Por este ou por aquele motivo e alcance, por aí se surgem
iniciativas visando a formação de movimentos independentes por iniciativas de
gente ou desesperançada com os partidos, por vezes a pretexto de causas a
propósito das quais os partidos os seus representantes defraudaram. É legítimo
mas é razoável que se separe as águas. Em democracia, os partidos existem para
a conquista do poder através do voto, o que não conflitua, antes pelo contrário
complementa ou aprimora esse papel, com os movimentos cívicos ou de cidadania.
Os partidos lutam pelo poder com base nos seus quartéis de militantes e de
milicianos cooptados, os movimentos cívicos batem-se por causas pelo que podem
integrar gente de partidos ou à margem de qualquer filiação ou disciplina
partidária. Os cooptados pelos partidos para a conquista do poder não são assim
propriamente independentes, e os movimentos cívicos também não são privilégios
de independentes, mas as regras do jogo já ficam tão claras quando se constituem
movimentos de cidadania confessadamente ou não para a conquista do poder em
competição com os partidos e sob a bandeira de independentes. Na verdade, é um
mau sinal para a democracia quando ou se os partidos ficam reféns de
nomenclaturas que impeçam a democracia interna e o debate de ideias, tomem
decisões violentando a vontade expressa dos seus apaniguados, elejam dirigentes
através de expedientes montados para a perpetuação de clientelas ou que
atraiçoem promessas eleitorais pelas quais obtiveram o voto em sufrágio
rasgando o contrato feito com os eleitores. Mas também é não apenas mau mas
péssimo sinal para a mesma democracia que se tente fazer fora dos partidos o
que dentro deles não se faz como se devia fazer por falta de coragem e de
frontalidade, funcionando então os movimentos de duvidosos independentes como
cómodo combate impessoal ou longe da cara dos efetivos destinatários do
protesto político. A nível de freguesias, a luta pelo poder e a luta por causas
confundem-se ficando isso civilizadamente diluído em guerrinhas cordatas de
vizinhos. Mas a nível de municípios, esses sinais já são péssimos caso revelem
a incapacidade dos partidos para a remoção de nomenclaturas politicamente
suicidárias, sobretudo se os partidos, a nível local, tiverem ficado
despovoados de quadros e funcionarem como meras máquinas eleitorais apenas
animadas por líderes em tournée e pela mágica da sigla legal. E sendo assim, os
independentes têm muito mais a fazer pela reclamada independência dentro dos
partidos que fora deles. A não ser que se pretenda na eleição apenas ganhar um
salário de prestigio social ou fazer prova de vida.
Carlos Albino
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Flagrante dúvida: A de se o Algarve em 2012 vai ter deputados, porque em 2011 não se notou a não ser aí por uns escritos genéricos e parajornalísticos.
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