18 agosto 2011
O pacífico Algarve que conheceu durante séculos a violência e
pilhagens dos corsários britânicos da qual já se esqueceu e nem convém lembrar,
acorda sem dúvida sobressaltado com a criminalidade violenta que, não vale a
pena disfarçar, tem consequências nefastas na principal atividade da região: o
turismo. E no turismo, afetada fica a corrente de turistas britânicos que aqui
chegam confiantes em encontrar uma terra pacífica e segura. Mas ninguém, nenhum
país, nenhuma nacionalidade hoje, no mundo, pode hoje dizer que dessa água não
beberei, os britânicos, designadamente, na sua própria terra de onde partem
confiantes, como inesperadamente provaram os recentes acontecimentos em
Londres, Manchester, Salford, Birmingham, Wolverhampton, West Bromwich e Nottingham
que não propriamente terras como Alcantarilha, Olhos de Água, Almancil ou Guia,
nem tais acontecimentos, no seu gigantismo, se comparam aos atos selváticos mas
isolados que no Algarve ocorrem e que todos desejaríamos que deixassem de
ocorrer, fazendo mais por isso em prevenção e responsabilidade pública.
Parece, todavia, que os britânicos, pelo menos quem os representa,
continuarão a pensar que neste mundo atual ninguém precisa de ninguém, ou que
as obrigações só competem aos que dos outros precisam ou dos quais dependam de
alguma forma, nem que seja por via do turismo que é a via mais pacífica dos
povos se cruzarem e se conhecerem, virada que está a página de má memória do
corso ao serviço de Sua Majestade.
Vem isto a propósito do que, em matéria de conselhos a turistas
britânicos, se lê na página oficial do Foreign Office, dada como atualizada
nesta semana que vivemos. Relativamente a Portugal (Algarve naturalmente
incluído, sendo o Algarve a principal escolha dos britânicos) lá se adverte
que aqui “há uma ameaça subjacente de
terrorismo” e que “ataques podem ser indiscriminados, inclusive em locais
frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”. E depois de uns considerandos, certamente
para dar mostras de informação no terremo, chega-se ao ponto ou pormenor de
recomendar particular cuidado com os roubos nas carreiras de n.ºs 16 e 28 dos
autocarros em Lisboa, vá lá, não se citando como particularmente perigosas a
carreira para o Parragil ou a que passa pela primeira curva à esquerda para o
Montechoro. Isto dito com Tottenham em polvorosa, não é apenas ridículo – é
inconsciência a roçar em zelo sedicioso contra os próprios.
Deixemos os pormenores e vamos ao essencial. Não sei se a embaixada
portuguesa em Londres leu ou tomou conhecimento dessa advertência britânica aos
seus turistas que se preparam para viajar de que em Portugal há uma “ameaça
subjacente de terrorismo”. Se leu e tomou conhecimento, e não fez nada,
nomeadamente pedindo explicações para essa “ameaça subjacente”, é mau. Imaginam
um pacato turista britânico que parta para o Algarve, informado de fonte oficial
de que pode ser alvo em Portugal de um “ataque terrorista indiscriminado
inclusive em locais frequentados por estrangeiros e viajantes estrangeiros”? Não é demais? É. E o que é demais não presta.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante heroicidade: A dos jornais regionais do Algarve que resistem – do Algarve e não tanto no. Fazer das tripas coração é que dá mesmo problemas cardíacos.
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