Parece que vingou a regra do deixa-andar. Como se viu a propósito da RTA, apenas os nomes é que estiveram em causa, o 31 contra o 27, ninguém ficou a perceber bem que projecto, que ideia a fundamentar o projecto, que visão a fundamentar a ideia, que desígnio a justificar a ideia, no fundo, o que é que se quer ou se pretende para estas tristes quatrocentas e tal mil pessoas, para além das afirmações triviais, gastas e sabidas – ficaram portanto nomes em confronto e uns ressaibos para animar a cena, o que é muito pouco.
E não admira que assim seja. A política algarvia dá o tom – pobre de ideias, avessa ao debate, sem desígnio, sem projecto, sem ideias, sem visão que não seja a do feudo. Apenas nomes, dois três quando muito, cada um fugindo do outro mas à espera da roda da sorte eleitoral, é que parece sugerir que ainda há política, política algarvia. Se um defende com generosidade e até acutilância algo que se aproxime de um desígnio, o outro diz que defende o mesmo, se não melhor, sem explicitar bem o que defende, e o debate esvai-se, ficando um a falar sozinho e o outro a fingir que continua a falar na companhia de reservados. É o deixa-andar.
É claro que deste deixa-andar, as primeiras vítimas serão os próprios profissionais da política. Nas autarquias, porque os decisores eleitos estão atados pelos decisores efectivos que não são eleitos e que, em nome de critérios sobejamente técnicos, mais não fazem do que decidir em função de interesses que fogem da política e que vergam a decisão política. No parlamento, porque o eleitor, o cidadão comum, cada vez percebe menos porque é que há um círculo eleitoral pois quem representa, de facto exerce a política, mas não faz política apesar das aparências da actividade que o dever de oposição determina. E das instâncias delegadas, desconcentradas ou «regionalizadas» como para bom-tom se diz, nem se fale, porque, aí, a sobrevivência nos cargos pia mais fino – apenas candidatos a mártires arriscam, e até os mártires estão a desaparecer, porque não há mártires no deixa-andar.
E perante isto, até talvez seja melhor escrever sobre os passarinhos, coitadinhos, que fazem seus ninhos nos beirais, criando os filhinhos e fazendo enxovais no seu deixa-voar, etc, etc… Até se escreve melhor, é menos incómodo e proporcionará que cada político que encontre o autor, lhe dê uma palmada de júbilo nas costas e diga, aí sim, alto e bom som: «Grande prosa! A democracia precisa é disso!».
Carlos Albino
- Flagrante descoberta: Essa, a de que os comboios no Algarve dão prejuízo. Sem ligação a Espanha e sem perceber que um Algarve sui generis cresceu para outros lados, o que é que o dono dos combiois queria?
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