Para que não restem dúvidas e, sobretudo, para que se eliminem suspeitas, deveria ser feito um levantamento do que no Algarve se tem construído e como se tem construído nas linhas de água e nas áreas de previsível influência do mar. A olho nu, nota-se que muito está mal, ou por decisões apressadas, ou por interesses cuja decifração corre em surdina mas que ninguém assume. Assim a olho nu, quem observe o que se construiu e como se construiu na costa e o que já vai invadindo o interior com indisfarçável voracidade, não é difícil chegar à conclusão de que muito está mal. A tal ponto que, hoje, «o que se fez no Algarve» ou «a tragédia urbanística do Algarve» já é uma bitola pelo País afora para avaliar o mau grau do que parece estar mal pelo mesmo País afora, com alguma chuvada inesperada a dar fundamento às impressões, pareceres intuitivos ou mesmo suspeitosos de cada um. Será bom acabar com isto através de um estudo sério, rigoroso e célere que desse azo à elaboração de um livro branco sobre a construção civil e obras públicas no Algarve, porque nem tudo o que aconteceu com as últimas chuvadas se explica por falta de limpeza de colectores, caixas e sarjetas de rua ou por atulhamento de ribeiras, algumas já esquecidas como ribeiras que a natureza cavou sem inteligência imobiliária. Como nem tudo o que pode vir a acontecer – oxalá que não – se poderá explicar com o desnorte dos anos 60-80, nem com as excepções de correcção do PROTAL.
Parece que há estudos ou avaliações sobre quanto o mar poderá subir ou quando e em que circunstâncias subirá, também parece que há avaliações sobre as águas subterrâneas e outras águas de que cada projecto ou plano de golfe carece, mas desconhece-se alguma reflexão segura sobre as águas que podem cair do céu, para onde ou por onde elas têm que escorrer e se muita construção por aí feita não briga com a força natural das coisas. Naturalmente que o problema não é o da manilha mais larga ou menos larga, mas sim o das linhas de água em todo o mapa do Algarve.
Carlos Albino
- Flagrante mau filme: O da direcção-geral das Artes, acusada pela associação DeVIR de se esquecer de orçamentar verba para financiar o 11ª edição do Festival Internacional de Dança Contemporânea «a sul» envolvendo cinco autarquias algarvias e 13 companhias de dança convidadas (oito do continente africano).
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