quinta-feira, 7 de julho de 2005

SMS 113. É triste e primário

7 Julho 2005

1. É triste. Temia mas está a acontecer já nesta fase das lutas autárquicas: quem tem estado na oposição – independentemente do poder ser PS ou PSD – não sai dos chavões de que «o concelho parou nestes últimos anos», que «nada foi feito», que «os projectos ficaram na gaveta à espera de aprovação», que «a saúde é só para alguns» e por aí fora. Trata-se de uma visão redutora da competição política e também se trata de contar com o tal pressuposto de que os eleitores são uns ignorantes, que não vêem nada, que não conhecem quem está na luta, o que é triste. Mas o que é muito mais triste é uns quantos senhores, em vez de provarem méritos, mostrarem que têm golpe de asa e seriedade, reduzam a democracia a luta corpo a corpo, a duelo em que o primeiro atingido cai para o lado, a guerra política onde vale tudo menos arrancar olhos. A democracia autárquica obviamente que não é isto. Mas esses senhores insistem.

2. É primário. Atitude que não se desliga da anterior, temos constado que, por regra geral, quem está na oposição – independentemente de ser PSD ou PS – não concede o benefício da sua presença a actos do poder envolvendo até benefícios e bens públicos, quer se trate da inauguração de uma biblioteca, da abertura de uma avenida, de um concerto de orquestra ou, mais grave, de um debate cívico e aberto sobre temas colectivos. A ausência é justificada – também regra geral mas entre dentes – porque «é obra deles». Deles, do poder. É primário. Trinta e um anos de democracia já deviam ter varrido esta mentalidade.

Carlos Albino

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