quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SMS 431. D. Sebastião e o cardeal D. Henrique

6 outubro 2011

Foi um balde de água fria? Não foi. O facto do PSD ter colocado no Programa de Governo a criação de regiões-piloto, levou a que muitos tivessem pensado que vai ser agora, porquanto o PS não se oporá, o PCP não criará obstáculos, o BE irá na onda e quando muito o CDS colocará reservas., mas que, feitas as contas, a ideia terá pernas para andar. Mais uma vez se pensou que uma região, ainda que piloto, cai do céu, bastará um toque na lei fundamental, um decreto. E então, com o secretário de Estado Marco António á frente, ele que tem sido inegável campeão da regionalização, a pergunta era de lhe ser feita, o que aconteceu no recente debate em Vila Real de Santo António.  E a resposta só pode ter sido um balde água fria para os que se acomodaram à ideia de que para a criação da Região do Algarve, ainda que experimental, bastará o milagre supostamente fácil de quem legisla e de quem governa, sem mais, ou seja, sem que a região candidata a Região mexa uma palha, se organize civilmente, se movimente civicamente, sem que crie fóruns abrangentes onde o provincianismo fique à porta e sem a sociedade mostre que tem lideranças credíveis, com peso no País ou perante o País, que tem força própria, elevada, mobilizada e mobilizadora, e com autoridade moral, cultural, política e cívica – sobretudo cívica, que é o mais importante e não depende de decreto, nem de programas de governo. Para quem, por honestidade intelectual, reconheça que o Algarve não tem este acervo – tem fogachos, tem voluntarismos, sérios sem dúvida, mas apenas voluntarismos - a resposta de Marco António não foi um balde de água fria e a invocação do decálogo da troika foi mero pretexto, mero pretexto. Que respondeu Marco António? Depois de tribunar que a regionalização não é uma prioridade havendo que “perceber o que é essencial e o que se pode tornar acessório” em função do “cronograma e valores definidos” pela troika, ele foi direto ao assunto e gravou o epitáfio: “Não há tempo, nem momento, nem oportunidade para abrir um debate sobre a regionalização”. Mas qual debate? O debate político envolvendo poder legislativo e executivo, ou o debate oriundo da sociedade interessada? Marco António certamente ao responder aquilo não desconhecia que esses dois debates coincidem na inviabilidade de um com a inexistência do outro. Politicamente, o decálogo da troika dá o excelente pretexto; civicamente, a sociedade algarvia tem vozes mas não tem voz, é rica de voluntarismos mas não dá mostras de vontade coletiva, invoca a pretensão da região por conveniência e conforme a conveniência dos sultanatos autárquicos mas não tem movimento consolidado, plural, com caderno, com endereço. E, desculpem lá, a crise na construção civil é enorme, mas não são esses andaimes que dão força à reclamação da região, piloto que seja ela. O PS já provou que, afinal, não tem nenhum D. Sebastião e o PSD está a provar que não passa do cardeal D. Henrique, sem que com rigor se responda à pergunta: O que é o Algarve? Um conjunto de sultanatos? E isso basta?

Carlos Albino
________________
Flagrantes produtos portugueses: No hipermercado, água espanhola comercializada por empresa suíça… Ao menos a água!

Sem comentários: