quinta-feira, 8 de dezembro de 2005

SMS 135. A árvore

8 Dezembro 2005

Aquela árvore obriga a tréguas. E lendo bem a emoção, cada lâmpada daquela árvore faz lembrar não 100 watts mas 100 crianças umas desprotegidas, outras abandonadas, quase todas talhadas para um dia ganharem apenas o salário do choro que normalmente desconta o imposto da revolta incontrolável, revolta que começa por ser interior - como os moralistas gostam que se diga - e, deixando se ser inquietação, acaba por se transformar em angústia que é a prima-irmã da delinquência. Claro que fui ver a Árvore de Faro assumir todo o seu esplendor com as suas largas centenas e centenas de lâmpadas, não por serem lâmpadas mas porque cada uma delas tem a claridade de 100 crianças. E também é verdade que já quando todos apenas olhavam para a festa luminosa, possivelmente alguns lamentando no íntimo que a árvore não tivesse 287 metros de altura para que fosse a maior do mundo e dois biliões de lâmpadas para que excedesse a população da China, pois eu olhava para o tronco e tentava imaginar como serão as raízes dessa árvore a devassar a profundidade do chão. Não escondo que essas raízes escrevem, por estranho capricho subterrâneo, um nome que só raízes podem escrever porque se trata de um Benemérito - Aboim Ascensão. Mas também não escondo que, tal como acontece por vezes na palma das mãos haver uma letra bem caligrafada no enrugamento de nascença, pois não escondo que nesse tronco, a árvore no seu lento crescimento foi talhando outro nome: Vilas Boas. Ora, se uma obra tem raízes com nome e tem nome no tronco, então sim, podemos olhar para as ramadas, para a copa, para o cimo da árvore. Faro deve orgulhar-se dessas raízes e desse tronco. E foram assim as tréguas.

Carlos Albino

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