quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

SMS 251. Os cães

28 Fevereiro 2008

Em conveniente declaração prévia, digo já que nada tenho contra os bichos e que até gosto de bichos, mas há limites. E o limite está quando por aí vemos muito homem-cão a passear cão-homem, sem se saber muito bem se o dono é o cão ou será o homem, pois a exibição do luxo dessa propriedade é recíproca e provoca idênticos dejectos, cada parte a julgar que faz boa figura – o cão treinado para mostrar que o dono é homem, e o homem mostrando a felicidade de que o cão é dono.

Não vou falar dos episódios trágicos que há muito tempo deviam ter terminado de uma vez por todas se as autoridades tivessem autoridade, usassem a autoridade ou tivessem meios para exercer a autoridade – na verdade, é impossível colocar atrás de cada homem-cão uma autoridade que impeça a luxuosa transformação em cão-homem daquilo que é apenas cão e que os donos exibem como se fosse homem mas a que a lei exige açaime e corrente.

Por outras palavras, também no Algarve não há controle do que rigorosamente se chama posse responsável dos cães, até porque, havendo muitos cães-homem e outros tantos homens-cão, são incontroláveis os cães que são donos do homem, mesmo que tais cães não tenham cão. E até podem dizer que isto é uma metáfora, mas que não é indicador de riqueza e de qualidade de vida no Algarve, ah, lá isso é que não é, mesmo que a Universidade da Beira Interior, já agora, também inclua esse item de genes agressivo, pois o provincianismo também é cão sem açaime.

Carlos Albino

Flagrante esclarecimento: É expectável que nos postos de comando do Algarve, por princípio, devam estar algarvios o que não difícil de definir, e não tanto interessados em negócios algarvios. Só uma agenda para a desregionalização é que leva a fechar os olhos a isso.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

SMS 250. A prioridade da Escola

21 Fevereiro 2008

Claro que só num país da cauda do mundo é que responsáveis políticos se atrevem a dizer em ar de descoberta, com êxito e impunidade política, que devemos dar prioridade à educação e à escola… Então não foi dada? Não deveria essa prioridade ter sido dada há muito, ser há muito um dado adquirido e ter entrado já na rotina do orçamento e da política? Essa conversa que, no século XIX, era a conversa normal dos países mais avançados da Europa, se ainda serve de conversa e bandeira política em 2008, é porque o País tem as suas bandeiras do ensino em meia-haste à porta das suas escolas, por maior que seja a boa-vontade de um escol de professores em disfarçar ou remediar esse ar de luto da educação.

Num balanço destas décadas de democracia que já vai em tantas décadas como as do puro regime autoritário, custa constatar como o Estado tratou os professores como bombeiros voluntários, protegido (ele, o Estado) sem dúvida por uma minoria de beneficiados bombeiros excepcionais. E custa verificar como o mesmo Estado converteu os professores, de modo geral, em tribo nómada, a saltarem de terra em terra, muitas vezes sem tempo sequer para armar a tenda, submetendo-os portanto a uma cultura de tenda que também não deixa de gerar zelosos interesses. Foi deveras um milagre que a escola, de quando ou quando, pela abnegação de alguns professores (e não por vontade expressa do Estado) tenha cumprido algumas das suas missões, ou conseguido ligar-se, aqui e acolá, à comunidade que serve, da qual deveria ser motor e não apenas piquete para apagar fogo posto.

Carlos Albino


Flagrantes nomes de escolas: Diz-me como te chamas, dir-te-ei quem és… E há cada nome!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

SMS 249. Apenas para agradecer

14 Fevereiro 2008

Não é tarde nem cedo – agradeço. Quando muitas câmaras algarvias continuam perdulariamente a promover ou elas próprias a editar livros sem escrutínio de qualidade apenas porque nome feito dá nome e não se passa disto, tenho de agradecer a Maria Aliete Galhoz, a Isabel Cardigos e a Idália Farinho, o trabalho de pesquisa sobre o património oral do concelho de Loulé. Trabalho que já deu dois volumes, um primeiro sobre contos (2005), um segundo sobre romances (2006), e aguarda-se por um terceiro, sobre orações. Conto do povo, romances do povo e orações do povo, precise-se. É que há por aí muita coisa publicada que se diz de cultura popular, mas que mais não é do que cultura contra o povo. Há uma minoria de povo que é anti-popular, sobretudo quando essa minoria pavoneia ignorância como sendo sabedoria, e exibe cópia ou arremedo como sendo matéria genuína e herança de gerações.

A tradição cultural oral do Algarve, sem dúvida, sofreu uma fortíssima ruptura no século XX, cujas causas estão inventariar com precisão mas que se suspeitam – há instituições responsáveis pela decapitação desse património. Grande parte dessa tradição perdeu-se, pouco ficou – basta tentar saber como Aleixo e com ele ou como ele os poetas populares cantavam e competiam, para se perceber como pouco da tradição ficou. Ora, ir à busca do pouco que resistiu, com aquele rigor que apenas é possível obter quando se tem humildade académica, é o que está patente nos volumes já publicados (com excertos em CD) sobre o património oral de Loulé – é um trabalho sério. Não é tarde nem cedo, obrigado Aliete Galhoz, obrigado Isabel Cardigos, obrigado Idália Farinho.

Carlos Albino

Flagrante pergunta: Há um ambiente esquisito, não há?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

SMS 248. Algarve ou figura de estilo?

7 Fevereiro 2008

Os autarcas da Região Oeste apresentaram ao Governo uma apreciável lista de contrapartidas como forma de compensar o chumbo do aeroporto na Ota. A lista é extensa e vai desde redes de lojas da “terra e do mar”, de “espaços urbanos da cultura, criatividade e conhecimento” a carta regionais (social, educativa e desportiva), passando por eixos viários estruturantes, agência regional do ambiente e energia, projecto digital, observatório das dinâmicas regionais, sistemas de gestão autárquica, um Polis regional, a requalificação do linha ferroviária do Oeste, marinas na Nazaré e em Peniche, centro de investigação, qualidade e certificação de produtos regionais, um pólo tecnológico, um hospital, um aeródromo em Torres Novas, requalificação da lagoa de Óbidos e valorização das termas das Caldas, entre o mais, designadamente infraestruturas rodo-ferroviárias que aproximem a região do futuro aeroporto, por certo em Alcochete, um pólo turístico e «montagem de um sistema de governança regional”. É claro que, se por não ficarem com o aeroporto os autarcas do Oeste exigem isso, é de crer que se tivessem ficado com o aeroporto exigiriam o mesmo ou talvez mais… O não-aeroporto é um pretexto e o aeroporto pretexto seria, porque o Oeste tem lobby influente na política – no governo, no parlamento, por dentro dos partidos e por fora, no poder e na oposição – e quando se trata de defender a região, toca a reunir.

Não é censurável, antes pelo contrário é de elogiar a força anímica e organizadamente reivindicativa dos autarcas e agentes do Oeste – é até coisa de meter inveja noutras regiões onde o medo de perder empregos políticos (se não é isto, parece) dita a submissão dos pretextos e a canonização política de interesses que dependem de centros decisão que, na verdade, estão fora da terra e exportam a grande massa de benefícios para fora da terra, sem contrapartidas de maior.

Imagine-se o que o Algarve não deveria reivindicar por não ter o que deveria ter. Mas onde é que está aqui a garra do Oeste, para não falar das garras mais a norte e até já da garra alentejana? Aliás, pouco falta para que os próprios comandos do Algarve não estejam todos nas mãos de gente que o Algarve distraído adoptou, ou que com muita e interessada atenção adoptou o Algarve. Tanto faz, embora muitos teimem em acreditar que o Algarve não será apenas uma figura de estilo.

Carlos Albino

Flagrante provérbio: Com papas e bolos, se enganam os tolos.