Foi um balde de água fria? Não foi. O facto do PSD ter colocado no
Programa de Governo a criação de regiões-piloto, levou a que muitos tivessem
pensado que vai ser agora, porquanto o PS não se oporá, o PCP não criará
obstáculos, o BE irá na onda e quando muito o CDS colocará reservas., mas que,
feitas as contas, a ideia terá pernas para andar. Mais uma vez se pensou que
uma região, ainda que piloto, cai do céu, bastará um toque na lei fundamental,
um decreto. E então, com o secretário de Estado Marco António á frente, ele que
tem sido inegável campeão da regionalização, a pergunta era de lhe ser feita, o
que aconteceu no recente debate em Vila Real de Santo António. E a resposta só pode ter sido um balde água fria
para os que se acomodaram à ideia de que para a criação da Região do Algarve,
ainda que experimental, bastará o milagre supostamente fácil de quem legisla e
de quem governa, sem mais, ou seja, sem que a região candidata a Região mexa
uma palha, se organize civilmente, se movimente civicamente, sem que crie
fóruns abrangentes onde o provincianismo fique à porta e sem a sociedade mostre
que tem lideranças credíveis, com peso no País ou perante o País, que tem força
própria, elevada, mobilizada e mobilizadora, e com autoridade moral, cultural,
política e cívica – sobretudo cívica, que é o mais importante e não depende de
decreto, nem de programas de governo. Para quem, por honestidade intelectual,
reconheça que o Algarve não tem este acervo – tem fogachos, tem voluntarismos,
sérios sem dúvida, mas apenas voluntarismos - a resposta de Marco António não
foi um balde de água fria e a invocação do decálogo da troika foi mero
pretexto, mero pretexto. Que respondeu Marco António? Depois de tribunar que a regionalização
não é uma prioridade havendo que “perceber
o que é essencial e o que se pode tornar acessório” em função do “cronograma e valores definidos” pela
troika, ele foi direto ao assunto e gravou o epitáfio: “Não há tempo, nem momento, nem oportunidade para abrir um debate sobre
a regionalização”. Mas qual debate? O debate político envolvendo poder
legislativo e executivo, ou o debate oriundo da sociedade interessada? Marco
António certamente ao responder aquilo não desconhecia que esses dois debates
coincidem na inviabilidade de um com a inexistência do outro. Politicamente, o
decálogo da troika dá o excelente pretexto; civicamente, a sociedade algarvia
tem vozes mas não tem voz, é rica de voluntarismos mas não dá mostras de
vontade coletiva, invoca a pretensão da região por conveniência e conforme a
conveniência dos sultanatos autárquicos mas não tem movimento consolidado,
plural, com caderno, com endereço. E, desculpem lá, a crise na construção civil
é enorme, mas não são esses andaimes que dão força à reclamação da região,
piloto que seja ela. O PS já provou que, afinal, não tem nenhum D. Sebastião e
o PSD está a provar que não passa do cardeal D. Henrique, sem que com rigor se
responda à pergunta: O que é o Algarve? Um conjunto de sultanatos? E isso basta?
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrantes produtos portugueses: No hipermercado, água espanhola comercializada por empresa suíça… Ao menos a água!
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