quinta-feira, 8 de setembro de 2011

SMS 427. A crise dos jornais de cá


8 setembro 2011

Tinha que dar nisto. Os governos com políticas circunstanciais e imediatistas para a imprensa pobre da província que disseram querer apoiar, os municípios a constituírem-se em editores de publicações próprias compensando isso com subsídios informais, a publicidade dos serviços públicos distribuída por critérios difusos e de simpatia, grande parte da publicidade privada por livre arbítrio colada às paredes, as empresas jornalísticas (algumas, pagando as justas pelas pecadoras) brincando umas iludindo-se outras com os apoios ao longo de anos, e os leitores a habituarem-se comodamente à ideia de que os jornais são gratuitos e lhes chegam às mãos por barrigas de aluguer, tinha que dar nisto: semanários que passam a quinzenários, encerramentos. È da crise, mas não é só da crise que o problema vem de longe e é de raiz.

As maiores empresas que operam na região, operam como se não precisassem dos jornais, e pelo que fazem parece que não precisam. As pequenas, desde as funerárias às do espetáculos, também não precisam dos jornais – têm as paredes, bastando umas fotocópias desde as de grande formato às pequenas pagas pela família do morto, um balde de cola e um rapaz a horas. Os municípios fazem as suas agendas em papel couché, os seus boletins, montanhas de folhetos – também não precisam dos jornais para a divulgação institucional das suas atividades e da “mensagem do presidente” que é sempre a mesma. E a culminar, algumas aventuras que começaram luxuosas e acabam em remendadas, encarregaram-se de destruir o sistema de assinaturas próprio do jornal de proximidade. E sendo assim, os jornais não podem viver do ar – sem publicidade, sem assinantes, sem compra direta, têm que fechar.

É certo que o Algarve, contrariamente a outras regiões do País, conseguiu atravessar todo o século XX sem um diário, sem um grande jornal de referência e símbolo da força anímica da província, se a teve ou tem. Teve dois ou três semanários, que continua a ter, mas que, para isso tiveram que fazer das tripas coração. É também certo que os algarvios, na generalidade, não se dedicaram à leituras dos seus jornais como os de outras regiões se dedicam aos seus. Lê-se pouco na região, melhor dito, quase nada se lê., chega-se a casa com o da bola debaixo do braço e a televisão é a maravilha, ou à passagem pelo café basta uma olhadela pela página dos crimes. E sem interesse crítico dos leitores, não foram poucos os jornais que se traíram a si mesmos com “crónicas” de ilustres figuras que ninguém consegue ler ou com intermináveis prosas laudatórias a quem, direta ou indiretamente os foram subsidiando enquanto podiam ou podem, entretecendo-se isso com o noticiário “regional” de agência falando do que toda a gente já sabe, igual em todos os lados.

E temos a pescadinha de rabo na boca: não se lê porque pouco de útil e de bom interesse público há para ler, e não se pode publicar o muito que há de interesse público e útil porque aqueles de quem se depende põem condições, às claras ou às escondidas que às escondidas é o que mais há e impera.

Carlos Albino
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Flagrante apelo: Se querem homenagear José Barão, paguem a assinatura do “Times do Algarve” que os assinantes são a base dos jornais independentes e livres, embora tenham que ser feitos à proporção.

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