20 Novembro 2008
É inevitável falar desta questão que opõe os professores à ministra da Educação, com a sociedade a assistir atónita a este duelo em que a política, mais uma vez, se está a desprestigiar. E o que choca, no meio de tudo isto, é o fingimento de diálogo ou, para mais precisão, a cultura do diálogo totalitário que é a erva daninha da democracia.
A ministra da Educação mais não é do que o cúmulo do que tem vindo a acontecer ao longo de anos, da parte de numeroso grupo de políticos que jamais se deram ao trabalho de se auto-avaliarem, desde o recôndito presidente de junta ao mais alto magistrado. Na verdade, fomos ouvindo da boca desses políticos aquele frase já corriqueira do «Estou aberto a todas as críticas…» apenas para dissimular a prepotência, o autoritarismo, e muitas vezes até para dissimular práticas que roçam o crime público, como o abuso de poder. Então, nos pequenos meios em que não há bases de anonimato social, essa cultura de diálogo totalitário tem sido um a ver se te avias. Não são raros os casos em que o cidadão que critica de forma correcta é considerado como inimigo público – o que sendo aberrante em democracia, destrói a democracia ou a converte em mero exercício formal. Pior ainda quando à crítica se segue a represália como castigo, aquela represália de que a vítima não pode apresentar queixa porque há represálias que caiem do céu e sem provas, como é típico da cultura política totalitária que, não haja dúvidas, pode existir debaixo dos tapetes da democracia. Daí que cada um se feche em casa e sem que se note se gere um clima de medo na expressão pública das ideias que não sejam as de louvaminhas, encómios e elogios ao líder que para se justificar como líder, ainda assim, continua a repetir que está aberto a todas as críticas e vai o todos os sítios simulando ouvir todos não escutando ninguém tal como o coronel na parada em hora de ordem unida.
Estou em crer que larga percentagem de professores, detidos pelo medo da crítica, têm as suas vidas familiares destroçadas e as relações sociais desfeitas em grande parte, na obediência a esse desiderato de ordem unida a que a ministra se devotou aplicar nas escolas. E se vão à manifestação em Lisboa, não é porque o sindicato seja afecto a isto ou àquilo, mas apenas porque a manifestação é a única base de anonimato em que se podem expressar. É o escape ao qual a ministra, obviamente, destina total desprezo como é próprio do diálogo totalitário.
Ora este tipo de diálogo pode funcionar ou sobreviver com um presidente de junta ou mesmo um presidente de câmara; com um ministro, não, se ele não perceber o momento do ponto sem retorno.
Carlos Albino
- Flagrante falta de princípios: A dos partidos para os quais, à medida que as eleições se aproximam, vale tudo e até arrancar olhos. Não bom exemplo, nem erradicam a cegueira.
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