Toda gente ficou a saber que Hugo Nunes (a emergir no PS, irá lá mas tem que ter cuidado), Jovita Ladeira (que está a ser agradável surpresa como especializada em especialidades), Mendes Bota (com mais ponderação no PSD, a idade vai obrigando a isso) e Miguel Tiago (que até parece pseudónimo do PCP no contexto das lideranças regionais), pois toda a gente sabe que os nossos deputados, do poder e da oposição, se uniram por causa da malfadada ponte Alcoutim-San Lúcar.
Exigem saber a «quem ficou incumbida a realização dos estudos e projectos preparatórios do projecto» que se arrasta desde a década de 90 e se o tema figura na agenda da próxima cimeira luso-espanhola. Não sabemos se uma pergunta destas deve ser feita a Lisboa que já nos habitou a poses reverenciais, ou a Madrid que já se acostumou a impor as regras.
Os nossos deputados (nunca com tanta propriedade se pode dizer nossos) deram, em todo o caso, um inédito exemplo de conjugação na defesa de um inequívoco interesse regional, tão inédito que, para efeitos da ponte, foi uma verdadeira união nacional – no bom sentido, há o mau. Só que o Ministro das Obras Públicas, Mário Lino, não há meio de ver as coisas com adequação e rigor. Numa intervenção na Câmara de Comércio e Indústria Luso-Espanhola (18 de Outubro), Mário Lino referiu-se à ponte de Alcoutim como exemplo, um mero exemplo para contribuir para «a redução do isolamento de algumas zonas transfronteiriças». O ministro ainda não percebeu que essa ponte é estratégica para o desenvolvimento da região, de toda a região, e não apenas para reduzir o isolamento de uma zona, enfim de uma coitadinha zona. Ora, a resistência de Portugal à Espanha e da Espanha a Portugal, hoje, não se faz com fortes e fortalezas com o medo fortificado lá dentro – faz-se com ligações. O ministro, pois, não deveria referir-se a Alcoutim receosa e vagamente como «um exemplo», mas sim como uma prioridade estratégica a inscrever na agenda luso-espanhola, com princípio, meio e fim, porque o Algarve precisa daquela porta de Alcoutim como outrora precisou daquele forte. O receio, o medo – coisa que os espanhóis perderam - isso, sim, o medo é que é mau iberismo, péssimo iberismo porque o iberismo é próprio de quem tem medo.
Carlos Albino
Flagrante contraste: Uma doação de 10 mil dólares por emigrantes a algo no Algarve e o cheque ter sido levantado em Espanha.
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