Pelos relatos, foi um incêndio que pôs a descoberto um dormitório clandestino albergando mais de uma centena de imigrantes usados na construção civil. Portanto, não foram autoridades nem alguma das organizações civis subsidiadas para escrutinar que descobriram – foi o incêndio que descobriu. Ainda pelos relatos, esse dormitório situado no pacífico lugar da Sinagoga em Tavira, era uma antiga suinicultura e sendo o que foi, imagina-se as obras que não foram feitas para humanos tomarem o lugar dos animais, e não vale a pena falar mais do caso porque o incêndio encarregou-se de descobrir, porquanto, pelos vistos, tanto fiscal – de câmaras e de ministérios – que há pago pelo erário público para descobrir, também devem confiar em algum incêndio para que a ilegalidade e a desumanidade não fiquem encobertas.
Mas, apagado o incêndio e descoberta que foi uma suinicultura transformada em hotel de estrelas furadas, com o proprietário a garantir que «as condições são as ideais» e com Macário Correia a comentar que os imigrantes estavam «em condições desumanas», a pergunta que se coloca é, naturalmente, esta: não haverá mais? Não haverá até coisas piores do que antigas suiniculturas com essa carne para canhão? Não haverá casas sobrelotadas com vinte imigrantes onde outrora quatro pessoas dormiam já unas sobre as outras, não haverá contentores com beliches atrás das árvores igualmente numa santa ilegalidade e numa desumanidade de bradar aos céus?
Todos sabemos as dificuldades e a burocracia que tem ser vencida para qualquer ser humano normal obter uma licença de habitabilidade numa construção nova ou mesmo remodelada. Sabe-se também o que custa desrespeitar a lei e regulamentos nessa matéria. Por isso caso é para espantar que mais de uma centena de imigrantes consigam viver clandestinamente numa antiga suinicultura que não era propriamente desconhecida e que pela natureza dos antigos locatários se fazia notar.
É claro que também sabemos porque é que tanto fiscal ignora o que um único incêndio descobre com uma fumarada de rotina.
Carlos Albino
- Flagrante aviso: Em Albufeira, com as brincadeiras nas linhas de água. Pelo Algarve afora, ninguém pode dizer que dessa água não beberá.
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