Os professores, tal como os governos e até o papa, alguma vez podem
não ter razão. E não é por se lhe apontarem erros ou omissões, que ficam
desautorizados – desautorizados ficarão é se as suas lutas ou reivindicações
forem apenas as corporativas, e se julgarem que o seu prestígio e credibilidade
podem sobreviver com indiferença pela sociedade que justifica a sua missão. Um
professor que seja professor tem que dar provas de que é capaz de ensinar a
crítica e de que aprendeu a auto-crítica. Vem isto a propósito da situação
calamitosa das escolas do Algarve ou no Algarve, como queiram. Da situação
calamitosa da qualidade do ensino, dos resultados obtidos que de modo geral no
cômputo do País são uma lástima, do ranking sobretudo das nossas escolas do
ensino secundário que é o que diretamente verte para as universidades as
evidentes lástimas do ensino e que acabam, mais dia menos dia, por colocar às
próprias universidades a questão da sua sobrevivência, missão e credibilidade –
seja esse ensino superior público ou privado. Não creio que os professores do
secundário do Algarve tenham dialogado muito sobre esta matéria com os
professores das universidades. Se têm falado, pouca gente terá ouvido. E quando
ninguém, do secundário ou do superior, toma a iniciativa de formular o problema
que os de um lado e outro sabem que existe, sim, a estratégia é suicidária.
Nesse propósito, a Direção Regional de Educação falhou, e não é uma
questão de gastar milhões ou apenas dois cêntimos, de ter um só adjunto ou de
ter posto ordem ou fechados os olhos à desordem nas escolas (e desordem é por
vezes o carreirismo, a lassidão, a golpaça curricular e não apenas a má
ministra). E falhou porque não foi capaz de formular o problema em diálogo com
as universidades, seja a grande, a do Algarve, sejam os institutos superiores
que aqui a ali sobrevivem. Também não espere agora que cada escola vá fazer
isolada em grupo se simpatias, aquilo que, de forma concludente e continuada,
uma estrutura “regional” não foi capaz de executar perante um problema que está
à vista de todos – o baixo e humilhante nível do ensino secundário no Algarve
com consequências diretas no abastecimento do superior -, não valendo a pena
enterrar a cabeça na areia e estar à espera da publicação do próximo ranking
das escolas como nos exercícios de adivinhação. Um ou outro êxito pontual não
alivia, e culpar pais ou alunos é expediente que não colhe fora também do
pontual.
Ora, escolas, municípios, institutos e universidade alguma vez têm
de acordar e fazer alguma coisa em conjunto e a primeira a fazer é formular o
problema, se querem viver, melhor – sobreviver.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante naturalidade: Observam-nos que haverá afinal um “algarvio” no governo só porque terá nascido em Faro. Mantém-se o que sempre se disse aqui: há algarvios (até grandes!) que não nasceram no Algarve, e há quem tenha nascido e não seja ou até tenha vergonha disso nos currículos...
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