É um dado confortante que o cidadão, sem execção de ninguém e para
ninguém, aceite contribuir para o salvamento do país – o mal começa com as
suspeitas de exceções e, depois, a agravar, com as provas de que bastantes têm
artes para se isentarem, fiados naquele lema segundo qual o segredo é a alma do
negócio do momento. Já é um dado menos confortante que os governantes, levados
pelo voluntarismo, não expliquem as medidas que decidem, ou que, quando as
explicam, ficam pelo “modo geral”. Vem isto a propósito das portagens na Via do
Infante, cuja explicação ficou pelo “modo geral” ou na justificativa de
arrecadar receitas a todo o custo, seja onde for e, já agora, contra quem for.
Portanto não se explica, não se ouve os argumentos de quem discorda, não se
responde, como se o poder central, para ser central, tivesse que ser
hipertrofiado e hegemónico para o funcionamento do País. Perante a crise, o
grito das instituições naturalmente que deve ser escutado pelo cidadão, mas também
para resolver a crise as instituições devem ouvir o grito do cidadão. A crise é
o problema, um problema que está formulado, todavia não se dê o caso de à crise
se sobrepor uma crise maior – a da desconfiança do cidadão perante poderes que
não escrutinam minimamente como o bem comum pode e deve ser conciliado com o
interesse geral, sobretudo nos temas que se converteram na caixa de ressonância
da generalidade dos cidadãos sem os quais as instituições ficam a falar
sozinhas – o que será mau, como doença. As últimas eleições deram a lição
magistral de como o cidadão reage quando verifica que os dinheiros públicos são
usados como pau para toda a obra, pelo que será aconselhável também que os
governantes se interroguem sobre os motivos pelos quais os cidadãos reagem
quando a crise é usada como obra para todo o pau.
A Via do Infante não é um caso particular e como tal atendível?
Então digam porquê, como e que alternativas há cujo teor tenha relação direta e
útil com o que está em causa, pois o que está em causa é apenas a única ligação
longitudinal de que o Algarve dispõe neste acumulado de erros e virtudes com
que a região chegou ao século XXI. A estrada 125 é uma estrada dos anos 40 do
século passado e, repete-se, não é com 435 rotundas que o tempo volta para trás.
Entre Lagoa e Portimão nada tem a ver com o ermamento de outrora onde o Pragal
era um desconfortável oásis para operários conserveiros; entre Faro e Tavira
nada tem a ver com os bucólicos postais ilustrados dos anos 50 – onde estav uma
pita, está uma urbanização; entre Portimão e Lagos até Vila do Bispo, nada fica
isolado e no cu de Judas; entre Tavira e Vila Real de Santo António é uma
passadeira para uma Espanha que já não fica no Egito mas ali, vizinha de que
até nem se tira partido pelo facto de Sevilha ser mais fácil que Lisboa, e
Huelva apenas a outra margem; Silves poderia perfeitamente voltar a ser capital
e com bispo na Sé; também só um psicopata ainda vê Albufeira como aldeia
piscatória com duas tabernas, pronúncias envergonhadas e uma ribeira
intransponível para os remexidos de trazer por casa; Loulé mescla-se com
Quarteira tal como Faro se mescla com Olhão. Enfim, eis o Algarve que mais não
é do que uma extensa cidade do litoral, com a população de Braga e,
ironicamente, mais helénica do que no tempo de Teixeira Gomes, agora sim com
uns bairros a fingir de cidades, outros de vilas e a 125 como rua do seu
interior a que as 435 rotundas vão dar aspeto de beco sem saída para gáudio dos
gabinetes de arquitetura e de engenharia que têm a sorte de pegar em mais este
pau para bonita obra.
Assunto para continuar.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante multiplicação: Com a neutralização do governador civil (M/F, como nos empregos), espantosamente estão a surgir os governadores civis substitutos. Agora é que acordaram?
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