quinta-feira, 22 de dezembro de 2005

SMS 137. Os italianos, por exemplo

22 Dezembro 2005

Para não falar dos chineses que imitam tudo e quando imitam as cópias são aos milhões, e também para não falar dos espanhóis que vendem gato por lebre mas porque vendem, arrecadam, falemos dos italianos e a propósito de presépios. Pois, para o presépio deste Natal, quem andou à procura das tradicionais figuras de barro portuguesas, andou em vão - as figuras desapareceram. E desapareceram porque essas figurinhas - milhares e milhares de figurinhas todos os anos colocadas no mercado nesta época - saíam das mãos e do trabalho de crianças naturalmente exploradas aos magotes, em fábricas ali nas cercanias de Famalicão entre outras cercanias - estive numa dessas fábricas e pude constatar, estupefacto, com os meus próprios olhos. Com a dita proibição do trabalho infantil, os grandes empresários que se tornaram grandes à custa dessas misérias, pura e simplesmente acabaram com o fabrico das figurinhas. Ora, a preencher este vazio de mercado, chegaram os italianos que encheram Portugal até dizer basta, com reproduções das figuras dos presépios de Nápoles que são a matriz de todos os presépios da Europa. Os italianos venderam em Portugal como nunca, aliás os portugueses importaram como sempre e desta vez até Presépios. É claro que reproduções dos presépios portugueses - os de Machado de Castro, por exemplo, mas lembrando-me também do Presépio de Estoi - feitas com seriedade artística e empresarial e sem as macacadas do trabalho infantil, teriam êxito assegurado e, naturalmente, êxito na exportação. Poderia até ser aquilo a que os teóricos da economia de salão chamam um «nicho de mercado». Mas se os italianos souberam tirar partido dos presépios de Nápoles, os portugueses preferem, pelos vistos, o mercado de antiguidades bem abastecido pelos ladrões e ofícios correlativos que pilham o nosso património. Já quanto aos Algarvios, estes estão perdoados neste Natal, por não terem tirado ainda partido do Presépio de Estoi. E estão perdoados porque, como se viu com as figurinhas de Faro-Capital-Nacional-da-Cultura, nós Algarvios, infelizmente somos um Presépio vivo e burros são os que, com o seu bafo, aquecem o menino.

Carlos Albino

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