Não estive à espera do último crime para tocar no tema que a todos preocupa – o da segurança. Já aqui se tem repetido que a segurança não consiste em colocar um polícia ou guarda atrás de cada criminoso – a segurança existe quando cada cidadão, confiado no estado, não sente a necessidade premente de organizar e prevenir a sua própria defesa, sendo que, quando são muitos os cidadãos a sentirem essa necessidade, isso é um sinal de que o estado não cumpre uma das suas principais missões pois para isso se arma e tem justiça penal, o que os cidadãos, por princípio, não podem nem devem fazer. Um cidadão arma-se, quando muito, para ir à caça das perdizes e mesmo assim é preciso que ache piada em ser caçador ou disto tire algum proveito. Já o criminoso, por definição e estratégia, está armado e anda à caça dos cidadãos como quem desportivamente vai às perdizes. Fiados na mão leve dos tribunais e dos juízes de arribação, ou, se as coisas correrem pior nas esquadras, expectantes num comunicado protector dos direitos humanos, os criminosos sabem que a actuação lhes fica facilitada quando é a própria segurança que está insegura. E está.
Há cidades algarvias já de apreciável dimensão e movimento em que, por dias e noites, e por noites e dias, não se vislumbra uma patrulha, um guarda de giro, uma presença da autoridade ou a forte probabilidade dessa presença. E pelos campos e aglomerados isolados da serra, nem se fale. É como se a segurança se resumisse àquele telefone da esquadra com um estagiário à espera de que alguém comunique uma ocorrência, como nos bombeiros. A segurança tem um domicílio, está domiciliada, entre horários de expediente e piquetes de atendimento. A segurança recuou até esse ponto e quando avança ou se torna pública, notória e não raramente sobranceira, é porque há procissão, festival ou corrida de ciclismo, que obviamente é quando os criminosos não aparecem pois só correm quando andam a monte.
Resumindo e concluindo, não há um plano de prevenção contra o crime que seja conhecido desde a humilde taberna da serra ao litoral da autarquia que olha por cima do ombro para a autarquia do litoral contíguo. Porque não se culpe só a guarda ou a polícia domiciliada – as autarquias são também responsáveis desta segurança que está insegura.
Carlos Albino
- Flagrante bandeira preta: De ano para ano, a apertar o cerco à praia da Falésia, aquele caos de betão que Albufeira aprova. Uma vergonha. Vergonha a merecer bandeira preta.
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