quinta-feira, 27 de julho de 2006

SMS 168. Cheios de razão e de motivos

27 julho 2006

As gentes de Vila do Bispo protestam contra o abandono da Fortaleza de Sagres e do Forte de Santa Catarina e insurgem-se contra o facto do Farol de Sagres estar encerrado. Os protestos têm, obviamente, o endereço do IPPAR que tutela e gere o segundo lugar mais visitado do País, arrecadando receitas que não reinveste naqueles monumentos. Pois os de Vila do Bispo, estão cheios de razões e motivos.

Para não falar do mamarracho que se permitiu, o IPPAR tem normalmente olhado para Sagres de soslaio e, nessa atitude, não está só, porquanto o estranho desprezo e o desleixo escrutinador com que a Comissão Nacional da UNESCO tratou do processo de candidatura do Promontório a Património Mundial chocaram os espíritos atentos mas inconformados face aos que sabem tudo. Parece até que alguém teme que em Sagres se possa identificar com segurança algo de incomparável mas que, em função daquele soslaio, desprezo e desleixo, anda entre a boa embora escassa informação e a lenda.

Claro que o decisor em última análise do IPPAR, no seu gabinete em Lisboa, e a ministra da Cultura, no alto do Palácio da Ajuda, não são nem podem ser fiscais directos e no terreno do que se passa com o património e com a cultura no Algarve – para tanto dispõem no Algarve de extensões, o Ministério tem uma Delegação Regional e o IPPAR conta com uma Direcção, igualmente de nome, Regional.

Mas não direi mais do que o seguinte: quanto à Delegação do Ministério, tenho saudades de João Ventura nesse posto, do seu entusiasmo, dos seus conhecimentos, melhor, da sua constante procura de conhecimentos, e quanto à Direcção a conversa acabou quando verifiquei que não valia a pena, nem valendo a pena recordar. E sendo assim junto-me aos de Vila do Bispo nos seus protestos e nas suas razões.

De facto, nesta matéria, justifica-se uma «mexida regional».

Carlos Albino

quinta-feira, 20 de julho de 2006

SMS 167. Inadmissível

20 Julho 2006

A forma como, sem supervisão adequada e sem fiscalização preventiva (aqui é que bate o ponto), se permitiu a descarga de seis toneladas de lamas de esgotos em terrenos xistosos, na cabeceira de uma das linhas de água do Caldeirão a verter para a barragem de Odeleite e a escassas centenas de metros dos furos municipais que abastecem as populações da Cortelha, Barranco do Velho e Vale Maria Dias, é inadmissível. Com o calor, foi o cheiro nauseabundo, além de que, como se sabe, as moscas não pedem licença à Direcção Regional da Agricultura nem os mosquitos solicitam parecer à CCDR. Sabe-se que idêntica falta de respeito e ausência do mais elementar civismo ocorreu igualmente em São Bartolomeu de Messines. Inadmissível também, desconhecendo-se se os «autos de notícia» levantados para os dois casos, começam, terminam ou têm lá pelo meio a transcrição da tal quadra de Aleixo que, obviamente recebeu antes da DGA e da CCDR nascerem, o parecer favorável do povo algarvio:

Uma mosca sem valor
poisa c’o a mesma alegria
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.


É claro que episódios como estes chamam à memória a saga da construção do aterro sanitário do Sotavento, precisamente naquela mesma Cortelha, em área da proclamadíssima Rede Natura, saga que ao fim e ao cabo foi um «negócio político» assinado com a mesma alegria com que a mosca sem valor pousa nesta inadmissível política feita com as lamas dos esgotos da burocracia. Negócio político anti-natura que é, forma uma rede, uma rede anti-natura.

É por estas e outras razões e motivos que se deveria passar a designar proeminentes ecologistas por egologistas – ou peritos na ciência do eu. Porque servem o eu. Perderam a consciência e o bom cheiro da origem etimológica daquele eco (do grego oíkos, casa) e nesse eu que é a sua alegre casinha, o bicho homem conta menos que a mosca - mesmo que o bicho homem esteja em extinção na Serra do Caldeirão, pelos vistos com parecer favorável e licenciamento aprovado desde que se cubra o bicho no prazo de 48 horas como a burocracia determina para as lamas.

Carlos Albino

quinta-feira, 13 de julho de 2006

SMS 166. Ambiente escaldante

13 Julho 2006

No momento em que os fundos comunitários para o Algarve, até 2013, vão quase pela certa sofrer um corte de 75 a 80 por cento (a região, por assim dizer, terá de se contentar com 254 milhões de euros por, à luz fria das estatísticas, estar a sair artificialmente do chamado «objectivo de convergência»), pois é neste momento que o Plano Regional de Ordenamento do Território entra em discussão pública, com cada um a puxar para ao seu lado, o pequeno e já delido lençol algarvio.

As câmaras estão divididas procurando algumas, sem grande autoridade moral em matéria de ambiente, acautelar os quintais costeiros que restam; os investidores ameaçam, e, como se o capital financeiro tivesse sede na região e beneficiasse directamente o Algarve, só agora reclamam por «regras claras no turismo» quando nestes últimos 20, 30 ou 40 anos, nenhuma clareza reclamaram para os processos de financiamento e de recuperação; e como se tudo isso não bastasse, lá surgem uns quantos com ar melífero mas para quem a defesa do ambiente se esgota em malandramente acariciar um imaginário lince ou a cheirar tomilho, enquanto não conquistam algum bem remunerado posto de consultor ambiental, calando-se depois, cada um à sua vez.

Sem dúvida que o problema ambiental do Algarve é grave, atrever-me-ei a afirmar que, em termos de segurança, de bem-estar colectivo e de identidade, este será até o mais grave dos problemas que o Algarve enfrentou ao longo da sua velha história, porquanto, hoje o Algarve dos Algarvios não teme apenas um Remexido, que até era de mau tom e pior aspecto, mas teme, sim, umas boas dezenas de Remexidos, todos eles com muito bom tom e melhor aspecto apesar dos indisfarçáveis tiques próprios dos salteadores.

De facto, não sou eu que digo agora – tem sido voz corrente nos últimos anos que «o Algarve está ao assalto». Quem tiver dúvidas, que olhe para aquelas falésias de Albufeira ou mesmo para muito do que já foi domínio público marítimo.

Carlos Albino

quinta-feira, 6 de julho de 2006

SMS 165. Manuel da Luz Afonso, louletano

6 Julho 2006

Vem a propósito: o seleccionador dos célebres Magriços, Manuel da Luz Afonso, era de Loulé, terra que tem dado ao País políticos, engenheiros, literatos e militares de nomeada. No desporto, anos a fio, esse louletano tem sido uma referência incontornável, mas, até agora, a sua terra não lhe fez a homenagem adequada e devida. Creio que nenhum dos Magriços sobreviventes recusaria estar em Loulé para uma evocação condigna, designadamente Simões e Eusébio.

Na verdade, vendo o panorama, Manuel da Luz Afonso foi a personalidade ímpar louletana que mais se notabilizou na área desportiva, pelo seu carácter firme, digno e correcto, pelos seus testados conhecimentos e pelos insofismáveis feitos. Ele fez uma escola que galvanizou gerações de desportistas.

Não sei, então, porque é que Loulé espera para dar o nome de Manuel da Luz Afonso ao belo Pavilhão Desportivo da cidade.

Seruca Emídio tem a palavra para que Loulé salde de vez a dívida. Uma grande dívida. Pelo meu lado, gostaria de chegar ao fim daquela avenida e ler em letras de gente agradecida – Pavilhão Manuel da Luz Afonso, seleccionador dos Magriços. E já agora, porque há dinheiro para tanta criancice, não me repugnaria ver, num recanto arrelvado, um grupo escultórico com o Manuel da Luz Afonso de braço erguido, com os 11 Magriços cada um na posição de campo… Eusébio e Simões, de certeza, fariam de Loulé paragem obrigatória. Estou para ver.

Carlos Albino