A protecçaõ que a politica offerecce , naõ he hum simples acto da
illustre piedade se em cada hum houver tanto talento para o entender e vem dos
nossos Maiores em successiva tradiçaõ pois já elles julgavaõ por periddo
aquelle dia, em que naõ protegiaõ a alguém. Assim a amizade de hum deputado
pela sua regiaõ que é reyno, poder-se-há ella dar a conhecer, mas naõ se
costuma conservar se ninguém beneficciar do seu affecto e naõ usufruir da cunha
de protecçaõ. Do fortíssimo empenho, com que um deputado quis que alguns fossem
providos no Emprego pode resultar que naõ haõ de ser certamente dignos os seus
humildes merecimentos, mas o desvanecimento he maior que a sua utilidade. Disto
está o Allgarve cheio e porque tantos em taõ longos annos muitos obraram. Pergunta
o reyno do Allgarve a cada deputado porque naõ tem maõ para escrever e
preguntar no suave exercício dos seus preceitos, sabendo a razaõ – naõ tem
coraçaõ para o amar. Onde ha affecto que naõ seja pella cunha ou pella
affectuosa protecaõ, sempre ha tempo para preguntar. He taõ obstinado o
silencio dos deputados que ao reúno a que futuro haõ de chamar regiaõ sem ser,
já naõ parece silencio, perece crueldade. As cousas mortas, ainda que muitas
vezes sejaõ chamadas, naõ respondem; ainda que sejam provocadas, naõ resentem.
Tal he a amizade dos deputados pelo reyno, que nem respondem ás frequentes
queixas, a naõ ser que venham elleicções que só servem para os acordar de taõ
escadloso lethargo, voltando a pedir elles que resuscite a sua morta amizade
pello reyno que até se riu daquella cenna sem grandeza do governador civil
substituto. E a vinda daquelle outro á nossa quinta, que tantas vezes foi
promettida, he como matéria prima, que sempre está em potencia, nunca se reduz
a acto, sempre as suas promessas saõ promessas, e sempre as esperanças do reyno
ficam esperanças. Todos os passos que daõ, saõ como os dos Planetas retrogados,
que saõ inuteis. Mas breve he o dia para subir , e descer escadas de Ministros,
e Escrivães; sendo que em huns naõ deixa de haver letras cobertas pello reybo,
nem em outros presteza; mas as letras de huns, pelo que papaõ, saõ só de
Papiano; e a presteza de outros, pelo que roubaõ, he comoa velocidade de
Atalanta com sentido nos fructos de ouro. Mas como os deputados pouco sabem de
mitologia, que Deos os guarde muitos annos.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante ortografia: O autor não escreve segundo qualquer acordo ortográfico mas em portuguez de 1815, quando havia reyno.
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