quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

SMS 195. Fechar o Consulado de Sevilha, é não perceber o Sul do País

(Edifício do Estado)


1 Fevereiro 2007

Naturalmente que não posso estar de acordo com o facto do Consulado de Sevilha, posto de carreira, volta e meia, servir de sinecura ou de refúgio a diplomatas portugueses sem brilho, sem golpe de asa, com passado profissionalmente controverso ou até pela conveniente proximidade de informal residência no Alentejo. Volta e meia acontece isso. Mas uma coisa é acabar com essa apatia ou estagnação do consulado que se limita a fazer o que por obrigação tem a fazer e não mais, e outra é encerrá-lo, erradicando-o do mapa consular português como extensão da Administração do Estado, mais grave, como braço do que devia ser estratégia do Estado. O Embaixador de Portugal em Madrid, Morais Cabral, tem carradas de razão ao insurgir-se contra esse critério, e carradas de razão tem o deputado Mendes Bota ao considerar que isso «é um colossal erro estratégico». Mas lamento que as chamadas «forças vivas» do Algarve não percebam que assim é, juntando-se a este mal, o mal de Lisboa em, mais uma vez, não perceber o Sul do País. Em tempo e muito antes de tais reparos, disse isto mesmo ao secretário de Estado António Braga e não retiro uma palavra.

A argumentação de Mendes Bota quanto ao intenso movimento do consulado, ao facto das receitas serem cinco vezes superiores aos custos de funcionamento e o edifício custar zero ao Estado – edifício valioso patrimonialmente e em imagem - , é válida, mas o valor estratégico desse consulado supera ou deveria superar em muito esses considerandos. O Consulado de Sevilha devia ser de facto um posto avançado dos interesses do Estado na Andaluzia, e, nesses interesses, os do Algarve contam com peso, conta e medida, o que, obviamente, nada tem a ver com sinecuras de diplomatas alentejanos ou com quintas no Alentejo. Sevilha é um ponto estratégico para o Algarve e o fecho desse consulado vai contribuir para o cerco do Algarve, para cavar mais o fosso da dependência que fragiliza o Algarve e em nada aproveita o País – apenas o prejudica também.

Fechar o Consulado de Portugal em Sevilha equivale a dinamitar a Ponte do Guadiana, salvas as devidas proporções e engenhos, tal como manter o consulado na mera rotina da prática dos actos consulares e na estéril tradição dos mangas de alpaca é o mesmo que voltar as costas à Ponte de Alcoutim, como foram voltadas. Como é que o erro pode ser evitado ou emendado, não sei. Mas que é erro, é. E grande.

Carlos Albino

Flagrante contraste: Os avisos da Universidade do Algarve sobre o inevitável avanço do mar e alguns PIN que são autênticos abortos e cuja interrupção voluntária da gravidez deveria ser imposta, a bem da mãe terra, do pai mar e dos afilhados da política. Mas não digam isto a Fernando Santos que é para a gente ver o que nasce.

Sem comentários: