Bem queria ter-me enganado! Quando, em 2003, na cimeira da Figueira da Foz, Durão Barroso e Aznar puxaram do calendário salvador dos comboios, para que os circunstantes acreditassem que o futuro viria sobre carris, eu estava presente, mas confesso que não acreditei e disse-lhes não acreditar. E quando seguidamente me entregaram uma cópia do mapa de traçados com meio-metro de riscos bem coloridos para encher o olho e datas mais ou menos apelativas, mais para o Norte e menos para o Sul como sempre, tornou-se-me evidente que o Algarve estava a ser tratado como tradicionalmente – refugo. Além disso, senti alguma areia nos olhos, com a cultivada confusão entre TGV e Alta Velocidade, cultivada para efeitos mediáticos, sabendo-se que nem toda a Alta Velocidade é TGV. No Algarve funcionou – toda a gente falou então em TGV sem se aperceber das diferenças, ou então aperceberam-se e, por serventia política, ampliaram a confusão.
Em todo o caso, foi dito e assinado que a Alta Velocidade Porto/Vigo se concretizaria até 2009 (com Lisboa/Porto a ser da exclusiva responsabilidade doméstica, até 2013); Aveiro/Salamanca até 2015; Lisboa/Madrid (por Évora/Badajoz, com Elvas a sair do mapa) até 2010, e se Faro/Évora iria para as calendas domésticas, já Faro/Huelva teria concretização até 2018... E neste remate de negociações que Portugal foi forçado a aceitar, ficou mais uma lembrança da tibieza ou lassidão diplomática de Guterres que, enquanto foi tempo, decididamente não teve pulso – Barroso viu-se confrontado com a inevitabilidade das conveniências espanholas. O traçado por Badajoz foi de facto uma derrota negocial portuguesa.
E quanto ao Algarve, ficou o sonho de 2018 – que para coisa destas não é já amanhã mas depois de amanhã – o troço Faro/Huelva, melhor dito Huelva/Faro, nem mais um quilómetro à frente, muito menos Albufeira, fora da hipótese Portimão, e então Lagos!, que fique nos confins do mundo, o troço é uma metáfora que, sem polidez, põe à prova a paciência de burro que o Algarve revela. E sendo 2018 tão próximo para estes efeitos, o que espanta é que com tanto plano de ordenamento, plano de protecção, plano para a orla e plano para a borla, o que espanta é que mesmo esse pequeno troço, que não pode ser construído nas nuvens mas em terra sólida, não esteja à cabeça da discussão, da política e do interesse geral que, sublinho, deve ser sinónimo do bem-comum.
Carlos Albino
Flagrante contraste: A política que se auto-reclama do Algarve ou algarvia, e o que se sente ou o que a gente sente no dia-a-dia…
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