é a Ribeira do Pechão. Metáfora, claro.

5.ª – Turistas ou penitentes com sacos de plástico, não? Todas as semanas, seja Verão ou Inverno (já não há diferença), faça sol ou caia chuva, há todos os sábados um mercado em Loulé que atrai centenas e centenas de turistas que ali são despejados de autocarros. Possivelmente, em alguns sábados são mesmo milhares que vão comprar de tudo onde também há de tudo, desde as rendas da Madeira feitas na China até ao artesanato da China feito na Madeira ou pelo menos transaccionado no ou através do off-shore da Madeira. Barracas sem conto armam-se desarmam-se todos os sábados para isso, não faltando o cheiro do polvo assado e das frituras enquanto uns mascarados dos Andes fazem de índios a tocar flauta como se fossem vereadores da oposição local, ou seja, tocam bem flauta na oposição. Observei essas enormes filas ou mesmo magotes de turistas, neste último Sábado: entram no mercado de mãos a abanar e saem com sacos de plástico na mão com o inimaginável lá dentro mas que levam como inefável recordação do Algarve. Só que esses milhares de turistas que ao longo do ano são despejados na periferia de Loulé, de Loulé pouco ficam a conhecer – não há um folheto colocado nas suas mãos, não há uma lembrança simpática, uma sugestão de roteiro do riquíssimo mas censurado património cultural local que tem tabuletas a mais para as portas abertas que há. É uma metáfora, claro. Uma metáfora de como o Algarve recebe os turistas, tratados como penitentes, ainda para mais penitentes com sacos de plástico na mão a ouvir os que fingem de índios!

6.ª – A sardinhada do catamarã. E foi assim, pois poderia ter sido pior junto à praia da Galé. Como é que é possível que o catamarã de Vilamoura que se incendiou que nem um fogareiro, servisse sardinhadas a bordo? E a ser verdade o que uma passageira afirmou, como é possível que o catamarã não tivesse salva-vidas, com os extintores para inglês ver e as mangueiras sem água? Felizmente que os 90 turistas que partiram alegres e por certos julgando-se seguros, foram salvos pelas embarcações populares, por embarcações de recreio e até por motas de água, antecipando-se ao posterior aparato de lanchas da polícia marítima e, claro, do helicóptero da Força Aérea. Naturalmente que se segue agora o inquérito para apurar a origem do incêndio, sabendo-se entretanto que o catamarã (com 30 anos e capacidade para 120 passageiros) tinha todas as inspecções em dia. Não sabemos se a sardinhada entra na lista das inspecções, mas isso também e já agora por metáfora, pouco importa uma vez que há pedreiras no Algarve a laborar com as inspecções em dia mas cujos sismógrafos estão «avariados» há dezenas de anos. Sampaio que, pelos vistos, tem dificuldade em encontrar gente com feitos digna de ser condecorada, bem poderia condecorar e com justiça os denodados banhistas que salvaram das chamas e da morte certa aqueles 90 seres humanos que julgavam que o Algarve não tem metáforas.

7.ª – O comboio de Loulé. E para finalizar, outra triste metáfora – na Estação Ferroviária de Loulé, é verdade que cerca de uma centena de passageiros que esperavam na linha que lhes tinha sido indicada, pelo comboio Intercidades para Lisboa, viram o comboio partir sem que, na era do telemóvel, maquinista e chefe da estação dessem entre si conta do engano. Depois veio a explicação da CP que não a culpa não foi da CP mas da Refer e possivelmente a Refer dirá que foi a CP, como nas discussões de comadres. Mas o certo é que aquela Estação de Loulé que serve uma área turística dita de excelência (Vale do Lobo, Quarteira, Vilamoura) é uma metáfora e, segundo me dizem mas em que também não acredito, para além do serviço de bar digno de catamarã sem inspecção, também está apetrechada para grandes sardinhadas e churrascos de caça. Possivelmente nem a CP nem a Refer foram ainda à Estação de Loulé ou se foram, foram por aquela metáfora que, como se sabe e é habitual, fica alojada num hotel de cinco estrelas. Claro, falamos por metáfora.

P.S. – A propósito, há em Loulé um excelente Mapa da Cidade para turistas que está tão limpo, tão limpo que os ingleses conseguem escrever a dedo as suas metáforas...

Carlos Albino

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

SMS 118. Muito felizes, muito.

11 Agosto 2005


O objectivo da regionalização como corolário do melhor que os regimes democráticos podem e devem propiciar, em detrimento do centralismo incontrolável no que tem de arrogância e arbítrio, pois esse objectivo desapareceu como que por milagre dos discursos oficiais, escapuliu-se do debate público e da boca dos políticos profissionais. Bastou o primeiro-ministro José Sócrates determinar o adiamento da regionalização para que todos os nossos políticos, desde logo também se sentissem na obrigação de se adiarem, até porque uma regionalização a sério incluiria à cabeça o escrutínio do poder e, pelos vistos, este escrutínio não interessa a ninguém enquanto houver uma parcela para vender, uma ilha para negociar ou uma arriba para lotear pelas veredas dos subterfúgios legais onde o esperto é rei e cada município um verdadeiro condado. Assim sendo, quem hoje por acaso ou por convicção, defender a regionalização do Algarve, corre o risco de estar a terçar armas por uma espécie de coisa quase já clandestina ou pelo menos muito inconveniente. Estamos felizes.

No entanto, à falta desse escrutínio, os Municípios continuam a fazer o impensável ao mesmo tempo que os reis da batota também sabem que é muito mais fácil manobrar e influenciar direcções-gerais longínquas quase sempre com o apoio exitoso de gabinetes especializados. E é neste quadro, que os apregoados objectivos da desconcentração e da descentralização, acabam por funcionar igualmente como farsas a começar pelo preenchimento dos cargos, onde os critérios da competência, da capacidade de acção e do conhecimento da «região» acabam por dar lugar à prática do clientelismo político e do favorecimento sem justa causa. Mas também ninguém questiona por que motivo fulano foi nomeado para ocupar um lugar do Estado no Algarve até porque isso é emigração de luxo, sendo também inconveniente beliscar os emigrantes de luxo. Estamos felizes, muito.

É claro que, por ora, não citamos nomes para que não se diga que há nestes reparos algum ataque pessoal, muito embora se saiba que mesmo sem citar ninguém, as palavras são incómodas, sobretudo quando todos estão felizes. Muito felizes, apesar da crise do Estado e da crise do Algarve que, felizmente, ainda tem bastante areia para as avestruzes enterrarem a cabeça. Honra, vida longa e muito dinheirinho para as avestruzes.

P.S. - Ouvimos dizer que Faro é a Capital Nacional da Cultura. Não sabemos se a Ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, tem já conhecimento disso.

Carlos Albino

quinta-feira, 4 de agosto de 2005

SMS 117. Debate desenxabido nos quintais municipais

4 Agosto 2005

É possível que em Setembro, com a partida dos turistas e o apertar da crise, o tom do debate político no Algarve suba de tom e de nível, mas até agora tem sido ensonsso em Faro, insípido em Portimão, dessaboroso em Silves, desgracioso em Loulé, desanimado em Tavira, desgostoso em Albufeira, sensaborão em Lagos, e até mesmo em Vila do Bispo, desta vez, à falta de um novo Infante a traçar planos do futuro sentado no forte de Sagres e a olhar para a fotografia, o momento é sensaborão. O debate autárquico, por todo o Algarve, é desenxabido e os cartazes parecem dizer tudo ou pelo menos traduzem grande parte da verdade – não se vai além do «eu sou melhor do que ele», «eu sou a honestidade», «só eu serei um presidente para todos», «a competência dorme e acorda ao meu lado»; enfim, desenxabimento, é a palavra, para mais com enormes fotografias em que cada um dos candidatos apenas prova que está mais gordo e apenas ligeiramente mais velho do que há cinco anos, embora todos sorridentes ou então com olhos solenes de esquisita Sexta-feira Santa porque já vamos pelo Verão fora.


No entanto, tanta coisa haveria que discutir! A começar pela questão financeira dos municípios, do endividamento e dos expedientes para obter empréstimos por formas que nem o banco central sonha ou então a que fecha um olho mas para os quais (expedientes) aldeamentos e urbanizações têm os dois olhos abertos. E nem falemos das acumulações, dos empregos políticos ou da sua expectativa que na generalidade gerou as listas, nem falemos da ruína das fiscalizações municipais, da péssima e por vezes prepotente para não dizer mal criada relação dos funcionários locais com as costas quentes do poder face aos administrados por efeito dos comandos que os comandam explicando-se todos com essa profissão mais antiga do mundo que não é a que alguns pensam e que é a burocracia, por certo mãe da outra que se julga mais antiga.


O êxito ou fracasso da apresentação das listas acabou assim por ser aferido pelo maior ou menor número de gente que se inscreveu para o jantar – faltando ainda alguns jantares – e avaliado também pela qualidade e suposto nível dos apresentadores, uma estrelas políticas despachadas por militância de Lisboa e que, regra geral, teceram (faltando a algumas ainda tecer) rasgados elogios ao cabeça de lista porque o segundo e terceiro já não contam, como provam as fotografias dos cartazes.


Tudo isto poderia acontecer até como tem estado a acontecer e nenhum mal daí viria ao mundo. O problema é que o debate político autárquico esgota-se nisso, não passa disso e é quase só isso - «eu sou melhor do que ele», «eu sou a honestidade», «só eu serei um presidente para todos», «a competência dorme e acorda ao meu lado»…


Ninguém discute a sério as contas locais, o destino ou uso do dinheiro dos contribuintes, a qualidade das ruas, a lisura das decisões públicas que a todos afectam e, o que já seria pedir demais, que Algarve que projecta e se deseja no futuro acima dos quintais autárquicos cada vez mais murados com provincianos egoísmos municipais. Outrora, diziam os de Monchique «Adeus Algarve, que vou p’ra Faro!» Agora todos são de Monchique, o que é coisa desenxabida.

Carlos Albino

quinta-feira, 28 de julho de 2005

SMS 116. O custo do não-Algarve

28 Julho 2005

Nenhum governo, até hoje, calculou o custo do não-Algarve, embora todos eles e respectivas extensões telefónicas em Faro que se costuma designar por direcções ou delegações regionais, de uma ou outra forma, tenham contribuído para o descalabro do Algarve – descalabro urbanístico, descalabro da agricultura, descalabro das vias de comunicação e dos transportes, descalabro da agricultura, descalabro dos portos e das pescas, descalabro da cultura, descalabro até do próprio descalabro. Mais um pouco e não teremos o Algarve mas sim o não-Algarve. O sábio oportunismo de autarcas, os interesses rasteiros colados nas costas dos gestores das empresas municipais e inter-municipais, a pressão de empresários que têm tudo menos escrúpulos, a febre das imobiliárias que se pega como a malária em São Tomé, o espavento cinicamente eleitoral de profissionais da política candidatos a todos os parlamentos que prometem irresponsavelmente aquilo que sabem que não poderão fazer nem lhes deixam fazer ficando calados quando têm as cores do poder e dizendo umas coisitas para marcar presença e dar ares de grande verticalidade quando são remetidos para a oposição, tudo isto tem conduzido o Algarve para a negação do Algarve, para o Algarve.

É claro que empresários, investidores e gestores conscenciosos – que os há – queixam-se e com razão da falta de planeamento apesar de tanto plano, da falta de segurança para iniciativas apesar de nos considerarmos num estado de direito, da falta de transparência dos decisores políticos apesar de tanta assembleia eleita com poderes fiscalizadores. É claro que o mundo da cultura – que também há – assiste impotente à promoção do mais reles provincianismo compensado aqui e ali por acções subsidiadas de um novo-riquismo que se julga recobrir a miséria geral das ideias e da arte. É claro que há políticos sérios – naturalmente que os há – que acabam por deixar cair os braços não por ressaibo mas por delento, não por descrença na Democracia mas por demarcação aos que da mesma Democracia se aproveitam para fazerem o mesmo ou coisa semelhante ao que fariam se, acaso a antiga ditadura tivesse perdurado.


É assim que, a propósito de mais um cometa a cair junto das arribas de Lagos, e perante os protestos do senhor Mendes Bota – que não sabemos se protestou nas bandas de Vale do Lobo e arredores até Albufeira por aí fora – o presidente da Câmara lacobrigense diz que votou a favor «não por considerar interessante a operação urbanística dada a sensibilidade do local», mas já a vice-presidente da mesma câmara afirma tratar-se de «um projecto de arquitectura de muita qualidade, uma unidade de que Lagos precisa». É como se Algarve e não-Algarve se confundissem já integralmente sendo uma única e mesma coisa. Bonito.

Carlos Albino

quinta-feira, 21 de julho de 2005

SMS 115. A doença terminal da política

21 Julho 2005

O obreirismo eleitoral não é uma invenção algarvia mas tem funcionado aqui como instrumento de obsessivo êxito político. Autarcas que «não mostrem obra» julgam que tem os dias contados, ir para eleições sem uma boa dúzia de inaugurações com muitas palmas é o mesmo que derrota à vista, porquanto julgam que cada palma é um voto, e, mesmo que a obra não decorra dos méritos da autarquias mas das empresas que as oferecem a troco de qualquer coisa que nunca se sabe o que é, as obras salvam, sobretudo se forem inauguradas um ou dois meses antes do sufrágio porque, nestas coisas, julgam os autarcas que os eleitores continuam a ter a memória curta. E aqui, neste pormenor da memória do eleitor, é que está o erro com que muitos autarcas julgam que dissimulam as suas virtudes ou a falta delas – o eleitor tem memória, o eleitor sabe já de experiência própria quanto lhe custa não ter memória.

Vem isto a propósito de um pouco por todo o Algarve, a três meses das eleições, haver obras por todo o lado. Rotundas disciplinadoras do trânsito que poderiam e deveriam ter sido feitas há anos, só agora é são implantadas; estradas esburacadas que poderiam e deveriam ter sido reconstruídas há muito tempo, só agora é que são objecto do frenesim político; projectos de construção que estavam na gaveta, como que por milagre enchem as ruas de andaimes e os pinhais de hotéis mesmo com os pisos a mais que também durante anos estavam interditos, mas, agora, pelos vistos, deixaram de estar. Por aí fora, para não falar dos repuxos, da sementeira de esculturas de gosto duvidoso, enfim, da praga de congeminações dos arquitectos municipais impostas sem discussão pública e muito menos com a pedagogia da discussão pública. Com isto não queremos dizer que as eleições devem proibir as obras, apenas deixamos sugerido que a excepcional simultaneidade de tanta obra no pino do Verão é de molde a tornar as eleições quase proibitivas e, claro, suspeitosas. Muita obra, mas pouco plano estratégico, aliás, basta ler bem os slogans das campanhas por esses concelhos, tanto dos poderes locais como das oposições – são de uma pobreza extrema e de uma linearidade confrangedora.

Ora, este obsessivo obreirismo eleitoral é a verdadeira doença terminal da política. A política existe para fazer obra segundo o calendário do interesse público e para fazer prova de obra em função da legítima aspiração da sociedade ao bem estar e à modernidade, seja a obra cultural, de cimento ou de alcatrão. O que é assombroso é que o calendário do interesse público degenere em mero calendário eleitoral apenas para fins políticos escusos, para não falar da obtenção por terceiros de ganhos financeiros directos com a discreta oportunidade do momento. A política, assim, tem os dias contados, morre, ou a doença não seja terminal. A política só não morre se o eleitor usar a memória que já tem.

Carlos Albino

quinta-feira, 14 de julho de 2005

SMS 114. Alte à procura de um procurador

14 Julho 2005


1. Consta que Alte não gosta da intervenção que a Câmara de Loulé destina para a emblemática Fonte Grande. Será portanto mais um caso de desencontro entre o gosto oficial do município e o gosto da população – é um desencontro natural e isso ocorre pelo mundo fora, entornando-se o caldo quando um dos lados não manifesta bom senso ou então se impõe com autoridade majestática.

2. Já não acontece pelo mundo fora, mas pelos vistos ocorre em Alte, é que a população não tenha capacidade de se organizar para denunciar o descontentamento, para questionar métodos e para escrutinar o «gosto municipal». Pior ainda, e disso a população já terá culpa, é que não existe nas câmaras (designadamente nos serviços técnicos) uma cultura de discussão de projectos com as populações - apenas quando a lei impõe é que, enfim, se põe em prática a metáfora da discussão pública que não passa de metáfora pois quase todas as discussões públicas impostas legalmente vêm acompanhadas pelo espartilho do medo e de esmagadora retórica com o calão técnico de conveniência. Daí que dos estiradores municipais saia tanto mau gosto para as praças públicas como estas se enchem de tudo menos de bom senso.

3. E quando não há capacidade de organização da cidadania nem as câmaras dão mostras de quererem uma cultura de discussão, naturalmente que a escapatória é a denúncia anónima para uma televisão de casos pitorescos, o telefonema sob reserva para um jornalista salvador de última hora ou o pedido a uma figura supostamente com protagonismo e influência para que intervenha, demova e faça por procuração o que a população sente que não pode fazer. Pelo contacto que me dirigiram, ou muito me engano ou Alte anda precisamente à procura de um procurador.

4. Encurtando, não seria melhor que Seruca Emídio fizesse um atalho e fosse ouvir a população de Alte?

Carlos Albino

quinta-feira, 7 de julho de 2005

SMS 113. É triste e primário

7 Julho 2005

1. É triste. Temia mas está a acontecer já nesta fase das lutas autárquicas: quem tem estado na oposição – independentemente do poder ser PS ou PSD – não sai dos chavões de que «o concelho parou nestes últimos anos», que «nada foi feito», que «os projectos ficaram na gaveta à espera de aprovação», que «a saúde é só para alguns» e por aí fora. Trata-se de uma visão redutora da competição política e também se trata de contar com o tal pressuposto de que os eleitores são uns ignorantes, que não vêem nada, que não conhecem quem está na luta, o que é triste. Mas o que é muito mais triste é uns quantos senhores, em vez de provarem méritos, mostrarem que têm golpe de asa e seriedade, reduzam a democracia a luta corpo a corpo, a duelo em que o primeiro atingido cai para o lado, a guerra política onde vale tudo menos arrancar olhos. A democracia autárquica obviamente que não é isto. Mas esses senhores insistem.

2. É primário. Atitude que não se desliga da anterior, temos constado que, por regra geral, quem está na oposição – independentemente de ser PSD ou PS – não concede o benefício da sua presença a actos do poder envolvendo até benefícios e bens públicos, quer se trate da inauguração de uma biblioteca, da abertura de uma avenida, de um concerto de orquestra ou, mais grave, de um debate cívico e aberto sobre temas colectivos. A ausência é justificada – também regra geral mas entre dentes – porque «é obra deles». Deles, do poder. É primário. Trinta e um anos de democracia já deviam ter varrido esta mentalidade.

Carlos Albino

quinta-feira, 30 de junho de 2005

SMS 112. Os Direitos Humanos desta vez em Faro...

30 Junho 2005

Não sei mas gostaria de saber se é o forte construtor civil que tem razão ou se é o fraco e por ceto indefeso sexagenário António Afonso que viu a sua habitação a ser demolida às seis da manhã e à força que mais razão terá. O que se sabe é que os responsáveis por um empreendimento com mais de 800 fogos, pela descrição do jornalista Idálio Revés, fizeram ou mandaram fazer o inacreditável porque é próprio de uma sociedade de barbárie: nesse começo de dia, arrastaram o homem para cima de pedras, taparam-lhe a boca para não gritar e deitaram-lhe a casa abaixo onde vivia há 35 anos para o empreendimento avançar... Não é assim que a razão se apura, não é assim que se trata um ser humano. Na verdade, alguns construtores civis actuam no Algarve como se fossem ocupantes da Faixa de Gaza ─ e então por essas falésias onde não há ninguém é um ver se te avias. Mas se fora das falésias encontram um ser humano, alguns fazem obra desta, à margem dos tribunais, à margem da polícia, à margem da segurança social. Volto a repetir que não sei se António Afonso tem razão, o que sei é que o construtor a perdeu com esta acção própria da barbárie. É evidente que a Câmara de Faro e a PSP, cada entidade por lado teria uma palavra a dizer sobre a hora ou enquanto era tempo. A PSP descartou-se bem («os factos terão ocorrido antes da chegada da polícia») e a câmara em hora de eleições silenciou-se ─ o que é de mau tom numa sociedade onde egoístas e egocêntricos campeiam cada vez mais. Resta dizer que para executar acções como esta de Faro, mão-de-obra «especializada» não falta no Algarve... A polícia conhece essa mão-de-obra e os seus elevados conhecimentos de Direitos Humanos que aplicam com mestria nas horas vagas e pela calada da noite que é a prima irmã da clandestinidade. Mas os construtores também sabem. Vamos bem.

Carlos Albino

quinta-feira, 23 de junho de 2005

SMS 111. Duas citações…

23 Junho 2005

Primeira citação, o programador de Faro Capital da Cultura, Miguel Abreu, disse nem mais nem menos que «temos de ver se as pessoas percebem que o espectador do Algarve é igual ao espectador de Paris, de Lisboa ou de Nova Iorque». Nem mais nem menos – é igual. Igualíssimo. Grande programador!

Segunda citação, o vice-presidente da Câmara de Albufeira, José Carlos Rolo, disse também nem mais nem menos que «neste mundo global, se não tivermos uma Língua e uma Bandeira, deixaremos de ser portugueses, provavelmente». Grande pensador!

Carlos Albino

quinta-feira, 16 de junho de 2005

SMS 110. Autárquicas…

16 Junho 2005

As listas estão prontas, a luta vai começar, aliás já começou – os primeiros cartazes pré-eleitorais já por aí começam a ser afixados com o vale tudo e erros gramaticais à mistura. Possivelmente apenas Faro vai mudar de mãos por todas as razões e mais uma. Na verdade se alguma coisa Faro deverá querer é deixar de ser capital do provincianismo nacional. Mas também possivelmente haverá luta renhida em Portimão e abanão em Albufeira. O resto deve continuar mais ou menos na mesma, a avaliar os indícios – todos sabemos que os indícios valem pelas melhores sondagens, sobretudo quando os Municípios se transformaram em umbigos e onde apenas se olha para o umbigo sem lógica de Algarve, sem pensamento de Algarve, sem visão de Algarve, sem golpe de asa, sem a ambição superior de excelência. Os eleitores estão cansados de promessas não cumpridas e de constatar que afinal quem não é eleitor é quem manda no Algarve, desde que saiba satisfazer os umbigos municipais dando uma volta sobre a lei, dando uma volta sobre o bem comum, dando uma volta em tudo o que for preciso. E por aqui ficamos, porque em algumas listas as companhias não são sérias.

Carlos Albino

quinta-feira, 9 de junho de 2005

SMS 109. Aquele pormenor que Sócrates esqueceu

9 Junho 2005

O primeiro-ministro José Sócrates escolheu Sagres para algumas decisões importantes mas tardias como são os casos do ponto final na novela da Barragem de Odelouca. (mesmo assim a ver vamos…) e do plano de ordenamento da orla costeira. Na verdade, quem percorra a costa algarvia, sobretudo na zona de Quarteira-Albufeira, o que parece ter orientado aquela gente (autarcas, investidores, arquitectos e construtores) foi um plano de caos costeiro, verdadeiro caos típico de economia virtual, cega e aldrabona além do mais com sede em paraísos fiscais.

E quando estamos no caos, sabemos todos, ninguém se entende. Sócrates que, enfim, teve a coragem que faltou a Guterres e a Barroso para enfrentar este caos, argumentou que os investidores que defendam um turismo de qualidade apoiarão pela certa as medidas preconizadas, mas esqueceu-se de um pormenor – o pormenor dos algarvios, da população algarvia que segue atónita e descrente os movimentos da ilegalidade, da política subterrânea, da falta de fiscalização ou da fiscalização manobrada, das decisões desiguais e pela calada, um rosário sem fim que termina nos «aldeamentos turísticos» que, a partir de qualquer nesga de falésia, usurpam literalmente o domínio público. Sócrates esqueceu-se desse pormenor do número esmagador de algarvios que estão fartos do caos, dos autarcas do caos, dos arquitectos do caos, dos investidores do caos e dos construtores do caos mais o respectivo séquito de clandestinos.

Carlos Albino

quinta-feira, 2 de junho de 2005

SMS 108. Cerejas, morangos e outras frutas

2 Junho 2005

Possivelmente tive azar. Bem queria cerejas e morangos, mas tive azar. Fui a quatro hipermercados, dois supermercados e a dois minimercados à procura de cerejas e de morangos a sério, mas tive azar – ou eram cerejas do Douro, com dedo espanhol, com a cor dos olhos de borrego morto, sem sabor e metade bolorentas (toda a gente sabe que cerejas a sério são as da Cova da Beira, onde os produtores estão desesperados por não conseguirem escoar a sua fruta ímpar), ou eram morangos espanhóis, verdadeiros monumentos às hormonas e que, há duas semanas, enganado, comprei à beira da estrada da Patã, mas tive que os deitar fora – eram intragáveis. E apenas para verificar até onde as coisas podem chegar, andei pela 125 onde os pequenos agricultores, talvez mais por desespero do que por manha, pelos vistos se prestam, paredes meias com comércio ilegal mas a pretexto das laranjas «do produtor», a servirem de esgoto da fruta que a Andaluzia rejeita e não pode exportar para a Europa minimamente exigente. Afinal, nem uma cereja a sério, nem um morango a sério encontrei por todos os mercados possíveis numas três horas que não dou como perdidas – nessa experiência percebi «a coisa». Quer isto dizer que Portugal, cujos políticos andam por aí entusiasmados com o Mercado Interno Ibérico depois do entusiasmo pouco ou nada sério com o Mercado Interno Europeu, não conseguiu realizar e garantir o seu próprio mercado interno, o mercado interno português.

Os produtores algarvios de citrinos sabem dramaticamente do que estou a falar e os produtores de cerejas da Cova da Beira são as vítimas mais recentes e actuais – os beirões sofrem com as cerejas o mesmo ou mais do que os algarvios têm sofrido com as laranjas. Que os hiper, super e mini mercados encham as prateleiras com a fruta que a Espanha não consegue vender em mais lado nenhum, isso tem uma explicação que os senhores Belmiro de Azevedo e Américo Amorim guardam – sabemos. Mas o que não dá para entender é que os agricultores algarvios de citrinos em vez de darem a mão aos produtores beirões de cerejas, concertando estratégias, façam por ganhunça à beira da Metropolitana 125 o mesmo que nos hiper, super e mini se pratica: esgoto.

Carlos Albino

quinta-feira, 26 de maio de 2005

SMS 107. As presidenciais tacadas

26 Maio 2005

Foi em Novembro de 2003 (como o tempo passa…) que aqui se pediu ao Presidente Jorge Sampaio para fazer uma Presidência Aberta no pobre Algarve, no Algarve dos pobres, no Algarve da pobreza que é a maior parte do Algarve. Pediu-se que o Presidente percorresse a Serra e o Barrocal, que ouvisse os agricultores, os autarcas do interior, que fosse a Alcoutim, que falasse com os de São Brás, os de Loulé, os de Silves e os de Monchique, que se confrontasse com o paradoxo de uma Região que é tida por rica mas que tem as zonas mais pobres do país, que alertasse para a dramática ruptura cultural, para o grave problema de comunicação que atravessa e fere a sociedade algarvia. O Presidente Sampaio nada fez e agora com eleições, referendos e com um pé de saída, já é tarde para o fazer. Foi ao Minho tratar de descentralização, andou nove dias na Guarda, percorreu a Beira Baixa a propósito de educação, esteve em Évora, andou por todo o lado e, há pouco, até circulou por estradas e auto-estradas por causa da sinistralidade rodoviária. Para o Algarve, nem uma Presidência Aberta decente e sem encenações, nem sequer um 10 Junho, um diazinho de Portugal que recolocasse a dignidade de Sagres traída. Por tanta azáfama presidencial, Sampaio esqueceu o pobre Algarve onde acabou por vir apenas episodicamente e, mais recentemente, por umas tacadas de golfe pelo que, depois de condecorar Palmer com a comenda do mérito, abalou. Na verdade, Sampaio e os governos têm tratado o Algarve à tacada e ficam muito contentes se acertam com os seus méritos nos buracos – como se essa fosse a sua função, a função do Presidente e a função dos governos. Sampaio, assim não. Mas já é tarde.

Carlos Albino

quinta-feira, 19 de maio de 2005

SMS 106. Nomes das Escolas… pensem bem.

19 Maio

E aí temos cada Escola com o seu bilhete de identidade, havendo já muitas poucas no Algarve sem um nome de «patrono» ou sem uma designação mais ou menos apologética. Algumas escolas, melhor dizendo, as direcções de algumas escolas foram atrás de nomes mais ou menos célebres pescados por entre as relativas celebridades da terra ou dos arredores; outras direcções escolares pretenderam afirmar, enfim, alguma ideia política de progresso; outras ainda quiseram apenas homenagear um morto. Mas quase todas as direcções escolares procederam e decidiram como se todas as escolas tivessem que estar associadas a um patrono célebre, a uma ideia supostamente salvadora ou, à falta de melhor, a um morto que pouco mal tenha feito em vida.

Assim, à falta de Pedagogos (do Algarve, ficaram na história dois que não chegam a três), à falta de Cientistas e de Investigadores (há bastantes mas os decisores algarvios não só os desconheceram em vida como depois da morte), à falta de Vultos Literários de peso e de Vultos Políticos com peso humanista (bem contados todos eles, vão para sete, oito, nove ou, vá lá, para dez os que já marcaram ou estão a marcar, havendo muito vulto do passado que não tendo sido vulto, não passou e não passa de fantasma), pois à falta de eminências, algumas escolas, nesse frenesim de encontrar um «patrono», acabaram por ficar com a canga de nomes escolhidos por critérios mais que duvidosos seguidos pelos respectivos conselhos directivos.

Há escolas, por exemplo, com nome de padres mortos só porque supostamente foram homens bons (como se não tivessem sido diabos pela calada e verdadeiras nulidades do Saber) mas, no que importa ou importaria para as escolas, sem obra científica, pedagógica ou até cultural de relevo – corra-se o Algarve e é evidente que é difícil descortinar qualquer padre algarvio com o nível do Abade do Baçal. E, à falta de padre morto, até há escolas com nomes de divindades cristãs, mudando o que pode ou deve ser mudado, à boa maneira do fundamentalismo islâmico. Se não há Vulto ou Eminência na terra e arredores, porque é que a Escola não poderá ficar apenas com o nome do sítio? Sem dúvida que esta matéria, algum dia, terá que ser revista com serenidade e com critérios.

Carlos Albino

quinta-feira, 12 de maio de 2005

SMS 105. Correia de Campos, uma asneira atrás de asneira

12 Maio 2005

Inevitável, é inevitável falar-se do projectado Hospital Central do Algarve e do ministro Correia de Campos que é uma tristeza de ministro. Primeiro, antes das eleições, era ele ainda mero ou presuntivo candidato a ministro para mudar Portugal – bem nos recordamos – disparou contra aquele anseio de todos os algarvios que corresponde a uma prioridade e necessidade evidentes, sendo de imediato desmentido por José Sócrates e o assunto ficou por aí porque, todos nós ou, melhor, a maioria absoluta de nós queria mudar Portugal para melhor e não para pior.

Todavia, já ministro, Correia de Campos torna-se repetente no dislate que ninguém pode deixar de classificar como uma provocação política, obrigando o primeiro-ministro a desmenti-lo de novo. Mas, em vez de dar a mão à palmatória, Correia de Campos fez a terceira e mais grave asneira ao fazer depender o hospital da encomenda de um «estudo», como se não tivesse havido já estudo e como se os dois desmentidos de Sócrates não tivessem sido previamente bem estudados…

É claro que houve estudo, pelo que o ministro Correia de Campos ou está sediciosamente desatento ou falta à verdade, colocando o primeiro-ministro José Sócrates, pela terceira vez, numa posição de desconforto face à posição unânime do Algarve e dos Algarvios sobre essa matéria – de José Apolinário a Carlos Martins, de Miguel Freitas a José Mendes Bota e de Sagres a Vila Real de Santo António passando por Macário Correia. Assim, o ministro da Saúde, arrogante e politicamente trapalhão, não ajuda a mudar Portugal – apenas dá continuidade ao pior que Portugal tem: encomenda estudos ou nomeia comissões para estudar depois de tanto estudo feito, adia, gasta, provoca e, pior do que tudo, ofende. Correia de Campos ofendeu o Algarve.

Carlos Albino

Nota: É claro que Correia de Campos é natural de Torredeita, Viseu. Se vem ao Algarve, se conhece o Algarve, se para aqui vem apenas bronzear-se ou se se confrontou alguma vez com o que o Algarve é durante meio ano, não se sabe.