quinta-feira, 11 de agosto de 2011

SMS 423. Muro das provocações

11 agosto 2011

O défice democrático tem duas faces, qual delas mais tenebrosa, não sei: por um lado, há défice, quando o poder e seus intermediários agem sem diálogo, abusando da autoridade e impondo à força decisões que põem em crise o interesse geral e o bem comum; por outro lado, também há défice, quando o cidadão não usa os meios legais e legítimos para se defender do abuso de poder, das deliberações injustas e da violência autoritária. É por isso que o poder, se é democrático, tem que ouvir e explicar, e que o cidadão deve conhecer os meios que tem à sua disposição para agir e retificar desvarios. Vem isto a propósito da estrada 125 sobre cuja anunciada “requalificação” sempre aqui manifestámos dúvidas.

Um pouco de história. A Via do Infante, inicialmente prevista como mera via rápida e depois mascarada de auto-estrada, foi lançada e aceite para aliviar a 125, substituí-la até onde a 125 era já a estrada da morte, como o povo a batizou, porque era. A Via do Infante não foi portanto um luxo, foi a alternativa para o Algarve ter uma travessia segura, unindo as terras porque a 125, com a explosão urbanística e a evolução natural das coisas, deixou de ser estrada, mas em longuíssimos quilómetros, uma rua ou avenida ad  hoc, ao mesmo tempo que vilas e cidades foram planeando as entradas e saídas em função do novo traçado longitudinal que por isso mesmo, e não tanto por dois ninhos de águia dos ecologistas de trazer por casa, não foi remetido mais para a serra e longe dos centros urbanos. E o Algarve acomodou-se a essa solução, a vida corria normalmente sem que os algarvios sentissem que a “via rápida” mascarada de auto-estrada era uma situação de exceção e de privilégio no País. A vida corria calma até que surgiu essa ideia peregrina das portagens e com tais portagens o poder se lembrasse fazer na 125 o que podia e devia ter feito antes da explosão urbanística e antes que fosse estrada da morte – requalificá-la com critérios de emergência e à maneira do trolha arvorado em mestre de obras.

E então aí temos a 125, com traços saídos dos estiradores e do ar condicionado dos gabinetes, a ser refeita não em função das pessoas e do Algarve (que também tem pessoa) mas das portagens da outra via que nasceu para a substituir como estrada da morte. À força querem agora transformar a 125 na alternativa à estrada que nasceu como alternativa. Insuportável, claro. Tanto mais que, como se previa, a 125 só teria uma solução com longos separadores centrais e que por serem separadores, separam mesmo – separam vizinhanças, casas comerciais, serviços, a porta do primo que mora em frente, bens, separam tudo, numa extr4ema violência para o dia a dia das pessoas. E tudo isto sem discussão pública, sem explicação pública, assim por decreto e trolha a cumprir decreto, acrescentando mais uns quilómetros de muro aos quilómetros de muro já implantado, pois de muro se trata.

É muro. Por motivos bem diferentes, o mundo já conheceu o Muro de Berlim e também por outros motivos mais confessáveis, há muito que conhece o Muro das Lamentações. O que não se esperava é que o Algarve viesse a dispor como sucedâneo da estrada da morte, um Muro de Provocações. É uma provocação à região e Mendes Bota só fez bem em pedir à população lesada que use os meios legais e legítimos que a democracia disponibiliza. E os outros deputados só fizeram mal numa coisa: não aparecerem junto dos cidadãos lesados. Assim não se requalificam.

Carlos Albino
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Flagrante consequência: Aí se disse que sete escolas do Algarve vão perder 74 lugares com um número apreciável de professores com horário zero. A “catástrofe” está em que pouco ou nada fizeram para terem força moral para impedir isso. Pois que força moral face ao ranknig das escolas da região e ao deplorável grau de qualificação dos alunos algarvios? 

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