Interessa a todos. O futuro do PS, sobretudo o cá da terra,
interessa tanto como o do PSD, o do PCP, o do CDS, o do BE, e de cada um dos
demais, desde que sejam legais e concorram, tenham conseguido assentos
parlamentares ou não, estejam representados somente numa assembleia de
freguesia do monte ou estejam em todas, tenham poder ou não. Os partidos, no
seu conjunto, formam o retrato político da terra e, gostemos ou não dos primos,
sejam ou não parentes afastados ou mesmo parentes de pára-quedas, é a “família”
que temos e perde o Algarve se a família for má. Agora, naturalmente, é o PS
que está em causa, havendo aí uma parte que é restrita e das contas da casa,
mas outra parte que é pública e do interesse público. E o PS está mal.
Primeiro, porque viveu ao sabor, ao ritmo ou por inércia das
vitórias ou derrotas do líder nacional de cada momento – raramente se
questionou, nos últimos anos, pelas causas próprias (não culpas), pelos motivos
próprios (não interesses) e pelas responsabilidades no próprio cartório (não
conjunturas lá decima). Segundo,
como de resto é mal geral a todos os partidos, esteve sempre aberto a todas as
críticas, sem dúvida, mas cada crítica ou foi tratada como armadilha da
oposição, ou remetida para a prateleira dos ataques classificados como
pessoais. Terceiro, viveu dos
resultados – às mil maravilhas, camarada, quando se revelaram favoráveis,
vitimando-se, apelando à misericórdia geral por ocasião dos tombos e enganando-se
com aqueles cálculos primários de que amanhã é um novo dia, virando-se o disco
e tocando a mesma música.
Ora se os partidos existem para conquistar o poder pelo sufrágio, é
também pelo poder que conseguem conquistar e pelo número e qualidade dos
protagonistas da conquista, que os partidos valem. Mais ou menos.
E o que é que o PS cá da terra conquistou? Pouco. Dois deputados,
numa lista em que a figura do quarto lugar deveria ser a primeira, com uma
terceira ninguém sabe porquê mas na expetativa de alguma renúncia, a primeira
figura com interesses políticos manifestamente longe do Algarve (ou pelo menos
longínquos) e a segunda figura que nem atou nem desatou, quando deveria ter
atado logo nas legislativas de 2009 e desatado antes destas últimas, as de
junho.
É que não basta ser voz no Algarve, é preciso ser voz do Algarve –
é isso que o eleitorado exige, espera e reclama dos deputados eleitos, mesmo
daqueles a quem não destinou o voto. E para ser voz do Algarve é preciso
corporizar os interesses, as aspirações, as razões e sobretudo as condições que
o Algarve entende como necessárias para o seu bem comum. Ninguém exige a um
deputado algarvio que seja contra o Alentejo, uma boca aberta contra o Norte,
um arqueiro medieval contra o Oeste ou um artista de circo contra o poder
central. O que se exige é atenção política, corpo inteiro e alma viva, e
particularmente do PS que não saia pela esquerda alta.
Claro que o Algarve precisa que o PS tenha isso, seja isso, como
precisa que cada um dos restantes partidos tenham isso e sejam isso, porque se
não tiverem e não forem, vão ver. É uma questão de tempo – para se enganar o
eleitorado é preciso ter maior memória que este… o que é impossível, em
democracia. Tirem os cavalinhos da chuva.
E a pergunta que inevitavelmente se coloca será esta: conseguirá o
PS dar a volta por cima, conseguirá reagrupar-se para enfrentar o que o
calendário democrático impõe – autarquias, para já, legislativas lá mais para a
frente? E neste parlamento? O que é isso?
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante criminalidade: Naturalmente que nas esquadras não se combate o crime lendo calmamente os jornais que recebem em primeira-mão as notícias do próprio crime. E quando crime é já algo muito próximo do terrorismo, há que haver mobilização. Não é a palavra?
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