quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

SMS 242. É claro que a solidariedade não tem regras de mercado

27 Dezembro 2007

Vou falar do caso para haja um rebate de consciência, mas não vou citar nomes de responsáveis, nem de instituições, nem do local para que o rebate se dê atempado. O caso é este: um bom homem legou a sua bela residência a uma instituição de solidariedade, e hoje, quando por ela se passa, a memória do generoso homem é lembrada até porque a moradia é sede de uma outra instituição de solidariedade com obra meritória e por todos reconhecida – ninguém assobia para o lado. Só que a instituição de solidariedade que recebeu o legado, alugou o edifício por umas centenas de euros à instituição de solidariedade que a usa e dela precisa para prosseguir os valores que seguramente devem ter estado no espírito do homem que doou a bela moradia. Ora a instituição inquilina vê-se e deseja-se para pagar a renda à instituição que por definição é solidária mas que não deixa de ser senhoria. Penso eu, e muita gente, que se o homem que bondosamente legou a sua casa regressasse à Terra, não cobraria um cêntimo à instituição que efectivamente usa e precisa da casa para fins sociais. Ou, se mesmo não regressando a este mundo, tivesse voz que se ouvisse, diria à instituição senhoria de um património que lhe foi dado por solidariedade, que a solidariedade paga-se com solidariedade e que a solidariedade não tem que seguir as regras de mercado para não se negar a si própria. Uma instituição de solidariedade relacionar-se com outra, também de solidariedade, voltando costas ao comodato a que moralmente estaria obrigada a conceder à outra, é mais ou menos o mesmo que supostamente surpreendermos um pobre a cobrar juros a outros pobres por empréstimos de dinheiros obtidos exclusivamente por esmola, continuando tal pobre banqueiro à esmola para engrossar os proventos da onzenaria… Ou não será?

Carlos Albino

Flagrante dever da quadra: Votos de Feliz Natal e Bom Ano Novo a todos os leitores que acompanham estes apontamentos há 242 semanas.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

SMS 241. Uma brisa de presépios

20 Dezembro 2007

São oito os presépios armados em áreas de serviço da rede de auto-estradas da Brisa, portanto o Algarve não conta, muito embora a Via do Infante não esteja nas mãos do rei Herodes. Os de Almodôvar e Aljustrel são os que mais perto estão cá da terra, mas há também os de Santarém, Leiria, Penela, Cantanhede, Trofa e Barcelos. Os presépios estão a votos e até dia 24 e conforme o presépio vencedor, o município da área ganhará um mini-bus para transporte de passageiros. É uma boa prenda e trata-se de uma boa ideia porque, para além de recolocar honra e dignidade na velha tradição portuguesa do Presépio, é uma daquelas simples e fáceis iniciativas que estão na linha da recuperação da sensibilidade e do humanismo perdidos. Naturalmente que muito gostaria que o rei Herodes não tomasse a Via do Infante e mais gostaria que os municípios do Algarve olhassem para a bela tradição dos presépios como coisa de eleição – o presépio é um dos poucos traços de união entre crentes, não crentes e indiferentes. Sobretudo os municípios que estão a promover a importação de tradições que em nada nos dizem respeito, como o dia das bruxas, fazendo aqui o mesmo ou coisa semelhante que outrora se promovia em Angola - forçar os meninos negros a dançarem o vira do Minho ou o fandango... Vem na mesma linha.

Carlos Albino

Flagrantes omissões: É claro que, nos convites para o meu presépio, houve três esquecimentos perdoáveis, mas a eurodeputada Jamila Madeira também está convidada para ver aquele bom mundo – a sua persistência e tenacidade acabaram por se impor como boa estrela política quando a julgávamos apenas atrelada aos reis magos. E por razões de proximidade, convites também para Seruca Emídio e José Apolinário.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

SMS 240. Assessor e presidente de Junta

13 Dezembro 2007

Com citação de caso concreto, perguntam-me se um presidente de junta de freguesia pode desempenhar simultaneamente as funções de assessor de presidente de câmara, em regime de permanência. Pelo que sei, não pode, além de que, por questão de transparência política, não deveria, sobretudo se a assessoria funções de consultor envolver matérias que no Algarve são explosivas como as do urbanismo e da pólvora de pedreiras. É verdade que há um parecer de organismo provincial a dizer que não há incompatibilidade com o mandato, mas que ou é parecer coxo, ou é mais uma daquelas muletas de conveniência. Para o caso concreto que me contam e que confirmei ser verdade, vale a jurisprudência do Supremo, pareceres da Procuradoria que por regra não coxeiam e também um acórdão de tribunal do norte que apreciou matéria idêntica. Tal acumulação não implica a perda de mandato na junta (não é um caso de incompatibilidade de cargos políticos mas de incompatibilidade de funções) pelo que um presidente de junta que seja assessor de presidente ou de vereador de câmara, não perde o mandato autárquico mas tem que se demitir do cargo para que foi nomeado com devolução dos dinheiros recebidos.

O infractor do caso concreto que tome providências quanto antes, porque é muita massa e não dá para brincadeiras, sobretudo em vésperas de Natal.

Carlos Albino

Flagrante estado de alma: O conforto de espírito por armar o Presépio na tradição herdada de meu pai – em pedra, com água e movimentos. Para além das crianças que conheço e das que me dão a conhecer, estão convidados, para uma vista de olhos, os deputados pelo Algarve designadamente Jovita Ladeira, Mendes Bota e Hugo Nunes. A casa não é grande, mas gente de boa vontade cabe toda.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

SMS 239. Presentes de Natal

6 Dezembro 2007

Antes que os produtos se esgotem, prepararemos os seguintes presentes para a governadora civil e para os 16 presidentes das câmaras algarvias:

Governadora Civil – um GPS para não se perder até à Guarda
Albufeira – Manual de Construção sobre o Mar
Alcoutim – um cêntimo do Orçamento de Estado
Aljezur – luvas de boxe para combater o isolamento
Castro Marim – uns binóculos
Faro – o fim das dores de cabeça
Lagoa – tabuletas e rotundas
Lagos – que o nível do mar não suba
Loulé – pazes com Quarteira
Monchique – mais uns pelouros
Olhão – um caíque a sério, caramba!
Portimão – um TGV, já agora…
São Brás – uma segunda freguesia
Silves – remédio para a lagarta da laranja
Tavira – o Hino do Algarve revisto e aumentado
Vila do Bispo – que o Instituto do Património tenha bom feitio
Vila Real – uma viagem a Cuba

Carlos Albino

Flagrante falta: A da celebração dos 50 anos dos males e omissões da RTP.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

SMS 238. Estamos governados

29 Novembro 2007

Os seis deputados do PS entenderam proclamar que, em matéria de investimentos da administração central para 2008, o Algarve «não tem razões de queixa». Não sei se falaram para os eleitores que representam, se para o governo que devem ou deveriam escrutinar, independentemente da simpatia política, ou se falaram apenas porque tinham que dizer alguma coisa fosse o que fosse. Em todo o caso foi uma proclamação perigosa, embora politicamente confortável para os próprios.

Naturalmente que o Algarve tem sobejas razões de queixa em matéria de transportes e vias públicas (não basta requalificar a 125 e sabe lá Deus quando!), de segurança, de saúde, de educação, de cultura, de ambiente, de requalificação urbanística… por aí fora. Mas, uma coisa é dizer-se que não há dinheiro ou que o dinheiro é pouco, outra é representantes afirmarem numa democracia representativa que não há razões de queixa, assim mesmo, como quem diz sem rei nem roque – porque não te calas?

É muito preocupante, para não dizer que é de mau tom, que representantes façam o papel de delegados. Mau prenúncio para a noção de Algarve e de representação do Algarve.

Carlos Albino

Flagrante adopção: A ligação das 2500 lâmpadas de Natal no Refúgio Aboim Ascensão, às 16 horas e 45 minutos de sábado, 1 de Dezembro, em Faro. É de ver porque significa muito.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

SMS 237. Os médicos, desta vez, têm razão

22 Novembro 2007

Muito breve e em poucas palavras – os médicos que apresentaram demissão de chefias do Hospital Central de Faro têm razão. E independentemente de terem razão, é chocante a forma como os responsáveis pela saúde no Algarve geriram o problema, a denotar que o complexo da maioria absoluta também já vem fazer aqui turismo de Inverno.

É claro que falar verdade da questão da saúde no Algarve – que está numa lástima – não é contribuir para o alarmismo e insegurança, pois os doentes e os que dos cuidados médicos necessitam, já há muito estão alarmados e inseguros. Para nada serve abafar a verdade da questão e rejeitar saber qual é problema pois os algarvios, sobretudos a vasta camada dos mais pobres e remediados, há muito sentem a dor da verdade para a qual uma democracia sadia tem cura ou pelos menos dispõe da terapêutica das práticas democráticas e que foi o que não se verificou. O que se verificou foi a pesporrência que é a cólica da democracia. Os médicos até podiam por hipótese não ter razão, mas não a atitude de quem tem poder e é responsável público não pode ser aquele “ai!” que dá conta de haver cólica.

Numa região onde as manifestações consolidadas de crítica política são escassas e até mal vistas (voltou-se a identificar a crítica como sendo coisa “contra a situação”…) é natural que responsáveis com poder se sintam confortados com a impunidade. Duvido que este tipo de comportamento se altere nos próximos tempos, até porque quem mais precisa tem medo e cala-se – cala-se é a palavra.

Os médicos, a bem da verdade, mais não fizeram do que se descartarem das responsabilidades pelo caos da saúde no Algarve e que não pode ser iludido pelo argumentário dos que comem estatísticas ao pequeno-almoço, ao almoço e ao jantar, sabendo-se que a estatística, sobretudo a da saúde que reduz algarvios a números, é profissão muito mais velha no mundo que a outra. E está tudo dito.

Carlos Albino

Flagrante actor: Correia de Campos

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

SMS 236. Como cão por vinha vindimada

15 Novembro 2007

Nesta terça-feira, os algarvios que se sentem afectados pelo traçado de linhas de alta tensão, manifestaram-se em Lisboa às portas da REN, e fizeram bem.

Duvido, duvido mesmo se José Penedos estará a falar verdade e certo quando afirma que a REN, nos traçados das linhas eléctricas, fala com as autarquias envolvidas e com os proprietários dos terrenos afectados, além de que tem equipas no terreno «a falar com as pessoas, a dar informações e a negociar». Admitindo que fale verdade ou convencido desta, não sei se fala certo. Sabemos, desde há muito, que os electricistas plantam caixas onde querem e passam fios por onde lhes apetece ou convém, como se os fios fossem cães a passar por vinha vindimada. É claro que esta REN não será directamente responsável por tudo o que foi feito no passado, nem por tudo o que feito nas ruas de cidades e vilas onde os electricistas das câmaras dão nota da mesma cultura da REN e da mãe que a gerou, e que é uma cultura de desprezo pela estética e pelo bem-estar público, porque a cultura eléctrica é pura e simplesmente chegar ao contador de quem afinal paga.

E assim é que linhas de alta tensão passam exactamente sobre telhados de casas rurais, havendo, em tais casas, coincidências que José Penedos não deveria descartar num ponto de vista de saúde pública. Mas, independentemente dos legítimos receios em matéria de saúde, convenhamos que, olhando para montes e vales em pleno mapa turístico do Algarve, é demais. São fios eléctricos para ali, de telefones para além, cruzando-se uns sobre os outros, postes encavalitados sobre postes uns para Norte, outros para Este, sem respeito pela paisagem, em travessias sem respeito por nada, como se o País fosse dos fios e não os fios a servir o País, e no caso do Algarve, como se o Algarve fosse todo ele uma herdade de pecuária.

Porque uma coisa é José Penedos a olhar para as suas linhas no mapa aberto sobre a sua enorme secretária, respeitando e bem, segundo diz, até vestígios arqueológicos, outra coisa é olhar-se para as mesmas linhas na paisagem real e sobre as casas e corpos de cada um, onde a gente viva não é mero e menosprezível vestígio.

Carlos Albino

Flagrante cena de desenvolvimento: Com o encerramento da fábrica de Loulé será que o turismo deixou de consumir cerveja, ou anda outro negócio atrás disso?

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

SMS 235. Quando os pais borram o estatuto

8 Novembro 2007

Um pouco por todo o Algarve, é inacreditável o que se passa à porta das escolas, à hora da saída de aulas. Toda a gente quer recolher o menino ou a menina com segurança e rapidez, o que não se recrimina. Só que a onda de egoísmo que submerge a sociedade – diríamos até, de egoísmo fundamentalista que não deixa de redundar mais dia, menos dia em terrorismo social – tem infelizmente, em muitos desses pais descarados protagonistas, transformando espaços que deviam ser de alegria e confiança no futuro, em espaços de atropelo, de manifestações provincianas de comodismo e de militante desdém pelo outro. Naturalmente que o assunto raramente é caso de polícia porque talvez esse enxame, no seu conjunto, mande na polícia, controle a polícia ou talvez mesmo atemorize a polícia. Mas as cenas repetem-se todos os dias, havendo motivos para pensar que esse sindicato de egoístas vai à escola menos por zelo pelos filhos e mais por aquilo que o egoísmo fundamentalista já transformou em norma e que é o «estatuto social». Esta semana foi-me dado comprovar, numa escola da capital, que muita dessa gente vai por estatuto e para mostrar estatuto, o que só é possível mostrar exactamente junto das grades da porta de saída, uns sobre os outros, e todos encavalitados com os seus estatutos a ocuparem a via pública à espera que os respectivos filhos entrem para esses territórios soberanos em que os egoísmos andam sobre rodas. Na verdade, com um imenso parque de estacionamento vazio mesmo à frente dos olhos, andar vinte, cinquenta metros a pé acompanhando os filhos, seria caso de perder estatuto… Ora, pais destes, não frequentando a escola, só estragam a Escola, e, aqui para nós, borram o seu próprio estatuto.

Carlos Albino

Flagrante coisa positiva: O portal-piloto Algarve Digital, embora tenha muita parra e pouca uva em função da prioridade que foi a alma do projecto – um ponto de encontro, inteligível para os utilizadores, entre a administração central e autárquica (sic).

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

SMS 234. Listas

1 Novembro 2007

Porque dois ou mesmo três anos, politicamente, é um ar que se lhe dá, sente-se já os movimentos, melhor, a movimentação para as listas, onde presunção e água benta cada um toma a que quer. Para o comum dos mortais, as eleições (legislativas, autárquicas) ainda vão longe, mas para os imortais da política, a coisa está perto ou na hora de «não perder o comboio». Alguns, fartos de serem autarcas ou vendo num assento parlamentar a coroa de louros a que se julgam com direito, posicionam-se – não dizem que querem, até dão ar de desdém, mas quem desdenha quer comprar. E os que por enquanto vão estando assentados, sabem também que entraram na última fase da «consolidação do lugar», pois não anda longe de verdade que um assento parlamentar é a coisa que, no País, tão rapidamente aquece como arrefece. Portanto, nada de irritar os chefes partidários e, pelas diversas vias, «chegar ao povo» a fim de se obter, a tempo, a chamada legitimidade de consideração. É claro que será dispensável referir os presidentes de juntas que palpitam uma hipótese na vereação ou, casos mais raros, os vereadores falhados que almejam ao menos uma junta para ressarcimento dos desastres.

Nada contra isto – é normal numa democracia. O que não é normal é que aos movimentos dos que têm apetite por elegíveis lugares de poder, não correspondam movimentos de ideias e debates, sobretudo corajosos, sobre as questões de interesse geral e do bem comum. As ideias, como as temos sentido, não passam, umas, de ideias parasitas e asseptizadas dos programas partidários, outras, de ideias adventícias do chefe respectivo cujo nome, amiúde, invocam em vão, designadamente daquele chefe próximo ou distante de quem, quer se queira ou não, dependerá a formação das listas. Por isso, impera a manha. Parece silêncio mas não é – é manha. Ora, uma democracia de manhosos, pode ser muito popular, mas é contra o povo. E quem se pica, alhos mordica.

Carlos Albino

Flagrante economia regional: É mais difícil encontrar uma empresa algarvia entre as mil maiores empresas do País, do que uma agulha no palheiro.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

SMS 233. O que é inacreditável

25 Outubro 2007

1 – Inacreditáveis as notícias que chegam de Alvor. Ou as autoridades ambientais e autoridades conexas esclarecem de uma vez por todas o que está a acontecer na Quinta da Rocha e agem sem delongas, ou mais ninguém de boa-fé definitivamente acredita em leis, planos, redes e ordenamentos do território. As notícias de Alvor dão conta apenas de um fio da meada. Há muitos outros problemas aqui e ali geridos pela calada ou, pior do que isso, geridos com «engenharia política» e com o «controle de impacto» na sociedade – os prevaricadores, dissimulados ou não, sabem que esta, a sociedade algarvia está dividida em comarcas de interesses, subdividindo-se as comarcas em regedorias de manha. Não são todos, oxalá até que seja uma minoria, mas há gente que opera no Algarve ostentando gloriosamente o bilhete de identidade de investidor turístico, passeando-se depois com métodos, procedimentos e objectivos próprios de invasor bárbaro. E o que vai arrepiando é que aquilo que era manifestamente bárbaro há dez anos, hoje é tolerado pela lei e enquadrado na lei.

2 – Aos bárbaros, obviamente, não lhes interessa os Algarvios, porque até desejariam um Algarve sem Algarvios, ou com o mínimo possível de Algarvios. Sem regras ou contornando as regras, os bárbaros negoceiam o Algarve retalhado fora do próprio Algarve – daí odiarem a Regionalização da qual fogem como diabo da cruz. Os resultados dessa perversa pose de conquista em que as pessoas não contam e que em muito determinou aquilo a que seraficamente chamados de Política Turística, contando apenas o negócio, e com a qual alguns algarvios têm ingenuamente colaborado a bem da avença, tais resultados estão à vista e são dramáticos: o risco de pobreza pirou no Algarve entre 1955 e 2000 (dados conhecidos) de 15 por cento para 25 por cento, ainda que o PIB regional tenha aumentado – sendo este PIB o turismo (com a neve do golfe incluída) e não já a alfarroba e amêndoa ou a pesca e conserva. O risco da pobreza é um indicador fundamental do desenvolvimento e esse risco no Algarve retalha o peito. É de suspeitar que a situação tenha piorado, e muito, desde 2000 a esta parte – basta andar por entre a pobreza envergonhada ou que por aí se esconde até ao último momento de dignidade possível. Nenhum bárbaro, dos muitos que temos, se envergonha disso, como comprovam algumas esmolas que dão.

Carlos Albino

Flagrante advertência: As represálias de professores sem escrúpulos sobre professores escrupulosos, estão a exceder as marcas… Algum dia, isto virá ao de cima.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

SMS 232. Exemplo. Continuem porque fazem falta

18 Outubro 2007

Definem-se como «uma equipa multidisciplinar que pretende intervir na sociedade algarvia, quer pela via da opinião escrita, quer pela realização de estudos e debates, mesas redondas e outros eventos que permitam reunir ideias e gerar massa crítica numa região com carência de interventores e de agitadores de opinião». E por isso têm porfiado, aqui e ali, desde 2001 até agora, sob a designação de Vialgarve – há seis anos, portanto, que se esforçam por rasgar no arenoso chão mental algarvio aquilo a que Sérgio chamava as Avenidas Largas da Crítica – a sua carta de princípios está muito próxima dos preceitos sergianos, e, com esta, já estarei a meter-me onde não sou chamado. As suas ideias e propostas têm já título de residência permanente nos arquivos de vários jornais e, avaliando bem o acervo, os que têm transportado a olímpica chama da Vialgarve merecem-me profundo respeito – são um exemplo, continuem porque fazem falta. Não conheço ninguém do grupo, nem é preciso, mas é como se os conhecesse de sempre – os que amam o Algarve são todos primos à distância.

Carlos Albino


Flagrante despiste: Se para requalificar a 125 não for promovido um debate público regional que não é o mesmo que somatório de duvidosas ideias de dubitativa meia dúzia de autarcas que raramente têm uma dúvida.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

SMS 231. A começar por este equívoco…

11 Outubro 2007

A propósito de deputadas e deputados do Algarve, o que mais se ouve dizer é que «representam o Algarve e não fazem nada», também que «falam do Algarve porque os seus estão no poder», ou ainda que «só agora falam porque estão na oposição» … É claro que sempre há um ou dois representantes que lá fazem requerimentos, perguntas a ministros, enfim, sempre é um ar de «representação da região», muito embora o interesse principal seja o de que jornais e rádios da redondeza dêem conta de que «o deputado algarvio requereu» ou que «a deputada algarvia perguntou», o que não deixa de ser uma prova política de vida que faz bem de vez em quando fazer, caso a política seja uma espécie de pensão. Para esta mesma prova, não todos mas alguns, preferem publicar artigos de tese ou de antítese, ou então «visitas ao local». E não se sai daqui porque há um tremendo equívoco, melhor, há uma cultura política de equívocos que leva ingénuos a considerar cada deputado ou deputada como voz da região, impulso ingénuo esse que se compreende porque o Algarve não tem voz política e bem dela precisaria.

E porquê?

É evidente que os deputados, por força do seu estatuto, logo à cabeça «representam todo o País, e não os círculos por que são eleitos.» O estatuto, ao explicitar que não representam o círculo que os elegeu, diz tudo. E os deputados falam do círculo ou das coisas do círculo é porque o partido tolera isso ou isso lhe convém, conforme as circunstâncias. O resto é conversa sendo raros os que se atrevem a pôr em risco a reeleição pelo círculo que acabam por não representar ou por não poder representar por força do estatuto, ainda que contraditoriamente o mesmo estatuto obrigue os mesmos deputados ao dever de «assegurar o indispensável contacto com os eleitores». Esta estranha indispensabilidade tem muito a ver com o equívoco.

Daí que tenha de ser um retirado de São Bento, Luís Filipe Madeira, em declarações ao semanário Sol (Helena Pereira, 5/Outubro) a dizer em letra grada que não viu «passos em frente no sentido da descentralização» e que «existem é órgãos desconcentrados que são governados pelo telefone». Algum deputado do PS ou que o círculo elegeu pelo PS seria capaz de dizer isto? Se calhar, será o próprio PS do Algarve que está a ser governado pelo telefone. Continuem assim que vão bem e longe, porque, sob outra forma e sofisticação, repetem-se os erros dos políticos algarvios da I República e que foram erros dos políticos algarvios e não tanto da I República.

Carlos Albino

Flagrante comparação: A política algarvia está para a música clássica assim como a filarmónica de Paderne está para Orquestra do Algarve.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

SMS 230. Pires de Lima, a Isabel

4 Outubro 2007

Na entrevista ao Expresso (Nuno Saraiva, 29/Setembro), a ministra da Cultura anuncia a requalificação da Fortaleza de Sagres. Isabel Pires de Lima mais não diz, mas o propósito da requalificação já é um bom sinal.

Na verdade, tal como ficou das últimas intervenções impostas, Sagres resultou numa vergonha, em cinco atropelos e em sete insultos, em que manifestações secundárias de adolescência arquitectónica e visões corporativistas do passado se cruzaram ou casaram com comunhão de adquiridos. Assim, é oportuno perguntar-se o que vai significar essa requalificação da Fortaleza anunciada pela ministra. Significa isso demolir o que deve ser demolido, refazer o que deve ser refeito, procurar o que está escondido e acautelar o que se vê à vista desarmada? Significa isso abrir de novo uma discussão pública serena e crítica sobre o dossier de Sagres, no que tem de património e de simbólica acumulada desde insondável antiguidade? Requalificar o quê, como, para quê e com quem? São perguntas que ficam no ar, mas só o facto de as perguntas voltarem a ser feitas dá mérito à ministra – discutir Sagres e tentar decifrar os muitos enigmas do Promontório é deveras um imperativo que Isabel Pires de Lima actualiza, a nosso ver com justificada nobreza, na agenda da política de Cultura.

É claro que, à partida, deveria ser elaborado um livro branco sobre o Promontório Sacro sem lendas, recuperando-se, entre o mais, todo o trabalho da comissão liderada por Romero de Magalhães, a propósito da gesta gorada da candidatura a património mundial. Embora com perdas irreparáveis, há tempo para recolocar a dignidade em Sagres. Ironiza Nuno Saraiva que «Pires de Lima bem podia ter como cognome Isabel, a ambiciosa». Se a ambição da ministra for a de retirar Sagres da lista de enxertos, então que se reconheça o legítimo direito ao cognome, pois há muito a requalificar politicamente no Algarve da Cultura ou na Cultura do Algarve, como se queira.

Carlos Albino

Flagrante falta de espaço: Para se falar da
magnífica obra arquitectónica de Gonçalo Vargas, na ilha da Deserta/Barreta, 24 páginas seriam poucas mas duas linhas bastam para chamar a atenção.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

SMS 229. Um pacote de açúcar

27 Setembro 2007

Tomei a bica e, como habitualmente, guardei o pacote de açúcar no bolso – o açúcar apenas tira o sabor do café. Depois deste ritual atravessei de carro a cidade, era já meia-noite e começaram as pequenas aventuras numa terra como sempre sem vigilância aparente e sem sistema de prevenção mínima que seja. Mesmo em frente dos Paços do Concelho, jovens em grupo urinavam em competição, parados na travessia de peões em porco desafio. Metros à frente, uma rapariga desenraizada não pela cor mas pela educação insultava gratuitamente quem passasse. Pelo lado direito, um homem já entradote pastava o seu belo e enorme cão parando extasiado com os dejectos que o bicho aliviou, e pelo lado esquerdo uma mulher de meia-idade era puxada por quatro cãezinhos cor de anjo mas que também faziam as porcarias que leva Deus a castigar os anjos do paraíso que façam o mesmo impondo-lhes patas em vez das asas. E nesse pequeno trajecto, com automóveis amontoados sobre os passeios como se não houvesse nem rei nem roque, ainda vi gente a escarrar para o chão, um outro a tentar acertar com uma lata de coca-cola num candeeiro, e ainda uma moto em alta velocidade a fazer cavalinho, seguida por uma outra de quatro grossas rodas de escape aberto, além de que de um primeiro andar alguém atirou para a rua um saco de lixo que se estatelou no chão espalhando vidros e por certo odores. Se todos os dias e todas as noites, isto acontece nesta terra, e se o que acontece nesta terra ocorre também pelo Algarve a fora, então, como se diz no circo, excelentíssimos senhores e excelentíssimas senhoras, isto se não é o inferno, parece.

Quando cheguei a casa, tirei do bolso o pacote de açúcar e li por curiosidade uma frase que lá estava impressa num evidente propósito da multinacional do pacote em divulgar os Direitos Humanos. Isto mesmo: «O indivíduo tem deveres para com os outros, para com a comunidade, fora da qual não é possível o livre e pleno desenvolvimento da sua personalidade».

Nem com açúcar isto vai – os poderes públicos voltaram costas à educação cívica, as polícias apenas aguardam as queixas e alguma coisa de positivo que se faz nas escolas em matéria de civilidade e integração não chega à sociedade cujas “forças vivas” apenas têm interesse em beber o café com açúcar, com muito açúcar, mesmo que percam o sabor do café e não o sabor do voto.

Carlos Albino

Flagrante paraíso fiscal: Pagar ou receber a
dinheiro vivo, num enorme contributo para a transparência dos
impostos.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

SMS 228. O eclipse dos políticos

20 Setembro 2007

O fenómeno não é típico do Algarve, ocorre um pouco por todo o País – os políticos entraram em eclipse e o Algarve não foge à regra. Parece até que um político não é o que faz política reportando anseios da sociedade, expondo ideias para o mundo avançar e propondo soluções para que o nivelamento da cultura e da civilização se faça por cima e não por baixo como cada vez mais acontece. Hoje o político não é o que faz política mas, apenas quase, o que tem um bom emprego político, ou por via de eleição já de si manhosa, ou por via de nomeação que normalmente coloca bem os perfis de capataz – há excepções, claro, mas que confirmam a regra.
Naturalmente que não se nega haver quem julgue que os outros acreditam que fazem política e não que estejam de alguma forma a defender o emprego, surgindo todos os dias, se estão na oposição, com pequenos protestos, com reivindicações de esquina e acaloradas defesas do óbvio, ou, se estão na caleira do poder, com servis apoios a decisões autoritárias, com agradecimentos próprios de afilhados e até mesmo, se o escândalo da medida tomada se revelar incontornável, com amanteigamento de resoluções perversas ou calando-se até que a borrasca passe. Todos eles, no entanto, têm um objectivo comum: serem notícia, aparecerem nos jornais e com isso darem sobrevivência política ao nome, o que está longe do fazer política mas perto do jogo em que a política se converteu,

É claro que neste eclipse, não há ideias consolidadas, não há projectos de sociedade, não há propostas de soluções para os problemas colectivos e muito menos há a vontade de identificar os problemas que é por onde a política começa. Como dizia o velho pensador de Marmeleite que morreu sem deixar obra publicada, contra isto, batatas.

Carlos Albino

Flagrante conta: Se cada português paga mensalmente 36 euros à RTP de mão beijada, os algarvios pagam por ano dois milhões de euros – compensa com o que a RPT faz no Algarve quando não há raptos no litoral e incêndios no Caldeirão?

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

SMS 227. O caso de Verão

13 Setembro 2007

Pois o caso de Verão foi sem dúvida o caso de Madie – não foi necessária uma reunião crucial da presidência da União Europeia para que televisões e imprensa internacional se lembrassem cá da terra por melhores motivos. Aliás é de crer que nenhuma reunião europeia sob presidência portuguesa contou ou possivelmente contará noutras bandas com tal permanência e insistente alvoroço aqui apenas centrado no caso de uma criança, muito embora ali na Emergência Infantil de Faro cada uma das dezenas e dezenas de crianças, muitas delas salvas por uma unha, justificasse uma migalha de atenção para o que ninguém muito menos Deus quer, mas que força a que um homem sonhe e a obra nasça todos os dias.

Quero com isto dizer que, somando as milhentas suspeições às centenas de investigações e à grossa recolha de fundos por um só caso que apenas Deus sabe, foi pena que o acaso ou o destino não tivessem levado Madie para o acolhimento perfumado do Refúgio Aboim Ascensão onde a filha dos MacCann estaria melhor do que onde está, além de que os quase dois milhões de euros dos donativos, se também lá chegassem para serem adoptados, não iriam ao fundo.

Carlos Albino

Flagrante peça de estimação: A chave da igreja da Praia da Luz, Ámen.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

SMS 226. Branco é, Loulé o pôs

6 Setembro 2007

Não foi um ovo de Colombo, mas ficou de pé. A Noite Branca de Loulé fez pública prova de que o bom gosto associado ao bom senso tem sempre êxito nem que seja no meio do gelo do pólo Norte ou nas águas mais isoladas do Atlântico. Provou aquela gente de Loulé que com imaginação e postura elevada, não é apenas a tradição e muito menos decreto ou devaneio de ministro que comanda o calendário da convivência humana – sem grande espalhafato conseguiram o milagre de um mar de gente vestida de branco (a única norma imposta) a passear a alegria pela noite fora sem que seja para passear o cão, e, enfim, a oportunidade do comércio mostrar o bilhete de identidade que tem no incontornável mundo das trocas onde quem compra e quem vende deve ter rosto, sendo já um achado encontrar um riso próximo do laivo de felicidade no rosto de quem vende ou de quem compra. Dizem-me que foi um ensaio, um primeiro ensaio, e que para o ano há mais. Que assim seja e que em algum canto se ouça um acordeão que quando é bom tem muito de jazz – foi a única coisa que faltou mas pouca gente deu pela falta.

Carlos Albino

Flagrante expectativa: Pelo balanço rigoroso do programa Allgarve.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

SMS 225. As empresas e a Imprensa

30 Agosto 2007

Observo com espanto a forma como as empresas que operam no Algarve olham de esguelha para a generalidade da Imprensa cá da terra, mesmo até para os dois ou três jornais de justificada referência regional. Naturalmente que os hotéis pouco ou nada precisam dos jornais para terem as camas ocupadas e que os bons sonhos ou pesadelos de quem nestas se deita não dependem da maior ou menor publicidade na Imprensa. Também o que ao Algarve chega a jusante do turismo, da imobiliária à distribuição alimentar, ou a montante, das funerárias às águas engarrafadas e ao jogo, para não falar dos eventos muitos dos quais são as funerárias da cultura e o engarrafamento da convivência, não precisará grandemente dos jornais para engrossar a contabilidade de caixa. Mas é com espanto que, ano após ano, décadas de turismo já após décadas, as empresas que operam no Algarve, ainda que por conveniência não sejam do Algarve, não sintam a necessidade de um laivo de responsabilidade para com os jornais que tantas vezes ou amiúde zelam afinal pelos seus mais directos interesses e estão na primeira linha da defesa de boas condições e circunstâncias para que operem com êxito, proveito e lucro. Folheio a imprensa regional de ponta a ponta e é no mínimo uma vergonha a ausência, divórcio e distância dessas empresas que parece ser desdenhosa e colonial – não lhes dá distinção. As camas podem ficar ocupadas a cem por cento, mas a honra não consta na lista de hóspedes.

Sobre esta vergonha, há mais para dizer, descansem as autarquias e empresas públicas – fica para depois.

Carlos Albino


Flagrante debandada: Numa gala de beneficência em Vilamoura, a Primeira Dama saiu cumpridos os discursos e foi a mesa de honra ficou um deserto. Provincianismo é isso.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

SMS 224. Há dinheiro, Santo Deus!

23 Agosto 2007

Afinal, vendo bem, há dinheiro. Muito dinheiro, embora nem todos os municípios possam dizer o mesmo – sobretudo, ou como sempre, os municípios sem litoral que, sem resposta, reclamam solidariedade. Para não falar do dinheiro a rodos que o ministro Manuall Pinho atribuiu pelas caves de Serralves e pois coisas efémeras – algumas boas, sem dúvida, mas tão efémeras como a tal célebre coreografia na Ilha do Farol – isto é só meio milhão para uma regata de rei, 400 mil para aquilo, 200 para outra coisa, 300 para mais outra, 450 para que não se fique atrás do vizinho, 100 mil para dá cá aquela palha, 600 mil em três parcelas possivelmente para não se notar para quatro eventos porque o evento é que está dar, que o digam os intermediários que semeiam eventos mas não sofrem as tempestades. Há dinheiro, portanto, mas para as coisas efémeras. Para o que fica ou deveria ficar, para estruturas e programas com continuidade para os pobres indígenas, lá para isso não há, muito embora haja uma elite de parolos que apesar de não terem um chavo dentro da cabeça, vá beneficiando de uns pingos pela calada como convém.

Pois isto é tudo muito bonito, muito festivo mas suspeito que, algum dia, a massa crítica e sem dúvida culta da geração mais jovem acabará por acusar poderosos protagonistas do tempo presente como irresponsáveis, desprovidos de visão e alegres esbanjadores sem escrúpulos. Pensem bem.

Carlos Albino


Flagrante coincidência: Um responsável do PSD encontrou-me e disse-me: «Você diz coisas que eu penso e com que concordo mas que eu não posso dizer publicamente. Obrigado.» No da seguinte, um responsável do PS, trocando-se por acaso comigo, abriu a conversa assim: «Obrigado! É importante que haja alguém que diga as coisas que você diz, com as quais concordo plenamente mas que não posso dizer publicamente.» Coincidência, não é? Falta-ma ouvir o CDS, o PCP e o Bloco, porque estou em crer que até nestes haverá gente que não pode dizer publicamente o que pensa…

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

SMS 223. Diplomatas algarvios

16 Agosto 2007

Não sei porquê, mas parece que os algarvios não devem ter queda para a diplomacia. A propósito de um encontro anual minuciosamente preparado por um embaixador algarvio no activo, ocorreu contar os diplomatas cá da terra – não chegam aos dedos da mão. É claro que esta é uma daquelas coisas de que nenhum governo é culpado e de que nenhum partido é responsável. Mas abriu uma pista de reflexão – na verdade o Algarve, a sociedade algarvia e as suas poucas e frágeis instituições vivem como de costas viradas para as relações internacionais, quase ao avesso da política externa e como se a actividade diplomática e a acção política externa do Estado fossem coisas longínquas e com as quais o Algarve não tem nada a ver. Desde o Pai Adão que não há uma jornada, um seminário, uma conferência que seja sobre tais matérias, pelo que como as águias não geram pombas, também só por acaso deste ninho pode nascer um diplomata. Já era tempo da Universidade pública do Algarve ou algum instituto superior privado pensarem no assunto e mobilizarem a sociedade.

Carlos Albino


Flagrante tristeza: Na verdade, trazer ao Algarve arte contemporânea sem textos de enquadramento e sem adequadas notas explicativas é mesmo cultura do género do despacha que o cheque já foi passado e tem cobertura. Tanto comissário nem se sabe para quê.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

SMS 222. Dez coisas desagradáveis

9 Agosto 2007

Não é porque não faltem assuntos da política e dos políticos, ou lá porque médicos, jornalistas e advogados sejam já todos santos, ou porque o ministro Manuall Pinho já tenha ganhado a humildade que lhe falta, que o ministro Correia de Campos nos tenha convencido que essa do hospital não é para as calendas de Março, tal como tem acontecido com a eterna barragem de Odelouca, para não falar do célebre TGV Faro/Huelva prometido há dez anos para 2018! Nada disso! Falemos de dez coisas desagradáveis do dia a dia, tão desagradáveis que ninguém gosta de falar, perante as quais se fecham olhos, narinas e ouvidos, conforme o caso.

1 – Gente a urinar às esquinas das vias públicas ou fazendo o mesmo nas estradas, saindo de carros de alta gama – dois destes até reconheci obrigando-me a fazer cruzes canhoto. Vê-se.

2 – Gente da mesma igualha que escarra para os passeios públicos de Vila Real a Lagos, marcando território para a direita e para a esquerda. Ouve-se.

3 – Motos com tubos de escape abertos ou modificados, subindo ruas ou descendo avenidas como bombardeiros no Iraque. Ouve-se.

4 – Condutores que, com toda a insolência e até nas barbas dos polícias, estacionam os seus veículos sobre os passeios e só não o fazem junto da cama onde dormem, não por obesidade mas porque os carros não sobem escadas. Está patente.

5 – Outros da mesma igualha que passam pelas passadeiras de peões como talibãs em fórmula 1. Na terça, eu próprio por pouco não fui cilindrado.

6 – Gente que com contentores de ecopontos à frente dos olhos, continua a atirar lixo para as ruas porque para essa gente a rua será ainda uma pocilga. Cheira a peixe podre como qualquer mosca pode dar público testemunho de usufruto.

7 – Também gente que vai à frutaria e espeta a unha negra de suja na fruta ou que apalpa o pão depois de ter limpado a unha na fruta. Nota-se.

8 – Outra gente que, às tantas da noite, vai roubar flores, por exemplo, aos canteiros restaurados da Avenida de Loulé, para adornar marquises traseiras com cortinados chineses de onde seguem as educativas telenovelas do canal público e de outros canais correlativos.

9 – Restaurantes que, a escasso metro e meio de automóveis de gasolina, usam sem higiene alguma os passeios para os assadores de sardinhas e grelhadores de todas as carnes e gorduras, infestando os ares, provocando a vizinhança e provando que a ASAE nuns lados é um excesso desmedido e noutros faz de conta.

10 – Por último, umas croniquetas que há por aí que não passam de plágios da página 42 de um livro do Tibete e da página 73 de um filósofo de pacotilha que morreu à procura da felicidade pessoal absoluta tirando a dos outros. É claro que fazer plágio é o mesmo que exibir aquilo nas ruas a fazer aquilo ou espertar a unha negra na fruta intelectual.

Carlos Albino


Flagrante espectáculo: Macário a cantar o hino do Algarve se é que sabe a letra de cor e salteado.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

SMS 221. Autarcas, cuidado. Isso pode dar na saloiice.

2 Agosto 2007

Designar a época de Verão como a Silly Season será o mesmo que chamar-lhe Estação Pateta? Claro que não. A expressão inglesa guarda, quando importada, uma espécie de requinte que os adjectivos pateta, ridículo, tolo, imbecil ou idiota, apesar de tudo, não contêm. Por isso mesmo, teremos de manter a expressão inglesa se quisermos que o conteúdo dê os seus frutos.

E até que dá. Agora, quando os dancings juntam respeitáveis políticos com strippers, nas mesmas pistas, e as vidas dos verdadeiros actores são misturados com as videntes, e os piqueniques integram sheiks das Arábias e ministros, tudo se compreende e se desculpa, a começar pelos próprios, pois estamos na Silly Season.

E claro que o palco da Silly Season onde é? O Algarve. O Algarve, região da Silly Season, por excelência, suporta todos os descomandos, todas as misturas e inversões! Fotografias bizarras, festanças descomunais, champanhes nas piscinas....

Por isso mesmo o Algarve faz rodar o papel cor-de-rosa como em nenhum outro lugar do país...

Mas os autarcas deveriam tomar cuidado. Porque a nossa Estação Pateta não é bem uma Silly Season. Entre nós, gente em apuros, conviria que uns tantos mantivessem juízo, e soubessem distinguir entre o que significa ser fotografado ao lado de Óscar Niemeyer e de Lili Caneças. Entre o estar num Concerto na Praia dos Pescadores, e estar na feijoada de Cinha Jardim.

É que a Silly Season passa, mas a memória retém. E entre nós, de súbito a expressão pode ter outros requintes – A estação pode vir a chamar-se simplesmente de Estação Saloia, e o Algarve o espaço saloio que a recebe.

Carlos Albino

Flagrante pesca: Se o bispo de Aveiro pode ir pregar para as praias, porque é que o Governo não haveria de pregar aos peixes no Algarve? Não é tudo uma questão de isco?/span>

quinta-feira, 26 de julho de 2007

SMS 220. E se escrivéçem milhor?

26 Julho 2007

A praga dos erros de português infesta estradas, ruas e praças. Alguns exemplos. Numa das principais rotundas de Loulé, lá está à vista de todos os pecadores, uma garrafal «Assembléia de Deus» com o acento agudo caído do céu. Não muito longe, há uma «Residêncial», por certo com acentos circunflexos nos travesseiros. E quem vai para lá, lê na tabuleta «Lagoa de Momprolé», mas quem vem para cá a letra tem menos uma perna - «Monprolé». E já se notou em bem acabado folheto municipal, um espectáculo marcado para as «24:15».

É claro que não se preconiza uma ASAE da gramática, nem se defende a aplicação de coimas para quem dá erros na tabuleta ou no letreiro, mas alguma medida tem que ser tomada. E como a medida tem que ser naturalmente pedagógica, aqui está um bom pretexto para os municípios se entenderem com as escolas, designadamente através de grupos de trabalho que integrem os núcleos de professores de português da terra. Não há que multar pastores de almas e muito menos os crentes por cometerem o pecado mortal do acento agudo na Assembléia. Mas muito gostaria que a intervenção activa e pedagógica dos núcleos locais de professores de português protocolada com os municípios, não ficasse marcada para as 24:15

Carlos Albino


Flagrante capitania: A propósito do mais recente episódio do achamento da nau Santa Mercedes, porque não se elabora um livro branco sobre o património arqueológico marítimo do Algarve?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

SMS 219. Algarve, Salão de Espectáculos

19 Julho 2007

Sejamos francos – Pela primeira vez, o Algarve vai ter acesso a um Programa de Verão à altura do que é de esperar para uma região com as suas características, à parte a infeliz e dispensável designação. Pela primeira vez os seus habitantes, não tanto por eles mesmos mas mais pelos residentes temporários e episódicos, vão poder ter acesso a momentos impensáveis. Ninguém poderá ficar indiferente. Na perspectiva de resposta a públicos com exigência, e criação de novos públicos que se soltem dos formatos decadentes dos talk-shows televisivos, felizmente que esta época estival vai proporcionar um reforço e uma inovação inéditos nesta zona do país. Não se pode ser reticente em relação ao conteúdo desta iniciativa.

Pena é, porém, que a iniciativa apareça embrulhada naquilo que surge como uma investida de carácter económico e comercial. Ninguém desconhece que as trocas em cultura produzem rendimento, que a contabilidade dos orçamentos de Estado em toda a parte do mundo civilizado contam com as receitas provenientes dessa área, e ninguém desconhece também, que em Portugal, a Cultura já é e pode vir a ser um factor económico. Não parece, porém, que deva ser alterado, a nível de conceito, o que a cultura é, por excelência – produção, saber, conhecimento e divertimento, de gente, para gente.

É por isso que choca a linguagem de “produtividade” a que anda associada este “investimento”, e as perguntas que se fazem são mais do que muitas. Entre elas, a mais importante é esta – Sob o olhar desta mega-contabilidade, os programas regionais de continuidade vão ou não vão ser acautelados? (A pergunta tem sujeito e destinatário). Ou pelo contrário, na base da grandiosa contabilidade cultural, o Algarve vai ser encarado como um salão de espectáculos que fecha e a abre porta à bilheteira, apenas à medida do show internacional?

É claro que com dinheiro, e à medida do dinheiro, é possível despejar cultura no Algarve. Mas é triste que isso aconteça perante as evidências e os muitos sintomas de desinvestimento na cultura do Algarve.

Carlos Albino

Flagrante mergulho: Mas ainda haverá património arqueológico subaquático no Algarve, depois de tanta pilhagem impune e pela calada, a dar livro de ficção? Porque não um livro branco sobre a matéria? Há medo?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

SMS 218. Ex.ma Sr.ª D. ASAE…

12 Julho 2007

Prezada Senhora, oxalá que também sensata,

Naturalmente que de há muito se requeria uma autoridade nacional de segurança alimentar e de fiscalização económica, como V. Ex.ª tem vindo a demonstrar que pretende ser. E mais, de há muito se exigia que alguém como V. Ex.ª, minha senhora, prescindisse da saia larga que muitas autoridades usam e de que não abdicam, e siga a rigor os princípios da independência, precaução, credibilidade, transparência e confidencialidade, tal como consta no seu cartão de visitas.

Pois, que V. Ex.ª, minha senhora, surja como provedora das comuns necessidades vitais do estômago e alma, zeladora da higiene e saúde pública, e avessa aos dois pesos e duas medidas ou a diferentes critérios conforme o lugar ou conforme o có-có-ri-qui có-ró-có-có que o galo da circunstância cante. Ou seja, que V.Ex.ª, minha senhora, como autoridade que é, não proceda conforme o poleiro que escrutina.

Acreditamos piamente que as vossas 479 operações e 958 brigadas que fiscalizaram 6246 operadores de Janeiro e Março, tenham contribuído para sanar este ambiente de galinheiro a que os nossos estômagos e as nossas almas já estavam habituados como condenação, embora duvidemos que as 14 suspensões de actividade, 312 processos-crime, 1447 processos de contra ordenação e 32 detenções em todo o País, por entre 2232 infracções detectadas, sejam suficientes para nos dar tranquilidade e confortável segurança.

Até agora, pequenos e modestos estabelecimentos, mas também médios, têm acatado pacificamente as vossas instruções e até algumas advertências ou avisos mais ou menos bem fundados, até porque V. Ex.ª, minha senhora, é ainda uma mulher jovem e não teve ainda tempo para adquirir os vícios e manhas da burocracia portuguesa que está por entre as mais velhas profissões do mundo.

Só que nisso, V. Ex.ª, minha senhora entra já no período de teste. Irá V. Ex.ª aplicar em todos os festarins de chão e frituras de cheiro nauseabundo, comes e bebes de insondável proveniência mas no adro, mostras e festivais gastronómicos que a pretexto de se enquadrarem em «festejos populares» são contra o povo quando ou sempre que não passam de imundície na churrasqueira, irá V. Ex.ª aplicar aí o rigor que exige e bem às unhas dos pequenos e modestos estabelecimentos?

Ou será que irá adiar para o ano, prejudicando seriamente a vossa invocada independência, precaução, credibilidade, transparência e já agora a vossa confidencialidade?

Vamos ver, e havemos de voltar ao assunto.

Beijo as suas mãos,

Atenciosamente

(Assinatura ilegível)


Flagrante surpresa: Sentia-me bem, nem sabia porquê. Mas foi preciso que Loulé atribuísse a título póstumo a Medalha de Ouro do Município ao arquitecto Manuel Laginha (1919.1985) para ficar a saber que a casa onde vivo em Lisboa, na frente Norte da Avenida Estados Unidos da América, afinal foi arquitectada por ele... E não é que surpreendentemente me sinto melhor?

segunda-feira, 9 de julho de 2007

quinta-feira, 5 de julho de 2007

SMS 217. Há coisas boas no mundo…

5 Julho 2007

Loulé está de parabéns pelo seu Festival do Mediterrâneo que fez encher de gente as velhas calçadas do centro histórico da cidade. Música que nos diz respeito, gastronomia limpa, animações de rua daquelas que transformam velhos em crianças, exposições bem pensadas e também a prova de que a arqueologia apenas desenterra verdades, tudo isso encheu quatro noites de Loulé que viu regressar ao torrão natal o poeta Casimiro de Brito ao lado da poeta síria Maram Al-Masri – seria bom que a organização fosse publicando Cadernos Anuais destes encontros, para que conste.

Quem tem acompanhado a evolução desta iniciativa, certamente percebeu que ela veio para ficar e para crescer – este ano o Festival do Mediterrâneo deu um inegável salto afirmando-se como um acontecimento de abertura ao mundo sem provincianismo. Com uma organização à evidência complexa, quem trabalhou para isto não deve pertencer ao sindicato do despacha, porque dá trabalho, exige empenho humilde e, sobretudo, capacidade de acolher ideias.

Gostei, e obrigado Loulé que mais uma vez me deste conta de que há coisas boas no mundo.

Carlos Albino

Flagrante confidência: Não é por acaso que aí está lançado o blogue ESTADO do ALGARVE, ainda em passos iniciais ( em http://www.estadodoalgarve.blogspot.com/) mas que é um bom título para o que der e vier. Adivinhem…

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Governadora civil. Não haja ilusões.

Ler comentário em ESTADO do ALGARVE

SMS 216. Assembleias municipais...

28 Junho 2007

As sessões das assembleias municipais do Algarve estão longe das opiniões públicas locais. Primeiro, à excepção de uns habituais militantes da curiosidade, de um reduzido número de interessados em algum assunto agendado e de isolados protagonistas que querem dar nas vistas, as sessões desses pequenos parlamentos cumprem, por regra, o ritual do senhor feliz que está no poder e do senhor contente que espera sair da oposição. Segundo, os jornais e rádios locais não vão além, também por regra, dos anúncios de que a assembleia vai reunir ou que já reuniu, ou quando muito, como nos baptizados, diz-se o nome dos padrinhos e dos ditosos pais. É claro que apenas quando há assunto de peso, catástrofe ou escândalo é que apreciável número acorre com algum peso, as rádios locais dizem apenas algumas sílabas da catástrofe, e os jornais também do lugar descrevem o escândalo conforme as simpatias e os laços de proximidade, variando mimeticamente com as circunstâncias dos senhores felizes e dos senhores contentes.

Naturalmente que os meios de comunicação que se arrogam e, em bastantes casos se lhe reconhece com justiça o estatuto de regionais ou lá perto disso, apenas cobrem as desditosas assembleias quando indeclinávelmente algum assunto não pode ser omitido para não penalizar o tal estatuto obtido ou reconhecido.

E é assim que os teatros políticos onde os «mecanismos democráticos» começam a mexer-se, e que, sessão a sessão, deveriam ser milimétrica e rigorosamente escrutinados com alguma rapidez para a opinião pública, funcionam ora como uma espécie de reuniões malevolamente roubadas ao sono, ora como acertos de contas entre compadres desavindos sob telhados de vidro.

E não falemos das assembleias de freguesia onde, como o senhor presidente diz, «está tudo controlado, ninguém levanta ondas»…

Santa Democracia.

Carlos Albino

Flagrante prova: A de que o Algarve não é alvo privilegiado de ataques de terrorismo… Nunca se viu, seria um paradoxo, terroristas prepararem bases num alvo.

sábado, 23 de junho de 2007

Quatro anos de SMS

Por certo alguns dos leitores repararam que as SMS completaram quatro anos a 15 de Maio. E tanto que repararam que não foram poucos os que nos enviaram e-mails com mensagens que nos sensibilizaram e agradecemos. A bem da verdade, nós nem demos pelo tempo das 215 semanas que passaram desde 2003 e em que fomos tentando dar vida ao velho género jornalístico do «apontamento» que alguns, com quem aprendemos, felizmente cultivam e perpectuam como flashes que são onde o efémero do quotidiano se cruza com alguma ironia e remata com alguma certeira conclusão, explícita ou meramente sugerida. Não há mais pretensões para além disto e não gostamos dos grandes sermões que proporcionam o aumento fácil do número de amigos mas apodrecem aquela convivência que por vezes não passa de cemitério de amizades.

Em momento de forçosa avaliação, é lícito admitirmos que foram mais as verdades que os erros. Se para as verdades não se pede desculpa, já quanto aos erros há que ter presente aquele preceito de Rabindranath Tagore segundo o qual "se fechares a porta a todos os erros, a verdade ficará de fora".

Obrigado a todos os que, por mera curiosidade ou por declarado interesse pelo debate das questões algarvias têm acompanhado as SMS nestes quatro anos.

Carlos Albino

quinta-feira, 21 de junho de 2007

SMS 215. Apenas quatro sinais de UE

21 Junho 2007

Das 330 reuniões programadas pela presidência portuguesa da UE, apenas quatro pingam para o Algarve. É pouco. Em Julho, não se sabe bem onde, um seminário sobre sistemas de alerta precoce para Tsunamis e sinais de alerta (matéria sobre a qual a nossa região possui aquela anedótica e saloia experiência que até hoje ninguém explicou a preceito); em Vilamoura, lá para 7 de Setembro, uma reunião extraordinária do Bureau Político do Comité das Regiões; também algures no Barlavento ou Sotavento, em 26 e 27 de Outubro, o VI Fórum do Turismo Europeu, e algures também, em 18 e 19 de Novembro, a reunião ministerial EuroMed sobre Migrações, envolvendo chefes de diplomacias e ministros da Defesa e do Desenvolvimento. E é tudo o que sobra para o Algarve nestes seis meses de intenso corrupio internacional.

Naturalmente que se esperava que as matérias envolvendo o Turismo e o Mediterrâneo tivessem o Algarve como cenário natural e não tanto o alerta para Tsunamis. E esperava-se também que pelo menos uma reunião de peso ou de alto nível fosse programada para a região. Mas compreende-se que assim seja: o Algarve não tem políticos de peso e não dispõe de influência onde as agendas de estado são decididas, onde até Loures já tem pé porquanto até Loures que já não é tão saloio quanto se possa pensar, acolhe mais reuniões que todo o Algarve…

Carlos Albino

Flagrante boa iniciativa: A televisão on-line RTValgarve que pode ser vista e ouvida em http://www.rtvalgarve.pt/

quinta-feira, 14 de junho de 2007

SMS 214. Em vez da caça à multa, a caça ao bandido

14 Junho 2007

Sempre que o movimento de Verão se aproxima, a segurança é a questão. A GNR que no Algarve é generalizadamente o recurso do cidadão para socorro, como está ou como pode actuar, com as condições e meios de que dispõe, a bem da verdade não pode fazer mais – alguns pequenos mas importantes quartéis não dispõem, por exemplo, de sistema autónomo de energia ao menos para alimentar os telefones, ficando incontactáveis se a emergência coincidir com o corte… Um exemplo, pequeno exemplo apenas.

Se nas cidades e vilas, a falta de patrulhamento é notória, nos campos é pior com o crescendo já verificável das pilhagens a casas, assaltos violentos a residentes indefesos e a transformação de recônditas estradas municipais em locais de tráfico de droga segundo calendários e truques ou estratégias sem dúvida delineadas para trocar as voltas à Polícia Judiciária e à GNR mas que as populações conhecem e sentem na pele.

Naturalmente que é impensável que o Estado possa colocar um polícia atrás de cada criminoso, até porque é impossível saber-se quantos criminosos há e quais são eles. E é também impossível que deva colocar um guarda junto de cada cidadão, sobretudo um guarda acordado enquanto o cidadão dorme. Já é defensável que as polícias, nas zonas persistentemente e consabidamente críticas, operem de forma eficaz, sustentadas por informações fiáveis e dispondo de um mapa da insegurança do Algarve que devia ter mapa. Mas infelizmente associa-se o Verão mais à caça à multa e menos à caça ao bandido. Ora, Rui Pereira depois de António Costa tenha lá santa paciência mas as brigadas de trânsito apenas proporcionam um Algarve mais transitável – não o fazem mais seguro.

Carlos Albino

Flagrante pergunta: Onde fica o aeródromo de apoio ao Aeroporto Internacional de Faro?

quinta-feira, 7 de junho de 2007

SMS 213. Caso vulgar de Lineu

7 Junho 2007

É bem possível que, depois de inviabilizada a criação da Região Piloto (entorse que provocou todos os problemas) e institucionalizado o jogo de intersses na disputa de cargos políticos "dados" sempre por cima, sem escrutínio sério e rigoroso dos próprios partidos, a RTA nas suas sucessivas fases de tenha lançado na contemplação do umbigo.

Por isso, um certo estilo de conduzir o turismo provavelmente chegou ao fim, até porque o Estado, desta ou daquela forma, nunca permitiu que a RTA abandonasse o modelo de elite burocrática, supostamente responsável por decisões complexas, no pressuposto de que todos os agentes implicados condordassem com tais decisões ou, talvez melhor para quem a manutenção do estatuto dessa elite foi interessando, não prestassem atenção. Por isso também, não é difícil aceitar que a liderança da RTA tenha sido por regra conferida ou tolerada por acordos políticos que não existem sem entendimentos partidários, explícitos ou tácitos. Foi assim que a RTA, sempre de alguma forma, espelhou o rotativismo no aparelho central do Estado à mercê do qual, sem regionalização, cada vez mais está, perdendo também progressivamente aquela áurea de "liderança" regional que não passou de áurea pois nenhum político forte da região trocou um assento mais promissor do poder pelo assento da RTA cujas atribuições, missão e objectivos, em vez de reforçados, se foram diluindo e tornando difusos quanto ao essencial.

Porque haveria de deixar de ser assim? A RTA, quer se queira quer não, a vegetar politicamente à margem de um quadro de regionalização inequívoca, não foi sempre uma sinecura, um lugar de recurso ou quando muito um prémio e um trampolim? E poderia ter sido outra coisa? A RTA que já foi um registo sui generis no PAís, hoje não passa de um caso vulgar de Lineu.

Carlos Albino

Flagrante incompatibilidade: Entre um Jornalista e um Moço de Recados.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

SMS 212. Mas 54 mil camas são poucas!

31 Maio 2007

Segundo a lista apresentada pela RTA ao ministro da Economia, pede-se a provação de 54 mil camas turísticas para projectos de excepção, antes da entrada em vigor do PROT que limita as hipóteses a 24 mil camas até 2018, o mítico ano do comboio de elevada velocidade Faro-Huelva...

Ora, enquanto é tempo, pedir 54 mil camas é pouco para terminar esta obra-prima de enterrar o Algarve em betão e enterrar neste os residentes estrangeiros, sabendo-se que o desenvolvimento caótico é que é desenvolvimento, e que o desenvolvimento a sério não permite espaços livres nos relativamente escassos quilómetros da primeira linha da costa algarvia. Aliás, para determinada gente com a febre do negócio - cujo modelo será a Costa do Sol - não há desenvolvimento sem caos, sem problemas de tráfego, de insegurança, de abastecimento e de lixos. Até nem se sabe que futuro possa ter o Algarve sem Mijas à portuguesa em Albufeira, sem uma Fuengirola à esquerda e outra Estepona à direita, cabendo ainda uma espécie de Manilva entre dois campos de golfe, um dos quais em cave. É que não se pode imaginar um Algarve desenvolvido sem a nossa Málaga em Quarteira e Marbella em Armação, porquanto Portimão e arredores é já uma espécie dessa hipertrofia urbanística que é barata e dá milhões, sendo sem dúvida um sistema ambiental sustentável.

Duvida-se é se com 54 mil camas apenas, se conseguirá essa meta de progresso e de potencial interesse nacional, pelo que a RTA deveria ter pedido não 54 mil camas, mas 45 vezes mais, muito embora dois milhões de camas fosse o ideal para se acabar de vez com isto tudo desenvolvido.

Carlos Albino

Flagrante falha: António Pina deixa o cargo de governador civil sem publicar a lista dos cônsules honorários no Algarve. Não por culpa de António Pina - segundo consta, haverá muito honorário que prefere andar pela calada e não levantando ondas.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

SMS 211. Um exemplo de revista

24 Maio 2007

Por interposta mão, chegou-me por acaso a revista al-‘ulyà do Arquivo Municipal de Loulé (a explêndida capa aqui ao lado). No limiar entre o propósito de rigor científico e o de divulgação, a revista é um exemplo de como a cultura não cai do céu mas faz-se quando quem a ajuda fazer, cumpre sem pretensões aquele velho preceito fundador do humanismo e que consiste no «conhece-te a ti mesmo». A revista mergulha nas raízes e na memória de Loulé, obriga a que os de hoje arquivem um abraço aos do passado, fora das lendas e contarelos endrominados como verdades – um abraço, nem que seja a pretexto de um caco que, assim sendo, vale ouro.

Por regra, a noção de arquivo prende-se à de guardar para esquecer, por vezes até para fazer esquecer quando se arquiva sem arrumo. Ora, mas que surpresa, chegar às mãos uma revista de arquivo que faz precisamente o contrário – lembrar! É o caso do texto consolidado de Hélder Raimundo que, ousando mexer no passado recente, situa Casimiro de Brito no seu lugar, lugar que é Loulé, onde ainda menino, ao colo de António Aleixo sentiu pela primeira vez a função da poesia, e que é, acima de tudo, a de que os homens se conheçam a si mesmos. Ainda bem que Casimiro de Brito, em Loulé, já está a sair do arquivo.

Carlos Albino

Flagrante consenso: O que António Pina recolhe para a RTA. Quando há consenso, muita prosápia acaba.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

SMS 210. Que a ideia vá para a frente

17 Maio 2007

As minas de sal-gema de Loulé, nos seus cerca de 40 quilómetros de galerias em quatro pisos até perto dos 300 metros de profundidade, tem todas as condições para albergar um centro subterrâneo de reabilitação e terapêutica para vias respiratórias, alergias, doenças da pele e perturbações do metabolismo. Por outras palavras, tem condições para ser um pólo de turismo de saúde. Sabendo disto, Mendes Bota não terá perdido um segundo para fazer o que falta: munir-se da anuência interessada da entidade proprietária das minas, sensibilizar o município local e colher por via da cooperação a experiência de quem a tem – e, se há no mundo experiência nesse turismo de saúde, ela está em Wieliczka, cidade do sul da Polónia, na área metropolitana de Cracóvia e quase na fronteira com a Áustria, sob a qual existe uma das mais antigas minas de sal-gema, descobertas em 1044 e exploradas com regularidade desde o século XIII. (Fotos da mina ao lado)

E é assim que, à hora em que estas linhas chegam às mãos do leitor, a senadora polaca Urszula Gacek, a convite de Mendes Bota, já deambulou pelas profundezas das galerias de Loulé, acompanhada pela encarregada de negócios da Polónia, Dorota Ostrowska-Cobas, após uma reunião de interessados no projecto, este provavelmente sustentado por um acordo de geminação entre Loulé e Wieliczka, terras que, ficando onde ficam, não são concorrentes mas podem ser cooperantes por aquilo que, entre povos, a política tem de mais puro e sem dúvida de mais belo. A concretizar-se a geminação, esta nada terá, pois, a ver com ideias peregrinas que por regra andam coladas como carraças às geminações. Será uma geminação com sentido, que a ideia vá para a frente. Vítor Aleixo, o anterior presidente da câmara louletana, deve estar muito arrependido porque até teve a ideia entre as mãos e deixou-a escapulir.

Embora a utilização do sal-gema algarvio extraído a céu aberto reporte provavelmente a tempos remotos da história e, mau grado os que obsessivamente apenas lêem árabe em todo o lado, justifique o dedo fenício em topónimos, é claro que as minas de Loulé não têm o acervo cultural e patrimonial multissecular das minas de Wieliczka, por isso mesmo, desde 1978, na lista do património da humanidade, sendo por isso também que Wieliczka só no primeiro trimestre deste ano recebeu 140.224 turistas… Não será isto que Loulé pode pretender, mas com números obviamente mais modestos, o turismo de saúde é uma boa causa, um bom motivo e uma finalidade de excelência. É por estas e por outras que se vão perdoando os pecados a Mendes Bota.

Carlos Albino

Flagrante ignorância: A de quem se pronuncia contra ou a favor da autonomia administrativa, mas sobretudo contra, confundindo os conceitos de desconcentração, descentralização e regionalização, e, ignorância mais grave, contrapondo autonomia administrativa à organização municipal. É o problema das licenciaturas apressadas…

quinta-feira, 10 de maio de 2007

SMS 209. Não há oásis

10 Maio 2007

1. Coloquemos as questões nos devidos termos – o casal inglês tinha os seus filhos normalmente protegidos (vir para Lagos não é o mesmo que ir para Bagdad ou para a Amazónia entre cobras), a polícia agiu com prontidão, a colaboração da população revelou-se de imediato forte e apaixonada, e o retrato-robot é sempre um robot de retrato pelo que só por nacionalismo obtuso - defensivo ou ofensivo - é que alguém poderia garantir que o robot do robot tinha que, à partida, ser inglês e não poderia ser português… Não se pode orientar a sanha conforme a criança vítima se chame Madeleine ou Joana.

2. É defensável que se pense que o Algarve não é mais uma zona de segurança como se sentiu ter sido neste hiato mais recente da sua história - outrora, em largos períodos, não foi, pela actuação das piratarias de diversas procedências e das quais rapidamente se perdeu a memória e os vestígios, com longo historial de pilhagens, violações e tráfico de seres humanos. O mundo está a mudar para o bem e para o mal, e o Algarve também está a mudar nos seus paradigmas, não estando naturalmente imune às novas piratarias. Temos com insistência alertado para isto a fim de que responsáveis públicos não assobiem para o lado e as populações não enterrem a cabeça na areia quando o perigo bate à porta ou os sinais de perigo se tornam evidentes.

3. Ora quando se assobia para o lado ou se enterra a cabeça na areia, entra-se num estado geral de impunidade, valendo neste caso a verdade do velho rifão segundo o qual em terra de cegos o zarolho é rei, sabendo todos nós que o autêntico pirata, por definição, é zarolho e tanto melhor pirata será quanto mais eficazmente dissimular nas polícias, nos tribunais e junto das populações, o gancho que lhe substitui a mão.

4. Assim, contra a nova pirataria, contras as novas piratarias, não basta a «polícia de proximidade» para sossego dos cidadãos ao mesmo tempo que se reza a oração de que o «Algarve é seguro» como num terço com um glória ao poder de circunstância nos convenientes intervalos da recitação monocórdica. O que tem que voltar a haver, porque já houve isso no Algarve de forma natural e espontânea, é uma política de vizinhança, de firme estímulo e apoio sólido às relações de vizinhança. Um resort inglês explorado por um operador inglês e acolhendo ingleses do mercado turístico inglês, só por isto, não é um oásis mesmo que tenha segurança privativa inglesa e ainda que, por acaso, o pirata até seja inglês. Não há oásis para ingleses ao lado de oásis para clandestinos e de outros mais oásis para traficantes de droga, de seres humanos ou de capitais ilícitos, com o turismo a servir de pretexto que não é e de causa que também não é.

5. O turismo não pode ser pensado, como sempre foi, como um mundo aparte no Algarve. Madeleine e os pais são as mais recentes vítimas deste sistema inseguramente fechado e falsamente aberto. Não há que desculpabilizar os verdadeiros culpados – os raptores, e muito menos há que aceitar a impunidade que a segregação provocada por uma espécie de turismo colonial gera e impõe, mas do qual a pirataria, qualquer pirataria, gosta e se serve, quer se trate do Algarve, das Canárias ou de Marbella.

Carlos Albino

Flagrante interrogação: O que é que os municípios algarvios têm feito preventivamente para se travar os indícios da crescente delinquência juvenil associada ao insucesso escolar e ao desenraizamento social e cultural?

quinta-feira, 3 de maio de 2007

SMS 208. Quem mais se deve preparar, não é o Governo?

3 Maio 2007

Mal começou o movimento no sentido de novo referendo para a criação das regiões, o Governo não perdeu um segundo anunciando a intenção de descentralizar departamentos a fim de preparar a almejada regionalização. E com isso pediu tempo, remetendo para depois de 2009, pelo menos, qualquer veleidade política e mesmo assim sem garantias de que em 2009 o assunto não volte a ser remetido para 2014 até à ressurreição dos mortos. Ou seja, o Governo mesmo antes de saber qual o resultado do referendo, vai preparar a regionalização, e assim sendo, vai prepará-la como o Estado a quer e para o que o Estado a quer, como se a regionalização tivesse que ser uma outorga e mais não fosse que uma outorga, e cada região uma criança de menor idade. Ora, são as regiões que tem que se preparar ou devem ser preparadas para a regionalização, ou não será antes o Governo que deverá preparar-se? É de mau tom transformar-se a causa em efeito.

Claro que tudo o que seja desconcentração e descentralização são coisas bem-vindas numa lógica de regionalização que é a lógica da Constituição e a lógica de um regime democrático construído para aproximar os cidadãos da administração e não para os afastar. Todavia os laivos de desconcentração e de descentralização não têm sido portadores dessa lógica, antes pelo contrário têm servido um pouco por todo o País, para sustentar mordomias e distribuir empregos políticos não na lógica das regiões mas na lógica do poder central e das forças que o ocupam circunstancialmente. Daí que a pouca desconcentração e a tímida descentralização que tem acontecido tenha sido pretexto para nomeação de funcionários que nada ou pouco têm a ver com as regiões para onde são destacados às quais se adaptam como ilustres desconhecidos, mesmo em áreas politicamente pouco polémicas – as delegações regionais do Ministério da Cultura têm disto sido cabal exemplo, ora como sinecuras, ora como empregos políticos de impositivo empenho. Naturalmente que há, houve excepções, mas as excepções têm sido sol de pouca dura porque não interessam à lógica da central de mordomias, apenas se tendo salvado ao longo dos anos, de alguma forma, a figura do governador civil, mantida, por temor, numa zona de relativo equilíbrio político.

Sério, coisa séria seria para já o Governo comprometer-se, quanto antes e não à espera de 2009, a devolver às regiões ou a partilhar com sageza os poderes desconcentrados ou descentralizados colocando-os em mãos que as regiões aceitem e desejem, para isto não sendo critério absoluto o da naturalidade mas o do conhecimento dos interesses e a identificação com os anseios das regiões. E além disso, agilizando instituições já existentes para o escrutínio do exercício desses mesmos poderes e respectiva tutela. Seria bom que o Governo desse provas de querer preparar-se para a regionalização desta forma, e, para já, no Algarve que, como o mundo sabe, é um excelente sítio para quem não é algarvio ou com o Algarve não se identifique (mais isto), passar férias e fazer negócios…

Carlos Albino

Flagrante pergunta: O mar não vai subir no Algarve? Quanto subirá pela certa até 2050? Quem irá pagar os diques pelas asneiras de hoje?