quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

SMS 293. A Imprensa livre, bela prenda

18 Dezembro 2008

Numa democracia – é bom repetir – a Imprensa livre e isenta é a melhor prenda que uma sociedade pode ter ao longo do ano e não apenas pelo Natal que precede eleições. Livre e isenta – é bom repetir. E como não há liberdade sem responsabilidade (sem esta responsabilidade é melhor que não seja prenda) é evidente que a Imprensa livre é um pequeno reduto se os irresponsáveis forem a maioria. Já quanto à isenção, costumam os pensadores de café argumentar que não é possível Imprensa isenta, mas é – a Imprensa é isenta se tiver o fito do bem comum e perderá cada vez mais a mesma isenção se tiver em mente apenas o interesse geral, sabendo-se que o chamado interesse geral não passa da imposição dos interesses particulares dos mais fortes em detrimento dos interesses dos mais fracos. Para ser isenta, a Imprensa terá que escrutinar em cada momento, do grande título de primeira página à vírgula da necrologia, se está a servir o bem comum ou o interesse geral. Aliás, compete à Imprensa ir dizendo o que lhe parece ser bem comum, ainda que correndo o risco do erro e submetendo-se com humildade ao dever de reconhecer quando erra.

Estafadamente vai para 35 anos, e com isto quase duas gerações, que o país andou a zurzir contra a censura prévia da ditadura e ainda zurzem como se isso existisse mas dando jeito para descargo de consciência. Ora quem viveu e lidou frontalmente com essa censura prévia, tem alguma legitimidade para afirmar que numa democracia há o equivalente, se não até pior: é a condição prévia. Um regime autoritário impõe a censura prévia para impedir a democracia; numa democracia, quem submeta a Imprensa à condição prévia está a chamar pelo regime autoritário como o pastor chama os cães com belos assobios.

Muitos ou bastantes sabem do que estou a falar. Os restantes sabem mais do que aquilo que aqui deixei esboçado. Por ora. Esboço é esboço.

Carlos Albino



      Flagrante inversão de papéis: O dos políticos que não usando, como devem, a tribuna própria para a qual foram eleitos, se convertem em colunistas, cronistas e até já se conclamam de jornalistas!

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