Lá em cima. Comecemos lá por cima. Não é que o Algarve tenha que
ter alguém no governo, como se isso fosse direito próprio ou direito a uma
quota, mas não ter continuadamente ninguém em qualquer governo é mau sinal,
pior indício e confrangedora constatação. É um sinal mau da aceitação,
credibilidade e capacidade da nossa estimada classe política – é como se não
tivéssemos ninguém, portanto, ou como se a gente que temos ande só na praia. O
indício é pior porque esse não-Algarve na área do poder central vem de longe,
não é um ato premeditado deste XIX Governo – foi no XVIII, foi no XVII e a
presença de José Apolináro na secretaria das Pescas foi o último fogacho, o
último dos sinais de consolo para esta ou “aquela” gente lá do sul que,
politicamente, já não é apenas sul, é sul do sul, lá dos confins, pelo que não
contam. E a constatação é confrangedora porque é prova das duas uma: ou a prova
de que o Algarve não tem quadros competentes e capazes de entrar num governo,
já não se diz para um Ministério que imponha respeito ao FMI, à UE e aos
mercados, mas ao menos para uma secretariazinha de Estado, para algum desses
nichos que trate dessas reles coisas como, por exemplo, o Turismo; ou então,
caso tenhamos quadros – possivelmente temos… - o seu aproveitamento poria o
País a desconfiar de algum algarvio ousado ou simplesmente aceite na fechada
comunidade ou elite do poder central, onde o peso de algumas regiões é evidente
(neste e em anteriores governos, deixemo-nos de histórias), não disfarçando a
existência de lobbies que atuam independentemente das organizações partidárias,
dos resultados eleitorais e dos encantadores discursos da moda sobre a
aproximação da política aos cidadãos.
Cá em baixo. Pois cá em baixo, depois de se ter enchido o balão do municipalismo
de que muita gente se serviu para esvaziar qualquer veleidade de organização administrativa
regional séria, completa e participativa como uma democracia participativa,
completa e séria já deveria ter posto à disposição dos administrados, agora
pretende-se picar o balão com agulhas. É claro que o municipalismo exacerbado
inviabilizou na prática o balão que valeria a pena ter-se elevado – no Algarve,
por exemplo, a Região Piloto, sem se tocar no mapa autárquico, mas tocando-se apenas
nas competências que seriam transferidas para a Terra Comum ou para o Bem Comum
do Algarve, como queiram. Mas não! Em nome não do bem comum mas do chamado
interesse geral, encheram-se os 16 balõezinhos, cada um o melhor que os do
fôlego podiam dentro das suas fronteiras, uns mais do que outros, aliás, uns
tantos muito e uns poucos nada. E agora? Agora, por invocada pressão exterior,
melhor dizendo, por manifestas condições impostas do exterior, depois do mal
pretende-se fazer a caramunha, lançando populações contra populações, uns
municípios comendo outros ou partes de outros para obviar às respetivas
insolvências, insolvências esperadas porque o municipalismo fundamentalista e
exacerbado haveria, algum dia, de redundar em insolvências. Haja bom senso. O
caminho pode ser emendado.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante Parabéns: A propósito dos 25 anos da sua ordenação, parabéns ao padre César Chantre que estima o conhecimento, acolhe a cultura, dialoga com os sinais do mundo, não rasga livros mas encaderna-os na crítica afável e fez das igrejas de três aldeias verdadeiras catedrais que crentes e descrentes espreitam em fraternidade espontânea – verdadeiro milagre. Ele que não leve a mal, mas é o primeiro santo do século XXI no Algarve.
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