quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

SMS 447. Elegeram Filipes? Aguentem.

26 janeiro 2012

O que mais por aí há é o desalento, o desânimo, o desapontamento. O interesse pela coisa pública está na mó de baixo, em largos estratos da sociedade, a começar pelos dos que decidem mais ou menos, a regra é a de que cada um se governe, regra que se cumpre em cada casa, em cada rua e em cada município, ao mesmo tempo que a pobreza deixou de ser envergonhada e está na praça pública. Aqui e além há fome, o desemprego está em porta sim porta não, os piores fantasmas da crise não medem as consequências seja de dia, a meio da tarde ou à noite pela calada, e, muito embora o País lá de cima sofra o mesmo ou de coisa parecida, esse ainda tem direito à consideração até porque o poder central é o do País lá de cima – deixemo-nos de conversas fiadas. Algarvio que proteste, ou mesmo que peça com mesura, fica como que a atirar barro à parede pois também há a regra de deixar essa gente a falar até se cansar, pois toda a divulgação de alguma causa é feita com os calculados elementos de desprestígio da causa. Em Lisboa, o Algarve não tem grupo de pressão que se assemelhe ao dos Açores que gravita na Casa dos Açores, ao da Madeira, ao das Beiras, por aí fora. A “nossa” Casa do Algarve é um símbolo do passado que resiste mas anda por ali, pela capital, como que um sem-abrigo que não passa de símbolo de um Algarve que nem sequer ousa abrigar-se defendendo-se a si próprio. E além desse símbolo ineficaz, na capital, junto do poder ou nas barbas do poder, o Algarve não tem mais nada a não ser uns minhotos, uns alentejanos e até uns angolanos que por acaso elege, e que, por serem eleitos aqui, até parecem ser marroquinos mas nem sequer de Gibraltar são. Ao menos fossem de Gibraltar, que sempre teriam o ar de não serem Filipes que são e é pena que sejam para nosso desapontamento, desânimo e desalento. Gente animada no Algarve, só algum Filipe.

Carlos Albino
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Flagrante naturalidade: Se o Presidente toma alguma medida acertada, ele é nacional, é estadista e fazem-no até mesmo filho adotivo de Guimarães; mas se diz alguma barbaridade ou se resvala um segundo que seja, ele é algarvio, ele é o homem de Boliqueime e ele pertence àquela gente lá do sul... E o mais curioso é que os Filipes do Algarve são os primeiros a entrar nesse folclore.

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

SMS 446. Cheirou a pouco, melhor, a nada.

19 janeiro 2012

Nesta segunda-feira houve exposição de ideias ou de convicções, o que não é mesmo que debate, por iniciativa da Universidade do Algarve e da Comunidade Intermunicipal do Algarve, sobre o Documento Verde da Reforma da Administração Local que esquisitamente se chama verde quando deveria ser cor de laranja com laivos azuis, mas, enfim, o extinto Kadafi deixou tradição maníaca em dar-se cor verde aos livros. É claro que a universidade pode e deve promover debates que deixem ata sobre os grandes temas algarvios (tem andado catedraticamente longe) e a Comunidade Intermunicipal tem politicamente essa obrigação. O encontro de segunda-feira foi uma espécie de sessão solene com abertura partilhada pelos protagonistas e encerramento pelos mesmos, um memorando-aperitivo a cargo de António Rosa Mendes, um serviço de bebidas servido por Ana Paula Barreira (o financiamento local não é coisa que tenha muito para mastigar, bebe-se), João Farias lá veio com umas coisas da Europa como quem mete o Rossio na Betesga, e, para terminar uma mesa-redonda com os deputados da ordem parlamentar, cada um a dizer o que já se sabe que tem para dizer. E pronto, missão cumprida, o que cheira a pouco, para não se dizer que é pouco mais que nada. As afirmações de Mendes Bota, sobretudo sobre a desconfiança na capacidade fiscalizadora das assembleias municipais com elementos eleitos em lista da confiança dos presidentes de câmara, passaram, para um ou outro jornal, Miguel Freitas fez o papel de governador civil substituto, Cecília Honório denunciou, Paulo Sá deu a dispensável novidade de que o PCP está disponível para trabalhar “desde já” no objetivo da regionalização, e Artur Rego, do CDS, ele que, para prova de bom comportamento nas suas hostes lá de cima, fez o voto contra a regionalização argumentando que esta é só “para criar tachos”, acabou por dizer ali o que Jacques de la Palice não diria - que o documento verde com laivos azuis é “apenas um primeiro passo na proposta de reforma, não é um documento definitivo”. O senhor de la Palice quando muito diria que um deputado que diz o óbvio é apenas um primeiro passo para deputado, não é um deputado definitivo.

Com cenários destes, com encenações destas, com marcações de palco destas, com atores a desempenhar papéis pré-sabidos. e sobretudo com textos dramatúrgicos tão pouco originais como estes, o teatro não vai longe. E já deveria ter andado muito como a universidade podia e devia fazer andar mas não tem feito, e como a comunidade intermunicipal politicamente tinha obrigação mas parece não a sentir.

Carlos Albino
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Flagrante estopada: E como lá está a GNR, durante noite a vigiar os pórticos da via rápida a que se chama auto-estrata com bermas onde mal pode estacionar um carrinho de feira, quem vigia a GNR naquela estopada?

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

SMS 445. O ano que passou e o tal prémio

12 janeiro 2012

Quanto ao ano que passou. Agora que 2011 está enterrado, pois que coisas marcantes ficaram? Claro que para cada cabeça a sua sentença, mas olhando para trás há quatro registos algarvios que devem ficar, a saber:
1 – Primeiro, duas intervenções que não deviam cair em saco roto. Uma de André Jordan que numa entrevista a Sofia Cavaco Silva, neste jornal (junho), de uma penada, fez o retrato do Algarve que devia ser e não é, designadamente quanto a aposta na Cultura (sim, letra maiúscula). Outra de António Rosa Mendes que com toda a frontalidade e como que pedrada no charco, disse sobre a mesma Cultura o que não devia entrar por um ouvido e sair pelo outro.
2 – O facto do Colégio Internacional de Vilamoura surgir a liderar o ranking nacional das escolas secundárias, com todo o mérito para o seu diretor carismático, infelizmente e precocemente desaparecido, Renato Costa. Que a sua obra continue.
3 – Terceiro registo para o facto da Universidade do Algarve ter sido seleccionada como a única parceira portuguesa do Programa Campus de Excelência Internacional do Mar com as universidade de Cádis e Abdelmalek Essaâdi (Marrocos) quando, desde há muito, tanta gente gostaria de ver a universidade da região a liderar os estudos do mar em Portugal porque esse é o seu horizonte natural e imperdível.
4 – Por último, o sismo político com epicentro no diretório provinciano do PS, que levou à eleição de quatro deputados do PSD, dois do mesmo PS, um do PCP que desde 1991 fazia uma travessia no deserto e um do CDS a quem não fica mal um naturalizado de luxo. Lição que ficou para os da derrocada e responsabilidade acrescida para Mendes Bota que vai no seu sétimo fôlego.

Quanto ao tal prémio, como há anos vem sendo habitual, o júri do Prémio SMS de Jornalismo reuniu no Dia de Reis e, com unanimidade e à primeira volta, decidiu atribuir o prémio relativo a 2011, à jornalista Conceição Branco, a mãe e elo mais forte do Observatório do Algarve que já é obra e pombo-correio online de muita gente. Merece.

Carlos Albino
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Flagrante tristeza: Sim, o alojamento no Algarve apresentou uma taxa de ocupação média de 20,3% e uma quebra de 11,1% relativamente a dezembro de 2010, o pior resultado dos últimos 16 anos. Os agradecimentos por esta tristeza devem ser dirigidos ao Turismo de Portugal que não faz nem deixa fazer.

SMS 444 Ano de provação e de prova

5 janeiro 2012

O melhor que o Algarve tem, mais do que nunca, vai estar em provação e à prova. Em provação sempre tem estado porque a região, regra geral, tem sido postergada pelo poder central, mas a provação por que vai passar em 2012 é sem precedentes. E vai estar à prova: se conseguir resistir e passar o Rubicão, vai ser obra. Para o turismo, para já, não estando em discussão que nasceu enviesado, vai ser um ano em que tanto pode revelar consistência aguentando, como perder o rumo com hotel a hotel a ficar abandonado como ficaram as antigas fábricas de conserva passada a febre das negociatas que dependiam da guerra sem que os donos olhassem longe. Para a agricultura e para as pescas, fortemente dependentes dos intermediários e de vorazes oportunistas, 2012 não augura bons sonhos e a questão é apenas evitar pesadelos fatais. Para a construção civil mais não se pode esperar que os erros se paguem o menos caro possível. Para as indústrias de serviços que não têm grande porta de saída a não ser a da dependência extrema do turismo, da construção e de uma classe média depauperada e decapitada, o milagre, a haver milagre, será o milagre da faturação que é coisa tão difícil que nem Cristo o fez

E não há mais que o Algarve tenha de melhor e que entre em provação e esteja à prova? Claro que há, e muito embora a lista não seja longa, destaque-se os municípios, com os seus altos e baixos, uns mais sultanatos, outros menos, mas cujas câmaras vão ser inegavelmente câmaras de provação, pelo Orçamento e pelas medidas avulsas tomada por quem não desce à terra e só conhece o Algarve nos passeios de agosto à beira-mar em calções às florinhas. E a Universidade do Algarve que vai ter que fazer ginástica de rins se as guerrinhas internas entre desenraizados permitirem ao menos tal ginástica. E já agora a Orquestra do Algarve e o Teatro Acta que são duas esplêndidas palmeiras que têm resistido a tanto escaravelho, mas que vão estar à prova pelo escaravelho de 2012. E por agora é tudo.

Carlos Albino
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Flagrantes votos: A imprensa da região (toda, no seu conjunto e sem exceções) é a chama do Algarve e as rádios locais (todas, mesmo que não sejam grande espingarda) são o pavio. Os nossos votos para que a chama se mantenha acesa e que o pavio dê para acender. Grande abraço para os que resistem com imaginação, brio, coerência e sentido de serviço público.