Continua o mesmo de há uns anos a esta parte: enquanto o Algarve está entretido com festivais dia-sim dia-não, nos campos e serras trabalha-se para não se ser roubado e rouba quem quer estando em causa essa coisa de valor económico apreciável que ainda tem o nome de alfarroba, valor económico que os armazenistas e industriais de trituração sabem muito bem qual é ele.
À falta de gente para a apanha, começou-se por dar metade da produção a quem fosse varejar as árvores. Agora nem isso. Verdadeiras hordas de gente marginal para quem nem a lei nem os direitos dos outros existe, devassam terras e terras pela calada da madrugada, enchem sacos e sacos, e possivelmente os armazenistas e industriais de trituração agradecem. Ainda há pouco tempo, esta ladroagem organizada ia de carro de besta a partir de acampamentos que montados e desmontados conforme as conveniências da natureza, agora vai de furgão fechado de duvidosa inspecção periódica a avaliar pelos pneus carecas, fumarada e matrículas mal amanhadas. Mas lá vai, deixando mulheres e crianças para a limpeza, recolhendo no retorno sacas e sacas, sendo certo que nem uma alfarroba fica nas árvores nem nos caminhos, enquanto dos armazéns de trituração, que por milagre se enchem até ao tecto, partem enormes camiões TIR que sobretudo as indústrias alimentares da Suíça bem agradecem e pagam melhor.
Ora é tempo dos municípios onde a produção de alfarroba conta, tomarem alguma iniciativa com conta e medida, mas sobretudo com imaginação. É tempo de esses municípios criarem departamentos de apoio ao agricultor, em parceria com os armazenistas e industriais de alfarroba e com os centros de emprego, abrindo portas ao trabalho voluntário remunerado, através de programas com princípio, meio e fim. No fim do varejo, tais programas dariam certamente lucro para todos e acabar-se-ia com este reino de ladroagem nos campos. É uma ideia, digam se não terei razão em chamar a atenção desses municípios.
Carlos Albino
- Flagrante chapeau: Para a excelente coluna de José Carlos Barros. É certo que o elogio fica em casa, mas tal como a coluna, chapeau! - de alto a baixo.
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