4 Junho 2009
Para a inauguração de um elevador, o da Praia do Peneco, dois secretários de estado à frente de um batalhão de gente. Desceram, subiram, tiraram a bandeirinha da placa que eterniza nomes e egos, discursaram e, naturalmente, segundo testemunham as gazetas, muito público para o espectáculo, além da habitual tribo nómada de funcionários que não perdem uma coisa destas para se fazerem notados.
Vem de longe e de muito alto, esta prática de inaugurações, placas e discursos seja a que pretexto for, parecendo que nada de novo começa a funcionar neste país, nem que seja um elevador, sem inauguração, placa, discursos e sobretudo sem gente da mais alta soberania possível na agenda do momento. Ora, o que se passava antes da instalação do regime democrático, causava náuseas e dava-nos o sentimento de pertença de um país condenado ao atraso e ao provincianismo mental. Pessoalmente senti essa repulsa em dois momentos, antes de 1974: um, quando, tive que reportar a inauguração das escadas rolantes da estação de Metro do Parque Eduardo VII pelo chefe de estado de então (Américo Tomás); outro, quando igualmente tive de reportar a inauguração das lavandarias do hotel Sheraton pelo mesmo presidente da República. Chegou-se a isto – um presidente da República a inaugurar escadas rolantes e lavandarias de hotel, também com discursos, muito público e, obviamente, perante a coeva tribo nómada que nada perdia para se fazer notada.
Nos últimos meses, por aí tem havido inaugurações atrás de inaugurações, puxando gente do governo, algumas vezes não passando de projectos longe de obra, planos de obra apressada ou meros anúncios de obras para o tempo da Maria Cachucha. Algumas dessas inaugurações – poucas, diga-se – justificam-se. Mas a generalidade dessas façanhas volta a dar-nos esse tal sentimento de provincianismo mental de quando o presidente da República se apresentava como presidente das Escadas Rolantes ou como presidente das Lavandarias de Hotel. O que se diz sobre o elevador do Peneco, vale para o resto.
Carlos Albino
- Flagrante injustiça: O facto de Manuel Pinho, da parte dos 16 municípios algarvios, apenas ter recebido de Loulé a Medalha de Mérito Municipal Grau Ouro. Os restantes 15 municípios algarvios deviam encher aquele peito de medalhas, além de colocarem o nome em praças e ruas, avenidas e travessas.
Sem comentários:
Enviar um comentário