É já um lugar comum dizer-se que há falta de debate político no Algarve. E outra coisa não seria de esperar, sendo este um verdadeiro paradoxo da democracia que temos – não se usa os instrumentos que temos para, em completa liberdade de ideias e opinião, se aperfeiçoar a sociedade. É claro que se discute o cargo e o nomeado ou o preterido, a construção permitida ou interdita, a estrada que devia passar para todos e não à porta do regedor, é-se do contra quando não pinga o subsídio e defende-se o compadre quando o subsídio pingou, mas claro é também que isto não é a Política e muitas vezes ou quase sempre sendo da política está contra a Política.
As secções regionais dos grandes partidos limitam-se às escaramuças de sucessão e alternativas (agora é o PSD a passar por essa fase) ou então não ultrapassam a gestão calculada dos benefícios do poder para o que o silêncio é regra de ouro (caso típico do PS também nesta fase). A coisa parece aquecer quando o calendário eleitoral força a elaboração de listas para S. Bento, câmaras e juntas e, mesmo assim, a política não passa da política de listas em função de interesses e de grupos de interesses paralelos à política – o que também não é Política, muito menos debate político, embora se diga que seja. Resumindo e concluindo, aquilo a que impropriamente se chama política pouco mais será do que a organização de interesses privados mascarados de interesse público, sem que alguma vez se questione o bem comum, os valores que devam nortear a convivência, os projectos para uma ideia firme de sociedade no Algarve e os programas que avaliem meios para atingir as finalidades do bem comum e dos primados da pessoa, da justiça, da segurança e do desenvolvimento. Não se nega que os partidos, a começar pelos grandes (PS e PSD) estão cheios de ideais gerais sobre essas matérias, mas de ideias gerais está o inferno cheio com isso enganando-se todos os diabos.
Colocar nomes a este propósito, não só seria de mau-senso como também não seria de bom-tom para a Política como a entendemos numa democracia. Os nomes são secundários nesta abordagem e diabolizá-los também não iria salvar ninguém que esteja no inferno das ideias gerais. Mas será bom que todos os diabos pensem nisto, antes que o inferno estoire por falta de Política.
Carlos Albino
- Flagrante aniversário: O da Orquestra do Algarve que fez seis anos. Ora como a idade de uma orquestra é como a dos gatos (o primeiro ano equivale a 15 anos humanos e cada ano a mais vale cinco) a orquestra do maestro Cesário Costa tem 40 anos. Que o Algarve preserve o seu 17.º concelho que é a nossa maior autarquia de humanismo. Sem esse gato estaríamos mais pobres e sem companhia de estimação.
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