Naturalmente que ninguém estaria à espera de que Vossa Excelência
anunciasse no Calçadão de Quarteira o fim das portagens na Via do Infante, a
reavaliação dos critérios para a chamada requalificação da 125, desse algum
alento aos que viram o Turismo Algarvio diluído na aguada do centralismo mais
regionalista e até provinciano do que se possa imaginar, ou que fizesse alguma
boa surpresa aos que trabalham e vivem na terra onde veio falar, cumprindo o
ritual cujo momento, por força do marketing político, as primeiras páginas de
jornais esperam, os telejornais preparam para abertura e, por certo, todo o
país aguarda seja com dúvida profunda, mera curiosidade ou firme convicção.
Falar no Calçadão, mesmo que este seja o Pontal em vão, não é mesmo que falar
na praça da Sé de Braga, nos Aliados ou nos Restauradores. O discurso de verão
do líder do PSD, esteja no governo ou na oposição, não é o de comício de
exceção ou o de ajuntamento para angariar votos. Pelos anos que passaram, é um
discurso que faz prova se o líder é tribuno e se, sendo tribuno, faz prova de
que aquilo que diz não fica pela forma mas tem conteúdo, novidade e premonição.
Daí que depois dos discursos de alguns que outrora falaram nesse ritual já
inimitável ainda que sob a fórmula rifada de “Pontalinho”, rarefeitas as
últimas palavras, até os apaixonados dissessem logo: “Este não vai lá!”. E não
foram pelos indícios que as provas deixaram. É claro que discursos do Calçadão
não são para o Algarve, mas faz parte da prova que o Algarve entre mesmo que
num breve momento, por deferência à terra anfitriã. E Vossa Excelência tinha
bons pretextos para isso, repetindo-se que nesses pretextos não se incluem
questões menores como a das portagens, mas, sobretudo a questão de fundo que é
a da terra não ser ouvida nem lhe darem explicações sobre medidas em que
profundamente se sente afetada e se diz injustiçada por erros de decisão. Mas
não! Vossa Excelência passou ao lado dessa mera questão de conteúdo e que a
terra anfitriã muito gostaria que referisse ainda que fosse de forma geral e
abstrata. Passou ao lado do conteúdo, ficou na forma. Por certo e
independentemnete da hora de graça, provou como tribuno mas não deixou um laivo
de premonição que é condição sine qua non para que apaixonados, expectantes e
céticos digam: “É um político!” Ninguém disse que não ia lá, mas toda a gente
reparou na omissão que, se foi calculada, foi mal calculada; se foi uma inadvertência
ou conselho, acabou por funcionar como o apagamento da sagacidade que
certamente Vossa Excelência terá. Não gostei dessa. E para o ano já é tarde.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante ortografia: Aqui se declara que, no próximo apontamento, o autor escreve segundo o português do Século XIX. Não fica mal, como leve apontamento de verão, e até ajuda a compreender a evolução das letras.
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