quinta-feira, 21 de julho de 2011

SMS 420. Que assim seja. Todavia…

21 julho 2011

É um dado confortante que o cidadão, sem execção de ninguém e para ninguém, aceite contribuir para o salvamento do país – o mal começa com as suspeitas de exceções e, depois, a agravar, com as provas de que bastantes têm artes para se isentarem, fiados naquele lema segundo qual o segredo é a alma do negócio do momento. Já é um dado menos confortante que os governantes, levados pelo voluntarismo, não expliquem as medidas que decidem, ou que, quando as explicam, ficam pelo “modo geral”. Vem isto a propósito das portagens na Via do Infante, cuja explicação ficou pelo “modo geral” ou na justificativa de arrecadar receitas a todo o custo, seja onde for e, já agora, contra quem for. Portanto não se explica, não se ouve os argumentos de quem discorda, não se responde, como se o poder central, para ser central, tivesse que ser hipertrofiado e hegemónico para o funcionamento do País. Perante a crise, o grito das instituições naturalmente que deve ser escutado pelo cidadão, mas também para resolver a crise as instituições devem ouvir o grito do cidadão. A crise é o problema, um problema que está formulado, todavia não se dê o caso de à crise se sobrepor uma crise maior – a da desconfiança do cidadão perante poderes que não escrutinam minimamente como o bem comum pode e deve ser conciliado com o interesse geral, sobretudo nos temas que se converteram na caixa de ressonância da generalidade dos cidadãos sem os quais as instituições ficam a falar sozinhas – o que será mau, como doença. As últimas eleições deram a lição magistral de como o cidadão reage quando verifica que os dinheiros públicos são usados como pau para toda a obra, pelo que será aconselhável também que os governantes se interroguem sobre os motivos pelos quais os cidadãos reagem quando a crise é usada como obra para todo o pau.

A Via do Infante não é um caso particular e como tal atendível? Então digam porquê, como e que alternativas há cujo teor tenha relação direta e útil com o que está em causa, pois o que está em causa é apenas a única ligação longitudinal de que o Algarve dispõe neste acumulado de erros e virtudes com que a região chegou ao século XXI. A estrada 125 é uma estrada dos anos 40 do século passado e, repete-se, não é com 435 rotundas que o tempo volta para trás. Entre Lagoa e Portimão nada tem a ver com o ermamento de outrora onde o Pragal era um desconfortável oásis para operários conserveiros; entre Faro e Tavira nada tem a ver com os bucólicos postais ilustrados dos anos 50 – onde estav uma pita, está uma urbanização; entre Portimão e Lagos até Vila do Bispo, nada fica isolado e no cu de Judas; entre Tavira e Vila Real de Santo António é uma passadeira para uma Espanha que já não fica no Egito mas ali, vizinha de que até nem se tira partido pelo facto de Sevilha ser mais fácil que Lisboa, e Huelva apenas a outra margem; Silves poderia perfeitamente voltar a ser capital e com bispo na Sé; também só um psicopata ainda vê Albufeira como aldeia piscatória com duas tabernas, pronúncias envergonhadas e uma ribeira intransponível para os remexidos de trazer por casa; Loulé mescla-se com Quarteira tal como Faro se mescla com Olhão. Enfim, eis o Algarve que mais não é do que uma extensa cidade do litoral, com a população de Braga e, ironicamente, mais helénica do que no tempo de Teixeira Gomes, agora sim com uns bairros a fingir de cidades, outros de vilas e a 125 como rua do seu interior a que as 435 rotundas vão dar aspeto de beco sem saída para gáudio dos gabinetes de arquitetura e de engenharia que têm a sorte de pegar em mais este pau para bonita obra.

Assunto para continuar.

Carlos Albino
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Flagrante multiplicação: Com a neutralização do governador civil (M/F, como nos empregos), espantosamente estão a surgir os governadores civis substitutos. Agora é que acordaram?

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