quinta-feira, 9 de junho de 2011

SMS 414. A fábula ensina que…

9 junho 2011

Toda a fábula, porque é fábula, deixa uma lição e procedem mal os que, com os resultados destas eleições no Algarve, se isentam das responsabilidades pelo remate da história contada. Uma fábula eleitoral não é coisa acontecida há séculos e com personagens de terras longínquas – é feita por eleitos ou derrotados e por eleitores inscritos acabem estes por ser os votantes que contam, os que entram em branco e brancos saem, os que se divertem como nulos que são ou mesmo os abstencionistas que decidam ser filhos de ninguém.  Todos, sem exclusão, fazem intervenção na fábula e no seu remate. Os algarvios sabiam que, feitas as contas finais, haveriam de ser eleitos 9 deputados por entre as listas de 13 partidos. E aí os temos, quer uns, da fábula, dêem razão a Henri Bergson quando este avisava que "escolher é excluir", outros prefiram aliviar-se com a lamúria de Platão segundo a qual “Deus não é culpado, pois a culpa é de quem escolhe", quer outros ainda da mesma fábula andem pelos cantos a repetir satiricamente as desculpas de mau pagador inventadas pelo velho boémio francês Mathurin Régnier cuja regra era a de que “quem muito quer escolher, fica com o pior", mesmo que nenhum saiba quem foi Bergson, Platão e, para mais, Régnier…

No palpite aqui deixado a 21 de abril (apontamento 408), não se errou quando se garantia que seriam eleitos 4 deputados para o PSD, 2 para o PS, 1 para o CDS (beneficiando dos tais erros de paralaxe), 1 para o BE e 1 para o PCP. Assim foi. E não foi apenas a correnteza nacional que levou os 200 mil votantes (pousos mais) a contribuir para tais resultados – em parte sim, em parte não. Como não foi também a mesma correnteza nacional a levar que 160 mil tivessem ficado em casa considerando que o momento não lhes dizia respeito. Alguma coisa de grave está a ocorrer no sistema democrático, melhor dito, nos partidos – em todos os partidos -  para que quase metade dos eleitores deitem assim o seu papel no momento mais solene e decisivo da democracia para a reciclagem. O clientelismo, o carreirismo, as jogadas do submundo do pequeno poder e sobretudo aquela corrupção omissiva que lava a cara todos os dias de manhã (a outra, a suja, a que jamais se lava, essa não engana a ninguém e nota-se à distância pelo cheiro) explicam em grande parte a desmotivação, o desinteresse, a lassidão e explicam sobremaneira que gente generosa não exercite a generosidade que tem e revele profunda descrença. Mas estes 160 mil ficaram em casa e, ficando em casa, não incomodaram ninguém, como pouco incomodaram os cerca de 8 mil que votaram em branco ou anularam o voto. Os que incomodaram foram os tais 200 mil ao provocarem na Região um verdadeiro abanão político. E sem dúvida, em democracia, tal incómodo é um bom incómodo, um saudável incómodo desde que tanto os incomodados como os que incomodaram saibam extrair a moral da fábula e aprendam com ela. Outra coisa não se espera.

Nenhum partido que ganhou mais (o PSD e o PCP) “roubou” deputados ao outro – em democracia não há roubos, pois escolher é excluir, e contra isto batatas. E qualquer dos partidos que “manteve” (o CDS e o BE) com mais triz menos triz, não pode cantar do alto, porquanto não se esqueçam que podem estar meramente a beneficiar da evidência de quem muito quer escolher, fica com o pior.  Finalmente, meu caro Miguel Freitas, Deus não é culpado, pois a culpa é de quem escolhe. E com isto se pretende dizer que Mendes Bota fica com uma enorme responsabilidade, perante os que votaram e perante os que ficaram em casa – 160 mil abstencionistas é muita gente e tal número só não atemorizaria se Deus tivesse culpa. Pensem nisto.

Carlos Albino
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Flagrante lição: Ao que erra, perdoa-se uma vez, mas não três. É como diz o provérbio.

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