Diz um cómico do governo que esta não é altura para se pensar na
regionalização pois o que se deve é proceder à descentralização. Mas
descentralizar o quê, como e para quem quando se extinguem direções regionais
supostamente criadas para funcionarem como alavancas e pedagogia de futuros
centros de decisão regional? Descentralizar para os municípios quando se corta
a eito nas verbas autárquicas ficando as câmaras sem dinheiro para mandar
cantar um cego? É claro que as direções e delegações regionais, as extintas e
as que se conservam, nunca foram nem são alavancas de regionalização e muito
menos pedagogia. Foram e são empecilhos de burocracia, pequenos reinos de
pareceres imperativos, correias de transmissão do chefe e zelosas máquinas de
confiança partidária que muitos ingénuos têm designado por confiança política.
Nesse mapa de mordomias de que os governos civis foram napoleónicos exemplos,
as exceções ou tentativas de exceção tiveram os dias contados. É também claro
que os municípios são instrumentos mais adequados para se transformar numa
manifesta manta de retalhos aquilo que poderia ser uma região com pés para
andar e cabeça para pensar. Nada melhor que descentralizar falsamente para os
municípios caso o objetivo seja o de dividir para reinar, até porque, a rigor,
o governo não pode descentralizar nada para os municípios, o que pode é alijar…
Não descentraliza, alija. É a palavra. E é por isso que, com tais ilusórias
descentralizações, os municípios ricos ficam mais ricos e os municípios pobres
ficam mais pobres, assim se quebrando a coluna vertebral da solidariedade
regional que é, no fundo, o que se quer partir. Na verdade, a melhor e mais
fácil maneira de acabar com a ideia de Algarve é dividi-lo em 16 algarves cada
qual tão ou mais endividado que o outro algarvezinho. E é assim que, com tanto
algarvezinho, nem quando toca a reunir o Algarve se une. Não quando toca a
reunir por reclamações de uma região que não passa de quintal de Lisboa ou de
Caparica para o conveniente bronzeamento da socialite política, mas quando toca
a reunir por uma ideia de Algarve.
Pequena nota: nunca se pensou que desejar Boas Festas
fosse mesmo uma ironia, valendo todavia a intenção.
Carlos Albino
Carlos Albino
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Flagrante verdade bíblica: É mais fácil um injusto passar pelo fundo de uma agulha que primeiro-ministro e ministros decidirem alguma medida favorável ao Algarve.
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